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A ENTREVISTA COMO TÉCNICA DE PESQUISA QUALITATIVA

Luciana Camurra, Cláudia Cristina Batistela

RESUMO
Este texto é resultado de uma investigação sobre o trabalho de campo e a entrevista como técnica de pesquisa. O objetivo deste estudo é compreender em que consiste a entrevista na pesquisa de campo, sob a abordagem qualitativa – seus diferentes tipos, os procedimentos necessários para sua aplicação e análise e as limitações e vantagens que esta técnica apresenta. Para compor o embasamento teórico desta pesquisa, busca-se estudiosos que investigam os métodos e técnicas de pesquisa, dando relevância à abordagem qualitativa. Constata-se que a entrevista como técnica de pesquisa, mesmo com algumas limitações, se comparada a outras técnicas, apresenta inúmeras vantagens para as pesquisas qualitativas. Mas para ser vantajosa, deve ser aplicada e analisada com indispensável rigor e responsabilidade, e para isso, os pesquisadores precisam conhecer os critérios desta técnica, para realizá-la com eficácia e obter resultados com veracidade. Quando aplicada e analisada de forma responsável, pode fornecer dados importantes sobre o objeto da pesquisa e, além disso, pode ser usada conjugadamente com outras técnicas e instrumentos mencionados anteriormente, os quais, em conjunto podem levar a obtenção de dados mais confiáveis e, portanto, mais científicos.  Esta investigação justifica-se pela importância da adequação das técnicas de pesquisa às especificidades do fenômeno a ser estudado, o que exige do pesquisador o conhecimento necessário sobre as técnicas que deverá utilizar. Conhecer as características da técnica de entrevista e a necessidade de rigor na elaboração e aplicação desta técnica de investigação é indispensável à elaboração de trabalhos científicos voltados a investigação dos seres humanos.

Palavras-chave: Pesquisa qualitativa, Pesquisa de Campo e Entrevista.

ABSTRACT
This text is the result of an investigation into the fieldwork and interviews as a technique of research. The aim of this study is to understand what is the interview in the field research, under the qualitative approach – its various types, the procedures for its application and analysis and the limitations and advantages that this technology presents. To compose the theoretical basis of this research, we seek scholars investigating the methods and techniques of research, paying attention to the qualitative approach. We note that the interview as a technique for search, even with some limitations, when compared to other techniques, has many advantages for qualitative research. But to be worthwhile, must be applied and tested with essential accuracy and responsibility, and for this, researchers need to know the criteria for this technique to perform it effectively and achieve results with accuracy. When applied and analyzed in a responsible manner, can provide important data about the object of research and, moreover, can be used in conjunction with other techniques and tools mentioned above, which together may lead to obtaining more reliable data and therefore , more scientific. This research is justified by the importance of the adequacy of technical research to the specific phenomenon being studied, which requires the researcher the necessary knowledge about the techniques that should be used. Knowing the characteristics of the technique of interview and the need for accuracy in the preparation and implementation of technical research is essential to the development of scientific research focused on human beings.

Keywords: Qualitative research, Research and Field Interview.

1. INTRODUÇÃO
A pesquisa, num sentido amplo, pode ser entendida como um conjunto de atividades orientadas, a fim de obter conhecimento acerca de algo. Para que seja considerada científica, necessita de métodos e técnicas que a sustentem, que sejam facilitadores no processo de apreensão daquilo que se busca.

Em função do rigor exigido na definição e aplicação das técnicas e métodos, torna-se indispensável pensar, discutir e compreender os diferentes tipos, normas, aplicabilidades, vantagens e desvantagens de cada um deles, para a pesquisa científica. Essa compreensão é fundamental para que seja possível desenvolver uma pesquisa coerente e rigorosa a fim de conhecer o objeto de estudo da melhor forma possível.

Pensando na importância de apreender os métodos e técnicas de pesquisa, é que pretende-se, por meio deste trabalho, investigar uma das técnicas mais utilizadas na pesquisa qualitativa – a entrevista.

