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MILTON NASCIMENTO: UMA EXPERIÊNCIA DE GÊNERO INFANTIL NA ESCOLA Alberto Carlos de Souza e Túlio Alberto Martins de Figueiredo
Resumo Palavras Chave: Milton Nascimento; Gênero; Música Popular Brasileira; Crianças; Arte Resumen Palabras Clave: 1.Género; 2.Música Popular Brasileña; 3. Niños; 4.Educación Artística Introdução Sobre este relato, especificamente, tratou-se de um projeto implementado à luz dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) – um documento editado pelo Ministério da Educação e que oferece as balizas para se construir uma referência curricular nacional para o ensino fundamental. Dentre as suas muitas recomendações estes parâmetros recomendam aos educadores que […] as crianças e os jovens deste país desenvolvam suas diferentes capacidades, enfatizando que a apropriação dos conhecimentos socialmente elaborados é a base para a construção da cidadania e da sua identidade, e que todos são capazes de aprender e mostrar que a escola deve proporcionar ambientes de construção dos seus conhecimentos e de desenvolvimento de suas Inteligências com suas múltiplas competências (BRASIL, 1998, p. 10-11). Sobre este relato, especificamente, tratou-se de um projeto implementado à luz dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) – um documento editado pelo Ministério da Educação e que oferece as balizas para se construir uma referência curricular nacional para o ensino fundamental. (BRASIL, 1998). De acordo com os referidos PCN, é necessário que os docentes atuem com a diversidade existente entre os alunos e que com os seus conhecimentos prévios sirvam como fonte de aprendizagem de convívio social e não apenas como um meio de aprendizagem de conteúdos específicos (BRASIL, 1998). Assim posto, entendermos que as questões afeitas às relações de gênero – aqui incluídas a mulher e a sua relação com o trabalho -, constituem um tema social urgente. Como forma de celebrar o Dia Internacional da Mulher na escola, propusemos este projeto interdisciplinar de protagonismo das crianças, deixando emergir suas representações sobre a mulher. Conforme observam Schiele e Boucher (2001), as representações são construções simbólicas que norteiam as atividades. Tais representações são elaboradas coletiva e socialmente pelos atores sociais e servem para os mesmos nomearem, apreenderem e transformarem o seu meio ambiente. Essas representações circulam e transformam-se principalmente por meio das relações de comunicação desenvolvidas entre os atores sociais. Sobre as representações sociais – uma forma de conhecimento prático que se inserem muito bem entre as correntes que estudam o senso comum -, Moscovici (1978, p. 26) as definem como “uma modalidade de conhecimento particular que tem por função a elaboração de comportamentos e a comunicação entre os indivíduos”, visto que constituem “um corpus organizado de conhecimentos e uma das atividades psíquicas graças às quais os homens tornam inteligível a realidade física e social, inserem-se num grupo ou numa ligação cotidiana de trocas, liberando os poderes de sua imaginação (Moscovici, 1978, p. 28). Na elaboração do referido projeto, o nosso propósito foi o de deixar emergir as representações que as crianças – enquanto atores sociais cheios de conhecimentos prévios -, tinham sobre as mulheres. Para tal nos apropriamos da música “Maria, Maria”, de autoria de Nascimento e Brant (1978), como ponto de partida da nossa intervenção, por entendermos que esta letra é um hino de amor às mulheres (in)comuns brasileiras, que, assim como aquelas trabalhadoras norte-americanas de 1857, ainda lutam por fazer valer os seus direitos e participam da construção do nosso cotidiano social. Apoiados pela musicalidade da interpretação de “Maria, Maria”, na voz de Milton Nascimento, buscamos através do desenvolvimento da tensão psíquica das crianças, dar visibilidade às representações que as mesmas têm sobre a mulher. Utilizamos para tal a linguagem estética, compreendida pela sua dimensão plástica e musical. Sobre o conceito de tensão psíquica, tão essencial ao processo de criação, Ostrower (1987) observa que, […] Criar não representa um relaxamento ou um esvaziamento pessoal, nem uma substituição imaginativa da realidade; criar representa uma intensificação do viver, um vivenciar-se no fazer; e, em vez de substituir a realidade, é a realidade; é uma realidade nova que adquire dimensões novas pelo fato de nos articularmos, em nós e perante nós mesmos, em níveis de consciência mais elevados e mais complexos. Somos, nós, a realidade nova. Daí o sentimento do essencial e necessário no criar, o sentimento de um crescimento interior, em que nos ampliamos em nossa abertura para a vida (OSTROWER, 1987, p. 27-28). O ponto de partida do projeto foi o alcance do seguinte objetivo: conhecer as representações sociais que crianças têm sobre as mulheres, tendo como referência a música “Maria, Maria”, de Milton Nascimento e Fernando Brant. Metodologia A intervenção teve como cenário a Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Prof. Vercenílio da Silva Pascoal, da Rede Municipal de Educação