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ESTRESSE INFANTIL: RELAÇÕES COM O CONTEXTO ESCOLAR, FAMILIAR E SÓCIO-CULTURAL

Heloisa Stoppa Menezes Robles, Mariana dos Santos Moretto

CHILD STRESS: REPORT WITH SCHOOL, FAMILY AND SOCIAL CULTURAL CONTEXT

RESUMO
Este estudo teve como objetivo o levantamento de dados presentes na atual literatura sobre o estresse infantil. Foram pontuadas as reações ao estresse e os principais fatores (sociais e educacionais) que contribuem para este estado, compreendendo as diferenças sociais, culturais e educacionais que distinguem o contexto de vida  dos alunos de instituições públicas e privadas, procurando assim, manter uma visão holística deste fenômeno.
O conjunto de informações aqui apresentadas revelam um importante material de pesquisa para pais, professores e demais pessoas interessadas no assunto.

Palavras chave: estresse infantil, família, escola pública e particular.

ABSTRACT
This study had the purpose to survey data from actual literature about Child Stress. It punctuated the stress reactions and the main factors (social and educational) which had contributed for this condition, understanding the social, cultural and educational differences in life context between students from public and private schools,  this way, further a complete view of this phenomenon.
The whole data presented reveal an important research material to parents, teachers and people who cares about this matter.
 
Keywords: childhood stress; family, public and private school.

1. INTRODUÇÃO
O contexto social no qual vivemos é repleto de situações que conduzem  os indivíduos a um estado de  tensão, ansiedade e medo. Ao enfrentarmos a rotina do  trabalho, do trânsito, das filas e da falta de tempo comumente utilizamos a palavra estresse  para nos referirmos ao  estado emocional desencadeado por tal contexto. Entretanto, o estresse, em seu quadro natural, consiste na reação de alerta do organismo para proteger-se em situações de perigo ou ao passarmos por uma fase de adaptação, sendo indispensável  à sobrevivência das pessoas. Por exemplo,  no caso de uma criança, o primeiro dia de aula é um fator estressor e, dependendo do amadurecimento emocional que possui, o estresse pode passar despercebido ou tornar-se um obstáculo à sua adaptação, caso torne-se excessivo.

O presente trabalho está organizado da seguinte forma: primeiramente abordaremos  o estresse, esclarecendo seus conceitos, seus tipos e estágios compreendendo-o como um fenômeno cada vez mais comum entre os indivíduos , sem distinguir idade, sexo ou classe social.

O estresse infantil é semelhante ao estresse dos adultos, entretanto, possui características próprias quanto às situações desencadeadoras e os efeitos emocionais, físicos e comportamentais desta população. Em seguida, será estudado o estresse infantil, para que se possa pontuá-lo de acordo com suas peculiaridades.

Um quadro de estresse infantil excessivo é resultado de um conjunto de fatores sócio-ambientais vividos pela criança. A família, como primeiro ambiente socializador da criança exerce forte influência sobre seu estado emocional. O convívio com pais estressados aumenta, consideravelmente, a probabilidade dos filhos desenvolverem esse quadro. Situações como, a separação ou brigas dos pais, doenças, mortes e o nascimento de um irmão também existem no campo familiar e podem ser estressantes para a criança. O bairro ou vizinhança, também exercem influências significativas ao longo do desenvolvimento infantil, sendo também fonte importante para a identificação das características econômicas e socioculturais. Assim, os fatores sócio-ambientais serão abordados relacionando-os ao estresse infantil.

O ambiente escolar é, depois da família, um importante meio de ampliar as relações sociais da criança. É repleto de novas experiências, desafios e aprendizagens, portanto um lugar favorável à elevação do nível de estresse infantil. Procurando explicitar e compreender as principais características da escola pública e privada no Brasil, não sendo possível desconsiderar a discrepância entre elas, estudaremos a realidade de ambas as instituições, mostrando diferenças e semelhas na estrutura física, pedagógica e cultural das escolas.

Desta forma, o presente trabalho teve como objetivo comparar o número de crianças estressadas entre as escolas pública e particular, assim como as reações ao estresse e os principais fatores (sociais e educacionais) que contribuem para este estado, compreendendo as diferenças sociais, culturais e educacionais que distinguem o contexto de vida  dos alunos de ambas as instituições.

1.1. O ESTRESSE
Tanto o estresse infantil quanto o estresse em adultos possuem as mesmas características epistemológicas. Segundo Carroles (1995, apud FALCONE, 1997 p. 97) “o estresse constitui, antes de tudo, um fenômeno ou uma reação emocional natural, biologicamente adaptativa e fundamental para sobrevivência dos organismos”. Assim, compreende-se que o estresse é inerente à vida. O termo estresse é a adaptação para o português da palavra originalmente inglesa stress.

Para que este fenômeno seja compreendido, faz-se necessário o conhecimento de seu conceito, seus mecanismos desencadeadores e seus níveis de agravamento.