Apesar das inúmeras pesquisas realizadas acerca desta técnica, muitas discussões ainda surgem no sentido de sua validade científica, devido ao fato de que muitos pesquisadores a utilizam sem o menor rigor científico, tanto na sua aplicação ou na análise dos dados obtidos por meio dela.

Respaldando-se em alguns autores que investigam os métodos e técnicas de pesquisa, como Severino (2007), Bogdan e Biklen (1994) e Duarte (2002; 2004), tem-se por objetivo neste trabalho, ampliar as discussões a respeito da entrevista na pesquisa qualitativa, a fim de esta seja realizada sempre, com muito rigor e coerência, no desenvolvimento de pesquisas científicas.

Ao final desta investigação, constata-se que a entrevista, quando aplicada e analisada de forma responsável, pode fornecer dados importantes sobre o objeto da pesquisa e, além disso, pode ser usada conjugadamente com outras técnicas e instrumentos mencionados anteriormente, os quais, em conjunto podem levar a obtenção de dados mais confiáveis e, portanto, mais científicos. Porém, é imprescindível que o pesquisador esteja suficientemente esclarecido sobre os limites e possibilidades de cada técnica de pesquisa e sobre os critérios necessários a sua aplicação e interpretação dos dados obtidos, utilizando-as assim, de forma eficaz e consciente. É somente a partir desse comprometimento em relação à pesquisa, que os resultados serão significativos e terão validade científica.

Este estudo justifica-se pela importância da adequação das técnicas de pesquisa às especificidades do fenômeno a ser estudado, o que exige do pesquisador o conhecimento necessário sobre as técnicas que deverá utilizar. Conhecer as características da técnica de entrevista e a necessidade de rigor na elaboração e aplicação desta técnica de investigação é indispensável à elaboração de trabalhos científicos voltados a investigação dos seres humanos.

Assim sendo, espera-se contribuir com o comprometimento dos pesquisadores, para que, tratando as investigações com seriedade e responsabilidade, possam alcançar resultados, de fato, científicos, com as pesquisas.

2. A ENTREVISTA QUALITATIVA NA PESQUISA DE CAMPO
A pesquisa de campo trata-se da observação de fatos e fenômenos exatamente como ocorrem na realidade. Por meio dela, realiza-se uma coleta de dados acerca do tema e objeto estudado para, em seguida, fazer uma análise e interpretação desses dados, com base numa fundamentação teórica, realizada a princípio.

Este tipo de pesquisa é utilizado pela maioria dos investigadores qualitativos. O trabalho de campo exige, além de um levantamento bibliográfico que possa fundamentar a ação e análise, a determinação das técnicas de coleta de dados mais apropriadas à natureza do tema e ainda, a definição das técnicas que serão empregadas para o registro e analise das informações. São as técnicas de coleta, análise e interpretação dos dados, que caracterizam a pesquisa como qualitativa.

A pesquisa qualitativa é definida como aquela que privilegia a análise de microprocessos, através do estudo das ações sociais individuais e grupais, realizando um exame intensivo dos dados. A abordagem qualitativa é aquela que busca descrever e analisar a cultura e comportamento humano, do ponto de vista dos que estão sendo estudados e em seus ambientes naturais.

Uma das principais características da pesquisa qualitativos é a imersão do pesquisador no contexto dos sujeitos pesquisados e a perspectiva interpretativa de condução da pesquisa. Os métodos qualitativos são apropriados quando o fenômeno em estudo é complexo, de natureza social e não tende à quantificação. Normalmente, são usados quando a compreensão do contexto social e cultural é um elemento fundamental para a elaboração pesquisa.

De acordo com os pressupostos de Bogdan e Biklen (1994), a investigação qualitativa possui, não necessariamente todas, mas ao menos algumas, dentre cinco características. A primeira delas trata-se do contato próximo entre o pesquisador e os sujeitos da pesquisa, pois os investigadores “Entendem que as ações podem ser melhor compreendidas quando são observadas em seu ambiente habitual de ocorrência” (BOGDAN E BIKLEN, 1994, p. 48).

A segunda característica da investigação qualitativa na concepção dos autores refere-se ao seu caráter descritivo, já que, “Os dados recolhidos são em forma de palavras ou imagens e não números” (p. 48).

