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Artigo Entrid 229

admin37109
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O PODER DE UM LIVRO

Diorindo Lopes Júnior

Não são poucos os casos de gente que leu alguma coisa interessante, investiu um pouco de si e de suas economias, e hoje está recolhendo impostos com negócios próprios.

Faz muitos anos não vou a uma sala de cinema – o que não significa exatamente que odeio filmes. Devo ser um dos melhores clientes da locadora que freqüento assiduamente e, com certeza, faço valer cada centavo que pago na mensalidade da TV a cabo, pelos canais sobressalentes que meu pacote permite. 



Dia desses, vi Hurricane, o Furacão (desconheço o título original), película de uns quatro ou cinco anos já, com o (excelente desempenho do) ator negro Denzel Washington – a propósito, sua interpretação em O Colecionador de Ossos é de emocionar às lágrimas. Trata, o filme Hurricane, de um pugilista que amarga boa parte de sua vida numa cadeia, por crimes que não cometeu. 



E, na cadeia, continuaria não fosse o “acaso” de três amigos resolverem adotar um garoto (também negro) bastante inteligente, capaz de elucidar e desvendar grandes problemas, mas que enfrenta dificuldades para ler. Adotado, o adolescente é levado a um sebo e compra (por 25 centavos de dólar) o seu primeiro livro. 



Um volume ensebado, publicado alguns anos antes, provavelmente escrito com o autor carcomido pelo rigor da sentença. Eu diria que 0 referido volume apresentava-se até com aspecto de desprezado. 



O melhor desta compra: o adolescente o lê de cabo a rabo, raciocina em cima do que leu e o interpreta.



Este livro – Sexto Round, se a memória não me trai –, é um depoimento onde o ex-pugilista, já na prisão, narra sua vida e comenta o processo judiciário, em sua opinião cheio de falhas e de preconceitos raciais, que o botou, perpétua e injustamente, atrás das grades. Incomodado com o que leu, este adolescente negro vai visitar o ex-pugilista preso e, depois de conhece-lo, convence seus adotores a visitá-lo também e a comprar a briga de libertar o detento. 



Parece que é adaptado de uma história real, sei que muitos dos leitores já até se cansaram desses clichês do cinema americano, contudo há algo importante a se observar neste enredo – O ex-pugilista somente conseguiu se safar da injustiça racial porque um adolescente, que nunca havia lido um inteiro em toda a sua curta vida, comprou e leu o seu primeiro livro. Mais: emocionou com o que leu e resolveu tomar uma atitude.



É mais um filme do cinema americano, eu sei. Todavia, expõe com eficiente sagacidade a força que pode uma leitura. O poder de um livro.



Evidentemente, nem todos os livros possuem esta competência. De emocionar e fazer tomar atitudes a todas as pessoas que os lêem. Contudo, sua força é inquestionável, indiscutível e inegociável. Por isso, acredito piamente que quando este meu querido Brasil, de população próxima a 170 milhões de habitantes, tiver pelo menos uns 100 milhões de leitores (hoje não devemos ser nem 30…), é certo que experimentaremos a magia que prega o nosso Hino. 



No Brasil, as Literaturas esotéricas, dicas empresariais e de auto-ajuda, vendem milhões, e não vou discutir sua qualidade porque isto não é importante, desde que existam pessoas lendo e, algumas, dando-se bem com o que lêem. Não são poucos os casos de gente que leu alguma coisa interessante, investiu um pouco de si e de suas economias, e hoje está recolhendo impostos com negócios próprios.



Acreditem: leituras podem modificar destinos conformados, permitem estabelecer opções de futuro, são fontes inesgotáveis de tesão criativo e participativo e, muito melhor!, fazem com que sejamos independentes e críticos reivindicativos sobre os nossos direitos como cidadãos. Não tenhamos crianças esmolando nas ruas, roubando ou assassinando nossos sonhos, e sim participando da criação de um Tempo menos injusto.



Não sou crítico de cinema, mas recomendo que vejam o filme (Hurricane, O Furacão, com Denzel Washington), que “rendeu” este artigo. É muito legal.

Publicado em 01/01/2000


Diorindo Lopes Júnior – jornalista e autor dos juvenis O Sol em Capricórnio (Atual Editora) e Cesta de 3 (Alis Editora), este indicado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) como “Leitura Altamente Recomendada”, em 1999

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