O cientista canadense Hans Selye foi o primeiro a utilizar o termo estresse em 1926, ao notar um conjunto de sintomas comuns em determinados pacientes, tais como, falta de apetite, pressão alta, desânimo e fadiga (LIPP e LUCARELLI, 2005).
Segundo Lipp (1996, p. 38), “estresse é uma reação desencadeada por qualquer evento que confunda, amedronte ou emocione uma pessoa” .A palavra estresse pode ser utilizada em dois sentidos. O primeiro descreve uma situação de tensão e o segundo refere-se à reação do indivíduo a tal situação. Geralmente, ao primeiro sentido atribuí-se o nome de estressor que pode ser de natureza positiva ou negativa. Por exemplo, um acidente de trânsito pode estressar tanto quanto uma promoção no emprego, pois, apesar da primeira situação ser negativa e a segunda positiva, ambas promovem um estado de estresse.
Ao estudarmos a natureza de um evento estressor podemos defini-lo como quaisquer circunstâncias   que ameaçam ou são percebidas como ameaçadoras  do bem-estar do indivíduo. Tais ameaças podem ser relacionadas à segurança física imediata, à segurança a longo prazo, à auto-estima, à reputação e demais coisas que a pessoa valorize (WEITEN, 2002). Torna-se importante compreender que o estresse não é uma doença, ao contrário, em seu estado natural, proporciona ao indivíduo defesa física e mental para reagir aos estímulos do ambiente de forma que se adapte às  novas circunstâncias . Entretanto, em excesso, diminui a capacidade imunológica do indivíduo deixando-o vulnerável a várias doenças.
A avaliação e a identificação de uma situação estresssora ocorrem de forma subjetiva, ou seja, determinadas situações podem ser estressantes para um indivíduo e rotineiras para outro. Por exemplo, o fato de viajar de avião pode ser prazeroso ou abominável para duas pessoas distintas. Estudos verificaram que alguns indivíduos “são claramente mais inclinados que outros a sentirem-se ameaçados pelas dificuldades da vida. Pessoas ansiosas e neuróticas relatam mais estresse que outras” (BRETT et al., 1990 apud WEITEN, 2002 p. 380).                                 
O estresse pode ser dividido em quatro tipos principais: Frustração, Conflito, Mudança, e Pressão.
A frustração é “uma emoção que se experiencia quando a busca por determinado objetivo fracassa” (WEITEN, 2002 p. 380). Ela faz parte do dia-a-dia das pessoas como, por exemplo, enfrentar congestionamentos e filas. A maioria das frustrações são experimentadas brevemente, entretanto, alguns casos podem ser uma fonte significativa de estresse como, por exemplo, não conseguir uma promoção esperada.
No tipo de estresse desencadeado por um conflito, a situação caracteriza-se por “duas ou mais motivações ou impulsos comportamentais incompatíveis que competem por expressão”(WEITEN, 2002 p. 381). Os conflitos podem ser classificados em três tipos: Aproximação-aproximação, no qual o indivíduo deve optar por dois objetivos atraentes, como por exemplo: ir jogar tênis ou pingue-pongue; Esquiva-esquiva, que se caracteriza pela escolha de dois objetivos não-atraentes, como por exemplo: fazer uma cirurgia arriscada ou continuar enfermo; Aproximação-esquiva, no qual há apenas um objetivo a ser buscado porém, implica em aspectos atraentes e não-atraentes, como por exemplo: ser promovido e ganhar bom salário mas, ter que morar em uma cidade que não lhe agrada.
Quanto às mudanças, caracterizam-se por “qualquer tipo de alteração nas circunstâncias de vida, que exijam readaptação” (WEITEN, 2002 p. 382). Holmes e Rahe (1987 apud WEITEN, 2002) desenvolveram a Escala de Readaptação Social (Social Readjustment Rating Scale – SRRS) cujo objetivo era mensurar as mudanças de vida como fontes de estresse. Esta escala é constituída por quarenta e três eventos significativos de mudança de vida (morte do conjugue, aposentadoria, doenças etc.) os quais, o indivíduo deve indicar por quais passou no último ano.
No último tipo de estresse, por pressão, a pessoa ou o meio criam “expectativas ou exigências para que a pessoa se comporte de determinada forma” (WEITEN, 2002 p. 383). Existe pressão quando, para desempenhar determinada tarefa exige-se do indivíduo um procedimento rápido, eficiente e que traga bons resultados ou ao tentar ajustar-se às expectativas dos outros. Estas situações são muito comuns no ambiente de trabalho e na própria vida em sociedade.

Identificados os tipos de estresse, é preciso a identificação dos estágios de desenvolvimento desse fenômeno. Como mencionado na introdução deste trabalho, o pesquisador Hans Selye, pioneiro nos estudos sobre o estresse, concluiu que “ as reações do estresse são inespecíficas, ou seja , afirmou que as reações não variam conforme o tipo de estresse apresentado” (WEITEN, 2002 p. 385). Através de sua teoria Síndrome Geral de Adaptação desenvolveu um modelo de resposta corporal ao estresse que consiste em três estágios, sendo eles:

Alarme: consiste na ação de mobilização do organismo ao perceber um estressor; neste momento, ocorre uma excitação fisiológica com o corpo que passa a concentrar seus recursos para enfrentar o desafio. Essa reação é , essencialmente, a reação de luta e fuga, na qual o indivíduo prepara-se fisicamente e mentalmente para enfrentar a situação ou fugir dela (WEINTEN, 2002; LIPP e LUCARELLI, 2005).

Defesa ou Resistência: neste estágio, com  a permanência do estado de estresse , o organismo estabiliza suas modificações fisiológicas, devido à manutenção dos esforços adaptativos.

Exaustão ou Esgotamento: Segundo Selye (1956, 1974 apud WEITEN, 2002) o corpo tem um limite de recursos para enfrentar o estresse, que, se persistir e não for superado, esgotará os recursos do organismo e, diminuirá a sua excitação fisiológica conduzindo-o ao esgotamento. Esse processo de exaustão poderá culminar no que Selye denominou “doenças de adaptação”
       
As reações provocadas pelo estresse  são complexas e multidimensionais, pois ao enfrentar situações estressantes, o indivíduo é afetado em vários níveis. Muitos pesquisadores afirmam que um indivíduo estressado apresenta alterações psicológicas físicas e comportamentais.
      
Wolfolk e Richardsom (1978, apud WEITEN, 2002) e Lipp e Lucarelli (2005), pontuam os sintomas psicológicos de sensação de fadiga, frustração, tensão, nervosismo, depressão, ansiedade, raiva, pânico, irritabilidade crônica, inquietação, atitudes negativas em relação ao trabalho, pesadelos e vontade de chorar.
      
