LIVRO (TAMBÉM) É PRESENTE DE NATAL
Diorindo Lopes Júnior
Livros para crianças e adolescentes não devem ser tratados como obrigação escolar, mas um convite à aventura lúdica de viajar livremente através da capacidade de imaginar.
Escrevo ainda em novembro, mas basta ligar a televisão para
confirmar que dezembro já chegou e com ele o Natal. Natal é sinônimo
de presentes, embora muitos se esqueçam do maior aniversariante
do dia e de que o ouro, o incenso e a mirra que recebeu dos Reis
Magos, ao nascer em uma manjedoura, são um pouco responsável
por esta prática hoje puramente comercial – bem pior são
os que imaginam que quem apaga velinhas é o Papai Noel…
É nesta época do ano que avôs e avós, pais e mães, tios e
tias, padrinhos e madrinhas, começam a queimar as pestanas em
busca de presentes que enlouqueçam de paixão netinhos, filhotes,
sobrinhos e afilhados, ainda crianças. Faz tempo, soube de uma
pesquisa que qualificava brinquedos (que vão quebrar logo) em
primeiro lugar nas opções pensadas, depois roupas (que ficarão
pequenas num piscar de olhos), guloseimas, sapatos e tênis,
bijuterias finas e jóias – observo que estou falando de
pessoas que, apesar da economia claudicante, ainda podem
presentear os monstrinhos que lhes encantam a alma e a vida.
Hoje, mesmo com os tempos para lá de bicudos, computadores e uma
infinidade de aparatos eletro-mecânico-eletrônicos compõem
este leque de opções para se presentear a criançada que vai
reinar no novo Milênio. Contudo, não me lembro de alguma vez
ter sequer ouvido falar que livros também podem engrossar este
leque de opções natalinas.
Na verdade, se durante o ano todo a grande massa do povo que lê
(coisa de uns 25 ou trinta milhões, numa população de 160)
simplesmente ignora os livros, somente como opção de última
hora – amigo secreto para o estagiário com pinta de CDF ou
um gerente taciturno, recém-divorciado e com tempo para perder
tempo – eles são lembrados neste tempo de Festas.
Para crianças, então… Pode-se contar nos dedos da mão
esquerda.
Estou exagerando, claro. A indústria editorial também vende
muito nessa época, mas tenho a impressão de que a literatura
infantil e juvenil não participa deste “movimento
financeiro” com a mesma energia que exibe durante o resto do
ano. A começar pelas próprias livrarias que, quando dedicam um
espaço para este segmento, o fazem tão timidamente, geralmente
num cantinho das lojas, que parecem mais querer esconder do que
mostrar as capas multicoloridas, tão displicentemente expõem os
exemplares nas gôndolas e prateleiras.
Talvez porque o Natal esteja diretamente associado a férias
escolares, e os livros infantis e juvenis de um jeito ou de outro
lembrem um dever de ensino, os livros para a meninada sejam
solenemente descartados como presente – o que é uma bobagem.
Livros para crianças e adolescentes não devem ser tratados como
obrigação escolar, mas um convite à aventura lúdica de viajar
livremente através da capacidade de imaginar.
Por mais que sejam irrequietas e impacientes, uma hora ou outra
as crianças e adolescentes têm de se render ao fato de que já
é muito tarde para zoar (embora um pouco cedo para dormir, já
que estão em férias e podem ficar na cama até mais tarde) ou
que, embora não gostem e pisoteiem o chão de tanta raiva, de
janeiro a março as águas caem do céu com muita força e
fazendo muito estrago, quando então é preciso ficar dentro de
casa – sem nada para fazer, porque televisão e videogame
também enjoam, então um livro à mão sempre vai ser uma
excelente alternativa para o tempo correr mais depressa, até o
sono chegar ou voltar a fazer tempo bom para brincar e agitar.
Às milhares (milhões…?) de pessoas que aproveitam esta época
para ser ainda mais voluntário do que já o é o resto do ano,
sugiro que reflitam sobre a possibilidade de incluir alguns
livros entre o monte de carrinhos, bolas e bonecas que levam a
creches, orfanatos e favelas. Não precisa ser um exemplar para
cada criança, mas o suficiente para que todas elas possam ler em
meio às atividades do dia-a-dia, e até mesmo os disputem.
Olhinhos infantis brilham de fascinação diante de coloridos
impressos.
Da mesma maneira, aos que pensam em crianças pacientes de
hospitais ou velhinhos abandonados em asilos, saibam que os
livros também funcionam como terapia para aqueles que precisam
recuperar a saúde e ajudam a passar o tempo, às vezes
emocionando a vida daqueles que já não têm mais muito tempo de
vida – aqui, vale lembrar que as editoras e livrarias sempre
têm em estoque edições ‘mais velhinhas’ de títulos
fabulosos e cativantes, que podem ser negociados a um bom preço,
dependendo da quantidade pretendida.
Falo em presentear crianças com livros porque, até os nove ou
dez anos, é muito fácil viciar para sempre a meninada em
leitura. A inteligência está aberta e pronta para receber
conhecimentos, a curiosidade natural por tudo faz-se importante
aliada na formação do caráter e na obtenção de noções de
cidadania. Mas adolescentes e adultos também podem “adquirir”
o vício, basta um pouco de concentração e liberdade aos sonhos
e à imaginação.
Pense nisso, um livro pode ser uma boa opção para presente de
Natal – e com uma vantagem: livrarias raramente ficam
lotadas, em qualquer época do ano.
Publicado em 01/01/2000
Diorindo Lopes Júnior – jornalista e autor dos juvenis O Sol em Capricórnio (Atual Editora) e Cesta de 3 (Alis Editora), este indicado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) como “Leitura Altamente Recomendada”, em 1999
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