 |
RESENHA – IMAGINAÇÃO E ARTE
Mabel Sala Quintana
|
1.Referência Bibliográfica:
VYGOTSKY, L. S. La imaginacion y el arte em la infância. Madrid, Espanha: Akal, 1982. Capítulo I, II e III – Arte e Imaginacion – p. 7 a 38,
2.Credenciais do autor:
Lev. S. Vygotsky nasceu em 1896 e faleceu em 1934. Vygotsky, professor e pesquisador, foi contemporâneo de Piaget, nasceu e viveu na Rússia, quando morreu, de tuberculose, tinha 34 anos. Professor dedicou-se nos campos da pedagogia e psicologia. Deu várias palestras em escolas, e faculdades sobre pedagogia, psicologia e literatura. Partidário da revolução russa sempre acreditou em uma sociedade mais justa sem conflito social e exploração.
A partir de 1912 cursou estudos universitários de direito, filosofia e história em Moscou. Durante seus estudos secundários e universitários, Vygotsky adquiriu uma excelente formação na esfera das ciências humanas ( línguas e lingüística, estética e literatura, filosofia e história).
A poesia, o teatro, a língua, os problemas do signo e do significado, o cinema, os problemas da história e da filosofia, interessaram vivamente a Vygotsky muito antes de começar do interesse pela investigação em psicologia.
O primeiro livro em que mostrou sua orientação definitiva para a Psicologia chamava-se Psicologia da Arte (1925). Terminados os estudos universitários, Vygotsky se dedica a atividades intelectuais bastante variadas. Ensina psicologia e prossegue seus estudos de teoria literária e psicologia da arte. Em Moscou, passa a partir de 1924 a ser colaborador do Instituto de Psicologia. Durante um decênio (1924-1934), Vygotsky, rodeado por um grupo de colaboradores tão apaixonados como ele pela elaboração de uma verdadeira reconstrução da psicologia, cria sua teoria histórico-cultural dos fenômenos psicológicos.
Ignorados durante um bom tempo, os escritos fundamentais de Vygotsky e suas atividades profissionais somente foram redescobertas e reconstituídas recentemente, e pouco a pouco. O leitor interessado pode agora encontrá-los nas obras de Levitin (1982), Luria (1979), Mecaci (1983), Rivière (1984), Schneuwly y Bronckart (1985), Valsiner (1988) e na antologia de textos de Vygotsky em seis volumes ( Vygotsky, 1982-1984).
Durante este breve período de investigação, Vygotsky escreveu aproximadamente 200 textos, dos quais uma parte se perdeu. A fonte principal continua sendo a obra publicada em russo entre 1982 e 1984, mas, ainda que esta antologia se intitule Obras completas não abrangem na realidade todos os textos que puderam ser conservados, pois, ainda não foram reeditados vários livros e artigos publicados anteriormente.
A bibliografia mais completa dos trabalhos de Vygotsky e a lista de traduções de suas obras e dos estudos em que ele se consagrou constam no sexto tomo das Obras completas e na obra de Schncuwly y Bronckart (1985). É bom que se assinale que algumas edições de obras de Vygotsky, especialmente em inglês, não foram muito fiéis e que, sobretudo, criaram um grande número de equívocos. É o caso, por exemplo, da edição gravemente mutilada da obra mais importante de Vygotsky, Pensamento e linguagem, publicada em 1982 em inglês com o título de Thought and language. É de se esperar que as edições mais das Obras completas que se preparam em várias línguas (espanhol, inglês, italiano, etc.) ajudem os pesquisadores a captar melhor as autênticas idéias de Vygotsky.
Por outro lado, os dados bibliográficos apresentados na versão original das Obras completas, assim como os comentários que constam em cada volume, facilitam a reconstrução da gênese das idéias do psicólogo bielorusso. Esta reconstrução, entre outros efeitos, tornaria possível uma interpretação mais fundamentada de seu pensamento, especialmente no caso de formulações diferentes das mesmas idéias que figuram em obras reeditadas.
Seja como for, para os leitores que não podem consultar em russo os textos do grande psicólogo, existirá sempre uma dificuldade: pelo fato de haver criado um sistema teórico original, Vygotsky elaborou igualmente uma terminologia capaz de expressar essa originalidade. Eis um dos motivos pelos quais toda tradução corra o risco de deformar suas idéias, ao menos parcialmente.
INTRODUÇÃO
Tem este a finalidade de analisar a obra intitulada como “La imaginacion y el arte em la infância, mas especificamente o Capítulo I: Arte e Imaginação; Capítulo II Imaginação e realidade; Capítulo III: O mecanismo da imaginação criadora.
