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A HABILIDADE QUE UM GRUPO DE PAIS TEM NA IDENTIFICAÇÂO DAS DIFICULDADES AUDITIVAS DE SEUS FILHOS Christiane Rossini Vana, Kelly Sayuri Shimoishi, Mayra Pedroso P. de Mello, Ângela Ribas
RESUMO PALAVRAS-CHAVE: Processamento auditivo; Dificuldade de aprendizagem; Percepção dos pais. INTRODUÇÃO Dentre as alterações auditivas mais comuns em crianças estão as perdas auditivas por inflamações de orelha média (otites), excesso de cera, presença de corpo estranho no conduto e os problemas de processamento auditivo (RUSSO e SANTOS, 2005). “Processamentos auditivos (centrais) são os mecanismos e processos do sistema auditivo responsáveis pelos seguintes fenômenos comportamentais: localização e lateralização sonora; discriminação auditiva; reconhecimento de padrões auditivos; aspectos temporais da audição, incluindo resolução temporal, mascaramento temporal, integração temporal e ordenação temporal; desempenho auditivo na presença de sinais competitivos e desempenho auditivo com sinais acústicos degradados” (ASHA, 1995). No Brasil, cerca de 40% da população que freqüentam as primeiras séries escolares tem algum tipo de dificuldade acadêmica (CIASCA, 2003). Os transtornos de aprendizagem se caracterizam por baixo desempenho de acordo com a idade, escolarização e nível de inteligência em áreas como leitura, escrita e matemática (GARCIA, PEREIRA e FUKUDA, 2005), e podem ter relação com dificuldades auditivas. Pensando no grande número de crianças com dificuldades de aprendizagem na escola e que apresentam audiometria clínica e impedanciometria dentro dos padrões de normalidade, avaliar o processamento auditivo dessas crianças é de grande importância para se traçar um tratamento adequado. Existem vários trabalhos publicados, os quais relacionam as dificuldades de aprendizagem e distúrbios de processamento auditivo (MARGALL , 2002; CAPOVILLA, 2002; NEVES e SCHOCHAT, 2005). O diagnóstico preciso do déficit do processamento auditivo é de difícil definição. Podem acontecer algumas alterações isoladas, como de atenção, memória, consciência fonológica e processamento temporal, que não caracterizam um distúrbio de processamento auditivo, ou podem acontecer concomitantemente. A literatura descreve a importância do processamento auditivo para a aquisição de leitura e escrita; da importância de traçar diretrizes eficientes para o programa de intervenção fonoaudiológica; e que crianças com história de fracasso escolar deveriam ter em suas rotinas o exame citado. MATERIAL E MÉTODO Estes alunos foram submetidos a esta pesquisa com o consentimento de seus pais e/ou responsáveis. Aos mesmos foi aplicado um questionário contendo questões sobre a percepção auditiva das crianças (anexo1). Foram utilizados os seguintes equipamentos para a avaliação: otoscópio de marca Hinee; audiômetro da marca Interacoustics, modelo AC-33; Imitanciômetro da marca Interacoustics, modelo AZ-7; lista de vocábulos; fone TDH-39. Para os testes dicóticos foi utilizado o equipamento mídia player acoplado ao computador e ao audiômetro AC-33; CD volume número 2, pertencente ao livro Ilustrado “Processamento Auditivo Central: manual de avaliação” (PEREIRA e SCHOCHAT,1997). Todos os participantes realizaram uma avaliação audiológica composta de audiometria tonal, logoaudiometria e imitanciometria. Em seguida foram aplicados os testes de escuta dicótica SSW (dissílabos alternados – Sttagered Spondaic Word) e CES (sons ambientais competitivos – Competing Envitomental Sounds). RESULTADOS E DISCUSSÃO Em relação ao SSW, todas as crianças falharam no teste. Destas, 5 crianças (33,3%) apresentaram alteração leve, 7 crianças (46,6%) alteração moderada e 3 crianças (20%) alteração severa. No CES, 73,2% das crianças falharam no teste. Destas, 4 crianças (26,6%) tiveram alteração leve, outras 4 crianças (26,6%) tiveram alteração moderada e 3 crianças (20%) alteração severa. O restante, 4 crianças (26,6%), não apresentaram alteração neste teste. De acordo com a literatura (PEREIRA e SCHOCHAT, 1997), crianças com alteração leve do processamento auditivo têm leve dificuldade para compreender a fala em ambientes ruidosos; crianças com alteração moderada têm um pouco mais de dificuldades para acompanhar a fala em ambientes degradados do ponto de vista sonoro; crianças com alteração severa possuem grandes dificuldades de conversação em ambientes onde a acústica é desfavorável. Considerando que a maioria da amostra apresentou dificuldades com a escuta dicótica, pesquisamos junto aos pais como eles percebem a habilidade auditiva de seus filhos, com o objetivo de verificarmos se eles têm ou não condições de identificar prováveis problemas auditivos que pudessem interferir no processo de aprendizagem de seus filhos. Quatorze pais (93,33%) relataram que o desempenho escolar de seus filhos não é bom. Descreveram como os principais pontos a contribuir com o mau desempenho são principalmente: desatenção, repetência, falta de memória, pouco interesse em atividades de escrita, muitas conversas em sala de aula, trocas de surda/ sonora. A maioria dos pais (86,66%) observou erros de escrita e fala nos seus filhos. Enquanto que o restante (13,34%) não repara erros de escrita e fala. Os erros mais citados foram: trocas de letras, principalmente