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GLOBALIZAÇÃO E OS DESAFIOS

Rosilene de Lima

Globalização e os desafios para a educação na sociedade atual

Resumo:
O presente trabalho tem por objetivo abordar as transformações ocorridas na sociedade, decorrentes do fenômeno da globalização, e seus desdobramentos no campo educacional, especialmente no que diz respeito à diversidade cultural. Para tanto, num primeiro momento, trataremos das mudanças desencadeadas no universo do trabalho, diante da inserção de novas tecnologias e da substituição do modelo de produção taylorista/fordista pelo toyotista, também discutiremos os novos papéis desempenhados pelo Estado e suas formas de atuação. Num segundo momento, tendo em vista o encaminhamento da discussão, direcionamos nosso olhar para a diversidade cultural, buscando analisar suas implicações para a educação. Em nossa análise tomaremos como referência alguns documentos oficiais, internacionalmente reconhecidos, tais como: a “Declaração Universal da UNESCO Sobre a Diversidade Cultural”, o “Relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano (2004), intitulado ”Liberdade Cultural num Mundo Diversificado”, a Declaração de “Princípios Sobre a Tolerância” (1995) e o “Relatório Jacques Delors” (1998), ao qual damos ênfase em seu quarto capítulo intitulado “Os Quatros Pilares da Educação”, por considerá-lo fundamental para o entendimento da nova concepção de educação frente às mudanças. A partir da análise dos documentos mencionados, teceremos algumas considerações acerca do grande desafio dos educadores da atualidade, qual seja, o de valorizar e respeitar as multiculturas, ou seja, os diversos grupos de homens, mulheres, homossexuais, brancos, negros, índios, deficientes, etc., que lutam contra o preconceito, exclusão e discriminação, formalizando demandas específicas e impondo um novo patamar para a discussão dos direitos humanos.

Palavras-chave: Globalização. Mudanças do trabalho. Redefinição do papel do Estado.  Educação. Diversidade cultural.

Introdução
O presente trabalho2 objetiva abordar as mudanças ocorridas na sociedade, decorrentes do fenômeno da globalização e suas implicações no âmbito educacional, em especial, no que diz respeito à diversidade cultural. Para uma melhor compreensão da temática proposta é pertinente levar em consideração alguns fatores que contribuíram para essas mudanças, tais como: as inovações tecnológicas, redefinição do papel do Estado e de suas formas de atuação, as alterações no modelo de produção e suas conseqüências para as relações de trabalho e para a educação.