Em “La Imaginacion y el Arte en la Infancia”, a imaginação aparece como uma atividade que combina e cria, que assim como a memória – atividade reprodutora e de conservação da experiência passada – pode ser explicada pela plasticidade da nossa substância nervosa, pela sua capacidade de adaptar-se e conservar as marcas de suas modificações. Esta concepção de que a possibilidade de re-combinar fatos, impressões, imagens já vividos é o que caracteriza a imaginação e sua capacidade criadora, reaparece em outros momentos da produção de Vygotsky.
Mas a sua idéia de imaginação incorpora também o distanciamento do imediatamente percebido e a possibilidade de resgate de imagens do anteriormente percebido: é a imagem, como cópia mais ou menos fiel do real, que serve de base para essa atividade que combina e cria.
Neste texto vamos ver que Vygotsky, fala que há uma contradição inerente ao problema das relações: nenhuma cognição acurada da realidade é possível sem um certo elemento de imaginação e, por outro lado, os processos de criação artística ou de invenção demandam a participação tanto da imaginação quanto do pensamento “realista” – “os dois agem como uma unidade”. No entanto, o autor destaca que não é possível identificar imaginação e pensamento sobre a realidade, negligenciando tudo aquilo que os opõem.
Assim, a imaginação é compreendida como uma forma especificamente humana de atividade consciente que, enquanto base de toda atividade criadora, manifesta-se em todos os aspectos da vida cultural, possibilitando a criação artística, científica e técnica. Assim, todo o mundo da cultura é concebido como produto da imaginação e da criação humana. Ao possibilitar a reordenação dos elementos extraídos da realidade, organizando-os de maneiras novas, a imaginação não se caracteriza como uma atividade oposta àquela de domínio do mundo exterior, sendo ambas de natureza fundamentalmente social.
De acordo com Vygotsky, absolutamente tudo que nos rodeia e que foi criado pela mão do ser humano, ou seja, todo o mundo da cultura, ao contrário do mundo natural, todo ele é produto da imaginação e da criação humana baseada na imaginação.
Tendo por base as reflexões que vêm se processando a respeito do ensino e da formação de professores, bem como a inserção de docentes em diferentes práticas pedagógicas, este trabalho levou-nos a buscar subsídios para desenvolver considerações sobre a temática criatividade, consideradas hoje como elemento basilar da prática pedagógica.
Desta forma, os blocos trabalhados nos sinalizam a respeito da necessidade de refletir e discutir a fim de obter um aprofundamento maior sobre a temática, especialmente sob o enfoque cognitivista que abrange as inter-relações sócio-culturais-simbólicas.
Sendo assim, entendemos que a obra é dirigida a especialistas da área de educação, alunos de graduação e pós graduação, gestores educacionais, coordendores, orientadores, professores, enfim, para todos que interessam-se pelo assunto em questão.
CAPÍTULO I – ARTE E IMAGINAÇÃO
O objetivo deste capítulo é analisar a arte e a imaginação escrita por Vygotsky.
Inicialmente cabe aqui destacar que para Vygotsky, a atividade criadora é toda a criação humana de algo novo. Isto é particularmente importante porque nós, seres humanos, podemos reconhecer dois tipos básicos de comportamento: um impulso e um jogador ou uma combinação criativa.
A primeira, intimamente ligada à memória, que é o homem por tocar ou repete as regras de conduta já desenvolvidas, continua a ressurreição do que tem sido experimentado antes, dada a capacidade do nosso cérebro para reter os traços das experiências. Mas o cérebro, diz Vygotsky, também possui a capacidade para enfrentar com sucesso e resolver problemas novos e diferentes para os já conhecidos. É a capacidade de unir e criar algo novo, utilizando elementos de situações adquiridas antes de aplicá-los a novos problemas.
Qualquer atividade humana que não se limita a reproduzir fatos vivenciados, mas que podem criar novas imagens, novas ações, pertence a este segundo papel ou em combinação criativa. O cérebro não é apenas um órgão capaz de reter ou desempenhar as nossas experiências passadas, mas também um órgão combinador, criador; capaz de reorganizar e criar elementos da experiência anteriores com as novas normas e abordagens.
Nesta atividade criativa do cérebro humano, baseado na combinação, a psicologia chama de imaginação ou fantasia, para definir algo que não seja o adequado cientificamente. Neste sentido, absolutamente tudo que nos rodeia e que foi criada pelo homem, todo o mundo da cultura, ao contrário do mundo da natureza, é um produto da imaginação e da criação humana, com base na imaginação.