surda/ sonora, erros gramaticais, dificuldades com palavras que tem o fonema /R/. Perguntamos aos responsáveis pela criança se ela escuta bem. Observamos que apesar de 100 % da amostra ter apresentado falhas no SSW, 14 pais (93,3%) referiram que seus filhos escutam bem, enquanto apenas 1 casal (6,67%) respondeu que seu filho não escuta bem. Registramos que 10 pais (66,66%) entendem que seus filhos apresentam a mesma performance frente ao silêncio ou ao barulho, enquanto que 5 pais (33,34%) já relatam que percebem diferenças de escuta dos filhos dependendo do ambiente. Sabe-se que em ambientes onde o sinal auditivo é degradado pode haver dificuldades de escuta, pois é necessária maior concentração de atenção. Segundo a literatura consultada, crianças com alterações moderadas e severas de percepção auditiva têm dificuldades para compreender a fala em ambientes ruidosos, e na amostra pesquisada observamos que 66% enquadra-se nesta classificação. Tal fato sugere que mais da metade das crianças deveriam apresentar queixas de não escutarem bem, pois em casa e na escola, ambientes onde há ruído de fundo constante, esta dificuldade de escuta apareceria. A percepção dos pais entrevistados não parece dar conta das dificuldades das crianças. Com relação ao fato de escutar, mas não entender o que é falado, 8 pais (53,33%) relataram que percebem que os filhos não entendem direito aquilo que escutam, embora afirmem que seus filhos escutam bem. O restante, 7 pais (46,67%), referem que não percebem nenhum tipo de dificuldade de entendimento por parte de seus filhos. A grande maioria (93,33%) relatou que os filhos localizam os sons vindos de diferentes direções, enquanto que apenas 1 casal (6,67%) relatou não perceber essa reação no seu filho. Em relação à memória auditiva 10 pais (66,6%) referiram que o filho lembra das coisas com facilidade, enquanto que 5 pais (33,34%) referiram que o filho tem dificuldades com esta questão. Considerando-se que a memória tem relação com a sequencialização de eventos sonoros no tempo, apenas 1 casal metade dos pais (46,66%) respondeu que os filhos sabem seqüenciar um fato ou uma história, e a outra metade (46,66%) disse que os filhos não o fazem corretamente. As respostas acima relatadas nos permitem inferir que os pais entrevistados nesta pesquisa não têm consciência da importância da audição no processo de ensino-aprendizagem, e não conseguem relacionar as dificuldades escolares com possíveis problemas de percepção auditiva. É fato que um estudante que apresenta um distúrbio de processamento auditivo irá ter maiores dificuldades escolares, ou seja, “ser capaz de ouvir não significa necessariamente ser capaz de escutar” (JOHNSON e MYKLEBUST, 1987). A dificuldade em processar a informação faz com que estudantes possuam baixos rendimentos escolares. Segundo Balen (1998), as funções auditivas são mediadas por diferentes estruturas das vias auditivas centrais e periféricas existindo uma relação entre as habilidades e funções auditivas com as características anatomo-fisiológicas das vias auditivas em resposta aos estímulos sonoros. Um sistema auditivo íntegro, tanto na sua porção periférica como na sua porção central, é uma das bases para a aquisição e desenvolvimento da comunicação humana no que se refere a linguagem oral e escrita (MARGALL, 2002), e por isso, pais de crianças em fase escolar deveriam ter maior consciência de que a audição é um processo importante sobre o qual se constrói a aprendizagem, e deveriam estar mais atentos a sinais que indicassem para possíveis problemas de percepção. Este tipo de orientação pode ser dada, em escolas regulares, por fonoaudiólogos especializados em questões escolares, que além de orientarem os familiares, estariam à disposição dos profissionais da escola com vistas a facilitar o processo e minimizar os efeitos das dificuldades com o processamento auditivo.
• 100% das crianças avaliadas não apresentaram alterações auditivas em nível de vias periféricas, nos exames de audiometria e imitanciometria; Tais resultados nos levam a inferir que é emergencial a orientação fonoaudiológica em ambiente escolar, orientação esta voltada para pais e profissionais do ensino que tenham relação com crianças portadoras de dificuldades escolares e auditivas. ANEXO 1 QUESTIONÁRIO APLICADO AOS PAIS OU RESPONSÁVEIS DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: 1. Seu filho escuta bem? 2. Já fez alguma avaliação auditiva? 3. No silêncio e no barulho escuta igual 4. Ele refere que escuta mas não entende o que é falado? 5. Localiza bem os sons? 6. Tem boa memória? 7. Lê e escreve corretamente? 8. Como é seu desempenho escolar? 9. Quais as maiores dificuldades escolares? 10. Fala corretamente? Como? 11. Conta fatos em ordem? 12. Teve história de otites de repetição? 13. Tem alguma doença? 14. Tem problemas de comportamento? 15. É muito quieto? 16. É muito agitado? 17. Toma algum medicamento? REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Publicado em 27/02/2009 14:58:00 Christiane Rossini Vana, Kelly Sayuri Shimoishi, Mayra Pedroso P. de Mello, Ângela Ribas – Christiane Rossini Vana: Fonoaudióloga, aluna do Curso de Especialização em Audiologia Clínica, Universidade Tuiuti do Paraná.
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