DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM E A IMPORTÂNCIA DO AMBIENTE NO DESENVOLVIMENTO HUMANO
Joveliana Amado da Silveira e Maria José Ribeiro
Resumo: O objetivo deste trabalho é o de buscar subsídios teóricos na psicanálise Winnicottiana para o estudo de crianças com dificuldades de aprendizagem. Desta forma, o autor que muito contribuiu foi Donald Woold Winnicott, médico pediatra e psicanalista de crianças, o qual elaborou a teoria do desenvolvimento emocional, muito significativa para os estudiosos da educação. Investigou-se as principais concepções sobre o desenvolvimento humano vigente na psicologia da educação como: o inatismo, o interacionismo e o ambientalismo, que orientam diversas práticas psicopedagógicas, no sentido de contextualizar o debate sobre a importância do meio, tentando dialogar com a contribuição de Winnicott sobre o ambiente facilitador para o desenvolvimento humano.
Palavras- chave: psicanálise; ambiente; dificuldades de aprendizagem; desenvolvimento humano; Winnicott.
Introdução
Sabe-se que na atualidade a psicanálise de crianças é de grande importância, pois a sociedade vive grandes transformações e a família tem sofrido mutações. Dessa forma a criança em desenvolvimento muitas vezes vivencia e sofre emocionalmente, chegando à escola carente e doente emocionalmente, necessitando de amparo.
Assim, este estudo busca ampliar a compreensão acerca do desenvolvimento de crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem que recusam a escola, não-aprendem a ler e escrever, dentre outras manifestações no cotidiano da criança.
Existe um número significativo de crianças com intercorrências severas no aprendizado que freqüentam a instituição escolar, necessitando de uma intervenção no contexto escolar e familiar, na tentativa de minimizar as dificuldades futuras de muitas crianças quando chegam à escola. A maneira como a criança reage frente ao ambiente escolar: o choro causado pelo desamparo, a agressividade e o furto de pequenos objetos, são comportamentos que indicam o desamparo.
Desta forma, a teoria do amadurecimento emocional humano de D.W. Winnicott elucida aspectos relacionados ao ambiente, bem como outros conceitos deste autor os quais contribuem para a compreensão das dificuldades no processo de escolarização, vivenciados no ambiente familiar refletindo no escolar. No que diz respeito ao ambiente escolar assim como o familiar sofre transformações contínuas e podem estar falhando no seu papel de sustentar o crescimento da criança e do jovem.
Winnicott, forneceu contribuições relevantes para a área da psiquiatria, da psicanálise de crianças, pela relevância da teoria do desenvolvimento emocional a qual é muito significativa para os estudiosos da área educacional nos dias de hoje,bem como, algumas concepções fundamentais sobre o desenvolvimento humano vigentes em psicologia da educação como o: Inatismo, o Interacionismo e o Ambiental ismo, que orientam a práxis psicopedagógica. Tais idéias serão abordadas no sentido de contextualizar o debate sobre a importância do meio no intuito de alinhavar com a contribuição de Winnicott, cuja obra é pouco utilizada nos círculos pedagógicos. Também será abordado o conceito de ambiente na teoria do amadurecimento emocional de D.W.Winnicott, assim como outros conceitos que podem contribuir para a compreensão das dificuldades no processo de escolarização.
A psicologia da educação e o papel do ambiente na aprendizagem da criança
Apresentarei três concepções que frequentemente permeiam o debate em psicologia educacional e que procuram explicar o papel do meio no aprendizado da criança, que são:o Inatismo, o Interacionismo e o Ambientalismo.
Sobre o Inatismo, assim se refere Zilma de Moraes Oliveira:
A concepção inatista do desenvolvimento parte do pressuposto de
que os eventos que ocorrem após o nascimento não são essenciais
e ou importantes para o desenvolvimento, dado que o indivíduo
já nasce com padrões inatos de comportamento. O aparecimento
de cada nova capacidade depende basicamente de um processo de
maturação do sistema nervoso (OLIVEIRA, 1992, p.28)
De acordo com esta concepção, as crianças tendem a engatinhar, andar e falar mais ou menos na mesma idade;bastam condições ambientais minimamente razoáveis para que esse desenvolvimento ocorra, o que reduz o papel do ambiente e, portanto, da educação no mesmo.
Outra corrente bastante difundida no Brasil é a Ambientalista, que chama a atenção para a plasticidade do ser humano, o qual se adapta às mais difíceis condições de existência, aprendendo novos comportamentos, desde que no ambiente existam as condições favoráveis.