Globalização: Mudanças na Sociedade Atual
Em linhas gerais globalização pode ser definida como “[…] um estágio mais avançado do processo de internacionalização econômica, social, cultural e política que esta ocorrendo no mundo capitalista […]” (JACQUES, 2007).
O processo de globalização trouxe profundas mudanças para a sociedade atual. Do ponto de vista econômico, com as transformações tecnológicas ocorridas nas últimas décadas, o globo tornou-se um grande mercado onde não mais existe a noção de tempo e espaço de acordo com HARVEY, apud JACQUES (2007), “hoje, tempo e espaço são questões subjetivas e adquiriram novos sentidos”, uma vez que já não podemos seguir o giro do relógio, a internet nos trouxe uma reestruturação de espaço levando em consideração que podemos estar no mesmo momento em tempos e espaços diversos. Isso faz com que empresas e especuladores busquem obter a mercadoria mais valorizada da economia pós-moderna, a informação operacional SIQUEIRA (1997). Assim, milhões de dólares emigram em questão de segundos de um país para o outro levando vantagem àquele que for mais rápido no acesso às informações atualizadas e nas tomadas de decisões. Este processo faz com que os diversos países assumam uma postura diferenciada, reconfigurando suas políticas internas a fim de atender as necessidades da sociedade globalizada.
Neste contexto, verificam-se, ainda, alterações no modelo de produção culminando em mudanças na esfera do trabalho.  De acordo com ANTUNES e ALVES (2004), no modelo taylorista/fordista, há uma concentração e padronização da produção, o que representa uma produção em grande escala de bens homogêneos. Nesse processo, a produção possui base rígida, com grandes linhas de montagem, possibilitando a precisão de tempo e grandes estoques, porém, determinada pelos recursos. No que se refere à organização do trabalho, ocorre uma divisão entre planejamento e execução das atividades, na qual cada trabalhador exerce de forma específica ou especializada, uma função única de forma hierarquizada, o que implica na possibilidade de um plano de carreira. Em contrapartida, com a introdução do modelo denominado modelo flexível ou toyotista, há uma reestruturação produtiva, que ao estabelecer novos padrões tecnológicos e organizacionais, dá ênfase na produção de serviços e exige novos saberes e competências do trabalhador. Neste novo modelo a produção é enxuta e cada vez mais diversificada, na busca de atender o gosto individual do cliente e as constantes mudanças nas demandas do mercado. Assim, não existe um padrão de produtos como no modelo anterior.
Compatível com a nova organização produtiva, o trabalhador deve assumir um comportamento também mais flexível e multifuncional. Para isso, deve ser hábil, buscar soluções para seus próprios problemas, ter autonomia, iniciativa e capacidade para enfrentar os novos desafios e situações imprevistas, responsabilidade por seu êxito ou fracasso. Isto faz com que ele busque seu aperfeiçoamento contínuo, tornando-se um empreendedor da sua vida profissional.
De acordo com Antunes e Alves (2004), essas alterações no mundo do trabalho também têm conduzido, por um lado, à desregulamentação das relações de trabalho, a fragmentação da classe trabalhadora3, a precarização das condições de trabalho.  Por outro, a apropriação da subjetividade do trabalhador. Isso tem exigindo que ele saiba dividir responsabilidades, trabalhar em equipe, tomar decisões, dar opiniões, ser solidário e respeitar as diferenças. Com isso, há uma tendência de horizontalização das relações de trabalho.
No entanto, importa-nos ressaltar que esse processo não atinge todas as empresas, em muitas ainda predomina o modelo anterior ou a combinação de ambos. Verifica-se, também, que todas essas mutações não estão ocorrendo apenas em alguns países, mas de forma mundializada, pois a transnacionalização do capital e sua monopolização, faz com que qualquer alteração econômica, independente do país, acabe atingindo os demais.
Os avanços tecnológicos e dos meios de comunicação nos coloca em contado com diferentes pontos do planeta, aproximando culturas e realidades distintas. A necessidade de sobrevivência faz com que ocorra uma onda crescente imigração de trabalhadores de países subdesenvolvidos para os desenvolvidos. Isso tudo resulta na necessidade de maior convivência com o diferente, o que por sua vez, implica em modificar comportamentos e moldar novas relações.  
Do ponto de vista político, um aspecto que merece ser salientado é a redefinição no papel do Estado. Este segundo CARVALHO (2005), deixa de ser responsável pela regulamentação da economia, manutenção de empregos, atuação na garantia de direitos, ampliação da participação política das classes subalternas, promoção de políticas governamentais em atenção às reivindicações populares e, principalmente, a intervenção direta na economia a fim de tornar a competição previsível e mais estável, para assumir a política do Estado Mínimo, com adoção de princípios neoliberais, preconizando a não intervenção estatal, a liberdade de concorrência – competitividade, a desresponsabilização do Estado em relação a funções básicas como saúde, educação, geração de empregos, etc.
Neste novo cenário, há um crescimento do trabalho voluntário, a fim de suprir as lacunas deixadas pelo Estado:

[…] À medida que o Estado em crise restringe os gastos e se exime da solução direta dos problemas sociais, através da oferta de serviços e promoção de políticas públicas, ele estimula a reorganização da sociedade civil, suscitando a aparição de um número de novas instituições de âmbito privado, que prestam serviço público e de ONGs que compõem o chamado “Terceiro Setor”. (CARVALHO, 2005, p.64)

Com a transferência das responsabilidades do Estado para outras instituições, as Organizações Não Governamentais (ONGs) passam a atuar junto a sociedade, desenvolvendo projetos, por meio dos quais buscam atender as áreas da saúde, educação, proteção ambiental, dentre outras. Verifica-se dessa forma, que o número de ONGs e de voluntários tem um aumento considerável nas últimas décadas. Isso tem exigido uma nova concepção de cidadania, a qual o cidadão não espera que o Estado resolva seus problemas, mas tenha autonomia para buscar soluções para os seus próprios problemas e seja responsável pelos resultados.
Vejamos agora, de que maneira se configura o setor educacional diante das mudanças ocorridas no processo de globalização.

