COMO INTERVIR NOS CASOS DE DISLEXIA ESCOLAR
Vera Helena Castilho
RESUMO
A dislexia é um problema neurológico, genético e hereditário, caracteriza-se pela diferença acentuada na leitura e escrita.
As dificuldades observadas nas escolas, mais especificamente aquelas ligadas a esse transtorno, tem determinado a impossibilidade ao processo normal de aprendizagem. É muito importante professores e familiares reconhecerem os problemas que envolvem a dislexia, para que aprendam a conviver com esse distúrbio, sabendo-se que não tem cura.
O objetivo desse trabalho é contribuir para um nível de preparo mais específico do professor, sobre a dislexia e características das crianças com esse distúrbio de aprendizagem; evitando que sejam rotuladas de preguiçosas, pouco inteligentes ou mal-comportadas (Gorman, 2003).
A partir dessa revisão da literatura, analisamos a possibilidade de fornecermos maiores subsídios para que o educador saiba observar alguns “sinais”, faça encaminhamentos necessários a profissionais especializados e uma intervenção efetiva com alunos disléxicos, pois, quanto mais cedo iniciá-la, menor será a frustração e os sentimentos de fracasso que podem afetar esse aluno.
Palavras-chave: Dislexia; Intervenção; Professor
ABSTRACT
Dyslexia is a neurological, genetic and hereditary, characterized by the marked difference in reading and writing.
The difficulties encountered in schools, specifically those related to this disorder,has determined that it is impossible for normal learning process. It is very important teachers and family recognize the issues surrounding dyslexia to learn to live with this disorder, knowledge that has no cure.
The aim of this study is to prepare a level more specific teacher about dyslexia and characteristics of children with this learning disorder, preventing them from being labeled as lazy,stupid or ill-behaved (Gorman, 2003).
From this literature review, we analyze the possibility of providing greater benefits for the educator knows noted some “signs”, make necessary referrals to specialists and an effective intervention with dyslexic students, therefore the sooner you start it, the less frustration and Feelingsof failure that may affect this student.
Keywords: Dyslexia; Intervention; Teacher
INTRODUÇÃO
A queixa mais frequente nos últimos anos é o baixo desempenho escolar, relacionado a vários fatores, dentre eles os transtornos de aprendizagem existentes (dislexia, dislalia, discalculia, disgrafia, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade entre outros). Gostaríamos de destacar a dislexia, dada a importância de seu conhecimento para a concepção dos educadores e intervenção escolar.
A definição mais utilizada, segundo ABD (Associação Brasileira de Dislexia) é a de 1994 da International Dyslexia Association (IDA): Dislexia é um dos muitos distúrbios de aprendizagem. É um distúrbio específico de origem constitucional caracterizado por uma dificuldade na decodificação de palavras simples que, como regra, mostra uma insuficiência no processamento fonológico. Essas dificuldades não são esperadas com relação à idade e a outras dificuldades acadêmicas cognitivas; não são um resultado de distúrbios de desenvolvimento geral nem sensorial. A dislexia se manifesta por várias dificuldades em diferentes formas de linguagem frequentemente incluindo, além das dificuldades com leitura, uma dificuldade de escrita e soletração. Segundo os critérios do DSM IV-TR (2002), o transtorno de leitura (dislexia), consiste em rendimento em leitura substancialmente inferior ao esperado para a idade cronológica, inteligência e escolaridade do indivíduo.
As tentativas de definir e explicar as causas da dislexia foram inúmeras nas últimas décadas, sendo que as principais são as que explicam a dificuldade como:a)fator relacionado à herança(Vogler, Defries & Decker,1985, Apud Ellis,1995); b)fator relacionado à lateralização cerebral de Geschwind-Behan-Galaburda, teoria GBG, referindo-se ao fato de um atraso no desenvolvimento hemisférico esquerdo, durante o período embrionário; c)fator relacionado ao comportamento social diferente entre meninos e meninas, propondo que meninas tem comportamentos mais socialmente aceitos que meninos, principalmente na escola.
Segundo alguns autores, a dislexia é de origem familial quando presente em cerca de 35% a 40% dos parentes de primeiro grau e herdada quando ocorre hereditariedade em 50% de uma mesma família. (Pennington,1997; Grigorenko et al. 2000,2003; Nopola-Kemmi et al , 2002; Hsu et al, 2002).
A Associação Brasileira de Dislexia fornece dados relatando que, a maior incidência da população mundial que apresenta dificuldade de aprendizagem (10 a 15%), está contida no quadro de disléxicos.