Nesta visão, o adulto é o principal agente e promotor do desenvolvimento infantil, pois ‘’molda’’ a criança no seu comportamento, seu caráter e conhecimentos. A criança não se desenvolve sem a estimulação e o ensino oferecidos pelo adulto.
Verifica-se que essa visão coloca os seres humanos como criaturas passivas frente ao ambiente. Principalmente no caso da criança pequena, o adulto é visto como principal agente e promotor do desenvolvimento infantil, ensinando-a e moldando seu comportamento, seu caráter e seus conhecimentos.
Já na concepção Interacionista, o desenvolvimento humano não decorre da ação isolada de fatores genéticos que buscam condições para o seu amadurecimento,nem de fatores ambientais que agem sobre o organismo, controlando seu comportamento. Nesta concepção para que o desenvolvimento ocorra é imprescindível haver trocas recíprocas, que se estabelecem durante a vida entre indivíduo e meio, cada aspecto influindo sobre o outro.
Acredita-se que ao mesmo tempo em que a criança modifica seu meio, é modificada por ele. Assim, ao constituir seu meio, atribui-lhe a cada momento determinado significado, ela é por ele constituída, adotando formas culturais de ação que transformam sua maneira de expressar-se, pensar, agir e sentir.
Desta forma, a concepção interacionista considera que os dois elementos: o biológico e o meio social, não podem estar dissociados, posto que exercem influências mútuas. Também as características biológicas são responsáveis por preparar a criança para agir sobre o social e modificá-lo, embora esta ação termine por influenciar na construção das próprias características biológicas das crianças.
Três pesquisadores interacionistas são de suma importância: Lev Vygotsky (1896-1934), Henri Wallon (1879-1962) e Jean Piaget (1896-1980). Estes autores forneceram contribuições valiosas ao conhecimento sobre a forma de a criança ser e modificar-se. Os trabalhos deles se inserem na linha teórica chamada sócio-histórica porque consideram a constituição social inserida em uma cultura concreta.
Sônia Kramer (1992, p.29), refere-se a Jean Piaget como um epistemológo, o qual desenvolveu na sua teoria propostas pedagógicas, cujos pressupostos básicos, especialmente assentam-se no interacionismo e traz grandes contribuições para a pré-escola. Para ele, o desenvolvimento resulta de combinações entre aquilo que o organismo traz e as circunstâncias oferecidas pelo meio: o eixo central, portanto, é a interação organismo / meio”. O interacionismo pretende, superar de um lado as concepções inatistas e, de outro, as teorias comportamentalistas. Essa interação se dá através de dois processos simultâneos: a organização interna e a adaptação ao meio; funções exercidas pelo organismo ao longo de toda a vida. A adaptação definida por Piaget como o próprio desenvolvimento da inteligência ocorre através da assimilação e acomodação. Os esquemas de assimilação vão se modificando, progressivamente, configurando os estágios de desenvolvimento (PIAGET ,1971, p.25).
Também Lev Vygotsky contribuiu sobremaneira no sentido de verificar como se dá a construção do pensamento e da subjetividade como um processo cultural, e não uma formação natural e universal da espécie humana. Isto se dá graças ao uso de signos e ao emprego de instrumentos elaborados através da história humana em um contexto social determinado. Enquanto os animais agem e reagem à natureza de uma forma sensorial instintiva, o homem extrapola suas capacidades sensoriais pelo uso de instrumentos construídos por meio do trabalho coletivo no qual interage com outros homens.
Percebe-se que a linguagem tem uma função muito importante na estruturação do pensamento humano e no caso das crianças que apresentam dificuldades severas de aprendizagem é de grande suma importância o trabalho voltado para esta área. Desta forma, a contribuição de Vygotsky, na sua teoria diz respeito as duas funções básicas da linguagem.
A principal função é a de intercâmbio social, no sentido da comunicação do indivíduo com seus semelhantes é que o homem utiliza os sistemas de linguagem. Por exemplo, um bebê quer se comunicar seus desejos e estados emocionais aos outros servindo-se de sons, gestos e expressões. (VYGOTSKY, 1989, p.44)
Na perspectiva de Vygotsky (1984, p.47), toda ação psicológica superior manifesta-se, primeiro em uma situação “interpessoal” e depois em uma situação “intrapessoal”. Desta forma, ele criou o conceito de “Zona de Desenvolvimento Proximal”, para explicar que, a criança transforma as informações que recebe de acordo com as estratégias e conhecimentos por ela já adquirida em situações vividas com outros parceiros mais experientes. Assim, Vygotsky refere à distância entre o nível de desenvolvimento atual do indivíduo (ou seja, sua capacidade de apresentar uma ação independentemente de pistas externas – compreendendo, portanto, funções já amadurecidas) e a capacidade de responder orientado por indicações externas a ele (ou seja, baseada em funções em processo de amadurecimento).