Globalização e o Novo Paradigma Educacional
Diante das mudanças que têm ocorrido no mundo do trabalho, citadas anteriormente, à escola, como instituição social, cabe realizar seu trabalho pedagógico pautado em uma visão global, a fim de atender as demandas da sociedade do atual. Para Siqueira (2003), vivemos numa sociedade, a qual surge novas ocupações e oportunidades que exigem novas competências dos indivíduos, dentre elas merecem destaque o “aprender a aprender” para que tenhamos indivíduos autônomos, que sejam capazes de produzir informações e novos conhecimentos, a fim de adequarem-se às mudanças constantes do mercado produtivo.
O Relatório Jacques Delors (2001) recomenda que a educação, para atender as demandas da sociedade atual, esteja amparada em Quatro Pilares fundamentais. Esses pilares devem servir de base para a educação do indivíduo ao longo de toda a vida e em todas as situações, formais e informais de seu cotidiano. A esse respeito o documento diz:

A educação não pode contentar-se em reunir as pessoas, fazendo-as aderir a valores comuns forjados no passado. Deve, também, responder a questão: viver juntos, com que finalidades, para fazer o quê? E dar a cada um, ao longo de toda vida, a capacidade de participar, ativamente, no projeto de sociedade (DELORS, 2001, p. 60).

Assim, percebe-se de maneira clara a preocupação do documento em ressaltar a prática democrática no interior da escola, preparando seus educandos para atuarem de maneira responsável na sociedade. A educação cabe não apenas conscientizar os sujeitos de seus direitos e deveres, mas desenvolver neles sua competência social como, por exemplo, o respeito pelo outro. Sob esta perspectiva o Relatório sugere quais devem ser os saberes básicos:

Aprender a conhecer – diz respeito ao fato de que o indivíduo não apenas adquirira conhecimentos diversos, mas ser capaz de construí-los em contato com a cultura global sem deixar de lado suas raízes. Nota-se dessa maneira, que além de aprender, trata-se do prazer em adquirir novos conhecimentos não só para o mundo do trabalho, como para sua formação humana.  
Aprender a fazer – está ligado ao caráter prático, ou seja, levar o aluno a pensar e adaptar-se às mudanças no mundo do trabalho, destacando os relacionamentos interpessoais, o caráter cognitivo das tarefas e as competências subjetivas. Decorre daí a necessidade da educação, em atendimento a tais exigências, buscar desenvolver no educando qualidades pessoais como: a comunicação, o trabalho em equipes e o espírito de liderança.
Aprender a viver juntos – este aspecto é posto como um dos maiores desafios da educação. Não significa confrontar diferentes grupos, mas promover a descoberta do outro. O conhecimento de si mesmo entra como o primeiro passo à aceitação do outro, assim, gradativamente, os diferentes grupos vão tendo contato, especialmente por meio da realização de projetos comuns, e aprendendo a conviver, conhecendo e respeitando suas diferenças.
Aprender a ser – é uma via de integração das três anteriormente citadas. O indivíduo, mesmo estando em contato com as diversas inovações tecnológicas e as diferentes culturas não pode perder sua essência humana. A educação nesta perspectiva deve conferir a todos os seres humanos “[…] a liberdade de pensamento, discernimento, sentimentos e imaginação de que necessitam para desenvolverem talentos e permanecerem, tanto quanto possível, donos do seu próprio destino”, quanto responsáveis pela realização do destino coletivo. (DELORS, 2001, p. 100)

Do ponto de vista educacional, o Relatório Jacques Delors (2001) merece destaque, pois apresenta, como podemos observar acima, de maneira clara a preocupação com a prática democrática no interior da escola, de preparar os educandos para atuarem de maneira responsável na sociedade, visto que entre suas recomendações estão: o cuidado com a construção de conhecimentos em meio à cultura global para a formação humana, a questão dos relacionamentos interpessoais e as competências subjetivas, a aceitação do diferente por meio do diálogo entre os diferentes grupos e o contato com a diversidade sem perder a essência humana. À educação, nessa perspectiva, cabe não apenas conscientizar os sujeitos de seus direitos e deveres, mas desenvolver neles sua competência social como, por exemplo, o respeito pelo outro.
Essa perspectiva educacional contempla as discussões sobre o multiculturalismo e a diversidade cultural, presentes nos debates contemporâneos. Vários documentos internacionais comprovam a relevância que essa temática vem assumindo na atualidade, dentre os quais merecem destaque: a) a “Declaração Universal da UNESCO Sobre a Diversidade Cultural” que,