Quanto às respostas fisiológicas,  os processos desencadeados por situações estressantes , fisiologicamente, iniciam-se através de duas vias principais, das quais o cérebro envia sinais ao sistema endócrino, constituído por glândulas localizadas em diferentes partes do corpo que secretam hormônios típicos do estresse, sendo eles, o cortisol, a adrenalina e a noradrenalina (BALLONE, 2002; WEITEN, 2002). No cérebro, cabe ao Hipotálamo iniciar estas ações  através destas duas vias:
 
“A primeira via atravessa o sistema nervoso autônomo. Seu hipotálamo ativa a divisão simpática do SNA.O ponto crucial desta ativação envolve a estimulação  das glândulas adrenais (…) para o lançamento de doses maciças de catecolaminas na corrente sangüínea. Estes hormônios irradiam-se por todo o corpo, produzindo grande número de modificações fisiológicas verificadas na reação de luta e fuga[…].A Segunda via envolve uma comunicação mais direta entre o cérebro e o sistema endócrino. O hipotálamo envia sinais à glândula mestra do sistema endócrino […], a qual, secreta um hormônio (ACTH) que estimula a parte exterior das glândulas adrenais( o córtex adrenal), que liberam outro importante  conjunto de hormônios – os corticosteróides. Estes hormônios estimulam a liberação de mais gorduras e proteínas na circulação, o que ajuda a aumentar sua energia[…] estas reações fisiológicas podem afetar tanto a saúde mental quanto física.” (WEITEN,2002 p.386)

Lipp e Lucarelli (2005) pontuam os sintomas físicos como: problemas gastrintestinais, dores de cabeça frequentes, perda ou excesso de peso, respiração ofegante, vertigem, náuseas, taquicardia, hipertensão, olhos lacrimejantes e visão embaçada, transpiração fria, afonia, distúrbios dermatológicos e dor nas costas.
     
No que se refere às respostas comportamentais, na maioria das vezes, estas envolvem estratégias de enfrentamento que são esforços para dominar, reduzir ou tolerar as demandas criadas pelo estresse. Essas respostas podem ser adaptativas ou não (MOOS e SCHAEFER, 1993 apud WEITEN, 2002).
      
Como exemplos de respostas comportamentais não-adaptativas, temos: descontar nos outros através de comportamentos agressivos (físicos ou verbais); desistir, ou seja, resposta de apatia e inatividade diante da situação estressante; auto-indulgência, forma comportamental que visa condutas compensatórias às situações de estresse, como por exemplo,  se algo não vai bem no emprego o indivíduo “compensa”  a situação comendo excessivamente. Desta última reação surge a relação entre estresse, obesidade, alcoolismo e consumo de drogas.
     
Quanto às respostas comportamentais adaptativas, o enfrentamento construtivo constitui-se como uma forma positiva de reagir ao estresse através de esforços saudáveis para lidar com eventos estressantes. Os princípios do comportamento construtivo baseiam-se no confronto direto com os problemas através de um esforço consciente e racional, avaliar de forma realista a situação e os recursos para enfrentá-la, reconhecer e “inibir reações ao estresse que são potencialmente destrutivas” (WEITEN, 2002 p. 390) e realizar esforços para acreditar na invulnerabilidade do próprio corpo aos efeitos danosos do estresse.
    
Como situações estressantes ocorrem diariamente na vida das pessoas, muitas reações aos estressores desaparecem sem deixar marcas duradouras. Entretanto, quando seus eventos se acumulam ou desenvolve-se um quadro severo, o estresse pode contribuir para o desenvolvimento de patologias psicológicas e de doenças físicas relacionadas à hipertensão, resfriados, infeções (devido a baixa imunidade corporal) e inflamações.
     
Estudos indicam que mulheres são mais propensas a sofrer de estresse do que os homens, devido ao papel multifuncional que realizam na sociedade (dona de casa, profissional, mãe e esposa). Esse dado tem se repetido nas crianças do sexo feminino cuja prevalência de estresse é maior do que nos meninos em muitos casos (LIPP et al., 2002). Mas, de um modo geral qualquer indivíduo pode desenvolver um quadro de estresse desde que possua características internas e viva em ambiente favorável ao surgimento deste fenômeno.
     
Embora o estresse possa atingir qualquer pessoa, uma população que tem chamado a atenção de diferentes pesquisadores é a população infantil, uma vez que, tal população tem sido vítima, em função de diferentes motivos, do estresse. Dessa forma, no capítulo seguinte, será abordado o estresse em crianças.

1.2. A CRIANÇA E O ESTRESSE
Inicialmente acreditava-se  que o estresse era exclusividade dos adultos. Entretanto, nos últimos anos, várias pesquisas têm voltado sua atenção para sua ocorrência na infância. As crianças, assim como os adultos, enfrentam ao longo de seu desenvolvimento situações de medo, insegurança, tensão entre outras que exigem adaptação física e psicológica. Mas, considerando as peculiaridades desta fase da vida, o estresse infantil possui fatores desencadeadores próprios.

A infância é um período repleto de aprendizagens. O desenvolvimento que se dá nessa fase da vida ocorre com tamanha rapidez e intensidade, que não se compara a nenhuma outra fase. Ao desenvolvimento físico e mental, agregam-se as circunstâncias sociais de inserção e adaptação ao meio. Segundo Lipp (2000, p. 18):

“Durante seu desenvolvimento intelectual, emocional e afetivo, a criança se confronta com momentos em que a  tensão de sua vida alcança níveis muito altos, às vezes ultrapassando sua capacidade ainda imatura para lidar com situações conflitantes. Se os adultos ao seu redor responderem às tensões da vida com ansiedade e angústia, a criança aprenderá a agir assim também. Mais tarde, quando confrontada com fatores causadores de stress, ela terá a tendência imediata para se sentir angustiada e ansiosa.”

