A IMPORTÂNCIA DAS INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS CLÍNICA/INSTITUCIONAL PARA O PROCESSO DE APRENDIZAGEM ESCOLAR DOS ALUNOS E ALUNAS
Fabricia Helena Rezeck de Biaso Silva Campos, Claudia Rieira e Lauren F. S. Andrade
Introdução
Você já é grandinho o suficiente
Para saber que a brincadeira é
para a vida toda. (Leandro Quintanilha)
A Psicopedagogia é uma área do conhecimento e de atuação que tem como objeto de estudo e de trabalho o processo de ensino e aprendizagem e os transtornos que podem ocorrer neste processo. Segundo Bossa (apud. Porto 2006 pagina 11) “ o objeto central de estudo da Psicopedagogia está se estruturando em torno do processo de aprendizagem humana: seus padrões evolutivos normais e patológicos, bem como a influência do meio ( família, escola, sociedade) no seu desenvolvimento.”
De acordo com este pressuposto torna-se importante para a formação de futuros psicopedagogos clínicos e institucionais o conhecimento aprofundado sobre os processos de intervenção que vão muito além do da simples aprendizagem.
Através das aulas e dos textos orientados para estudos, da pesquisa bibliográfica e das entrevistas realizadas com professores, psicopedagogos clínicos e institucionais realizamos um levantamento teórico e prático sobre as intervenções psicopedagógicas presentes nos trabalhos realizados pelos mesmos.
No desenvolvimento da Produção do conhecimento desta unidade será apresentado uma diferenciação entre o trabalho clínico e institucional do psicopedagogo, na visão dos profissionais entrevistados, seguido de uma fundamentação teórica elaborada pelas autoras da Produção e o relato de uma abordagem espontânea de alunos de uma escola visitada, assim como a averiguação da importância e do papel das oficinas psicopedagógicas na avaliação e intervenção no processo ensino aprendizagem.
A Psicopedagoga Clínica atua a quatro anos em uma clínica particular na cidade de Itajubá – MG e foi questionada sobre o enfoque de seu trabalho.
Ao chegarmos à escola para iniciarmos o trabalho de Produção do conhecimento, fomos logo abordadas por alguns alunos que nos questionaram sobre o porquê estávamos ali.
– Moça, o que vocês vieram fazer aqui em nossa escola?
Logo fomos respondendo:
– Viemos conversar com a professora R. e com a Psicopedagoga M.
– Conversar o quê?
– Viemos conhecer como é o trabalho que realizam com vocês alunos desta escola!
– Ah bom!!! Mas a Tia R. só dá aula para o 2º ano. A nossa é a Professora V.
– Vocês vão conversar com ela também?
– Conversaremos primeiro com a Professora R. e quem sabe outro dia podemos marcar uma visita na sua sala.
Perguntamos: __ Você conhece a Psicopedagoga M.?
_ Conheço sim. Ela vai sempre na nossa sala e conversa com a Tia.
Depois de verificado o interesse das crianças pelas pessoas que não fazem parte do cotidiano escolar, com curiosidade aguçada e sem timidez para iniciar uma conversa, teve início a entrevista com a professora R, momento em que foram levantadas as questões sugeridas pelo enunciado do trabalho.
A professora respondeu aos questionamentos feitos pelas alunas de forma espontânea e aberta. Relatou que o psicopedagogo busca orientá-la sobre o cotidiano de sua sala de aula, faz grupo temático com os professores, faz dinâmicas de grupos, sempre que há um conflito propõe a busca soluções.
Ela disse não conhecer o trabalho do psicopedagogo nas questões teóricas, mas verifica que seu papel na escola é muito importante para os professores e funcionários, dá segurança e abertura para conversar assuntos em relação ao trabalho. Observou também que vivenciou uma situação em que o aluno não conseguia aprender adição, buscou sua orientação, pois já não sabia mais o que fazer. Depois de seguir as dicas dadas, conseguiu êxito em sua atuação com determinado aluno. Além de perceber que os pais gostam da presença desta profissional na escola.
