 |
TEM JEITO DE SALVAR O ANO?
Isabel Cristina Hierro Parolin
|
Em muitos dos casos, só aulas particulares ou recuperação em grupo não adiantará. O aluno pode conseguir a nota de que ele precisa para passar de ano, mas e a aprendizagem, como fica?
Estamos no último bimestre escolar e muitas crianças e adolescentes estão com
um problema para resolver: a sua média escolar está baixa ou é insuficiente
para passar de ano…
Dá para salvar o ano? Muitos pais, professores e alunos nos perguntam e
perguntam-se a si mesmos.
Depende. Depende muito de cada situação.
A escola organiza e desenvolve seus temas ao longo do ano letivo, de forma que
um tema desencadeie outro e se entrelace com outros tantos temas. Nesse
planejamento, o item tempo não é apenas considerado, mas administrado.
Se o seu filho ou aluno não foi bem porque não entendeu um determinado
assunto, provavelmente esta dificuldade se somará a outra no próximo bimestre.
O ideal é que a criança ou jovem faça recuperação do tema não
compreendido, tão logo ele perceba a dificuldade.
Uma criança ou jovem que foi mal no 1.º bimestre (ou na primeira avaliação),
na segundo e no terceiro, provavelmente não conseguirá recuperar o conteúdo
perdido, e ainda por cima, corresponder ao 4.º bimestre. Aulas particulares não
adiantarão se ela se detiver apenas ao assunto que será cobrado na última
avaliação. É necessário retomar o assunto a partir do momento em que o aluno
começou a apresentar sua dificuldade. É muito importante atentar por que o
aluno não aprendeu em sala de aula e da forma como seu professor ensinou. Esse
é um indicador de que ele necessita de uma outra forma de abordagem e com outra
metodologia.
Não raro a defasagem vem do ano anterior. Só retomando e reconstruindo toda
esta trajetória em uma seqüência lógica e encadeada é que o aluno conseguirá
recuperar o conteúdo.
Outro aspecto que deve ser considerado é averiguar se o aluno não conseguiu um
bom aproveitamento em uma determinada matéria, ou em um grupo de matérias, ou
ainda, em todas as matérias…Esses dados farão a diferença no tipo de
recuperação que se recomenda para esse aprendiz.
Se for em uma matéria podemos pensar no vínculo entre o professor e o aluno;
na disponibilidade do aluno para aquela disciplina, no tempo de estudo que é
disponibilizado para fixar o conteúdo, no método do professor, no sistema de
avaliação do professor, enfim…
Se a dificuldade é em um grupo de matérias, tais como Desenho Técnico e Matemática,
ou História, Literatura e Português, além das hipóteses levantadas no item
acima, há sugestão de antipatia pela área, ou mesmo de uma dificuldade com
essas competências. Logo, o aluno necessita esforçar-se mais, principalmente
nessas disciplinas, e trabalhar as habilidades de raciocínio ligadas a essa área.
Ainda é necessário avaliar se a criança tem história de um bom
desenvolvimento escolar, ou se é a primeira vez que ela apresenta a dificuldade
ou o baixo desempenho acadêmico.
Em muitos dos casos, só aulas particulares ou recuperação em grupo não
adiantará. O aluno pode conseguir a nota de que ele precisa para passar de ano,
mas e a aprendizagem, como fica?
Vamos aproveitar o final do ano para avaliar o nosso filho ou o nosso aluno sob
o ponto de vista de aprendiz, ou seja, não somente suas notas, mas o que ele
está conseguindo produzir e apreender
Infelizmente não é essa posição que temos visto em muitos pais. O que se
percebe muito, são pais alimentando e auxiliando a manutenção do pensamento
de que salvar o ano é tirar determinada nota que favoreça seu filho passar de
ano….E a aprendizagem dele? Como será o próximo ano? Até aonde seu filho
conseguirá driblar o seu desconhecimento da matéria?
O conhecimento necessita de um tempo para amadurecer e tornar-se saber…
Aprender é muito mais do que ir bem nas provas e na escola. O conhecimento é
instrumento que nos habilita à inserção social e nos garante a nossa sobrevivência
com dignidade e qualidade de vida.
O conhecimento é moeda que nos dá ingresso à vida!
E o que conta mesmo, não é se o nosso filho passou ou não passou na escola,
mas se ele tem condições de, competentemente, viver e conviver com adequação
e sabedoria. E para isso, não usamos o nosso boletim, mas o nosso conhecimento.
Para entrar em contato com os autores, basta colocar o mouse em cima do nome
do mesmo.
Publicado em 01/01/2000
Isabel Cristina Hierro Parolin – Pedagoga pela PUC-PR, Especialista em Psicodrama e Psicopedagogia e Mestre em Psicologia da Educação pela PUC-SP. Atende crianças e jovens em seu processo de aprender ou de não-aprender, assim como a suas famílias, objetivando ações educativas. Consultora institucional, em todo o Brasil, de escolas públicas e privadas. Professora em cursos de pós-graduação em psicopedagogia e áreas correlatas. Pesquisadora do grupo “Aprendizagem e Conhecimento na ação educativa” da PUCPR. Palestrante para pais e professores. Conselheira da Associação Brasileira de Psicopedagogia PR-SUL. Participou de eventos educacionais no Japão, Áustria, Bulgária, Alemanha e Espanha. Autora de vários livros e artigos em revistas, jornais e sites relacionados à aprendizagem e à educação.
Clique aqui:
Normas para
Publicação de Artigos