[…] além de afirmar a diversidade cultural como um “patrimônio comum da humanidade”, reitera o papel da Unesco como “ponto de referência e fórum no qual os estados, as organizações governamentais e não–governamentais, a sociedade civil e o setor privado podem unir-se para elaborar conceitos, objetivos e políticas em favor da diversidade cultural” e define linhas gerais de um plano de ação que inclui a consideração de oportunidade de um instrumento legal internacional sobre a diversidade cultural. (SALDANHA, 2006).

Confirmando seu apoio em relação ao pleno desenvolvimento dos Direitos Humanos e das liberdades fundamentais, leva em conta o respeito à diversidade cultural na tolerância, no diálogo, na cooperação e na solidariedade como meio de garantir a paz e a segurança internacional; b) O “Relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano (2004), intitulado “Liberdade Cultural num Mundo Diversificado”, defende que as liberdades culturais devem ser compreendidas como Direitos Humanos Básicos e como necessidade para o desenvolvimento da sociedade, que se mostra cada vez mais diversa, defende ainda o direito à identidade étnica, lingüística e religiosa, bem como, as políticas que reconhecem e protegem essas identidades, a fim de construir sociedades culturalmente diversificadas e inclusivas, com o objetivo de combater a pobreza; c) A Declaração de “Princípios Sobre a Tolerância”, publicada em 1995 pela UNESCO, reafirma os princípios liberais, liberdade de pensamento, de consciência e de crenças, sendo acrescentada a temática da inclusão social para a promoção da paz no mundo, visto que no momento histórico atual há uma intensificação da intolerância, da violência, do terrorismo, do racismo, da xenofobia, da exclusão, da marginalização, da discriminação contra as minorias étnicas, religiosas e lingüísticas, etc., comportamentos que tem ameaçado a consolidação da paz. Neste sentido, é pertinente salientar que a atuação da educação não formal, encontradas no âmbito familiar ou na comunidade são de grande valia no incentivo à apropriação dos princípios de tolerância, no entanto, a escola é vista como fundamental, pois é ela o berço do desenvolvimento desses valores. (MEC/UNESCO, 1995, p. 10).
Percebe-se, na perspectiva da Diversidade Cultural, novos objetivos para as instituições de Ensino, sendo estas, por excelência, de ambiência propícia para ensinar uma convivência pacífica entre os vários grupos raciais que passam pela escola. Dessa forma, para a escola atingir seus objetivos ela deve contar com a colaboração de todos: Poder Público, coordenação pedagógica dos estabelecimentos, comunidade a qual a escola está inserida, professores, alunos, funcionários, entre outros.
É pertinente ressaltar que, para que a escola possa realizar sua proposta educacional, voltada para a demanda da diversidade, esbarra em alguns impasses com veremos a seguir:

•Políticas Públicas Afirmativas que visam atender uma minoria deixando margem uma grande parte da população excluída dos seus sistemas de ensinos. Mas, a problemática não passa apenas pela questão da inclusão, é preciso entender que mesmo os incluídos no sistema educacional continuaram excluídos dos outros setores da sociedade como: trabalho, saúde, etc.

•Desvalorização do magistério e aumento de suas atribuições, pois se na década de 40, como afirma Paro (2007), ser professor era um sacerdócio, hoje esse termo é usado no sentido pejorativo. O professor tem que trabalhar em dois períodos de aula, visto que não consegue se manter com apenas um padrão, cabendo a ele dar conta de seu plano de ensino, articulando as disciplinas obrigatórias com os temas transversais, e ainda resolver conflitos extra-escolares de seus alunos. Diante desse panorama, não sobra tempo para sua formação continuada e, como conseqüência, sua remuneração é cada vez mais baixa.

•Sociedade formada pela divisão de classes, cujo modelo econômico é o neoliberalismo, voltada para preservação da elite no poder, o que significa dizer que jamais teremos uma igualdade social. No neoliberalismo há um afastamento do Estado das funções básicas como saúde, geração de empregos, segurança e especialmente a educação. Atualmente, no Brasil, vivenciamos esse modelo. Seus princípios podem ser observados em ações como a descentralização do ensino, por exemplo, na qual a escola assume a responsabilidade de gerenciar seu orçamento e sua proposta educacional, acumulando funções que antes eram do Estado.

