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O CONHECIMENTO SOBRE O SISTEMA NERVOSO COMO BASE PARA A COMPREENSÃO DOS FENÔMENOS RELACIONADOS À APRENDIZAGEM HUMANA UMA ABORDAGEM PSICOPEDAGÓGICA Marisa Regina Rost, Rosangela dos Santos Ferraz, Maria de Fátima Mayer Knowledge Nervous Sistem as a basis for understanding the phenomena related to human learning. One approach psychopedagogic.
Resumo Palavras-chave: aprendizagem humana – dificuldades – diagnóstico – auxílio – psicopedagogia. Abstract. Key-words: human learning – dificulties – diagnostic – help – psychipedagogy Introdução Para tanto tenta responder a questão: o conhecimento das bases neurológicas e psicológicas são necessárias para uma competente avaliação diagnótica psicopedagógica , em casos de dificuldades de aprendizagem? Sabe-se que a Psicopedagogia tem como objeto de estudo o ser humano em seu processo natural em direção à aprendizagem. Assim, busca o aperfeiçoamento das relações do sujeito com esta aprendizagem, bem como a qualificação para a sua construção. Para suas investigações conta com o apoio de algumas ciências, entre elas destacamos a Neuroanatomia e a Neuropsicologia que se estabeleceram enquanto ciência, justamente em função dos avanços das pesquisas que vêm sendo realizadas desde há muito tempo por diversos cientistas em todo o mundo. Consideramos que o aprendente dependa de fatores internos e externos no seu processo de construção da aprendizagem, e que diversas possam ser as causas que o estejam bloqueando e gerando sua não-aprendizagem. Sem supervalorizarmos umas em detrimento das outras, apontamos etiologias biológicas, psicossociais, neurológicas, sociais e até mesmo afetivas que devem ser investigadas com cautela buscando um levantamento detalhado do processo de cada indivíduo que estiver sendo avaliado. A história que nos traz aos tempos atuais e a possibilidade de utilizar o conhecimento científico como auxílio e base à Psicopedagogia Desde que fomos promovidos(não sem esforço) à categoria de Homo Sapiens Sapiens, no remoto período chamado de Pré-história, nos diferenciamos dos demais integrantes do gênero Homo em função de mudanças que aconteceram no sistema nervoso. Segundo Marta Pinheiro(2005), a mais óbvia e facilmente observável mudança está relacionada ao tamanho do cérebro e, a partir daí, admite-se uma evolução da mente e também da consciência humana. Na mesma perspectiva Campos et al., (1997) afirma portanto, que percepções, individualidade, linguagem, idéias, significado, cultura, escolha( ou livre arbítrio ), moral e ética, todos existem em decorrência do funcionamento cerebral. Da Pré-história chega-se a um novo período, a Antiguidade, e nele registros escritos começam a ser feitos comprovando que os estudos sobre o sistema nervoso sempre estiveram presentes como preocupação dos seres que nos antecederam. Para obtermos uma base relativamente segura que embase nossas afirmações lembramos de Pinheiro(2005) quando nos traz à tona o papiro descoberto no Egito por Edwin Smith, no século XIX, escrito em cerca de 1700 a.C., possivelmente pelo médico egípcio Inhotep, um verdadeiro tratado de cirurgia onde se utiliza pela primeira vez – e de fundamental importância para a neurociência – o termo encéfalo quando das discussões sobre os casos clínicos nele inseridos. E por aí prosseguimos em nossa viagem através dos tempos para podermos chegar aos dias atuais e à toda contribuição que a Psicopedagogia recebe de outras ciências para satisfazer sua necessidade de obter uma melhor compreensão do processo da aprendizagem humana. Do Egito à Grécia Antiga com seus filósofos e pensadores como Pitágoras(580-510 a.C.), Hipócrates(cerca de 460-370 a.C.), Aristóteles(384-322.C.) e Herófilo(335-280) que, segundo Marta Pinheiro(2005), efetuou grandes avanços anatômicos estudando, entre outros, o sistema nervoso central e periférico. Chegamos então à Idade Média, ao Renascimento, ao século XVIII, à René Descartes(1596-1650) e à sua teoria que provocou a dissociação entre mente e corpo quando os indivíduos passaram a se identificar com a sua mente racional e não com o organismo.