A idéia de interação (inter–ação), implica em ação compartilhada envolvendo as ações de, no mínimo duas pessoas, Sendo uma ação partilhada, a interação é influenciada por características de ambos os parceiros.
Na visão de Henri Wallon (1972, p.30), ‘‘toda pessoa constitui um sistema específico e ótimo de trocas com o meio.Tal sistema integra suas ações num processo de equilíbrio funcional que envolve motricidade, afeto e cognição, mas no qual, em cada estágio do desenvolvimento, uma forma particular de ação predomina sobre as outras’’.
No que diz respeito ao aspecto da interação da criança com outros indivíduos, existe um processo constante, no qual cada um deles identifica-se com o parceiro, via imitação, e diferencia-se dele, por oposição. Deste modo, o autor chama a atenção para o entendimento de que cada ser humano constrói seu pensamento e a si mesmo, enquanto sujeito, pelo imergir em uma experiência interpessoal, apagando seus próprios limites e constituindo uma unidade momentaneamente indissociável com o parceiro ou com “o mundo”, onde ele não distingue o que é seu (gestos, reações, opiniões e outros aspectos) daquilo que não é, para seguir, e por isso mesmo, tentar diferenciar-se desse outro, de seu contexto, eliminando os elementos que julgam alheios (WALLON,1972, p.25).
Observa-se assim, que os autores interacionistas aqui destacados possibilitaram refletir sobre a importância da interação criança/adulto, educador/educando no processo de desenvolvimento social, cognitivo, psíquico e enquanto sujeito da história que está sendo construída por cada indivíduo.
A partir das teorias aqui apresentadas é possível compreender melhor o questionamento formulado a cerca da interação da criança com o meio. A seguir veremos algumas idéias do pensador Donald Woods Winnicott, que também ofereceu contribuições importantes ao debate educacional, a partir da psicanálise, como a teoria do amadurecimento emocional e o conceito de ambiente facilitador.
O ambiente na teoria de Donald Woods Winnicott
Donald Woods Winnicott foi um pediatra e psicanalista britânico da segunda metade do século XX, que agregou significativas contribuições à psicanálise.
Foi um dos pensadores psicanalíticos mais atento à função estruturante do meio na construção da subjetividade humana, e contribuiu significativamente com a “teoria do ambiente facilitador”. Para ele, o desenvolvimento emocional da criança no seu primeiro ano de vida contribuirá ou não para a saúde mental do indivíduo humano.
O desenvolvimento é entendido, segundo esse teórico do desenvolvimento emocional como:
uma questão de herança de um processo maturacional e da acumulação de experiências de vida; esse desenvolvimento não ocorre, entretanto, a não ser em um ambiente facilitador. O ambiente facilitador é primeiro absolutamente e depois relativamente importante, e o curso do desenvolvimento pode ser descrito em termos de dependência absoluta, dependência relativa e um caminhar para a independência (WINNICOTT, 1980, p.32).
Deste modo, verifica-se que para haver um desenvolvimento humano satisfatório é imprescindível que o ambiente seja facilitador, sendo que nesse inicio, esse ambiente é representado normalmente pela mãe. É fundamental que o bebê encontre nele condições básicas para um amadurecimento emocional sem traumas excessivos. Portanto, segundo Winnicott, ‘‘a influência ambiental pode iniciar-se numa etapa muitíssimo precoce, determinando se a pessoa, ao buscar uma confirmação que a vida vale a pena, irá partir à procura de experiências, ou se retrairá fugindo do mundo’’.(Winnicott, 1980, p.32)
Logo, é de suma importância para um crescimento saudável da criança, que as condições ambientais sejam boas o suficiente, ou seja, que hajam pais acolhedores, responsáveis proporcionando carinho e limites quando necessário.
O papel fundamental que Winnicott, atribui ao ambiente inicial:
Nenhum bebê, nenhuma criança, pode vir a tornar-se uma pessoa real, a não ser sob os cuidados de um ambiente que dá sustentação e facilita os processos de amadurecimento. Os bebês que não recebem esses cuidados suficientemente bons “não conseguem se realizar nem mesmo como bebês. Os genes não são suficientes” (WINNICOTT, 1968, p.84)
Desta forma, considera-se de suma importância que o ambiente facilitador ofereça ao ser humano condições mínimas de sustentação, ou seja, pais suficientemente bons e provedores não somente do alimento para crescimento físico, mas sobretudo sustentação psicológica para que os bebês possam começar a “ser”.