Tendo em vista os empecilhos explicitados, é relevante salientar que no momento histórico no qual vivemos, mesmo sabendo das dificuldades que perpassam o interior de nossas escolas, é preciso acreditar na transformação social e numa verdadeira educação de qualidade que atenda a singularidade de cada sujeito ou como afirma Freire (1979), a educação tem caráter permanente, não a seres educados e não educados, estamos o tempo todo nos educando em diversas situações de nossas vidas.
Entendemos que a preocupação em desenvolver uma prática pedagógica capaz de envolver a comunidade escolar como um todo (alunos, pais, funcionários, professores, etc.), procurando instigar, mobilizar, organizar e articular o desempenho humano promovendo uma ação coletiva para elevação da qualidade do ensino, deve ser um exercício inerente a todo aquele que se compromete com a educação. Dessa maneira, a escola e os professores precisam mudar sua forma de agir; devem ter uma atuação voltada para o atendimento da sociedade diversificada na qual se inserem.
Com relação às orientações internacionais, podemos verificar que as mesmas se fazem presentes nos encaminhamentos das políticas locais. O Brasil, comprometido com as políticas acima citadas tem instituído e implementado um conjunto de medidas e ações que objetivam corrigir as injustiças por meio de legislações e documentos que contemplam entre outras o sistema de cotas, o respeito à diversidade, inclusão social, desenvolvimento da cidadania.
Assim, a educação na atualidade passa a dar relevância às políticas afirmativas, reparatórias, inclusivas e compensatórias. Reconhecendo que o princípio de igualdade de todos perante a lei é insuficiente, ela tem buscado combater as discriminações e preconceitos, por meio de mudanças curriculares, a exemplo dos PNCs e das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana que introduzem na escola temáticas que dizem respeito a valorização das características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais; edição de livros e materiais didáticos que buscam incluir a história da cultura africana, afro-brasileira e indígena e valorizar a participação dos diferentes grupos sociais e étnico-raciais na construção da nação brasileira, ou por meio da inclusão no ensino regular crianças com necessidades especiais, dentre outras.

Considerações Finais:
Embora os documentos internacionais e nacionais venham dando ênfase à diversidade cultural, especialmente a partir de meados da década de 90, é interessante lembrar que a maioria das instituições brasileiras de ensino não modificou sua forma de atuação, ou seja, do ponto de vista pedagógico, o currículo escolar e a organização do trabalho pedagógico não tem correspondido aos novos princípios estabelecidos.
Em relação ao aspecto administrativo, ainda predomina uma relação verticalizada do papel do diretor, que controla e comanda sua equipe estabelecendo metas que devem ser alcançadas, sem levar em consideração a participação dos demais integrantes do grupo. Esta forma de organização é melhor visualizada sob o conceito de administração, de base rígida, no qual o administrador cobra resultados, estabelecendo uma hierarquia entre os funcionários; tem uma previsibilidade do comportamento dos mesmos; além de ditar as regras que sua equipe deve implementar. Não se leva em conta os princípios administrativos baseados no relacionamento participativo, dialógico e democrático, mais apropriados para lidar com as diferenças de gênero, raça, etnias, valores, tradições, expressões artísticas, níveis de conhecimento e desenvolvimento, gerações, etc., que a escola se vê compelida a conviver no seu cotidiano.
No nosso entendimento, os educadores devem realizar sua prática educativa com a participação de toda a comunidade escolar (pais, alunos, funcionários, etc.), procurando instigar, mobilizar, organizar e articular o desempenho humano, promovendo uma sinergia coletiva para elevação da qualidade do ensino. Concordamos com CANEN (2005), quando diz que a escola e os professores precisam mudar sua forma de agir; devem ter uma atuação voltada para o atendimento da sociedade diversificada na qual se inserem; marcada pelo fenômeno da globalização, que nos faz observar o diferente modificando nossa forma de pensar e nosso comportamento.
Essa tarefa compreende um longo caminho a ser percorrido pelos envolvidos com os processos educativos.  Acreditamos que os diferentes grupos querem muito mais que a valorização e o respeito por suas diferenças, mas almejam que elas sejam entendidas, problematizadas e superadas. Nesse sentido, o espaço educativo é visto com um ambiente propício para favorecer as inter-relações e a aprendizagem por meio do diálogo entre os diferentes grupos. Para isso, o educador precisa ser ético, ou seja, manter o respeito e valorizar as diferenças, procurando ter em conta a multiculturalidade no desenvolvimento de planos pedagógicos e planos de ensino (conteúdos e procedimentos de ensino-aprendizagem).
Eis um grande desafio, valorizar e respeitar as multiculturas, ou seja, os diversos grupos de homens, mulheres, homossexuais, brancos, negros, índios, deficientes, etc., que lutam contra o preconceito, exclusão e discriminação, formalizando demandas específicas e impondo um novo patamar para a discussão dos direitos humanos.
Para finalizar cabe ressaltar que, reconhecer as diferenças não resolve o problema da desigualdade, porque os diferentes continuam sendo excluídos das condições de emprego, moradia, dentre outras. Isto é, já são excluídos pela própria condição social. Neste sentido, compreendemos que compete ao educador criar meios de levar seus educandos à reflexão e conscientização do seu papel enquanto cidadão para a transformação da sociedade.

