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MÁQUINAS PARADAS
Maria Alice Leite Pinto
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Capacitação de professores no uso da informática
pode evitar desperdício e equívocos pedagógicos
Neste ano, o país participará de uma rede internacional de cooperação, na área
de tecnologia de Informática na Educação. Este projeto, orçado em US$10 milhões,
e financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, tem como parceiros
Brasil e Estados Unidos.
Por sua vez, o governo FHC está abrindo concorrência para o fornecimento de
100 mil computadores. Dessa forma, pretende informatizar escolas públicas, também
ligando-as à Internet. Esse projeto é questionável, já que os problemas
prioritários da educação no Brasil são decorrentes da precariedade em que as
escolas estaduais funcionam, dos salários dos professores, da falta de
qualidade do ensino, e de outras questões de ordem política. A preocupação
maior deveria ser quanto à capacitação de professores para essa implantação.
As escolas privadas têm feito investimentos em computadores, redes, Internet e
home pages. Estas instituições, com um poder aquisitivo maior, procuram
manter-se atualizadas com seus equipamentos de última geração. Isso, conforme
sabemos, configura uma corrida contra o tempo, pois o desenvolvimento tecnológico
se faz dia a dia. Nessa mesma proporção, as escolas estarão rapidamente
defasadas senão houver novos investimentos.
Há equívocos no tratamento dessa questão: compram-se máquinas de última
geração (das quais nem um terço de seus recursos são utilizados) para serem
utilizadas por educadores despreparados. Como resultado, prejuízo para todos.
Os recursos tecnológicos que as escolas acabam tendo em mãos são na maioria
desperdiçados, utilizados somente por professores de informática, em aulas
específicas. Professores de outras áreas raramente fazem uso da informática
para ministrarem aulas ou desenvolver pesquisas.
A Universidade Federal de Pernambuco investigou alternativas de apropriação de
computadores por uma escola pública da rede municipal do Recife. Nessa
pesquisa, ficou evidente que tanto a escola quanto a rede de ensino não
dispunham de estrutura de suporte para atividades pedagógicas com computadores.
Entre outros pontos, foi verificado que o envolvimento maior se deu entre
professores novos, recém-concursados. Além disso, a sobrecarga de trabalho dos
docentes, fora da escola, acarretou falta de tempo para participar de projetos,
cursos de capacitação ou congressos.
A escola precisa investir no aprendizado dos professores, para que eles otimizem
suas aulas, melhorem suas ferramentas de trabalho, e passem a utilizar algo que
já faz parte do cotidiano de seus alunos – familiarizados com os computadores,
pois brincam desde cedo em um mundo informatizado. Não fazem sentido
investimentos em tecnologia de ponta nas escolas, quando poucos podem e sabem
utilizá-la, assim como não faz sentido modernizar-se sem reciclar o educador
nestas novas mudanças que a escola e o ensino vêm sofrendo. Foi-se o tempo em
que computação nas escolas era atrativo para captação de alunos. Hoje, o
mercado de trabalho exige do profissional, seja qual for a área, um
conhecimento real da utilização da informática, com resultados concretos. O
momento agora é o de familiarizar o educador com toda esta tecnologia, dar-lhe
condições e cursos, levá-lo a sentir-se confortável para criar e recriar
seus conhecimentos e ensinamentos e, assim, desmistificar informática. Não é
necessário que o professor seja especialista ou técnico em informática, assim
como, para dirigir um carro, não é preciso ser mecânico ou piloto de fórmula
1. Bastam conhecimentos básicos, como saber ligar o automóvel, dirigi-lo e
saber para onde se quer ir.
Publicado em 01/01/2000
Maria Alice Leite Pinto – Diretora ecoordenadora do site Psicopedagogia On Line; Pedagoga; Professora de Psicologia da Educação e Especialista em Orientação Educacional; Psicopedagoga Clínica e Institucional pelo Instituto “Sedes Sapientiae” e EPSIBA – Formación em Psicopedagogia Clínica para graduados (Argentina); Mediadora de PEI I – Programa de Enriquecimento Instrumental pelo CBM – PEI Centro Brasileiro de Desenvolvimento da Modificabilidade através do PEI; Ex-Conselheira e Ex-Diretora de Relações Públicas da ABPp – Associação Brasileira de Psicopedagogia.
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