CAPÍTULO II – IMAGINAÇÃO E REALIDADE
Inicialmente neste capítulo, convém perguntar: Como é a atividade criativa baseada na combinação? Onde surge? O que é condicional e que as leis são subordinadas a ele? A análise psicológica desta atividade realça a sua excessiva complexidade. Não aparece de repente, mas avançam lentamente e gradualmente a partir de formas elementares e mais simples ao mais complicado. Em cada nível do seu crescimento adquire a sua própria expressão, em compartimento não é a conduta do homem, mas permanece na dependência imediata de outras formas de nossa atividade e, especialmente, da experiência.
Para entender melhor o mecanismo psicológico da imaginação criativa e a atividade associada a ele, é preciso começar explicando a ligação entre a fantasia e a realidade no comportamento humano.
A primeira forma de relacionamento entre a fantasia e a realidade é que as duas são constituídas por elementos emprestados da realidade a partir da experiência anterior do homem. Desta forma, a fantasia é sempre construída com materiais extraídos do mundo real.
A segunda maneira na qual está vinculado fantasia e realidade já é mais complexa e distinta, desta vez não está entre os elementos de fantasia e realidade construção, mas entre os produtos preparados a partir de fantasia e alguns fenômenos da realidade complexa.
Se no primeiro caso, a imaginação é baseada na experiência, no segundo caso, é a experiência que se baseia na fantasia.
A terceira forma de ligação é a emocional, que se manifesta de duas maneiras: por um lado, qualquer sentimento, qualquer emoção tende a ser exibido em algumas imagens compatíveis com ela, como se a emoção pudesse escolher impressões, Idéias, imagens compatíveis com a mentalidade de que colocar-nos em que instante.
Essa influência do fator emocional nas combinações de fantasia é uma combinação de imagens baseadas em sentimentos comuns em um único sinal ou emocional para classificadores heterogêneos de elementos que estão ligados entre si.
Quarta e última forma de relacionamento entre a fantasia e a realidade é a da origem à imaginação humana.
Acontece que apenas quando estamos perante um círculo completo traçado pela imaginação, de ambos os fatores, o intelectual e emocional, são igualmente necessários para o ato criativo. Sentindo e pensando o avançar criação humana.
CAPÍTULO III – OS MECANISMOS DA IMAGINAÇÃO CRIADORA
Como resulta do acima exposto, a imaginação é um processo extremamente complexo de composição. E é precisamente esta complexidade que constitui o principal obstáculo para o estudo do processo criativo e, muitas vezes, leva a conclusões falsas sobre a natureza do processo e seu caráter.
No momento em que ainda está em processo de associação é a imaginação, ou o agrupamento de elementos diferenciados e modificados.
Como aqui já referido anteriormente, esta parceria pode ter lugar em diferentes termos e assumir diferentes formas vão desde os aspectos puramente subjetiva agrupamento de imagens até a assembléia científica meta, ela própria, por exemplo, a representação geográfica.
E finalmente, quando esta última e definitiva dos trabalhos preparatórios da imaginação, é a combinação de imagens isoladas adapta a um sistema, embutido em uma complexa. Mas isto não acaba no negócio da imaginação criadora, mas, como referi há pouco, a este círculo de papel serão encerradas apenas quando a imaginação vai materializar ou cristalizar em imagens externas.
As necessidades e desejos podem criar alguma coisa por si mesmos, são meros estímulos, apenas molas criadoras. Precisa-se inventar uma outra condição: o aparecimento espontâneo das imagens. Chamadas de emergência espontânea, o que aparece de repente, sem motivo aparente para empurrá-lo. Estes motivos existem virtualmente, mas a sua ação é confundida com um modo de pensar escondido por analogia com o estado emocional da mente, inconsciente função cerebral.
A existência de necessidades e aspirações locais, assim movendo o processo imaginativo revivendo os vestígios de excitação nervosa, proporcionando, assim, material para o seu funcionamento. Ambas as hipóteses são necessárias e suficientes para a compreensão da atividade de imaginação e de todos os processos que fazem as coisas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Acredita-se ter sido explicitado até aqui, de maneira sucinta, alguns dos principais aspectos do pensamento de Vygotsky ao que se refere à atividade criadora humana.
Vygotsky esclarece que é exatamente a atividade criadora de homens e mulheres que faz com que a espécie humana possa projetar-se no futuro, com capacidade de transformar a realidade e modificar o presente. Imaginação ou fantasia é como ele denomina esta atividade do cérebro humano, Vygotsky explica que a Psicologia atribui a estas palavras um significado diferente daquele que o senso comum costuma lhes emprestar. Geralmente, imaginação e fantasia estão associadas a tudo aquilo que não se ajusta a realidade. No entanto, para a Psicologia, a imaginação – base de toda atividade criadora – se manifesta em todos os aspectos da vida cultural, possibilitando a criação artística, técnica e científica.