(SANVITO, 1991, p. 152 in Pinheiro, 2005) Prossegue a vida, passam-se os tempos e, já no século XIX conhecemos novas teorias , como a da seleção natural de Charles Darwin(1809-1882), destacando-se também trabalhos como o do austríaco Franz J. Gall(1758-1828), o mais ilustre proponente da localização cerebral das funções mentais, de Pierre-Paul Broca(1824-1880) e Carl Wernicke(1848-1905) com sua abordagem de estudos dita reducionista, chegando-se ao opositor aos localizacionistas estreitos John Huhlings Jackson(1834-1911) que, como relata Pinheiro(2005): formulou uma “teoria de organização neurológica da função mental” que, em síntese, admite que essa não é resultante do funcionamento de um grupo circunscrito de células que se organizam em “centros”, mas resulta de uma complexa organização “vertical” ditada pela evolução cerebral. Sua hipótese foi adotada e desenvolvida cerca de 50 anos mais tarde, reaparecendo nos escritos de eminentes neurologistas do século XX. Do século XX seguimos para os trabalhos e pesquisas iniciadas, desenvolvidas, realizadas ou mesmo concluídas no decorrer do século XXI, entre elas destacam-se, os precursores da neuropsicologia moderna Donald Olding Hebb(1904-1985), Karl Spencer Lashley(1890-1958) e Aleksander Romanovich Luria(1902-1977) cuja obra tem subsidiado atualmente boa parte dos estudos neuropsicológicos realizados por educadores, com vistas a investigar a aprendizagem em crianças e adolescentes.(ANTUNHA,2000,p.33;ANTUNHA,2202,p.116;CIASCA,2000,p.127) in Pinheiro(2005). Somando esforços para ampliar seus trabalhos de pesquisa, sem esquecer do dilema vivenciado pela humanidade no que tange a diferenciar e conceituar mente e cérebro, Luria se junta a Vigotsky, ambos monistas materialistas, para desenvolver sua teoria baseando-se nas idéias de Charles Darwin, onde discutem as relações entre desenvolvimento e aprendizagem a partir do pressuposto básico de que a mente organiza-se na sociedade.(VIGOTSKY;LURIA;LEONTIEV,1988,p.39 in Pinheiro2005). Ambos desenvolveram conceitos, como o da “zona de desenvolvimento proximal” de Vigotsky, que atualmente é bastante conhecido dos profissionais de educação. Não menos importante é o conhecimento dos estudos neuropsicológicos lurianos que tem despertado o interesse dos educadores interessados em compreender a causa do não-aprendizado do aluno. As pesquisas realizadas nos levam a perceber que, quanto maiores forem os nossos esforços para compreender as causas de tais dificuldades, mais terão os profissionais da área, principalmente os educadores, que ficar atentos à relação entre os fatores biológicos- genéticos, pré, peri e pós natais e aos fatores neurológicos e neuropsicológicos- não podendo esquecer dos fatores psicossociais, entre os quais se encontram os sócio-econômicos e de privação cultural, e os fatores escolares ou de ensinagem. (Nascimento et al., 2005) Nota-se, entretanto, que algumas pesquisas que chegam ao nosso conhecimento centralizam o fracasso escolar apenas nas crianças pobres. Este tipo de definição não é correto, pois acaba lançando mão de uma regra geral, e se utilizando de um mesmo diagnóstico –generalizado – sem levar em consideração as diferenças endógenas e exógenas que o aprendente vivencia. Além disto, muitos dos diagnósticos não são aprofundados e é canalizada toda problemática sob o estudante. Retira-se, assim, a responsabilidade que tem também o processo ensino-aprendizagem, ou mesmo, encobre-se alguma falha que possa haver no processo pedagógico escolar. Por isso, cada caso deve ser avaliado particularmente, incluindo na avaliação