Uma criança que não tenha um modelo adequado de enfrentamento das situações estressantes provavelmente, tornar-se-á um adulto vulnerável e fragilizado, sem estratégias para lidar com as tensões inerentes à vida. Toda criança passará por momentos de conflito, frustração, mudanças e pressão. Por isso, ajudá-la a enfrentar estas situações de forma positiva é a atitude mais adequada uma vez que, poupando a criança de toda e qualquer forma de estresse faz com que diminuam as possibilidades de inoculá-la contra um estresse maior.
Assim como em adultos, o estresse infantil pode estar relacionado a fatores externos e internos. Quanto aos fatores externos, Lipp (2000)  identificou dezoito que, podem ter maior ou menor  intensidade, pois dependem da história de vida e da resistência ao estresse das crianças. Dentre estes fatores estão responsabilidades em excesso, o ambiente escolar e briga entre os pais .As fontes internas descrevem as inclinações individuais da criança ao enfrentar situações estressantes. Estas inclinações são o produto de sua criação, dos modelos que recebeu, de seu meio social e das vulnerabilidades da criança. “Pesquisas recentes, realizadas pelo Doutor George Everly, nos Estados Unidos, mostram que algumas pessoas possuem  uma hiper-atividade fisiológica em face das demandas psicossociais” (LIPP, 2000, p. 32); essa hiper-atividade torna a produção de hormônios desencadeadores do estresse excessiva, deixando esses indivíduos mais vulneráveis ao estresse. Os fatores internos e externos serão estudados posteriormente.
Os sintomas do estresse infantil se dão tanto física quanto psicologicamente. Mudanças de comportamento da criança como, tornar-se agressiva ou desobediente, são sintomas relacionados ao estresse assim como, a depressão, choro excessivo, enurese, gagueira, dificuldades de relacionamento, dificuldades escolares, pesadelos, insônias, birras e o uso indevido de tóxicos constituem os sintomas psicológicos. Quanto aos sintomas físicos podem ser citados a asma, a bronquite, a hiperatividade motora, doenças dermatológicas, úlceras, obesidade, dores abdominais, diarréia e tiques nervosos. Apenas o conjunto destes sintomas pode ser um indicativo de estresse, a ocorrência isolada dos mesmos não pode ser considerada  base para um diagnóstico. Para um diagnóstico mais preciso utiliza-se a Escala de Stress Infantil – ESI desenvolvida por Lipp e Lucarelli (2005) que será utilizada neste trabalho na identificação de crianças estressadas.
As conseqüências do estresse infantil excessivo podem acarretar problemas não somente na infância, mas por toda a vida do indivíduo. Quando não controlado, terá conseqüências físicas, emocionais e sociais.
Um quadro excessivo de estresse pode reduzir a resistência imunológica da criança, afetando-a fisicamente, tornando-a vulnerável às infecções e doenças contagiosas. Isso acontece porque as glândulas supra-renais aumentam sua produção de corticosteróides que afetam diretamente o sistema imunológico, reduzindo a resistência corpórea (LIPP, 2000).
As conseqüências psicológicas podem ser facilmente detectadas no ambiente escolar. Problemas como mostrar-se agressiva, desobediente e desorganizada refletem diretamente  no desenvolvimento intelectual das crianças. Problemas interpessoais também podem aparecer, uma vez que, a criança torna-se irritadiça, hostil e desanimada.
Como conseqüência social, se não detectado e controlado, poderá resultar em “adultos frágeis, sem resistência aos embates da vida” (LIPP, 2000, p. 36). Em uma sociedade em desenvolvimento, repleta de mudanças, tensões e conflitos, indivíduos com essas fragilidades terão dificuldades em contribuir para o bem-estar social e o desenvolvimento do país. 
Quando a criança apresenta sinais de que está estressada cabe ao adulto responsável por ela (educadores, pais, familiares etc.) analisar os vários aspectos de sua formação. O ambiente familiar, a vizinhança (bairro) e a escola são os principais mecanismos socializadores da criança e, maiores provedores de situações estressantes.
Compreendendo o estresse infantil como um resultado das tensões do meio externo e das interpretações subjetivas destas situações, para estudá-lo, torna-se necessário o conhecimento das principais fontes de estresse em crianças.
Segundo Lipp (2000) as  principais fontes internas são: a ansiedade, a depressão, a timidez, o desejo de agradar, o medo do fracasso, preocupação com mudanças físicas, o medo da punição divina, dúvidas quanto suas capacidades e qualidades, interpretações amedrontadas de eventos simples, medo da morte dos pais e da solidão, medo de ser ridicularizada pelos amigos, sentir-se injustiçada sem ter como se defender e desacordo entre as exigências de sucesso e o verdadeiro potencial.
Como se vê, as fontes internas são resultado das interpretações que a criança faz de seu meio a partir de sua história de vida.
As fontes externas de estresse referem-se às situações criadas pelo meio, seja na família, na escola ou no bairro e que desencadeiam um estado de mudança, tensão, pressão ou conflito na forma de pensar e viver da criança.
Lipp (2000) pontuou as seguintes fontes externas: mudanças significativas ou constantes, responsabilidades em excesso, o excesso de atividades, brigas ou separações dos pais, algumas escolas, morte na família (principalmente dos pais ou irmãos), exigência ou rejeição por parte dos colegas, disciplina confusa por parte dos pais ou educadores, doença e hospitalização, nascimento de um irmão, medo de pai alcoólatra, troca de professora ou de escola, mudança de babá, mudança de vizinhança, pais ou professores estressados, doença mental dos pais e colônias de férias.
As fontes externas de estresse  possuem três focos de ocorrência. O primeiro é o ambiente familiar, responsável por socializar a criança e lhe transmitir noções de afeto, cuidado e moralidade. O segundo, é a vizinhança, ampliação do ciclo social, que oferece à criança dados quanto sua  realidade social, tais como, classe social, formas de comunicação e relação entre seus membros (como exemplo, os diferentes contextos que englobam uma favela e um bairro nobre podem ser citados). O terceiro é o ambiente escolar que, pode variar em ordem com o segundo, uma vez que, a idade de entrada das crianças na escola a cada dia se antecipa. É nesse ambiente que a criança recebe mais responsabilidades relacionadas ao seu desempenho e, no qual o ensino sistematizado promove ampliações de aprendizagem e do grupo social da criança.
Para compreender o contexto das fontes desencadeadoras do estresse é necessário o conhecimento  dessa   tríade  família – vizinhança – escola analisando as características de cada uma  e sua influência na formação das crianças.