Conclui-se portanto que, para Vygotsky, exercer a criatividade, a criação e a apreciação artísticas pressupõe um comportamento tipicamente humano que auxilia no entendimento da condição sócio-cultural, historicamente determinada (em processo permanente de construção) que nos caracteriza a todos e a cada um de nós – seres de natureza cultural, criadora, transformadora, simbólica.
APRECIAÇÃO DA OBRA
Percebemos que esta obra é complexa e de difícil entendimento, talvez por se tratar de uma obra original, isto é escrita em Espanhol.
Também entendemos que o autor construiu sua teoria tendo por base o desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo sócio-histórico, enfatizando o papel da linguagem e da aprendizagem nesse desenvolvimento, sendo essa teoria considerada histórico-social.
No decorrer dos capítulos estudados percebemos o quanto o autor valoriza a criatividade do ser humano. Reconhece a à capacidade criadora infantil no âmbito da educação escolar no seu papel e importância para o desenvolvimento cultural da criança. Os processos criadores infantis se refletem sobretudo no faz-de-conta porque, nele, as crianças (re)elaboram a experiência vivida em seu meio social, edificando novas realidades de acordo com seus desejos, necessidades e motivações.
Ele nos explica também que a imaginação ou fantasia nutre-se de materiais tomados da experiência vivida pela pessoa. Com isso entendemos que quanto mais rica for a experiência humana, tanto maior será o material colocado à disposição da imaginação.
No sentido de entender melhor como se dá a vivência de experiências a partir do imaginário o autor chama nossa atenção para o enlace emocional que caracteriza os vínculos entre imaginação e realidade, referindo-se à sua lei da dupla expressão ou da realidade dos sentimentos. Esta lei diz respeito à capacidade de retroalimentação de um sentimento ou estado emocional através da fantasia ou imaginação.
Acredita-se que apresentamos no decorrer deste, de maneira sucinta, alguns dos principais aspectos do pensamento vygotskiano a respeito da atividade criadora humana. Para finalizar é necessário explicitar que, para ele, a criatividade é uma função psicológica comum a todos, independente de talento ou da maturação precoce de uma determinada capacidade mental especial:
Por tudo o que vimos, podemos dizer que a arte vive da interação, agregando os princípios da percepção sensorial, sentimento e imaginação
Finalizamos dizendo que em contextos educativos infantis, a arte pode contribuir para o desenvolvimento afetivo-emocional, para mediar a compreensão da criança de seu contexto, para favorecer o seu trânsito entre a realidade e a fantasia.
Ainda acrescentando, é necessário explicitar que para Vygotsky, a criatividade é uma função psicológica comum a todos, independente de talento ou da maturação precoce de uma determinada capacidade mental especial.
Se consideramos que a criação consiste, em seu verdadeiro sentido psicológico, em fazer algo novo, é fácil chegar à conclusão de que todos podemos criar em maior ou menor grau e que a criação é acompanhante normal e permanente do desenvolvimento infantil.
Assim, a arte possibilita, na compreensão de Vygotsky, (1992), a abertura para a expressão de sentimentos e compreensões do mundo que revelam aspectos da produção de sentidos de um sujeito que estão entrelaçados com sua objetividade. Aquilo que o sujeito produz como expressão artística estará de certo modo resgatando a compreensão que o mesmo tem de sua existência no plano da materialidade.
Conclui-se, portanto que, para Vygotsky, exercer a criatividade,
a criação e a apreciação artísticas pressupõe um comportamento tipicamente humano que auxilia no entendimento da condição sócio-cultural, historicamente determinada (em processo permanente de construção) que nos caracteriza a todos e a cada um de nós – seres de natureza cultural, criadora, transformadora e simbólica.
Dizemos que mesmo sendo uma linguagem mais elaborada a que autor utiliza nas suas obras, o conteúdo se constitui de grande relevância para o entendimento da arte, da imaginação e também do ato de criação.
Publicado em 27/02/2009 14:54:00
Mabel Sala Quintana – Psicóloga ( UFRJ ) , Especializações em Administração de RH (SPEI) e Psicopedagogia (PUCPR), Mestrado em Educação (PUCPR). Docente de cursos de Graduação e Pos-Graduação no estado do PR. BRASIL
Clique aqui:
Normas para
Publicação de Artigos