O fato de que os investigadores qualitativos devem dedicar maior atenção, não simplesmente aos produtos e resultados, mas sim, a todo o processo, constitui-se na terceira característica da abordagem qualitativa e a quarta, trata-se do fato de que, por seu caráter indutivo, os pesquisadores “Não recolhem dados ou provas com o objetivo de confirmar ou infirmar hipóteses construídas previamente; ao invés disso, as abstrações são construídas à medida que os dados particulares que foram recolhidos se vão agrupando” (BOGDAN E BIKLEN, 1994, p. 50).

Por fim, a quinta característica do tipo de pesquisa qualitativa, diz respeito à importância que é atribuída ao significado das coisas. O investigador preocupa-se com cada resposta dos sujeitos, pois o importante é compreender o que significa, na perspectiva de cada um dos entrevistados.
Ao discutir sobre a pesquisa de campo, Severino (2007, p. 123), também afirma que o objeto, que é a fonte da pesquisa, deve ser abordado em seu meio ambiente próprio, ou seja, os fatos e fenômenos devem ser observados exatamente como ocorre no real, não havendo intervenções do pesquisador. A coleta de dados deve feita nas condições naturais em que os fenômenos ocorrem.  A pesquisa de campo tem por objetivo, portanto, a investigação de indivíduos, grupos, comunidades, instituições, entre outros, na busca em obter informações, compreender seus diversos aspectos, descobrir novos fenômenos e suas relações.

As técnicas e instrumentos utilizados no trabalho de campo para a coleta de dados podem ser: entrevista, questionário, observação, gravação, filmagem, fotografia, etc. Neste trabalho, discuti-se sobre a primeira delas – a entrevista.

A entrevista é um método de coleta de dados, onde o pesquisador, com metas previamente definidas acerca do objeto de sua pesquisa, entra em contato com aqueles que serão entrevistados para, através de um dialogo informal ou estruturado, adquirir os dados necessários à sua pesquisa. “Pode-se definir entrevista como a técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que interessam à investigação” (Gil, 1999, p. 117). 

Na compreensão de Marconi e Lakatos (1999), a entrevista é entendida como “Encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de um determinado assunto” (p. 94). A sua utilização requer, no entanto, planejamento prévio e manutenção do componente ético, desde a escolha do participante, do entrevistador, do local, do modo ou mesmo do momento para sua realização (BICUDO, 2006).

A entrevista na pesquisa qualitativa, ao privilegiar a fala dos atores sociais, permite atingir um nível de compreensão da realidade humana que se torna acessível por meio de discursos, sendo apropriada para investigações cujo objetivo é conhecer como as pessoas percebem o mundo. Em outras palavras, a forma específica de conversação que se estabelece em uma entrevista para fins de pesquisa favorece o acesso direto ou indireto às opiniões, às crenças, aos valores e aos significados que as pessoas atribuem a si, aos outros e ao mundo circundante .

A utilização da entrevista como técnica de pesquisa sofre algumas críticas, devido ao fato de muitas vezes, não apresentar rigor em sua elaboração e constituição e nos detalhes na transcrição dos procedimentos e análises do material obtido. Essas questões são tratadas por Duarte (2004), na intenção de contribuir com as discussões acerca da necessidade de definição de critérios para avaliação de confiabilidade de pesquisas científicas que lançam mão desse recurso. Sob o entendimento de Duarte (2004, p. 213):

Esse é um tema recorrente nas discussões acadêmicas sobre metodologia de pesquisa, e ainda um tanto polêmico. Persistem entre nós certas crenças segundo as quais a entrevista, sobretudo aberta ou semi-estruturada, é um procedimento de coleta de informações pouco confiável e excessivamente subjetivo, pelo qual optam pesquisadores com pequena bagagem teórica, que dele fazem uso de forma bem menos rigorosa do que seria desejável.

Apesar das críticas, a entrevista é uma das técnicas mais utilizada em pesquisas qualitativas, e quando usada com responsabilidade e competências, permite a obtenção de resultados bastante significativos.