1.3. AS INFLUÊNCIAS SÓCIO-AMBIENTAIS
Para analisarmos o estresse infantil torna-se necessário  compreender o contexto social no qual as crianças estão inseridas. As características da família, do bairro e educacionais, fornecem dados que auxiliam na compreensão  do ambiente social e das condições de vida das crianças. Considerando o modelo social no qual vivemos, não obstante, a heterogeneidade social (OLIVA, 1995), percebe-se uma mudança de valores, uma vez que, por conseqüência deste sistema, a sociedade tornou-se veloz em informações, a rotina das pessoas é acelerada e a falta de tempo é constante.  Assim as relações humanas passaram a ocupar lugar secundário, perdendo para o sucesso financeiro e o status social. Inseridas nesse contexto, as crianças têm de lidar também com as transformações intrínsecas a esta fase. Desta forma, este capítulo aborda a influência da família e da vizinhança no desenvolvimento do estresse infantil.

1.3.1. O AMBIENTE FAMILIAR
Segundo o dicionário Globo (1996), família  é o conjunto formado por marido, mulher e filhos. Consangüíneos que vivem na mesma casa. Entretanto, analisando a família ocidental, de países industrializados ou em desenvolvimento, observa-se que em sua estrutura há uma pluralidade de formas (SERAPIONE, 2005 apud CORDEIRO, 2006).
Na atualidade, encontram-se famílias com estrutura tradicional, como citado acima, monoparentais (por morte de um dos pais ou divórcio), homossexuais e, ainda há uma extensão dos laços entre pais e filhos para avós tios e netos.
Contudo, esta pluralidade de formas não modificou o importante papel da família, como célula mater da sociedade e referência para seus membros (MINUCHIN, 1990 apud CORDEIRO, 2006).
Há dois objetivos fundamentais na função social da família. O primeiro visa a proteção psicossocial de seus membros e o segundo refere-se à acomodação e a transmissão cultural. Pode-se caracterizar a família como geradora de afeto,  proporcionadora de segurança, de aceitação pessoal, de satisfação, de socialização e impositora de autoridade (CORDEIRO, 2006). Portanto, ela é a base de formação do indivíduo e a principal responsável por seu equilíbrio emocional.
A forma como os pais ou responsáveis lidam com as situações estressantes e educam seus filhos refletirá, diretamente, nas reações dos filhos diante os embates da vida e nos aspectos que valorizará. Essa influência exercida pelos pais é de extrema relevância para a aquisição das características pessoais dos filhos, as quais “podem servir como causas em potencial do stress  infantil ou, ao contrário, auxiliá-los a lidar com ele” (LIPP, 2000 p.102). A influência familiar pode estar relacionada a fatores externos  e internos no desenvolvimento de um quadro de estresse infantil.

1.3.2. FATORES EXTERNOS E INTERNOS DO ESTRESSE INFANTIL
Os fatores externos de estresse relacionados à família, segundo Lipp (2000), são:
1. O excesso de atividades extracurriculares: Com a intenção de oferecer mais oportunidades aos filhos e um melhor desempenho profissional no futuro alguns pais sobrecarregam seus filhos com várias atividades durante o dia, não reservando tempo  para as brincadeiras tão necessárias para o desenvolvimento e o bem-estar infantil.
2. Atribuição de responsabilidades em excesso ou a total falta de responsabilidade: Muitos pais, para suprirem as necessidades materiais de suas famílias, permanecem longo período do dia ausentes do lar, delegando tarefas domésticas para seus filhos, tais como, lavar, cozinhar e cuidar de irmãos menores. “Com tanta responsabilidade estas crianças não sabem mais como brincar ou ser criança” (LIPP, 2000 p. 104). Em oposição, há crianças que são superprotegidas e, consequentemente, não aprendem a lidar com situações que requerem responsabilidade, tais como: prazos de entrega para trabalhos escolares, estudar para provas e outras situações que, inerentes à vida, podem gerar sérios problemas na fase adulta do indivíduo.
3.Brigas e separação dos pais: quando as crianças presenciam brigas ou vivenciam uma separação parental, é provável que se sintam responsáveis e se questionem sobre o que fizeram de errado para desencadear tal situação. Essa pressão colocada em si mesma aliada às adaptações necessárias como, viver em duas casas, pode conduzir a um quadro de estresse infantil.
4.Morte de algum membro da família: a perda de um dos pais gera sentimento de insegurança, desproteção e até raiva. É necessário que a criança possa encontrar na outra figura, materna ou paterna, a proteção e a segurança de que necessita. No caso da perda de um irmão, a situação pode ser mais delicada, uma vez que a criança pode sentir-se culpada ao recordar-se de alguma briga ou momento no qual desejou a morte de seu irmão ou que ele não existisse. Tal situação faz com que a criança acredite que seu desejo tenha se realizado provocando sentimento de remorso e culpa.
5.Disciplina confusa por parte dos pais: ocorre quando as regras não são claras ou quando são estabelecidas por um dos pais e não cumpridas pelo outro. Dessa maneira, a criança fica confusa sem saber qual a atitude correta, o que pode promover um sério problema de desgaste emocional na mesma.
As fontes internas, referem-se à maneira como a criança lida e pensa com as situações diárias e à idéia que faz de si mesma. Há crianças que, devido à  razões fisiológicas, possuem uma tendência natural ao estresse, como foi visto no capítulo 1.2 – Estresse Infantil, nestes casos, há uma  produção excessiva de hormônios desencadeadores do estresse, como, por exemplo, o cortisol, tal situação, deixa a criança mais vulnerável (LIPP, 2000). Entretanto, existem outros fatores que influenciarão diretamente nas características pessoais da criança como, os exemplos dados pela família ao lidar com situações estressantes e o estilo de educação por ela adotado.
As principais idéias pontuadas por Lipp (2000), como propulsoras de pensamentos estressantes para a criança são:
•Necessidade de agradar a todos, principalmente pais e amigos;
•Dúvidas quanto à própria inteligência e capacidade;
•Crença de que se deve ter um desempenho perfeito em todas as atividades;
•Desenvolvimento de elevado espírito competitivo, aliado à necessidade de sempre vencer;
•Crenças religiosas que envolvam a idéia de punição divina para qualquer erro cometido.
Todas as idéias acima citadas estão relacionadas à forma como a família estabelece suas relações com a criança. Um estilo de educação familiar que ofereça relações de amor condicional, que pode ser ilustrado através da frase: “Só vou gostar de você se fizer o que estou lhe pedindo”, que valorize mais as ações com êxito da criança do que ela mesma, ou ainda, que justifique suas correções e repreensões na existência de um Deus punitivo, favorece o desenvolvimento de características pessoais que podem induzir a um quadro de estresse infantil.
Contudo, se o ambiente familiar oferecer um bom suporte emocional, oferecendo a criança segurança, auto-estima, equilíbrio e coerência nas atitudes parentais menor será sua vulnerabilidade diante de situações estressantes.