de Vitória / ES. O universo desta intervenção foi constituído pelos 27 estudantes da turma única do 5º ano do Ensino Fundamental da referida escola. O trabalho foi realizado através de atividades de laboratório e constou dos seguintes momentos: “Quem é essa mulher, de quem tanto fala a música?”; Para a elaboração do relatório desta experimentação estética tomamos como suporte a Análise de Conteúdo, entendida como “[…] um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição de conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam interferência de conhecimentos relativos às condições de produção/ recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens” (BARDIN, 2000, p. 42). Maria, Marias … Nem todos os fenômenos sociais são formadores de Representações Sociais. Uma Representação Social surge onde houver perigo para uma identidade coletiva e traduz a relação de um grupo com um objeto socialmente valorizado. Assim, toda Representação Social é a representação de algo e/ou de alguém por alguém. Nossa opção por esse quadro teórico ficou assim justificada: a representação de alguém – a mulher –, por um grupo de crianças. Mas afinal, quem são essas crianças? São, conforme nos apresenta Del Priore (2006), crianças brasileiras como aquelas que estão em toda parte, com destinos variados e variados rostos: rostinhos mulatos, brancos, negros e mestiços. Algumas amadas e outras simplesmente usadas. A partir das cenas de produção estética elaboradas por aquelas crianças, através da técnica de desenho com massa de modelar em papel branco, construímos cinco categorias analíticas que nos deram conta de compreender que, para essas crianças, Maria faz-se representar, nesta ordem, principalmente como: Podemos evidenciar que neste estudo, as representações de Maria como figura parental – mãe ou avó -, ou como trabalhadora, são as que mais se sobressaem, denotando a importância da família e do trabalho feminino na vida dessas crianças. Sobre a família, D’Inácio (2004) observa que foi a partir do século XIX, época marcada pelo início da urbanização brasileira, que a mulher ressignifica, pela primeira vez em nosso contexto histórico, o seu lugar nas relações da chamada família burguesa, fortemente valorizada pelos sentimentos de intimidade e maternidade. Dessa forma, a mulher passa a fazer parte de um sólido ambiente familiar, o lar acolhedor, tendo como função o cuidar dos “filhos educados e (ser) esposa dedicada ao marido, às crianças e desobrigadas de qualquer trabalho produtivo, representavam o ideal de retidão e probidade, um tesouro social imprescindível” (D’INACIO, 2004, p. 223). Tal concepção de sociedade, reservando “ao homem, o universo do público, o trabalho remunerado, o papel de provedor econômico da família, a racionalidade, a fibra” (SOUZA, 1997, p. 182) e “à mulher, o universo do privado, o trabalho não remunerado do lar, o cuidado com os filhos, a sensibilidade, a fragilidade” (Op. Cit., p. 182) foi algo que perdurou ao longo dos séculos. Trata-se, no entanto, de uma visão burguesa da sociedade brasileira, pois nas camadas de baixo poder aquisitivo as mulheres, em todos os tempos sempre estiveram inseridas no mercado de trabalho. No presente estudo, as crianças referem Maria como uma trabalhadora – geralmente inserida em ocupações pertencentes ao setor de serviços: Maria é feirante, ou lavadeira, ou professora ou cantora. Em relação à inserção da mulher de classes menos favorecidas no trabalho, temos de considerar que historicamente as mesmas sempre foram pressionadas a obter remuneração “(…) As empregadas domesticas (…) existem desde o fim da escravatura. No campo, as mulheres sempre estiveram presentes na lavoura, basta ver qualquer ilustração de colheitas de café ou cana de açúcar para constatá-lo…” (SOUZA, 1997, p. 182). A finalização do projeto se deu através de um encontro de socialização do mesmo com as mães das crianças: as crianças receberam suas mães cantando em coro a canção “Maria, Maria”. Simultaneamente, as representações elaboradas foram apresentadas em uma tela. Considerações Finais As representações sociais da mulher, aqui apresentadas, são entidades quase tangíveis que “circulam, cruzam-se e se cristalizam incessantemente através de uma fala, um gesto, um encontro” (MOSCOVICI, 1978, p. 41), no universo cotidiano dessas crianças. O estudo evidenciou que, para essas crianças, Maria se faz representar como aquela mulher comum, representada por Milton Nascimento, em sua infância de menino negro, filho adotivo, criança traquina, tão igual a muitas das crianças que frequentam as nossas escolas de periferia: Maria é mãe, ou avó, ou trabalhadora, ou santa, ou – simplesmente -, uma mulher que é feliz! Referências Publicado em 26/08/2010 11:13:00 Alberto Carlos de Souza e Túlio Alberto Martins de Figueiredo – Alberto Carlos de Souza: Mestrando do Programa de Pós- graduação em História – UNIVERSO / Professor de Arte – Secretaria Municipal de Educação de Vitória – ES. Túlio Alberto Martins de Figueiredo: Professor do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva – UFES. tulioamf@bol.com.br
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