Ao tratarem de pesquisa participante , Bogdan e Biklen (1994, p. 134) afirmam que a entrevista é utilizada para coletar dados descritivos na linguagem do próprio sujeito e que existem duas maneiras de se realizar entrevistas dentro da investigação qualitativa – como estratégia dominante ou juntamente com observação participante, análise documental entre outras, esclarecendo assim, que pesquisa qualitativa não acontece apenas por meio de entrevistas. Neste sentido, Duarte (2004, p. 214 – 215) afirma que:

[…] não existe vínculo obrigatório entre pesquisas qualitativas e a realização de entrevistas. […] Podemos fazer observações de campo e tomar nossos registros como fonte; podemos recorrer a documentos (escritos, registrados em áudio ou vídeo, pictóricos etc.); podemos fazer fotografias ou videogravações de situações significativas; podemos trabalhar com check lists, grupos focais, questionários, entre outras possibilidades. O que dá o caráter qualitativo não é necessariamente o recurso de que se faz uso, mas o referencial teórico/metodológico eleito para a construção do objeto de pesquisa e para a análise do material coletado no trabalho de campo.

A entrevista, de acordo com Severino (2007, p. 124), é uma técnica que tem por intuito coletar informações, por meio de sujeitos entrevistados, sobre um determinado assunto, havendo, portanto, a interação entre pesquisador e entrevistado. Neste sentido, “O pesquisador visa apreender o que os sujeitos pensam, sabem, representam, fazem, argumenta” (SEVERINO, 2007, p. 124). Este autor divide a técnica de entrevista em dois tipos: entrevistas não-diretivas, a qual permite a liberdade do entrevistado em falar o que deseja, . “O entrevistador mantém-se em escuta atenta, registrando todas as informações e só intervindo discretamente para, eventualmente, estimular o depoente (p. 125). Este tipo de entrevista ocorre como se fosse uma conversa informal.

Quanto às entrevistas estruturadas, as questões são pré-determinadas e direcionadas. Este tipo de entrevista obedece a um plano sistemático, elaborado com uma série de questões previamente escolhidas. Por constituir-se “Com questões bem diretivas, obtém, do universo de sujeitos, respostas também, mais facilmente categorizáveis, sendo assim, muito útil para o desenvolvimento de levantamentos sociais” (SEVERINO, 2007, p. 125). Neste caso, a entrevista se parece com um questionário.

A partir dos estudos de Bogdan e Biklen (1994) vimos que, no entendimento desses autores, há variações quanto ao grau de estruturação das entrevistas qualitativas, podendo ser estrututurada ou não-estruturada. Como exemplo do modelo estruturado, pode-se citar, conforme Bogdan e Biklen (1994, p. 135) as entrevistas relativamente abertas, apóiam-se em tópicos ou podem ser direcionadas por algumas questões. Estas permitem que o sujeito molde o conteúdo e garante a certeza da comparação entre os dados, mas impedem a oportunidade de compreender como é que os sujeitos estruturam a questão.

Quanto ao modelo de entrevista não-estruturada, são denominadas pelos autores como a entrevista muito aberta, no qual o entrevistador permite que o sujeito fale sobre suas áreas de interesse, buscando sempre aprofundar-se e retomar os tópicos e temas do início da entrevista. Neste caso, quem conduz o conteúdo da entrevista é o sujeito .

Os autores afirmam que não são favoráveis a um ou outro tipo de entrevista, pois a escolha deve ser determinada conforme o objeto da pesquisa e se pode utilizar os diferentes tipos em diferentes fases de um mesmo estudo. Neste sentido, Duarte (2004, p. 215) esclarece que:

Cabe ao pesquisador avaliar a situação, antes de sua entrada no campo, para escolher de que recursos vai lançar mão. Entrevistas são fundamentais quando se precisa/deseja mapear práticas, crenças, valores e sistemas classificatórios de universos sociais específicos, mais ou menos bem delimitados, em que os conflitos e contradições não estejam claramente explicitados.