o entorno familiar e escolar. Se os problemas de aprendizagem estão presentes no ambiente escolar e ausentes nos outros lugares, o problema deve estar no ambiente de aprendizado, e não em algum “distúrbio neurológico” misterioso e não detectável. (Nascimento et al., 2005) Para maior esclarecimento sobre esta questão, seguem alguns exemplos de fatores etiológicos sociais, fazendo-se uma diferenciação com relação aos fatores bioetiológicos, que devem ser avaliados e considerados no diagnóstico psicopedagógico. Como fatores etiológicos–sociais apontamos, entre outros, carências afetivas; deficientes condições habitacionais, sanitárias, de higiene e de nutrição; pobreza da estimulação precoce, nível elevado de ansiedade métodos de ensino impróprios ou inadequados. Já como fatores bioetiológicos podemos citar as variações genéticas; as doenças infecciosas; os desvios orgânicos; as lesões cerebrais(mínimas ou severas); as desordens do desenvolvimento e da psicomotricidade, bem como as desordens de linguagem e as perceptivas.(FONSECA, 1995 in Nascimento et al., 2005) Pelo que temos estudado nos últimos tempos, portanto, é correto afirmar, segundo Nascimento et al., 2005 (sem esquecer ,é claro, dos fatores psicossociais) que a aprendizagem é dependente da organização neurológica do cérebro, e que há uma reorganização neurológica em vários momentos do desenvolvimento, sendo resultado de experiências específicas(aquisição de novas habilidades). (…) Até os três anos, o cérebro aprende as aquisições mais cruciais que perduram por toda vida. Diferentes pesquisadores consideram com seriedade a importância da maturação nervosa (que já se inicia durante a gestação) em função de sua necessidade para a conquista, por parte da criança, da maturidade motora. Gessell,1999 in Nascimento et al., 2005 apresenta a maturação do sistema nervoso como aspecto de fundamental importância ao desenvolvimento e aprendizagem do ser humano, afirmando que é a medida que o sistema nervoso se modifica, sob a ação do crescimento, que o comportamento se diferencia e muda. Constatamos, portanto, o grau de importância – comprovada pelas pesquisas científicas – que tem e que devemos dar aos complexos processos cerebrais que ao longo do desenvolvimento do ser humano vão ser um componente facilitador, ou não, dos processos de aprendizagem. Necessita-se , portanto, de uma investigação mais aprofundada que tentará chegar mais próximo das causas que estão interferindo no fluir natural e harmônico que leva ao aprender, nos distanciando, em nossa análise, dos fatores exógenos e circusntanciais que nos mostram apenas as conseqüências e não as causas da não aprendizagem. Assim, de acordo com Nascimento et al., 2005, as implicações etiológicas biológicas no diagnóstico psicopedagógico são muito sérias, visto que o risco está justamente na não identificação da criança com problemas de aprendizagem no momento ótimo para a investigação psicopedagógica, deixando os períodos de investigação mais plásticos passarem. Por isso, é fundamental o reconhecimento das características presentes em crianças portadoras de transtornos de aprendizagem. Conhecer como o cérebro funciona, suas leis, sua organização, sua conectividade, suas estruturas practo-gnósicas, bem como as áreas de linguagem, pode ajudar muito na detecção e no despistamento de dificuldades de aprendizagem. Assim, muitos problemas de aprendizagem poderão ser compreendidos de forma mais consciente pelo professor e conseqüentemente as estratégias adotadas para superá-las serão mais diretas e eficientes.