A psicopedagoga da escola relatou que tem facilidade em atuar nesta escola, pois já havia sido feito um trabalho de mobilização por uma psicóloga que atuou antes de sua contratação.
Acredita que o seu papel na instituição é intervir nos fatores que favorecem ou intervém o processo de aprendizagem. Processo que se inicia nos relacionamentos na escola entre professores e funcionários, mobilizando a cooperação e a necessidade de atualização. Favorecer um ambiente agradável e profissional, em que todos reconheçam sua influência na busca de atingir os objetivos propostos pela escola. Em síntese, seu objeto de estudo e intervenção é aprendizagem, porém considerando que é uma atividade de indivíduos e grupos humanos e não do ponto de vista “de que a responsabilidade total pelo aprender é do aluno” e sim de sua interação também com o contexto em que está inserido.
De acordo com o site www.psicopedagogia.com.br
“a aprendizagem é uma apropriação instrumental da realidade para transformar-se e transformá-la. Essa apropriação possibilita uma intervenção que gera mudanças em si, e no contexto que se dá. Caracteriza-se também, por ser uma adaptação ativa, constante na realidade. Implica, portanto, em estruturação, desestruturação e reestruturação. Isso gera tensão a qual necessita não apenas ser descarregada, mas revitalizada, renovada, enriquecida.
Percebe que os professores tem muita dificuldade em trabalhar com alunos que apresentam alguma dificuldade de aprendizagem. Orienta sobre os aspectos das dificuldades, propõe novas estratégias, realiza grupos de estudo sobre os temas que se mostram mais urgentes.
A Psicopedagoga Clínica entrevistada, atua há mais de 08 anos, na cidade de Itajubá, atendendo pacientes da cidade e região, relatou que seu trabalho tem como foco diagnosticar, orientar, atender em tratamento e investigar os problemas emergentes nos processos de aprendizagem. Esclarece os obstáculos que podem interferir na boa aprendizagem. Emprega como recurso principal a realização de entrevistas operativas que facilitam a expressão e a progressiva resolução da problemática individual e/ou grupal dos que a procuram.
Destaca como relevância em seu trabalho clínico a orientação de pais e professores, além de orientação vocacional operativa nos diversos níveis educativos. Diz que a maioria dos seus pacientes são encaminhados pela escola e na maioria das vezes as famílias estão desinformadas sobre a situação do filho.
De acordo com GRASSI (2008) as oficinas psicopedagógicas podem ser utilizadas em várias áreas de atividade como um recurso de ensino, de aprendizagem e na vivência de experiências.
Na área educacional especificamente, apresenta inúmeras possibilidades para os que a vivenciam, de experimentar, criar, produzir, sentir, pensar, inventar, refazer, errar, corrigir, aprender, ensinar e principalmente de compartilhar o conhecimento através de ações mediadas. Estas ações mediadas são um dos principais fatores que influenciam o processo de ensino-aprendizagem.
As oficinas são recursos auxiliares para os educadores na escola e para o psicopedagogo na clínica e na instituição tanto na avaliação quanto na intervenção, num trabalho preventivo ou terapêutico. “Na escola, o trabalho do professor pode ser ‘re-visto’ na medida em que, ao tematizar suas ações, pode ampliar a dimensão de sua proposta para com os seus alunos. O Trabalho com as Oficinas na escola possibilita essa ampliação.” ( Allessandrini,1996).
Para Vygotsky, a aprendizagem é um processo profundamente social e, por isso, o desafio é o de contextualizar saberes, conhecimentos, informações, é reinterpretar o que se vive e o que vê; é registrar o processo vivenciado, é apropriar-se da experiência, é saber que há poder, força, na arte de transformar, na arte do empoderar-se.
Visto que, a aprendizagem é o resultado da estimulação do ambiente sobre o individuo, que se manifesta diante de situações que devem ser resolvidos, sob a forma de mudança de comportamento. Para que esta mudança seja efetiva, a aprendizagem deve ser significativa, isto é, ter uma relação com sua vida, seu cotidiano.