Durante a pesquisa participante, o entrevistador já conhece os sujeitos, na maioria das vezes, o que permite que a entrevista possa acontecer naturalmente, durante uma conversa. Contudo, quando se procura informações específicas, a entrevista pode tornar-se mais formal, com o passar do tempo. Mas existem casos em que os sujeitos são completamente desconhecidos. Isso torna as primeiras abordagens um pouco mais difíceis. Nesse caso deve-se procurar um tópico em comum entre investigador e sujeito para iniciar uma conversa banal e esta levar a construção de uma relação.

Para facilitar a entrevista, o pesquisador deve informar sobre os objetivos, mesmo que de forma breve, e o caráter confidencial do estudo, deixando o entrevistado à vontade para falar o que realmente pensa.

Ao explicarem como são feitas as boas entrevistas, Bogdan e Biklen (1994) afirmam que estas caracterizam-se pelo fato de o investigador deixar os sujeitos à vontade, livres para expressarem seus pontos de vista.  Além disso, deve-se comunicar ao sujeito o interesse do entrevistador e as transcrições devem estar bastante detalhadas e com exemplos. Em caso de respostas não compreendidas, deve-se perguntar: o que quer dizer com isso? Não tenho certeza de que entendi o que disse; pode me explicar melhor?

Outra característica referente à boa entrevista, abordada pelos autores citados anteriormente, é sobre a estruturação das perguntas a serem feitas. Deve-se sempre evitar perguntas que possam ser respondidas com sim ou não, ou seja, não elaborar perguntas fechadas, ao contrário, fazer perguntas que incentivem o entrevistado a discorrer sobre ela, em seguida, ouvir cuidadosamente o que o sujeito diz e fazer perguntas no sentido de clarificar algumas coisas que não foram bem explicadas, nunca desafiando o sujeito. Deve-se também, tomar cuidado em não persuadir o entrevistado a determinadas respostas e ser flexível – cada entrevistado necessita de uma postura do entrevistador.

Na busca indispensável para proporcionar um clima no qual os entrevistados sintam-se livres para falar de seus valores, pode-se encontrar dificuldades quando houver diferenças entre os pontos de vistas do entrevistador e entrevistado. Para enfrentar essa dificuldade da melhor forma possível, não permitindo que ela atrapalhe a investigação, não se pode tentar modificar essas diferenças, mas, compreender a partir do ponto de vista do sujeito. Evidencia-se, portanto, que mesmo não havendo empatia com o entrevistado, é possível realizar uma boa entrevista. Duarte (2004, p. 220) confirma esses dizeres, ao apontar que “Para ver o mundo pelo ponto de vista do entrevistado, para compreender sua lógica e produzir conhecimento sobre sua existência, não é preciso identificar-se com ele ou com as posições que ele defende […]”.

A autora discute sobre as condições indispensáveis ao pesquisador para a realização de uma boa entrevista.

A realização de uma boa entrevista exige: a) que o pesquisador tenha muito bem definidos os objetivos de sua pesquisa (e introjetados — não é suficiente que eles estejam bem definidos apenas “no papel”); b) que ele conheça, com alguma profundidade, o contexto em que pretende realizar sua investigação (a experiência pessoal, conversas com pessoas que participam daquele universo — egos focais/informantes privilegiados —, leitura de estudos precedentes e uma cuidadosa revisão bibliográfica são requisitos fundamentais para a entrada do pesquisador no campo); c) a introjeção, pelo entrevistador, do roteiro da entrevista (fazer uma entrevista “não-válida” com o roteiro é fundamental para evitar “engasgos” no momento da realização das entrevistas válidas); d) segurança e auto-confiança; e) algum nível de informalidade, sem jamais perder de vista os objetivos que levaram a buscar aquele sujeito específico como fonte de material empírico para sua investigação (DUARTE, 2004, p. 216).

