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Artigo Entrid 209

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MAINHEE! COMO SE ESCREVE CASA?

Isabel Cristina Hierro Parolin

Um breve estudo da dislexia

Dedico esse trabalho à minha filha JOANA a quem a vida
proporcionou a oportunidade de interessar-se pelo tema.







"É claro que é com ‘s’ meu filho. O s entre vogais tem som de ‘z’".

Parece simples, mas não é tão fácil assim. Na palavra cozinha a letra z está
entre vogais. E na palavra trazer? Quando se usa ‘s’, ‘z’, ‘ç’, ‘ss’, ‘x’, ‘ch’?
Sabe-se que só pelo som não se chegará à uniformidade da grafia e muito
menos a uma escrita acadêmica adequada.

A escrita faz parte da nossa humanização e torna-se difícil, cada vez mais, o
convívio social sem essa linguagem. A escrita nos é tão familiar que nós não
chegamos a perceber o quanto ela é complexa e cheia de regras.

Começamos a entender as funções da escrita quando pequenos e vamos
aprofundando essa compreensão ao longo de nossas vidas. A criança vai tendo
contato com a linguagem escrita ao observar os adultos trabalhando, ao
identificar produtos por seus rótulos, ao ver cartazes, pessoas lendo histórias,
recados, enfim. Aparentemente escrever é simples, porém, só quando começamos
a nos expressar através dessa linguagem é que constatamos o tamanho da sua
complexidade.

A criança quando começa a escrever, necessita compreender que há varias
formas de se grafar a mesma letra: a de forma, a cursiva, a maiúscula, a minúscula
e que, ainda existem as diferenças individuais na forma da escrita. Por isso
que, no início da alfabetização, é melhor a criança usar a letra de forma,
pela menor exigência de domínio motor e maior facilidade para grafá-las.

Apesar da escrita estar profundamente ligada ao nosso contexto social, ela não
é natural como a linguagem oral. Como a criança é dotada geneticamente de
instrumental para falar, o simples contato com a linguagem oral favorece o
desenvolvimento da expressão oral da criança. A criança começa balbuciando e
vai experimentando sons, formas de dizer determinada palavra, até conseguir
falar adequadamente e ser compreendida. Esse processo leva alguns anos. Na
linguagem escrita também temos um processo de experimentação até que se
chegue à escrita correta das letras e finalmente à expressão adequada do que
se quer registrar através da escrita.

O objetivo da escrita é permitir uma leitura e ler é recriar uma escrita e,
consequentemente, uma idéia. Ser leitor, nesta perspectiva é desvelar e
recriar a idéia do autor.

Geralmente é na escola que a criança aprende a ler e a escrever e é a
professora que vai encadeando, em graus de complexidade, essa aprendizagem. Ao
longo de nossas vidas, vamos percebendo o número enorme de regras, de exceções
a estas mesmas regras, da necessidade de estrutura do texto para que ele cumpra
a sua função de comunicar um ponto de vista.

Nem sempre a construção do leitor e da linguagem escrita é possível sob o
ponto de vista pedagógico, apesar de fazer parte do rol de atribuições da
escola e de ser duas aprendizagens diferentes. Essa aprendizagem pressupõe
alguns aspectos de ordem pessoal e de desenvolvimento, inerentes à história de
cada criança. É importante considerar e observar se a metodologia de construção
da leitura e da escrita, está adequada àquela criança e devidamente
trabalhada. Também pode ocorrer da criança estar com nível de maturidade
incompatível com a proposta de alfabetização. Outra situação possível é
que o contexto familiar da criança e sua bagagem cultural sejam pouco
estimuladoras. A criança pode estar em um estágio de desenvolvimento global
imaturo para essa aprendizagem, ou ainda, ter algum déficit que torne a
aprendizagem incompatível com aquele momento de aprendiz, promovendo
desvantagens importantes e com conseqüências marcantes na auto imagem da criança.
Pode ser ainda que a criança esteja passando por um estresse emocional que a
desgaste e impede a aprendizagem.

Isoladas as possibilidades acima descritas, a criança que apresenta uma
dificuldade duradoura da aprendizagem da leitura e da aquisição do seu
automatismo, pode ser disléxica.

Não devemos confundir com Disleria, que são as crianças que demoram para
amadurecer para a leitura e escrita e nem com Disgrafia, que é uma desordem no
traçado correto das letras, mas que não apresentam dificuldades simbólicas e
perceptuais. 

A dislexia é um transtorno duradouro da leitura e se apresenta em vários graus
de intensidade e importância. Estima-se que cerca de 2% a 8% das crianças em
idade escolar sejam disléxicas. 

É observada e diagnosticada, geralmente, na fase de alfabetização, mas os
sintomas podem ser observados antes do aparecimento da dificuldade propriamente
dita. Os sinais mais freqüentes são:

– Muitas vezes é considerada infantil, preferindo brincar com crianças de
idade inferior a sua;

– Dificuldade para compreender a linguagem falada;

– Dificuldade com orientação espaço-temporal. A criança confunde termos
como: antes, depois, na frente, atrás, encima, embaixo, à direita, à
esquerda, etc.

