FAMÍLIA, UM CAMINHO PARA A APRENDIZAGEM
Márcia Ramos
RESUMO
O presente trabalho visa o esclarecimento do papel da família e de seus membros e o fortalecimento das relações escola-família. A criança, desde seu nascimento, ocupa um espaço dentro da família. É nela que se encontram os primeiros professores e ensinamentos, os quais refletirão e perdurarão por toda vida adulta, permitindo que seus membros se desenvolvam em todos os aspectos, de forma integral.
A comunicação entre pais e filhos, o diálogo, as vivências de atitude, de amor e respeito, os valores, as regras sociais são de suma importância para a formação da personalidade, do caráter, como também na aprendizagem, condição para crescimento pessoal e profissional.
A participação da família no ambiente escolar é fundamental no processo ensino-aprendizagem. Família e escola são os principais suportes com que a criança pode contar para enfrentar desafios, visto que, integradas e atentas podem detectar dificuldades de aprendizagem que ela possa apresentar, podendo contribuir de maneira eficiente em benefício da mesma.
A família deve ser parceira, aliada à escola e aos professores, para juntos oferecerem um trabalho de envolvimento e cumplicidade nos assuntos relacionados ao ambiente escolar.
Palavras chaves: Família. Escola. Criança. Aprendizagem Escolar.
INTRODUÇÃO
O tema foi definido através da importância no contexto atual da educação, visto que é fundamental a participação ativa da família na escola, principalmente diante das dificuldades de aprendizagem, associadas ao mau rendimento escolar, que, muitas vezes, tem relação com problemáticas emocionais decorrentes dos conflitos familiares.
Um aspecto desta dinâmica familiar a ser abordado é a adaptação do indivíduo ao ciclo de vida. Através desse ciclo, o sistema emocional, que é gerado pela família, se move segundo os seus costumes relacionais, que influenciam diretamente nas formas de interagir com a aprendizagem.
O movimento do sistema familiar dentro do seu ciclo de vida, somado ao padrão de aprendizagem desse grupo, é o que vai dar origem a narrativas sobre projetos de vida, carreiras, sucesso e insucessos.
O significado que cada família dá às transformações que ocorrem ao longo do tempo, marca a possibilidade deste grupo de adquirir novos conhecimentos e conferir uma identidade própria aos indivíduos, possibilitando sua diferenciação.
Com esse estudo, pretende-se refletir sobre qual seria a relação ideal entre a dificuldade de aprendizagem e a influência da família na escola para melhorar e garantir a qualidade no processo de ensino-aprendizagem.
O papel familiar
Na formação do indivíduo, a família desempenha papel fundamental, pois desde o nascimento a criança começa a interagir com as pessoas que convivem, e aos poucos vão aprendendo a se socializar e adquirindo características semelhantes às dessas pessoas. Essas características irão influenciar no desenvolvimento intelectual e psicológico, por toda a vida, embora passe por constantes alterações e adaptações dependendo do meio em que conviver posteriormente.
César Coll, Palácios e Marchesi (1995, p.190), afirmam que a família tem o papel central no desenvolvimento das pessoas, pois garante a sobrevivência física e é dentro dela que se realizam as aprendizagens básicas, necessárias para o desenvolvimento autônomo dentro da sociedade.
A criança sofre alterações do meio em que vive e ao crescer, começa a ter uma vida social mais ampla, como na escola, por exemplo, e nessa vivencia, descobrirá coisas novas, se relacionará com pessoas diferentes das quais está acostumada, surgindo novidades que também influenciará no seu desenvolvimento pessoal.
Segundo Coll (1995, P.251), a família, principalmente durante os anos escolares, deveria educar as crianças em um ambiente democrático: “… são os estilos educativos democráticos, por sua judiciosa combinação de controle, afeto, comunicação e exigências de maturidade, os que propiciam um melhor desenvolvimento da criança”. Se a criança não tiver uma base sólida na família, com uma educação democrática, afetuosa, crítica, de valores positivos, as características pessoais podem sofrer alterações radicais, direcionando a mesma às boas ou más atitudes.
A interação família e escola
A partir da década de 30, com todas as mudanças políticas, econômicas e sociais, e a reforma da educação escolar, já havia indícios de que a democracia, a gratuidade e a participação da família na escola eram essenciais para uma escola de qualidade. Esses indícios culminaram em vários movimentos reformistas realizados por educadores, que buscavam melhorias na educação.