Quanto à transcrição de entrevistas, Bogdan e Biklen (1994) aconselham que preferencialmente, seja feita depois da sessão. Já no caso de entrevistas longas sugerem que as anotações sejam feitas rapidamente, durante a sessão, apenas alguns pontos que nos ajudarão a lembrar mais tarde, quando transcrever todos os detalhes da entrevista. Sobre este assunto, pode-se também citar Gil (1991, p.94), o qual afirma que:

O entrevistador deverá ser bastante habilidoso ao registrar as respostas. Deverá ter a preocupação de registras exatamente o que foi dito. Deverá, ainda, garantir que a resposta seja completa e suficiente. Será ainda conveniente ao entrevistador ser capaz de registrar as reações do entrevistado as perguntas que são feitas. A expressão não verbal do entrevistado poderá ser de grande utilidade na análise da qualidade das respostas.

Segundo LAGE (2001), deve-se analisar o material transcrito, as palavras e comportamentos não-verbais, como risos, choros, diferenças na entonação da voz, gestos que foram registrados, etc. As expressões e erros gramaticais devem ser eliminados na transcrição, para que não haja constrangimento do entrevistado, caso seja necessário lhe apresentar o texto para apreciação.

Ainda sobre a transcrição das entrevistas, Duarte (2004) faz algumas considerações, as quais merecem ser destacadas. Segundo esta autora, as entrevistas:

[…] devem ser transcritas, logo depois de encerradas, de preferência por quem as realiza. Depois de transcrita, a entrevista deve passar pela chamada conferência de fidedignidade: ouvir a gravação  tendo o texto transcrito em mãos, acompanhando e conferindo cada frase, mudanças de entonação, interjeições, interrupções etc. (DUARTE, 2004, p. 220).

Em outro trabalho, Duarte (2002) discute a respeito de algumas dificuldades acerca do uso de métodos qualitativos na pesquisa de campo, abordando problemas relativos à delimitação do universo de pesquisa, os critérios para a seleção dos sujeitos, elaboração e realização de roteiros de entrevistas, organização e análise de dados obtidos. Segundo a autora, “A definição do objeto de pesquisa assim como a opção metodológica constituem um processo tão importante para o pesquisador quanto o texto que ele elabora ao final” (p. 141).

Duarte (2002) discute a questão da delimitação do universo de sujeitos a serem entrevistados. Para a autora, o número de sujeitos dificilmente pode ser determinado com antecedência, numa pesquisa qualitativa, pois “Enquanto estiverem aparecendo “dados” originais ou pistas que possam indicar novas perspectivas à investigação em curso as entrevistas precisam continuar sendo feitas” (p. 143 – 144).

Outra dificuldade que tem-se que enfrentar ao realizar uma entrevista, refere-se ao fato de que os diversos fatores relativos ao contato entre pesquisador e sujeitos devem ser registrados e posteriormente, analisados.

Registrar o modo como são estabelecidos esses contatos, a forma como o entrevistador é recebido pelo entrevistado, o grau de disponibilidade para a concessão do depoimento, o local em que é concedido (casa, escritório, espaço público etc.), a postura adotada durante a coleta do depoimento, gestos, sinais corporais e/ou mudanças de tom de voz etc., tudo fornece elementos significativos para a leitura/interpretação posterior daquele depoimento, bem como para a compreensão do universo investigado (DUARTE, 2002, p. 145).

A entrevista como técnica de pesquisa apresenta algumas limitações, se comparada a outras técnicas, como por exemplo: requer maior dispêndio de tempo; pode levar a enviesamentos provocados por quem investiga, principalmente quando o entrevistador possui pouca aptidão para entrevistar; o entrevistado pode não se recordar de informações importantes e a análise dos dados pode ser demorada, principalmente quando as questões forem de resposta aberta; dificuldades de comunicação e de expressão, de ambas as partes; possibilidade de ocorrer falsa interpretação das perguntas, tornando importante as respostas não significantes; possibilidade de influência por parte do entrevistador e disposição variável, por parte do entrevistado, em dar informações.

Por outro lado, muitas são as vantagens da aplicação desta técnica em pesquisas qualitativas, pois ela permite a exploração e a colocação de questões complementares, quando se busca clarear ou confirmar alguma informação; favorece a obtenção de informação de maior profundidade e informação sobre os significados internos e maneiras de pensar dos entrevistados; acesso a informações armazenadas informalmente; permite uma ampla gama de possíveis entrevistados, inclusive analfabetos; permite uma amostra maior e por isso, mais fiel das populações; obtenção de dados não encontrados em fontes documentais; possibilidade de obter informações mais precisas, podendo ser confrontadas e comprovadas de imediato, dentre outras vantagens.