(p.123) Fernandes, 1990.p.47, afirma que de acordo com uma visão tradicional racionalista e dualista do ser humano, considerou-se a aprendizagem como fruto de um processo exclusivamente consciente e produto da inteligência, deixando fora o corpo e os afetos, mas se houve humanos que aprenderam é porque deixaram de lado tal teoria e tais métodos educativos sistematizados. Acrescenta, ainda que “o ser humano para aprender põe em jogo o organismo, o corpo, a inteligência e o desejo, necessitam-se dois personagens, o ensinante e o aprendente, e um vínculo que se estabelece entre ambos”. (FERNANDES. 1990.p.48). Fernandes, 1990. p. 48 ainda enfatiza que a aprendizagem “é um processo cuja matriz é vincular e lúdica e sua raiz corporal; seu desdobramento põe-se em jogo através da articulação inteligência – desejo e do equilíbrio assimilação-acomodação”,ou seja, funciona como instinto, no ser humano.O fracasso no aprender está relacionado com esse processo de aprendizagem que envolve a estrutura do sujeito, na relação particular entre o organismo, o corpo, a inteligência e o desejo. Da mesma forma que essa relação pode servir para justificar a dificuldade de aprendizagem, também pode servir como parâmetro para a organização de uma prática pedagógica preventiva e eficaz. Este diagnóstico como intervenção psicopedagógica, estabelece um vínculo entre a ciência da Psicologia e do Sistema Nervoso, auxilia e elucida, porque o sujeito não aprende. “Pelo corpo nos apropriamos do organismo. O bebê aprende a ser dono do seu organismo, sabe que sua mão lhe pertence simplesmente porque ele a domina, porque sente o poder que tem sobre ela, e assim se apropria dela”.(p.58) Enquanto a reprodução do organismo implica a memória dos caracteres hereditários e as inclinações que deles se desprendem, a reprodução do corpo é a lembrança, “ a mimese”. Metaforizo a inteligência atrapada¹ como um preso que constrói sua própria cela. Não o puseram no cárcere contra sua vontade. Certamente o condenaram à prisão, porém ele construiu os barrotes e é ele quem tem a chave para poder sair. Podemos auxiliar dizendo que o mundo é melhor aqui fora, e que ele pode libertar-se, mas o único que poderá abrir a porta é ele, por dentro, (FERNANDES, 1990. p.86). ¹ A autora se utiliza de termos que não encontram tradução para o português. É o caso de atrapada, atrape, atrapado, mas que pode ser entendido com estar preso, aprisionado. Considerações finais Para um diagnóstico psicopedagógico apresentar um mínimo de credibilidade, se faz necessário abrir nossa visão para as diferentes etiologias que envolvem o desenvolvimento do ser humano em seu processo de aprendizagem, nunca centrando nossa análise sobre um único fator apenas. Desta forma, observamos que as causas podem ser apontadas como biológicas, psicossociais, neuropsicológicas ou neurológicas, entre outras tantas, que precisam ser levadas em consideração e encaradas com seriedade, avaliadas, preferentemente, de forma multiprofissional, primeiro devendo haver um questionamento com relação ao fato de a criança estar realmente apresentando um transtorno de aprendizagem, ou a situação estar apenas se referindo a um problema de ensinagem da escola. Devemos ter em mente que […] um desenvolvimento incomum nem sempre denuncia alguma patologia, podendo refletir dificuldades pessoais eminentemente cicunstanciais. (NASCIMENTO et al.,2005) Os profissionais envolvidos, sempre buscando uma explicação embasada e confiável para os casos que estiverem sendo analisados, deverão descartar tudo que estiver sendo considerado como causa mas que, através da investigação, fique comprovado que não demonstra estar nem interferindo, nem influenciando o não aprendizado do educando. Assim, se chega a um diagnóstico o mais preciso possível e se pode auxiliar o aprendente de forma concreta, apontando caminhos que poderão levá-lo à superação de suas possíveis dificuldades. Referências Publicado em 30/04/2009 14:39:00 Marisa Regina Rost, Rosangela dos Santos Ferraz, Maria de Fátima Mayer – Marisa Regina Rost: Licenciatura em Letras-Português – UNISINOS
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