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NO ESCURINHO DA CLASSE – O FILME COMO RECURSO DIDÁTICO NA ESCOLA

Márcio Balbino Cavalcante

Quantos de nós, na sala de cinema ou mesmo no sofá de casa, já dissemos na frente de um filme que “é uma aula de geografia”? E há de fato filmes, como “Narradores de Javé” ou “Ilha das Flores”, que podem ser uma aula divertidíssima, apresentando para a garotada do 6º ano conceitos complexos como território, lugar, globalização ou “O dia depois de amanhã”, que trata do derretimento das geleiras e as mudanças climáticas.

Na escola ainda enfrentamos problemas quanto ao uso de filmes em sala de aula. É comum encontrarmos pais, colegas ou até diretores interrogando a nossa hombridade quando exibimos um filme. A idéia do uso do cinema na escola incomoda aqueles que não conseguem pensar nas possibilidades desse recurso didático.

Para convencermos os colegas e os pais da eficácia do recurso, é necessário mostrar quais são as reais possibilidades de trabalho que ele traz. É importante mostrar o trabalho que se desenvolve e se possível exibir filmes para os pais em reuniões. Devemos mostrar qual nossa proposta e o que pretendemos com os filmes. Assim pode-se até vislumbrar uma transformação da escola, nos finais de semana, em uma sala de cinema!
 
O filme na sala de aula: Função e método

Alguns filmes ou documentários têm o poder de deixar os professores de geografia entusiasmados com o acesso a mais um recurso didático para dinamizar as suas aulas. Muitos mestres até já tem em mente uma série de filmes para cada temática abordada pela disciplina.

Se todos temos uma seleção temática, por que o cinema ainda é tão pouco difundido na escola? Outras questões se evidenciam quando recorremos aos filmes no processo de ensino e aprendizagem: como usar um filme e orientar os alunos sobre o modo adequado de assisti-lo e analisá-lo? Que filme escolher? Onde encontrá-los?

O importante no uso de filmes em sala de aula – seja um documentário ou uma ficção, seja um longa ou curta-metragem – é ter muito claro o que queremos com a apresentação do filme, que função ele terá na aula. Algumas coisas óbvias devem ser ditas: o professor nunca deve exibir filmes que não o tenha assistido, mesmo quando é uma sugestão dos alunos – pode-se correr o risco de mostrar alguma coisa não adequada. Sempre que for usar um filme procure saber a adequação legal de idade, mesmo que o filme já tenha passado na TV: isso pode lhe resguardar de acusações indesejadas. Por fim, procure organizar a aula de acordo com a duração do filme, caso seja necessário converse com um colega para trocar aulas, pois assistir o filme em partes pode desfavorecer uma boa compreensão.

Quanto às metodologias, não existem receitas, mas alguns pontos merecem destaque. Primeiro, nem sempre os filmes são feitos com objetivos didáticos, assim ele não é a sua aula, mas sim um recurso que você utilizará: o filme sozinho não leva o aluno a sistematizar conhecimento. Ele pode ser utilizado para sensibilizar a turma para determinado tema, ser o centro de um debate, a introdução, ou mesmo o fechamento, mas é necessário que o aluno tenha claro o que você quer com o filme.

Com raras exceções, as obras de ficção são criadas para serem vistas de uma só vês, se você vai utilizar somente uma parte do filme saiba escolher a hora do corte para não criar tumulto na sala de aula. Em geral entregar questionários com perguntas previamente formuladas antes da exibição do filme é um modelo pouco adequado, pois isto tolhe o olhar do receptor – ao fazer isto você vai orientar o que e como o aluno deve assistir à sessão, e isso não dará ao aluno a liberdade de entender a obra baseado em sua formação, em seu modo de ver o mundo. Sempre que exibir um filme é necessário dar uma função para ele, como um livro, um texto, um mapa, um desenho. Nunca deve vir sem objetivos previamente estabelecidos. Há muitos filmes que trazem possibilidades para o trabalho na aula de geografia, especialmente para os ensinos fundamental e médio. Depois é só preparar os colegas e os pais para terem uma ótima cine-aula.