1.3.3. ASPECTOS DA SOCIALIZAÇÃO NA VIZINHANÇA
A vizinhança (ou bairro) no qual a criança vive, oferece dados importantes não apenas sobre o processo de socialização desta, uma vez que constitui a ampliação do ciclo de amizades, mas também, como indicador dos aspectos socioculturais e  econômicos nos quais a criança está inserida.
Não foram encontradas pesquisas que abordassem, especificamente, as influências do bairro no desenvolvimento infantil, entretanto, as pesquisas de Rappaport (1982) e Newcombe (1999) sobre os aspectos da socialização infantil, destacaram a relevância da formação de grupos infantis informais, geralmente formados na vizinhança, como proporcionadores dos sentimentos de  identificação com os objetivos e as normas de um grupo contribuindo para um comportamento pró-social, significativo para o bem-estar psicológico da criança. “Esses grupos em geral são muito homogêneos quanto à idade, ao sexo, à religião, à classe social etc., repetindo, de certa forma, os padrões transmitidos pele família”(RAPPAPORT, 1982  p. 97).
Nestes grupos informais, as crianças desenvolvem atividades em comum, aprendendo a conviver em grupo. Nas inter-relações inerentes ao convívio social a criança poderá enfrentar situações que provoquem sentimentos de rejeição e frustração. Caso a criança não possua uma boa estrutura familiar, estes sentimentos podem causar conseqüências em sua vida como, por exemplo, ao sentir-se rejeitada a criança passa a assumir comportamentos de submissão, de isolamento, de excessiva agressividade ou autoridade. Tais reações, provavelmente, prejudicarão suas relações intra e interpessoais proporcionando um contexto favorável ao surgimento do estresse infantil.
Além desses fatores relacionados a forma como a criança interage com o grupo, existem características de ordem social e cultural que influenciam no desenvolvimento da criança. Para exemplificar, pode-se comparar os contextos antagônicos que envolvem uma favela e um bairro de classe média-alta. Enquanto o primeiro enfrenta problemas de infra-estrutura e saneamento básico o segundo desfruta de boas condições estruturais.
Entretanto, há um ponto em comum: situações de violência (física e psicológica) fazem parte dos dois contextos. Através de jornais, revistas e até situações já vividas ou presenciadas acompanha-se diariamente, o tráfico e a forte circulação de material bélico no interior das favelas, afetando a vida dos moradores e, consequentemente, a rotina das crianças que nela vivem (ZALUAR e LEAL, 2001). Em bairros de classe média alta, a violência pode não ser tão explícita mas, o aumento de seqüestros e a crescente ocorrência de delitos cometidos por jovens oriundos dessa classe é preocupante. Os resultados desta crescente violência aparecem nas pesquisas do SIM (Sistema de Informação sobre Mortalidade), do Ministério da Saúde, que registram uma grande quantidade de mortes relacionadas à violência urbana com destaque para as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo (ZALUAR e LEAL, 2001).
A violência no Brasil esta tomando proporções maiores, não se limitando às classes mais pobres. Uma pesquisa mais profunda sobre este tema transcenderia o objetivo deste trabalho, entretanto, sua relevância é incontestável como um importante  fator desencadeador do estresse infantil uma vez que, pode provocar nas crianças sentimentos de medo, de ansiedade e de tensão intrínsecos ao estado de estresse.
A heterogeneidade econômica da sociedade brasileira também é um importante  fator. “As crianças de classe baixa são menos aceitas do que aquelas oriundas das classes média e alta, o mesmo ocorrendo em relação aos fatores étnicos e religiosos” (RAPPAPORT et al., 1982  p. 99). Estas situações ocorrem em grupos mistos, os quais, considerando a pluralidade de culturas que constituem a população brasileira, não são de difícil formação. Enquanto que, na vizinhança estas diferenças culturais e sociais são mínimas ou inexistem, quando a criança é inserida em grupos formais, como, por exemplo,  a escola estes aspectos serão mais evidentes.