A história familiar é um dos fatores de risco mais importantes: 23 a 65% das crianças disléxicas têm um parente com dislexia (Scarborough,1990).
Entre irmãos, a taxa é de 40%, já entre pais e filhos é de 27 a 49%(Pennington and Gilger,1996).
Segundo o DSM-IV e nos EUA, é de 4% a estimativa da prevalência da perturbação da leitura nas crianças com idade escolar. No entanto, conforme vários autores essa percentagem já se encontra entre 5 a 10%. Berger et al. (1975) realizaram estudo na Inglaterra e constataram ser mais freqüente em meninos.Contudo, estudos mais recentes apontam para uma maior proporcionalidade entre ambos os sexos quando utilizam amostras não clínicas (ABD, 2008).
De acordo com Gorman(2003) e Pennington(1997), as causas da dislexia são neurobiológicas e genéticas, sendo também encontrados estudos que descrevem fatores ambientais.
Considera-se também o nível socioeconômico das famílias, porém as de nível baixo lêem menos para seus filhos e fazem poucos jogos de linguagem com eles, a falta dessas experiências pré-escolares parece retardar o desenvolvimento de habilidades posteriores de leitura (Pennington,1997).
Não há uma característica padrão para todos os disléxicos; consistem num conjunto de sinais e sintomas combinados nos mais variados graus. A dislexia pode apresentar sintomas comuns a outras patologias (Ciasca,2003, p.62).
Estão presentes algumas manifestações no distúrbio específico de leitura: incapacidade de decodificação e dificuldade em tarefas de memória fonológica, também no tratamento ortográfico da informação; danos na via de conversão grafema-fonema; comprometimento e ou bloqueio da via lexical e não-lexical; desempenho muito ruim ou ausência na leitura de estímulos não familiares e pseudopalavras (palavras não reais); maior facilidade para leitura de palavras concretas e freqüentes; preservação da leitura de palavras isoladas; dificuldades no campo visual do lado contralateral ao da lesão cerebral e de leitura de vários itens quando apresentados simultaneamente; leitura letra por letra preservada (Ciasca, 2008, p.72).
Segundo Estill (2005) observa-se no comportamento das crianças que apresentam dislexia, diversos sinais visíveis, entre eles:
– atraso no desenvolvimento da fala e linguagem;
– histórico familiar;
– lentidão nas tarefas de leitura e escrita, porém desempenha-se bem nas orais;
– não compreende o que escreve;
– confusão de letras com diferente orientação espacial (p-q, b-d);
– confusão de letras com sons semelhantes (t-d, f-v);
– inversões de sílabas ou palavra (par – pra);
– substituições de palavras com estrutura semelhante;
– omissão, adição ou repetição de letras ou sílabas;
– dificuldades rimas-canções;
– falta de coordenação motora fina e ou grossa;
– falta coordenação mão e olho;
– desatenção e dispersão;
– disgrafia;
– desorganização geral (tempo e espaço), desengonçado;
– fraco senso de direção (dir/esq), mapas, dicionários;
– dificuldades visuais: postura de cabeça-organização do trabalho na folha;
– dificuldade em aprender nomes de letras ou sons do alfabeto;
– dificuldade aprender relação grafema-fonema;
– problemas de conduta na sala de aula mostrando-se tímido ou “exibicionista”.
2. Dificuldade do professor frente ao diagnóstico
A falta de conhecimento das características de crianças disléxicas por parte dos professores, pais e gestores educacionais, desfavorece o processo ensino- aprendizagem.
De acordo com Collares e Moysés (1992), o uso da expressão “distúrbio de aprendizagem” está se expandindo entre os professores, porém, a maioria deles não conhece devidamente o significado dessa expressão ou quais os critérios baseados para utilizá-la no contexto escolar.
Nas instituições de ensino, professores relatam que crianças inteligentes apresentam grande dificuldade para escrever e ler. Esses profissionais geralmente são os primeiros a observar as dificuldades em crianças disléxicas, porém, sem informações e conhecimentos devidos acerca das dificuldades específicas encontradas na dislexia. É primordial saber detectá-las para facilitar seu trabalho, lidar melhor, apoiar o aluno, fazer encaminhamentos necessários para os serviços competentes e posteriormente uma intervenção pedagógica (Weiss, 2008, p. 93-101).