No que diz respeito aos aspectos psicológicos, Winnicott (1980, p.14) diz que: “há uma tendência em direção ao desenvolvimento que é inata, correspondendo ao crescimento do corpo e ao gradual desenvolvimento das funções”.
Embora, inata, a tendência à integração não se dá de forma automática, mas sobretudo se houver um ambiente facilitador. Para a estudiosa do ensinar e aprender,
“O que é inato na natureza humana depende do ambiente que determina o retraimento, ou não da pessoa em relação ao mundo: o inato só se concretiza mediante um outro. Esse outro ambiente é especificamente humano, já que apenas pessoas podem propiciar o acontecer a um outro ser humano”.(RIBEIRO, 2004, p.21)
Assim, o ser humano só pode ‘ser’ se houver uma mãe (ambiente inicial) com capacidade de se dedicar a seus filhos, dar-lhes a atenção no que precisa, atendendo suas necessidades de alimentação, higiene, acalanto ou no simples contato, criando condições para a manifestação do si mesmo.
Depreende-se daí que o amadurecimento emocional do bebê só será possível, se a estrutura ambiente-indivíduo for suficientemente capaz de oferecer suporte, ou seja, condições ambientais satisfatórias para um bom desenvolvimento.
Verifica-se segundo Winnicott, que o ambiente deveria amenizar as necessidades de tal maneira que a falha seja suportada e o indivíduo não sofra o adoecimento psíquico.
Percebe-se que ao chegar à escola a criança começa a participar do convívio social, longe da sua mãe, e se o ambiente materno falhou, no sentido de dar sustentação emocional para ela começar a ser independente, de acordo com sua idade poderão ocorrer problemas emocionais, como comportamentos agressivos com colegas ou possíveis problemas de aprendizagem, provavelmente decorrentes das falhas do ambiente.
É de grande importância que a educação dos filhos tenha o suporte dos pais, e se o ambiente falhar supõe-se que muitos problemas poderão ocorrer na instituição. Assim,
Embora sempre tenha enfatizado a prioridade dos pais na educação dos filhos, Winnicott reconhece e aponta a importância da escola até como uma segunda chance para as crianças que não tiveram um bom ambiente inicial: as funções da escola diferem muito de acordo com o amadurecimento de cada criança e das oportunidades de que estas dispõem para poderem crescer.Algumas famílias têm poucas possibilidades de proporcionar um desenvolvimento emocional para os seus membros e muitas vezes é no contexto educacional que a criança vivencia o pertencimento a um grupo no qual, por exemplo, possa conhecer sua capacidade de enfrentar a agressão e tolerar idéias agressivas (RIBEIRO, 2004, p. 22).
É freqüente na escola, queixas como a dificuldade de concentração o que merece investigação. Pode-se pensar em ensino desestimulante que não atrai a atenção da criança. Além disso, pode estar em curso uma impossibilidade pessoal para prestar atenção, sugerindo um problema emocional relacionado a falta do pai ou da mãe, inclusive pela morte ou ausências prolongadas. Ou seja, a criança muitas vezes, tem que prestar atenção em muitos outros aspectos e não consegue prestar atenção no que a professora explica. Portanto, existem falhas no ambiente, as quais a escola precisa buscar meios de colaborar com o aluno na medida das suas possibilidades, pois são alunos tidos como agitados, hiperativos e mal comportados.
Na atualidade se faz indispensável pensar numa escola inclusiva para os alunos que apresentam dificuldades severas de aprendizagem, cuja origem pode estar nas falhas ambientais, sendo necessário que a escola esteja preparada não só com equipe de especialistas, mas também com boas metodologias de ensino para apresentar os conteúdos, atendendo individualmente os casos e fazendo as intervenções com o (a) educador (a), pais e crianças que apresentam dificuldades severas na leitura, escrita e cálculos matemáticos.
A escola quando apresenta um ensino aquém das possibilidades do aluno, também pode gerar muita raiva, em decorrência do fracasso do ambiente em fornecer condições em cada momento do crescimento da criança.
O breve estudo das dificuldades de aprendizagem e a importância do ambiente no desenvolvimento humano’’, possibilitou-me refletir acerca do papel do ambiente para a aprendizagem, e que o desenvolvimento emocional pode-se originar na interação: fatores inatos e/ou ambientais.
Das concepções estudadas, ‘‘a concepção inatista do desenvolvimento parte do pressuposto de que os eventos que ocorrem após o nascimento não são essenciais para o desenvolvimento, pois o indivíduo já nasce com padrões inatos de comportamento. Por exemplo, para andar, falar, segurar um lápis, bastam condições ambientais minimamente razoáveis para que esse desenvolvimento ocorra, o que reduz o papel do ambiente.