Considerando os dizeres de Gil (1999, p. 42), ao afirmar que “O objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos”, pode-se perceber que a escolha consciente e a aplicação/análise de forma responsável e rigorosa, dos métodos e das técnicas de pesquisas, são fatores determinantes para que os resultados tenham veracidade e sejam considerados científicos.

3.CONCLUSÃO
Qualquer que seja a técnica ou o método escolhido pelo pesquisador haverá limitações. O importante é que o pesquisador tenha clareza sobre a natureza do objeto a ser estudado e sobre os métodos e técnicas mais adequados a sua investigação. Em outras palavras, o uso da entrevista como instrumento metodológico, é determinado pela necessidade do objeto a ser trabalhado.

A entrevista, quando aplicada e analisada de forma responsável, pode fornecer dados importantes sobre o objeto da pesquisa e, além disso, pode ser usada conjugadamente com outras técnicas e instrumentos mencionados anteriormente, os quais, em conjunto podem levar a obtenção de dados mais confiáveis e, portanto, mais científicos. Porém, é imprescindível que o pesquisador esteja suficientemente esclarecido sobre os limites e possibilidades de cada técnica de pesquisa e sobre os critérios necessários a sua aplicação e interpretação dos dados obtidos, utilizando-as assim, de forma eficaz e consciente. É somente a partir desse comprometimento em relação à pesquisa, que os resultados serão significativos e terão validade científica.

O bom entrevistador é aquele que sabe ouvir, mas ouvir de forma ativa, demonstrando ao entrevistado que está interessado em sua fala, em suas emoções. É também, aquele que realiza novos questionamentos, mas sem influenciar seu discurso, ou seja, aprofunda o relato do participante e mostra atenção sobre detalhes importantes, mas sem impor sua forma de pensar sobre o assunto, na intenção de induzir a determinado resultado.

Sendo assim, é reconhecida a relevância de investigações que discutam sobre cada uma das diversas técnicas de pesquisa e alerte para a importância de serem aplicadas com conhecimento e rigor e analisadas de forma detalhada e responsável.

REFERÊNCIAS
BICUDO, F.A entrevista- testemunho: quando o diálogo é possível. Revista Caros Amigos. Disponível em:
<
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=333DACOO1>. Acesso em 17 de mar. 2006.
BOGDAN, Robert; BIKLEN, Sari. Investigação qualitativa em educação. Porto: Porto Editora, 1994.
DUARTE, Rosália. Entrevistas em pesquisas qualitativas. Educar: Curitiba, n. 24, p. 213-225, 2004.
DUARTE, Rosália. Pesquisa qualitativa: reflexões sobre o trabalho de campo.  Cadernos de pesquisa, n. 115, março/ 2002 p. 139-154, março/ 2002.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas,
1999.
LAGE, N. A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. Rio de Janeiro: Record, 2001.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa: planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e interpretação de dados. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23ª ed. rev. e atual. São Paulo: Cortez, 2007.
FRASER, Márcia Tourinho Dantas; GONDIM, Sônia Maria Guedes. Da fala do outro ao texto negociado: discussões sobre a entrevista na pesquisa qualitativa. Paidéia, 2004, vol. 14, n° 28, p.139 -152. Disponível em: <
http://sites.ffclrp.usp.br/paideia/artigos/28.htm >. Acesso em: 23/01/2009

Publicado em 30/04/2009 14:37:00


Luciana Camurra, Cláudia Cristina BatistelaLuciana Camurra – Graduada em Psicologia (2007) e Mestranda em Educação pela Universidade Estadual de Maringá.
Cláudia Cristina Batistela – Graduada em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda (2003). Pós-graduada em Marketing-MBA (2005) e especialista em Educação a Distância (2008). Mestranda em Educação pela Universidade Estadual de Maringá. Atua como professora da Unifamma, Faculdade América do Sul e CESUMAR.

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