Notas:
1 Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Maringá – UEM; Especialista em Educação Especial – Atendimento às necessidades educacionais especiais pela Faculdade Iguaçu; Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da UEM e Bolsista pela Fundação Araucária.
2 Este trabalho é resultado de uma comunicação realizada na Semana de Pedagogia da Universidade Estadual de Maringá, Campus Regional de Cianorte, no ano de 2007, sob a orientação da Profª Drª Elma Júlia Gonçalves Carvalho.
3 Uma das consequências desse processo é a de que “a classe trabalhadora, portanto, é mais ampla que o proletariado industrial produtivo do século passado, embora este ainda se constitua em seu núcleo fundamental. Ela tem, portanto, uma conformação mais fragmentada, mais heterogenia, mais complexificada (ANTUNES E ALVES, 2004, p. 343)”.

REFERÊNCIAS:
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http://www.cedes.unicamp.br>
CANEN, A.; XAVIER, G. P. M. Multiculturalismo, pesquisa e formação de professores: o caso das Diretrizes Curriculares para a Formação Docente. Ensaio: aval. pol. públ.Educ. v.13 n.48. Rio de Janeiro, jul/set. 2005.
CARVALHO, Elma Júlia Gonçalves. Autonomia da Gestão Escolar: democratização e privatização, duas faces de uma mesma moeda. 2005. 235f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Metodista de Piracicaba. Orientador: Prof° Dr. Valdemar Sguissardi. Piracicaba, SP, 2005.
DELORS, Jaques. Educação: um tesouro a descobrir. 6ª ed.; São Paulo: Cortez, Brasília, MEC: UNESCO, 2001.
FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
JACQUES, V. L. B. Globalização: características gerais do capitalismo global. In: JACQUES, V. L. B. O processo de globalização e suas implicações no exercício da cidadania. Monografia: Especialização em Pensamento Político Brasileiro – UFSM. Orientador: Prof° Dr. Holgonsi Soares Gonçalves Siqueira. 2007. Disponível em: <
http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/vera.html> Acesso em: 19/07/07.
LÜCK, Heloisa. Gestão Educacional: questão paradigmática. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. (Série Cadernos de Gestão, v.1).
MEC/UNESCO. Declaração de Princípios sobre a Tolerância. 1995, p. 10.
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RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO. Liberdade Cultural num Mundo Diversificado. PNUD, 2004.
SALDANHA, Patrícia. Convenção da Unesco sobre Diversidade Cultural. Comunicação Social/MinC. publicado por Assessoria de Comunicação Social. 20/12/2006. Disponível em: <
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SIQUEIRA, Holgonsi Soares Gonçalves. Novo Paradigma Informacional. Publicado no jornal “A Razão” em 10/12/2003. Disponível em: <
http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/ informal.html/> Acesso em 19/07/2007.

Publicado em 28/10/2010 11:28:00


Rosilene de Lima – Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Maringá – UEM; Especialista em Educação Especial – Atendimento às necessidades educacionais especiais pela Faculdade Iguaçu; Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da UEM e Bolsista pela Fundação Araucária.

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