Já a concepção ambientalista, chama a atenção para a plasticidade do ser humano, o qual se adapta as mais difíceis condições de existência, aprendendo novos comportamentos, desde que no ambiente existam as condições favoráveis. Portanto, a criança não se desenvolve sem a estimulação e ensino oferecido pelo adulto.
Para a concepção Interacionista “o desenvolvimento resulta de combinações entre aquilo que o organismo traz e as circunstâncias oferecidas pelo meio: o eixo central, portanto, é a interação organismo / meio, sendo que toda pessoa constitui um sistema específico e ótimo de trocas com o meio, envolvendo motricidade, afeto e cognição, embora em cada estágio do desenvolvimento, uma forma particular de ação predomine sobre as outras.
Finalmente a teoria do desenvolvimento emocional de D.W.Winnicott, aponta para uma afinidade com o interacionismo permitindo uma ampliação das discussões educacionais. Revela a importância do ambiente facilitador, sendo este primordial para a constituição do ser, ou seja: nenhum bebê, nenhuma criança, pode vir a tornar-se uma pessoa que se sinta real, a não ser sob os cuidados de um ambiente que dá sustentação e facilita os processos de amadurecimento. Para os bebês que não recebem esses cuidados realmente bons torna-se difícil se realizarem mesmo como bebês, pois a herança genética não é suficiente.
Um cuidado importante a ser realizado pela escola cotidianamente é o de propiciar conhecimentos que favoreçam a aprendizagem do aluno, atento às diferenças intelectuais, levando em conta um ser criativo e capaz, sempre investindo e acreditando no desenvolvimento do seu potencial.Ou seja, o (a) professor (a) que confia na capacidade da criança, a empresta o seu olhar, o seu crédito a ela para que esta possa, um dia, confiar em si, se valorizar..
Em geral, o primeiro ambiente depois do lar que a criança vai depender é a escola. Para tanto, esta instituição deve fornecer cuidados suficientemente bons, para não falhar na apresentação dos conteúdos, por exemplo. Assim, eles devem ser elaborados levando em consideração as diferentes formas de apreensão dos conhecimentos, além de respeitar os ritmos, fazendo com que a criança acredite na sua capacidade em aprender.
Estes são desafios importantes para o psicopedagogo e/ou orientador escolar, embora saibamos que mesmo tendo muitas oportunidades de formação continuada ainda necessita de supervisão do seu trabalho, numa busca constante de crescimento pessoal para ser capaz de contribuir nos limites da instituição escolar com os alunos, os quais demandam não somente por conhecimentos, mas também por apoio, uma sustentação em algumas questões pessoais passíveis de serem acolhidas pela escola. Também aos pais e professores (as) é de fundamental importância a escuta, a orientação e possíveis encaminhamentos, bem como palestras com os diversos profissionais da saúde e da educação, a fim de amenizar as possíveis falhas ambientais e escolares.
De acordo com Winnicott as crianças que apresentam dificuldades severas no aprendizado, aparentam que perderam ou ocultaram o “viver criativo”, o que pode evoluir para também ocultar em alguma parte, uma vida secreta satisfatória, pela sua qualidade criativa ou original a esse ser humano.
Em relação às dificuldades de aprendizagem foi possível pensar nas possíveis causas partindo das falhas ambientais, pois quanto mais o ambiente é facilitador mais a criança aprende, se não o é, ou seja, se o ambiente a invade, ela não tem como integrar as experiências, sendo assim ela tem crescimento biológico e não psíquico.
Quando o ambiente é caótico, se instala um estado caótico defensivo por parte do indivíduo. No caso da dificuldade de aprendizagem é possível perceber que pode ter havido uma parada no desenvolvimento emocional ocorrida provavelmente, no estágio demasiadamente precoce, ou seja, na dependência absoluta..
Finalmente, é importante reafirmar que as teorias aqui citadas: o inatismo, o ambiental ismo, o interacionismo e a teoria do amadurecimento emocional de Winnicott, contribuíram para reflexões sobre a importância do ambiente, conceito que é primordial para quem se interessa pelo desenvolvimento e aprendizado das crianças.
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Publicado em 02/05/2010 10:42:00
Joveliana Amado da Silveira e Maria José Ribeiro – Orientadora Escolar da rede municipal de Uberlândia e Psicopedagoga Clinica, Mestre em Magistério Superior, professora de graduação e pós-graduação.
Trabalho monográfico realizado no curso de Clínica Psicanalítica na Faculdade de Psicologia da UFU, 2007
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