A Instituição escolar se confronta com um dilema: o desafio de atender ás diferenças de aptidões entre os alunos e, ao mesmo tempo, prepará-los para atingir objetivos estandardizados; surgindo as situações problemáticas quando consideramos alunos com dificuldades de aprendizagem, como é o caso da dislexia.
É fundamental contribuir para uma promoção de sucesso das crianças disléxicas e imprescindível melhorar o fluxo da informação entre a escola e a comunidade, de modo que pais e alunos possam conhecer tanto aquilo que a escola pode oferecer como as limitações com que se debate; organizar encontros entre a equipe especializada e todos os interessados, para que possam adotar uma abordagem de colaboração e cooperação que torne mais fácil a busca de soluções.
Os professores devem saber que os alunos com dislexia podem ser bem sucedidos na escola, precisando é de formas diferentes de ensino; devem ser positivos e construtivos: reconhecer que uma criança com dificuldades específicas de aprendizagem pode demorar mais tempo a aprender e cansar-se rapidamente; deve ser cuidadoso não aplicando rótulos negativos; assegurar um ambiente educativo estruturado, previsível e ordenado; deve saber que ameaças ou chantagens não motivam a criança com dislexia, ela necessita de instruções claras e de um ritmo mais lento e repetido; deve valorizar as capacidades da criança, apoiando-se nos seus pontos fortes (Cogan,2002). O mesmo autor refere que o professor deve manter-se informado acerca dos problemas encontrados pelos disléxicos; reconhecer que um ensino por objetivos voltado para as competências e utilizando uma metodologia multisensorial pode ser de grande utilidade; reconhecer a frustração sentida pelo aluno com dislexia e que pode acarretar possíveis problemas de comportamento ou auto-estima. É fundamental, destacando a relevância do professor no apoio ao aluno com dislexia, que ele demonstre atenção e compreensão; construa uma boa relação professor-aluno; lembrar-se que esta criança aprende de uma forma diferente, mas que é capaz de aprender; saber que na realização de suas atividades, trabalhos e provas, sua oralidade é a melhor habilidade indicada, pois revela grandes lacunas no que diz respeito à parte escrita; fazer com que outras crianças compreendam a natureza da dislexia, para evitar zombarem e importunarem os colegas portadores da mesma.
Vale ressaltar que a Lei nº 7.853 de 24/10/89- regulamentada pelo Decreto nº 3.298 de 21 de dezembro de 1999, assegura alguns direitos à educandos com necessidades educacionais especiais, como: as instituições de ensino deverão oferecer adaptações de provas e os apoios necessários, previamente solicitados pelo aluno portador de deficiência, inclusive tempo adicional para realização das provas, conforme as características da deficiência; adotar orientações pedagógicas individualizadas, e outras garantias.
A escola e o professor, oferecendo uma educação mais apropriada estarão colaborando com o sucesso escolar desses alunos, portanto é bastante eficaz fazer uso de materiais diversificados no apoio das aulas, oferecer resumo dos conteúdos que serão abordados, ministrar suas aulas com clareza e repetição, dar instruções orais e escritas ao mesmo tempo, apresentar novas palavras de forma contextualizada, realizar sempre que possível aulas de revisão e traballhos em grupo, fazer a leitura em voz alta antes de iniciar a avaliação e acrescentar o tempo para a realização da mesma, entre outros.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do tema pesquisado é possível chegar às seguintes conclusões: ainda há um distanciamento entre pesquisa e prática em muitas áreas da Educação, especialmente na avaliação e ensino da leitura; a escola ainda não responde eficazmente ao desafio de trabalhar com as necessidades educacionais, relacionadas às dificuldades de linguagem no que se refere à leitura e escrita, chamando atenção para a ausência de esclarecimento adequado a respeito do insucesso da aprendizagem escolar.
O diagnóstico, avaliação, identificação e intervenção mais adequadas de crianças com dislexia são fundamentais para a superação das dificuldades escolares e contribuem na melhoria do desenvolvimento psicológico das mesmas; é necessária a elaboração de estratégias mais eficientes de intervenção, a orientação aos pais e professores é parte fundamental desse programa; é imprescindível um encaminhamento dessas crianças com dislexia a uma equipe de profissionais competentes, sendo relevante proporcionar aos professores contínua reciclagem para que possam vir a responder às necessidades específicas desses alunos.
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Publicado em 28/10/2010 11:31:00
Vera Helena Castilho – Especialista do Curso de Especialização Lato Sensu em Psicopedagogia Clínica e Institucional: Educação e Saúde da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto.
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