Sugestão de Atividade: A Visão da Sociedade de Consumo no Filme “Ilha Das Flores”

Acompanhando o destino de um tomate, desde a plantação até ser jogado no lixo, o filme Ilha das Flores, mostra uma região miserável na grande Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Inicialmente, parece uma paródia dos programas didáticos de TV, mas por trás dessa forma, manifesta-se uma força sarcástica que torna o filme extremamente crítico a certas posturas da nossa sociedade capitalista, onde escancara o processo de geração de riqueza e as desigualdades que surgem no meio do caminho.

Desde o surgimento do homem na Terra e, conseqüentemente, após a descoberta do fogo e do seu desenvolvimento orgânico, como o cérebro desenvolvido, polegar opositor e do seu raciocínio (muitas vezes negativo), ele vem através do uso da técnica e das novas tecnologias ampliando seu domínio sobre a natureza. Assim, teria sido necessidade ou conveniência da vida sedentária que surgiu a cidade e posteriormente a sociedade industrial.

A partir dessa visão, o filme mostra os reais pilares da sociedade atual (propriedade, plantação, produção, industrialização, venda, dinheiro, lucro), tais palavras que na pratica gera: subordinação, injustiça, problemas sociais (fome, desemprego, insegurança), individualismo, egoísmo, consumismo, “valor material”, poluição em todos os sentidos.

O filme passa para os telespectadores, a idéia de irracionalidade humana versus a racionalidade dos animais, já que o último participa de cadeia alimentar de forma mais generosa do que seus parentes no mundo animal. Imaginar que seres humanos tratam melhor seus animais domésticos, que seus próprios irmãos humanos (cenas visíveis no filme), já que na Ilha das Flores, os humanos (crianças e mulheres se alimentam da sobras da alimentação dos porcos). Isso me faz lembrar que a capacidade agrícola existente no mundo permite alimentar a doze bilhões de pessoas, isto é, ao dobro da população mundial. Porém esses alimentos estão pessimamente distribuídos. Anualmente se utiliza um quarto da colheita mundial de cereais para alimentar o gado dos países ricos. A quantidade de milho consumida pela metade dos recintos climatizados para gado da Califórnia é maior do que todas as necessidades de um país que passa fome crônica, como o Zâmbia, na África, comprovando a denúncia retratada no filme.                    

Através dessa discussão, ora regionalista, ora socioambiental, percebemos que o homem precisa desabrochar para o verdadeiro sentido da vida em sociedade, viver em harmonia com sua mãe natureza e com seus irmãos “animais”, procurando corrigir os erros de uma sociedade marcada pelo o individualismo, pela sede econômica, pelo o consumismo, pela descriminação e pela soberania de um(ns) país(es) em relação aos demais, uma relação colonial secular. Porém, talvez essa harmonia tão necessária, seja alcançada tarde demais.
 
Questões para debate:
 
1- Numa época marcada por um profundo estímulo a solidariedade por parte de várias ONGs e pelo propósito governamental de extirpar a fome (e atingir em cheio a miséria) em nosso país, que tal entender um pouco mais sobre os mecanismos que produzem as desigualdades sociais? Estimule seus alunos a procurar informações acerca dos bairros pobres de sua cidade, a entrevistar as pessoas que vivem nessas localidades, a buscar a palavra das autoridades locais quanto a esse problema;
2- Outra possibilidade é a de organizar visitas de solidariedade e apoio as famílias carentes da comunidade, bem como promover movimentos ou atividades pedagógicas e/ou culturais, que proporcionem doação de alimentos, levem esses produtos até as pessoas necessitadas da comunidade;
3- Existem autores brasileiros que se especializaram na publicação de artigos e livros que trazem relatos marcantes sobre o tema trabalhado no filme “Ilha das Flores”. Selecione artigos e livros e peça aos alunos que leiam e discutam, produzam textos, comparem com o filme;

Publicado em 17/11/2008 10:46:00


Márcio Balbino Cavalcante – Professor e Consultor na área de Educação e de Meio Ambiente. É graduado em
Geografia – UEPB; Pós-graduado  em Ciências Ambientais – FIP/PB;
Coordenador de Projetos Educacionais da Secretaria Municipal de Educação do
município de Passa e Fica – RN. Professor de Geografia e Ciências na Escola
Estadual Sen. João Câmara, Passa e Fica – RN.

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