– Dificuldade para automatizar algumas aprendizagens como: andar, andar de
bicicleta, amarrar tênis, subir escadas, etc.

– Dificuldade para integrar-se à grupos.

A tarefa de ler é muito difícil para o disléxico e requer muito esforço e
concentração. Os disléxicos são prejudicados em sua capacidade para
compreender pequenos textos, resenhá-los ou mesmo reescrevê-los. É comum que
a criança com dislexia tenha importantes dificuldades ortográficas.

Uma crianças para ser considerada disléxica deve ser inteligente, normalmente
escolarizada e livre de perturbações sensoriais, emocionais e neurológicas.
Existem pesquisas que demonstram uma incidência significativamente maior entre
os meninos, três meninos para cada menina, e é indiferente às classes sociais
e raças. Não há conhecimento de dislexia nas escritas ideográficas, como o
Japonês e Chinês.

Para pais e profissionais da educação não é tão importantes conhecer as
causas da dislexia, mas sim como trabalhar com crianças que apresentem essa
dificuldade. 

O fator genético é apontado como um indicador causal. A criança com dislexia
apresenta uma perturbação em sua motricidade geral, na orientação
esquerda-direita, na percepção temporal, na elaboração de imagens globais
afetando a compreensão da linguagem oral e escrita, no esquema corporal e
lateralidade. Algumas crianças parecem ter dificuldade visual e em muitas têm
distúrbios do sono e são agitadas.

A criança pode confundir o traçado das letras, principalmente as muito
parecidas como o p e o b. Não é raro a criança ficar muito preocupada em
decifrar os símbolos escritos e perder o significado da palavra. Outra característica
é a leitura silabada, sem respeito a pontuação, acentuação, tornando a
leitura impossível de ser compreendida.

Ao escrever podem ser lentos, com desorganização gráfica, escrita vacilante e
confusa, com muitos erros, com letras, sílabas ou palavras escritas em espelho,
invertidas, aglutinadas, com omissões ou acréscimo de letras, tornando a
visualização do texto esteticamente feio e difícil de ser lido e
compreendido.

Diante desse rol de sintomas, geralmente, a criança disléxica tem baixa
auto-estima, não acreditando nela mesma e com baixa resistência para viver
frustrações.

É importante ressaltar que as dificuldades aqui descritas fazem parte de um estágio
inicial da aprendizagem da leitura e da escrita. Só será considerado disléxico
o aluno com a persistência destes indicadores, apesar de uma adequada
escolarização, de um bom estímulo para a leitura e uma boa estrutura doméstica
para suporte. 

O diagnóstico de dislexia é complexo e deve ser construído em parceria com a
escola, com outros profissionais que estejam envolvidos e a família da criança.
Alerto e reafirmo: não é suficiente a criança não conseguir ler para ser
considerada disléxica! A história evolutiva da criança, tipificações de seu
comportamento operatório e também o grau da dificuldade, somados as observações
de todos os envolvidos, construirão o diagnóstico e os procedimentos de
reeducação. O diagnóstico não deve ser encarado como um rótulo final, mas
como o início de uma caminhada recuperadora.

É importante valorizar o potencial de inteligência da criança, motivando-a a
vencer sua dificuldade. 

Entender o que acontece com ela e oferecer adequada e amorosa parceria é
fundamental.

Nós precisamos aprender a valorizar as facilidades dos nossos filhos e alunos,
suas áreas de talento e não somente suas dificuldades. No entanto, devemos ter
cuidado para não superprotegê-los. Atender aos aspectos emocionais da criança
é essencial, mas ela precisa, e muito, de instrumentos pedagógicos para obter
sucesso em suas aprendizagens e potencializar o Ser Aprendiz… e essa tarefa é
trabalhosa, muitas vezes cansativa e requer uma energia amorosa e sábia.

Há várias formas de intervenção e uma criança adequadamente atendida em
suas dificuldades pode surpreender…

Bibliografia de apoio:
GARCIA, Jesus N. Manual de dificuldades de aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
STELLING, Stella. Dislexia. Rio de Janeiro: Revinter, 1996.

Publicado em 01/01/2000


Isabel Cristina Hierro Parolin – Pedagoga pela PUC-PR, Especialista em Psicodrama e Psicopedagogia e Mestre em Psicologia da Educação pela PUC-SP. Atende crianças e jovens em seu processo de aprender ou de não-aprender, assim como a suas famílias, objetivando ações educativas. Consultora institucional, em todo o Brasil, de escolas públicas e privadas. Professora em cursos de pós-graduação em psicopedagogia e áreas correlatas. Pesquisadora do grupo “Aprendizagem e Conhecimento na ação educativa” da PUCPR. Palestrante para pais e professores. Conselheira da Associação Brasileira de Psicopedagogia PR-SUL. Participou de eventos educacionais no Japão, Áustria, Bulgária, Alemanha e Espanha. Autora de vários livros e artigos em revistas, jornais e sites relacionados à aprendizagem e à educação.

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