1.4. O CONTEXTO ESCOLAR E A RELAÇÃO COM O ESTRESSE INFANTIL
Mais do que uma Instituição de Ensino onde crianças aprendem letras, números e artes, a escola é, geralmente, o primeiro ambiente formal no qual o indivíduo é inserido. Na escola a criança vai continuar seu processo de socialização, mas de forma sistematizada, com mais regras e desafios. Entendendo esta instituição como meio indispensável ao desenvolvimento infantil, serão abordadas suas possíveis relações com o estresse em crianças.
Várias situações inerentes ao contexto escolar podem ser fontes internas ou externas do estresse infantil. Externas porque, durante todo o tempo que permanece na escola ela está convivendo com os colegas, com os professores e outros funcionários e internas porque dependendo da interpretação que a  criança tem dos acontecimentos que é exposta, pode ocasionar um estresse,  como por exemplo, “uma nota baixa pode não ter nenhum significado para uma criança e, para outra, ser um grande problema: além das influências externas […] seu comportamento deriva de sua maneira peculiar de receber o fato” (TRICOLI, 2000 p. 125). Portanto, assim como nas situações estressantes que ocorrem fora da escola, os acontecimentos atingem de forma diferente cada criança devendo a escola saber lidar com estas diferenças, auxiliando no desenvolvimento de cada aluno.
A estruturação física da escola também assume papel importante para o controle do estresse infantil. Considerando crianças em idade escolar entre seis e oito anos, que são o objeto de estudo desta pesquisa, as mudanças ocorridas nesta fase de transição da educação infantil para o ensino fundamental podem provocar uma alteração na homeostase das crianças podendo desencadear um quadro de estresse, sendo que, na primeira valorizam-se mais as brincadeiras e a recreação em ambientes abertos e fechados enquanto que, na segunda, a escrita e os cálculos são extremamente valorizados e, na maioria das vezes, o espaço limita-se à sala de aula. Quanto mais agradável for esta transição com espaços amplos, organizados, com boa iluminação, ventilação, com carteiras confortáveis e material pedagógico adequado, melhor será a adaptação da criança, contribuindo para o controle do estresse infantil (TRICOLI, 2000).
O método adotado pela escola também assume um importante papel no controle do estresse pois orienta as atitudes educacionais por ela tomadas. Um método que desconsidere o tempo específico de amadurecimento de cada aluno ou que esteja em constante mudança pode resultar em professores sem estrutura para assimilá-lo aumentando o nível de estresse dos docentes que influenciarão seus alunos.
A existência de regras claras e uniformes  são outros fatores que contribuem para que a criança sinta-se segura e  tenha consciência de seus atos. A falta dessas diretrizes pode causar sentimentos de ansiedade, insegurança, medo e atitudes de confronto nas crianças (TRICOLI, 2000). Tão importante quanto o método educacional e a clareza de regras, os estímulos direcionados à criança em casa e na escola são fundamentais para que possa controlar sua ansiedade e manter uma auto-estima positiva. Professores despreparados ou estressados podem fazer cobranças excessivas sem o respaldo de estímulos e motivações o que pode  afetar diretamente o desempenho escolar dos alunos assim como a auto estima dos mesmos.
O aspecto biopsicossocial da criança precisa ser considerado. Se a escola não for sensível às diferenças, aos anseios e aos medos da criança, consequentemente , tornar-se-á uma fonte de estresse para ela.
 
Na atualidade, a relação professor/aluno transcende os aspectos formais do ensino: ensinar/aprender. É cada vez mais freqüente o ingresso de crianças, ainda bebês, na escola tornando mais afetuosa e maternal a tarefa do educador.
Este afeto maternal não se restringe à  educação infantil, “ o professor de ensino fundamental cujos alunos têm por volta de sete anos deve continuar a ser acolhedor e afetuoso” (TRICOLI, 2000 p. 132). Mas, o objetivo será focado no ensino formal da leitura-escrita e dos cálculos.
O docente do primeiro ciclo do ensino fundamental que não estiver preparado para realizar seu objetivo de forma afetuosa, tornará a transição da educação infantil para o ensino fundamental mais difícil, provocando uma situação estressante para seus alunos. O mesmo, pode ocorrer quando o educador apresenta um quadro de estresse pois ele é o modelo para o controle ou a fonte geradora de estresse para os discentes (TRICOLI, 2000).
As principais causas do estresse em docentes da pré-escola à quarta série foram pontuadas por Reinhold (1996, apud LIPP, 2000 p. 133), sendo elas:
•O Estresse ocupacional: desencadeado pelo mau relacionamento com os colegas ou ainda por ruídos excessivos na sala de aula, afetando o docente psicológica e fisicamente;
•Estresse doméstico: relacionado aos problemas familiares e ao cumprimento de uma dupla jornada de trabalho;
•Estresse social: provocado pela desvalorização profissional, pelas pressões econômicas e pelo medo da violência.
Deve-se considerar que, estas influências negativas do meio só afetarão o docente que interpretá-las  como ameaçadoras (relação inter e intrapessoal do estresse) tornando-as fatores estressores.
Nas relações estabelecidas em sala de aula, tanto o professor quanto o aluno podem exercer influências negativas um sobre o outro (TRICOLI, 2000). Cabe aos docentes desenvolverem estratégias de controle do próprio estresse, procurando também conhecer mais sobre seus educandos proporcionando-lhes melhores condições emocionais no processo de ensino/aprendizagem.
Segundo Tonelotto (1994, apud LIPP, 2000 p. 137) existem fatores externos e internos que podem afetar o desempenho escolar das crianças. Os externos estão relacionados ao nível sociocultural da família, suas características e, à metodologia educacional adotada pela escola. Os fatores internos relacionam-se aos problemas de desenvolvimento ocorridos no início da vida da criança, como, por exemplo, problemas neurológicos.
Assim como estes fatores podem afetar o desenvolvimento escolar, o estresse que pode surgir em conseqüência desses fatores ou por outras razões, também acarretará problemas no desempenho escolar das crianças. Segundo uma pesquisa realizada em escolas públicas e particulares, estes problemas não estão relacionados apenas às notas, mas a problemas emocionais e /ou comportamentais, tais como déficit de atenção, de concentração, agressividade, agitação ou passividade (LIPP, 2000). Tais comportamentos podem conduzir pais e educadores à interpretação errônea de que a criança esteja com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade). Quanto às diferenças entre estresse e TDAH, Malagris e Castro (2000 p. 91) fazem as seguintes observações:

“Embora se justifique a confusão, ela se mostra muito perigosa, pois, como se sabe, o stress pode ser transitório e estar relacionado a mudanças excessivas ou mesmo interpretações distorcidas , ao passo que, no caso do TDAH, o problema não é transitório, não sendo conseqüência de mudanças ou de interpretações, geralmente ele não ‘passa’ com o tempo, se medidas específicas não forem empregadas.”