No meio de tantos movimentos, destacou-se um dos mais importantes, chamado: “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”, em 1932. Este manifesto expressou-se através da divulgação de um documento, o qual refere, entre outras coisas, a interação entre a escola e a comunidade.
Esse movimento, o Manifesto, foi um fato importante, realizado por educadores, mas não foi o único. A incansável persistência dos profissionais para uma educação democrática é um desafio permanente, pois nada melhor que a participação de pessoas envolvidas direta ou indiretamente com a educação, para ajudar na tomada de decisões na escola.
A família deve ser constantemente ativa dentro da escola e a interação das duas partes na prática educativa estimulam o desejo de aprender do educando.
A participação dos pais na escola
Dentro da família, os pais são os maiores responsáveis pelos seus filhos e sempre respondem por seus herdeiros, pelo menos até atingirem a maioridade.
Todavia, no período anterior à maioridade, os filhos já passam por diversas experiências e responsabilidades, principalmente no período escolar. Neste período, a participação constante dos pais e o acompanhamento intensivo do ensino de seu filho são imprescindíveis para que a educação atinja os objetivos.
López (1999, p. 76), define várias funções que cabem aos pais perante a instituição escolar, e a seguir, estão sendo apresentadas algumas delas:
– Prestar a colaboração que lhes for exigida por parte dos professores para tornar mais coerente e eficaz a atuação escolar, tanto no campo acadêmico estrito como no mais amplo das atitudes e dos hábitos de comportamento que pretende fomentar como parte do projeto educacional da escola.
– Manter contatos periódicos com os professores para ter conhecimento constante do processo educativo realizado na escola.
– Manifestar interesse pelas atividades que os filhos realizam na escola, como expressão de sua preocupação pela atuação da instituição e de seu apoio a ela.
Dando a devida importância à escola e essa “assistência”, os pais não estarão contribuindo apenas para um bom desempenho do professor em seu trabalho, como também demonstrarão aos filhos, que têm interesse na vida escolar e que dão valor no conhecimento e novas habilidades que desenvolve. Esses fatores trarão muitos benefícios a todas as pessoas envolvidas no sistema escolar.
A participação da família, dos pais pode ser ainda maior, pois existem Conselhos de classe, Associação de Pais e Mestres e muitos outros projetos, eventos, festas e atividades em que os pais podem estar inseridos.
Os pais precisam dar o suporte necessário para que a escola possa fazer a sua parte e deixar a sociedade, de uma maneira geral, satisfeita com os resultados obtidos com essa parceria.
Na educação, a escola sempre teve um papel fundamental, e hoje, além da função de ensinar para a cidadania e para o trabalho, tem também que passar os valores fundamentais para a vida do indivíduo, sendo que esse papel também deveria ser de comprometimento familiar.
Com o tempo, foram sendo atribuídas mais funções às escolas, principalmente pela influência econômica, política e social, e, Segundo Libâneo (2003, p. 139), a revolução de 1930 representou a consolidação do capitalismo industrial no Brasil e foi determinante para o conseqüente aparecimento de novas exigências educacionais. Após esse momento, que modernizou nosso país, as cobranças e as responsabilidades da educação foram aumentando.
O período antecessor à revolução, a escola era apenas transmissora de conhecimentos e privilégio da elite social, passando para a gratuidade e de acesso a toda população, direcionando seu ensino para a qualificação ao trabalho, e se encontra deste modo até os dias hoje.
Atualmente, as práticas educativas podem ser definidas como o conjunto de atividades sociais por meio das quais os grupos humanos ajudam seus membros a assimilar a experiência organizada culturalmente e a se transformar em agentes de criação cultural. Desempenham um papel chave na definição dos caminhos do desenvolvimento individual, promovendo-o, orientando-o e dando-lhe conteúdo.
O desenvolvimento escolar recebe grande influência da sociedade, mas nem sempre participa e dá suporte à educação, o que torna muito difícil a qualidade da educação.
É relevante que a sociedade dê subsídios à escola e que esta tenha o total apoio e participação da família do educando.
As transformações que estão ocorrendo dentro dos valores da família e da sociedade fazem com que a escola perca o controle sobre a maneira adequada que se deve educar, sendo que muitos fatores estão influenciando na educação, e fazendo com que o trabalho da escola torne-se mais complexo ainda e a sociedade passando-lhe atribuições que antes eram de competência familiar.
Com todas essas mudanças acima citadas, fica difícil chegar num acordo da função escolar. Ensinar educando ou educar ensinando? Diante desses fatos a escola vem sofrendo cada vez mais influências e cobranças da sociedade, a qual nem sempre auxilia para o bom desenvolvimento escolar.