A oficina psicopedagógica é o trabalho, em Psicopedagogia, de atendimento individual ou grupal, composto de certas etapas, no qual o sujeito, através da ludicidade, expressa criativamente uma imagem interna por meio de experiência artística para posteriormente, organizar o conhecimento intrínseco a esse fazer expressivo.(ALLESSANDRIN, 1996 p. 39) Como escreveu Rubem Alves, “quem brinca não quer chegar a lugar nenhum – já chegou”.
Diante desta perspectiva torna-se evidente que a oficina psicopedagógica possibilita um avanço na aprendizagem de alunos com dificuldade de aprendizagem. Oportuniza construir e reconstruir o conhecimento através da relação mediadora entre ensinante e aprendente, de situações-problema que instiguem a participação ativa, estimula o desenvolvimento do potencial de produzir algo significativo com a possibilidade de refazer quando necessário.
O aluno que apresenta dificuldade de aprendizagem, seja ela qual for, necessita de um espaço relacional como este, que facilita a expressão e a reorganização de seu pensamento e de suas atitudes relacionadas à sua aprendizagem. Um ambiente acolhedor, com objetivos bem claros, planejamento adequado a eles, onde a ludicidade está presente, torna-se um recurso facilitador na atuação com dificuldade de aprendizagem.
Considerações finais
O Psicopedagogo pode atuar de diversas áreas, de forma preventiva e terapêutica, para compreender os processos de desenvolvimento e das aprendizagens humanas, recorrendo a várias estratégias objetivando se ocupar dos problemas que podem surgir.
Por se tratar de uma atividade relacionada às dificuldades escolares, a primeira vista, pensam que o Psicopedagogo deva trabalhar na escola, lugar onde são produzidos a maioria dos problemas escolares, mas são vários os campos de atuação psicopedagógica; como clínica, escola, instituição de saúde ou mesmo em empresas.
A escola, muitas vezes, produz dificuldades de aprendizagem em seus alunos devido aos obstáculos encontrados para a implantação e execução de um plano curricular. Esta “dispedagogia” é o ponto de partida para a compreensão da complexidade encontrada pela instituição escola.
A dispedagogia é o conjunto de sintomas apresentados pela escola, não apenas um termo diagnóstico, mas um rol de procedimentos que podem não ser adequados ao pleno desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem.
O psicopedagogo em suas possibilidades de atuação com Psicopedagogia Institucional (contratado ou assessor) exige do profissional um profundo conhecimento do funcionamento de grupos, equilíbrio emocional e um código de ética profissional muito bem elaborado e digerido, pois trabalhar com grupos é estar permanentemente administrando conflitos e principalmente tomar precauções para não se contaminar pela instituição, seguindo seus padrões e normas que vão contra à proposta de seu trabalho ético e responsável.
Uma forma de conquistar este espaço psicopedagógico dentro da escola está na forma de como este profissional apresenta o seu trabalho. Este profissional tem que demonstrar amplos conhecimentos não só da criança que aprende como também dos processos didáticos metodológicos e da dinâmica institucional. Para uma atuação institucional, deve ser considerado como ambiente educacional a escola como um todo, desde a criança que aprende, o professor que ensina, o diretor que organiza, até a merendeira que é responsável pela alimentação.
Além disso, deve ser considerando a família responsável pela criança e outros membros da comunidade que decidem sobre as necessidades e prioridades da escola.
A atuação do Psicopedagogo em âmbito clínico também requer um estudo aprofundado do mesmo, necessitando de pesquisas e leituras constantes e a compreensão de que também é uma aprendente possuindo, portanto, suas próprias limitações e dificuldades, que vão sendo superadas a partir de sua postura engajada para sua atuação.