Para que problemas como estes sejam evitados, faz-se necessário o encaminhamento para um especialista pois, é comum que crianças com TDAH apresentem também um quadro de estresse. Caso uma criança com TDAH for interpretada apenas como estressada poderá não receber um tratamento adequado, agravando assim, seu  problema e afetando seu desempenho escolar.
       
Outro aspecto importante para o desempenho escolar do aluno é o intercâmbio entre família e escola. Como foi estudado no capítulo1.3, a família é a principal responsável pela estrutura emocional da criança e tudo que acontece na família a afeta diretamente. Por esta razão, a falta de comunicação entre família e escola torna-se uma fonte geradora de estresse pois, o professor não terá um  conhecimento integral dos alunos, não tendo meios para compreendê-los em suas atitudes, o que resultará em um obstáculo na relação professor-aluno dificultando o processo de ensino/aprendizagem.
     
Portanto, para um bom desempenho escolar é necessário que o professor conheça seus alunos para poder respeitar suas limitações e dificuldades. Desse modo, poderá mediar o conhecimento de forma agradável sem cobranças excessivas contribuindo para o controle do estresse em sala de aula. O sistema educacional brasileiro reflete o caráter heterogêneo de sua sociedade. As diferenças existentes entre as escolas públicas e particulares vão desde o público por elas atendido à estrutura física das instituições.
       
Essas divergências são maiores até a 8ª série. Segundo o levantamento  denominado Números do Ensino Privado, realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) a pedido da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), as escolas públicas de ensino fundamental estão menos preparadas do que as de ensino médio, quando comparadas à instituições particulares (DIMENSTEIN, 2004). Este levantamento avaliou e comparou vários quesitos entre as instituições, tais como, bibliotecas, quadras de esporte, laboratórios  e salas de vídeo.
       
De acordo com o Ministério da Educação (MEC) todas as escolas públicas devem ter bibliotecas, laboratórios de ciências, de informática com acesso à Internet e quadras esportivas o que, segundo o levantamento, não acontece na maioria dessas escolas.
       
Nas regiões  Sudeste, Sul e Centro- Oeste do Brasil essas diferenças de infra-estrutura entre escolas públicas e particulares foi, significativamente, maior do que nas regiões Norte e Nordeste. Entretanto, “as diferença no grau de difusão de infra- estrutura entre as redes […] de ensino é marcante em todo o território nacional” (Números do Ensino Privado, 2005) com prevalência da superioridade das escolas da rede particular em detrimento das escolas da rede pública.
       
Estas condições estruturais influenciam diretamente alunos e professores. Salas mal equipadas, ausência de materiais didático-pedagógicos, cadeiras desconfortáveis e quadras esportivas sem condições de uso  interferem no bom desenvolvimento das atividades propostas ou, até mesmo, minam as possibilidades de um ensino/aprendizagem efetivo, tal situação, pode colaborar para o surgimento de um quadro de estresse em alunos e professores. Não obstante essa defasagem estrutural das escolas públicas, pesquisas indicam que a maioria dos casos de fracasso escolar são apresentados em crianças da classe popular, alunos estes, que constituem a escola pública brasileira.
       
Se a análise estrutural revela vantagens das escolas particulares em relação às escolas  públicas, a análise comparativa das metodologias de ensino e das práticas pedagógicas pode não ser equânime. Considerando que a maioria das escolas particulares opta pelo ensino apostilado, sistematicamente programado, com prazos definidos de entrega das atividades e a exigência constante de resultados por parte dos pais e da própria diretoria, que visa a satisfação do cliente que paga por seus serviços educacionais.
     
Este sistema pode demonstrar organização e disciplina, entretanto, exige que professores e alunos ensinem  e aprendam num determinado espaço de tempo, comum para todos e sob constante pressão, o que torna difícil a efetivação de um ensino que considere o tempo pessoal de cada indivíduo. Outro aspecto negativo é a pouca participação do professor na elaboração do material utilizado pela escola, restringindo sua prática pedagógica a transmissão dos conteúdos da apostila.
    
O professor da escola pública neste aspecto apresenta uma maior participação, podendo escolher os livros que irá utilizar, tornando-se mais ativo no processo de ensino/aprendizagem. Usufrui ainda, de menor pressão por parte dos pais quanto aos resultados atingidos por seus alunos, pois os responsáveis, geralmente, possuem pouco conhecimento, tanto político quanto educacional, para cobrar dos professores melhores resultados.
     
Portanto, concebendo o estresse infantil excessivo como produto das relações estabelecidas entre a criança e o meio no qual vive, considerando os aspectos subjetivos e as características sócio-ambientais que podem contribuir para o surgimento deste quadro, o presente trabalho revelou-se como uma importante ferramenta para pais e profissionais da educação, uma vez que, estão em contato direto com as crianças, poderão utilizar as informações aqui contidas para melhorar a qualidade de vida dos pequenos e, se for o caso, encaminhá-los para profissionais especializados. O estudo mostra ainda, a necessidade de mais pesquisas sobre o assunto, de forma a revelar possíveis diferenças no diagnóstico do estresse em crianças de diferentes classes sociais ou, ainda, formas eficazes de intervenção em sala de aula ou no contexto familiar.

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Publicado em 08/04/2009 16:28:00


Heloisa Stoppa Menezes Robles, Mariana dos Santos MorettoHeloisa Stoppa Menezes Robles: Psicóloga formada pela Universidade Federal de São Carlos/SP (UFSCar) e mestre pelo Programa de Pós Graduação em Educação Especial da Universidade Federal de São Carlos/SP.; Professora do Centro Universitário Central Paulista (UNICEP) e das Faculdades COC.
Mariana dos Santos Moretto: Pedagoga pelo Centro de Formação Profissional de Ribeirão Preto (CEFORP) e professora do Stúdio de Dança Luciana Junqueira – Ribeirão Preto/SP

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