A escola e suas funções
A escola tem como função passar conhecimentos, formando pessoas capazes de interagir socialmente, aptas ao trabalho e prontas para a prática da cidadania. Esta concepção é a base para o desenvolvimento da educação, embora novas funções sociais foram sendo atribuídas às escolas com o passar do tempo.
Uma das novas atribuições citadas pela Comissão Internacional sobre a Educação para o século XXI – instituída pela UNESCO –, e que produziu um relatório que constituiu os princípios da educação em quatro pilares: “aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser”.
Vejamos a seguir do que se trata cada princípio:
Aprender a conhecer – aprender a aprender, desenvolver a capacidade de aprender por si mesmo, sabendo utilizar os conhecimentos e habilidades já adquiridas para aquisição de novos conhecimentos.
Aprender a fazer – Aprender e saber colocar em prática os conhecimentos nas diversas situações pelas quais indivíduo passa durante toda a vida.
Aprender a conviver – Aprender a viver e relacionar-se com outras pessoas, sabendo respeitar as diferenças e realizar projetos em comum, sem gerar conflitos.
Aprender a ser – Aprender a desenvolver a personalidade, a autonomia, a responsabilidade pelos atos e sabendo agir em sociedade através de práticas de princípios e valores éticos.
Depois de efetivar esses princípios, a escola tem possibilidade de realizar o pleno desenvolvimento dos alunos, e de se tornarem aptos e capacitados às atividades profissionais e desenvolver-se pessoalmente, promovendo sua identidade e autonomia.
Todas as pessoas têm o direito de aprender, de estudar e essa capacidade deve ser desenvolvida para ter acesso a uma vida digna, contudo a desigualdade social, infelizmente, é algo real que está presente na sociedade, e até mesmo dentro da escola. É justo e necessário que a escola dê oportunidades para todos os alunos aprenderem, sem distinção, seja qual for a sua raça, cor, religião ou classe econômica, e, também, possibilite que, desde pequenos, pratiquem os princípios citados anteriormente e, constantemente vivenciando e participando de práticas solidárias, tendo a consciência de valores, de como agir em sociedade e de respeito e amor ao próximo, buscando a exclusão das desigualdades.
O presente estudo teve por objetivo investigar, analisar, questionar a dificuldade de aprendizagem e a influencia que a organização familiar pode provocar no processo de aprendizagem de seus membros, bem como na sua formação moral, emocional e social.
Depois de muitas reflexões, compreende-se que diversas podem ser as causas das dificuldades de aprendizagem, sendo critério importante a investigação minuciosa, através do profissional que atua com o sujeito com dificuldade de aprendizagem e a compreensão dos aspectos da relação familiar a fim de identificar as causas da problemática. Assim, tanto a organização familiar, quanto a hierarquia, limites, fronteiras, expectativas, comunicação e padrões afetivos podem influenciar no processo de aprendizagem e na formação do indivíduo.
A presença dos pais no ambiente escolar deve ser ativa na vida educacional do seu filho, acompanhando o desenvolvimento do mesmo, manifestando interesse pelas atividades proposta pela escola, buscando melhor qualidade de ensino. Enfim, família e escola unidas num bem comum, com um único objetivo: desenvolvimento integral da criança em todos os aspectos (cognitivo, social, afetivo, psicomotor, etc.).
É importante também resgatar a família no processo escolar, de modo que a escola crie meios, parcerias com os pais e comunidade, envolvendo todas as pessoas interessadas, deixando-as cientes do seu papel e ao mesmo tempo, aliada nas suas ações, pois a escola é um segmento do lar.
A interação família e escola levam os alunos a vencerem as dificuldades de aprendizagem, além de obterem maior sucesso, estímulos, motivações, desempenho nas atividades escolares e como conseqüência, aproveitamento e rendimento escolar satisfatórios.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÀFICAS
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996
COLL, César; PALACIOS, Jesús; MARCHESI, Álvaro; (Orgs.). Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia evolutiva. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
Educação, um tesouro a descobrir. UNESCO, 1998
LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira; TOSCHI, Mirza Seabra; Educação escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2003.
LÓPEZ, Jaume Sarramona i; Educação na família e na escola: O que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 2002.
Publicado em 27/10/2009 13:46:00
Márcia Ramos – Psicopedagoga e Professora de Educação Infantil da Rede Municipal de Ensino de
Araras
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