Numa linha terapêutica, este profissional cuida das dificuldades de aprendizagem, através do diagnostico, desenvolvimento de técnicas, orientação de pais e professores, contato com outros profissionais da área tais como: psicológica, fonoaudiológica, psicomotora, médica e educacional determinado pela origem multifatorial no seu tratamento. Deve ser um mediador em todo o processo e não realizar uma simples junção da psicologia e da pedagogia.
Há alguns anos atrás, a falta de clareza e informação a respeito dos problemas de aprendizagem, fazia com que os alunos que apresentassem tais problemas fossem encaminhados para profissionais de diversas áreas de atuação, contudo, sem uma resolução eficiente dos mesmos problemas. As dificuldades escolares não podem ser explicadas apenas por um fator, esteja ele na criança, no meio familiar ou escolar e sim deve ser explicada pela interação e intersecção de vários fatores.
De acordo com WEISS (2008 p. 194), “ a intersecção dos três sistemas básicos, o familiar, o escolar e o clínico, quando conduzida na direção positiva, criará a possibilidade de mudança significativa”. Desta forma, haverá a possibilidade de um crescimento constante, levando-se em conta as características individuais e a singularidade de cada um e o grupo o qual pertence.
Verificou-se através da realização deste trabalho, tanto nas entrevistas quanto nas pesquisas bibliográficas, que o conhecimento proporciona infinitas oportunidades de crescimento. Cada momento de experiência, é conhecimento e a aprendizagem se faz numa interação dinâmica do ser com sua interação com o mundo em mutação constante.
Cada um
Tem história
Tem memória
E trajetória
Cada um
Tem cansaço
Tem impasses
E fracassos
Cada um
Tem desejos
Tem ensejos
E lampejos.
Cada um
Tem medos
Tem segredos
E enredos.
Cada um
Tem sonhos
Tem vias e estuários.
Cada um
Tem direito de fazer
Seu caminho literário
E ser um ser libertário.
(Moacir Alves Carneiro)
Referências Bibliográficas:
(http://br.monografias.com/trabalhos906/oficinas-psicopedagogicas/oficinas-psicopedagogicas2.shtm)
http://www.abpp.com.br/abppprsul/artigos/psicopedagogia-institucional-simone-carlberg
http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo
http://www.centrorefeducacional.pro.br/psicoinst.htm
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PAÍN, S.. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médica, 1985.
VISCA, J. Clínica Psicopedagógica e Epistemologia Convergente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.
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WEISS, M. L. L. Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. Rio de Janeiro, DP&A, 2003.
WEISZ, T. e SANCHEZ, A.. O diálogo entre o ensino e aprendizagem., São Paulo: Ed. Ática,2002.
LOPES, Shiderlene Vieira de Almeida. O Processo da Avaliação e intervenção em Psicopedagogia. Curitiba, 2008.
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ALLESSANDRINI, C. Dias. Oficina Criativa e Psicopedagogia. São Paulo: Ed. Casa do Psicólogo, 1996.
Revista Vida Simples. d. 73. Ed. Abril, dez 2008
Publicado em 02/05/2010 10:08:00
Fabricia Helena Rezeck de Biaso Silva Campos, Claudia Rieira e Lauren F. S. Andrade – Fabricia Helena Rezeck de Biaso Silva Campos – Pedagoga pelo UNIVERSITAS, Psicopedagogia Clínica e Institucinoal pela Uninter. Especialista em Alfabetização pela Universitas. Possui experiência em Formação de professores, Assessoria e Coordenação Pedagógica. Consultora Pedagógica pela FAHEBE e LEREBI – Consultorias Técnicas Educacionais e Assessoria Pedagógica.
Claudia Rieira – Formação em História pela UNIVERSITAS. Especialista em Docencia do Ensino Superior.
Lauren F. S. Andrade – Psicóloga pelo UNIVERSITAS – Itajubá, Psicopedagoga clínica e institucional pela Uninter. Possui experiëncia em Avaliação Psicológica, Educação Especial e Coordernação Pedagógica. Atualmente trabalha no CRAS (Centro de Referencia da Assitencia Social) de Lambari – MG.
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