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A PEDAGOGIA DE PROJETOS: UM NOVO OLHAR SOBRE A PRÁTICA PEDAGÓGICA
Márcio Balbino Cavalcante
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Introdução
A humanidade contemporânea demonstra visíveis sinais de decadência e procura de várias formas encontrar caminhos que levem a existência humana ao equilíbrio, formando verdadeiros cidadãos. A educação é um destes caminhos, portanto, não podemos mais viver nesta escola que se encontra apática, com a mesma filosofia e metodologia de ensinar da época dos Jesuítas: Ler, escrever e contar, alunos parados, enfileirados, estáticos, ouvindo aos professores, informações obsoletas, de forma mecânica, sem fazer um relacionamento destes dados ou conteúdos com a prática e com a realidade, como também não distinguindo as informações relevantes das sem importância, do ensino que ainda se encontra no paradigma tradicional. Na era da clonagem, do genoma humano, das inovações tecnológicas, é preciso despertar nos nossos alunos o gosto pela escola, o prazer de estudar, a importância do conhecimento, do saber X fazer, das competências e habilidades para que possamos inseri-los neste contexto literário, histórico sociocultural que vivemos como cidadãos críticos, reflexivos, participativos e conscientes do seu papel na sociedade local e global.
Com todas as inovações tecnológicas desenvolvidas para informar, a solução, porém, ainda está no mestre, pois este é humano e com ternura, carinho, calor, poderá resgatar todo o potencial dos nossos adolescentes, com uma educação cognitiva, desenvolvendo uma didática envolvente e motivadora, tentando conhecer, compreender e ser mediador, auxiliando o aluno naquilo que ele precisa para aprender, analisar, compreender, deduzir, sintetizar, aprender a aprender, fazendo com que os alunos dêem margem ao seu saber, produzam seus conhecimentos, busquem suas informações, resgatem suas atitudes e valores, buscando também o seu ser, pessoa, gente, para a formação de um mundo mais solidário, humano, competente no seu saber científico e capaz de formar uma sociedade de homens justos, dignos e letrados por uma educação libertadora.
Para que os professores possam atender aos pressupostos necessários à sociedade do conhecimento é preciso internalizar-se de um paradigma inovador denominado de Paradigma Holístico, segundo Edgar Morin, (2000),
“esse paradigma sustenta o princípio do saber do conhecimento em relação ao ser humano, valorizando a sua iniciatividade, criatividade, detalhe, complementaridade, convergência, complexidade. Segundo alguns autores teóricos, o ponto de encontro de seus estudos sobre este paradigma emergente é a busca da visão da totalidade, o enfoque da aprendizagem e a produção do conhecimento”.
Concordamos com Morin, e neste enfoque da aprendizagem, nós professores deveremos ter uma ação pedagógica inovadora, reflexiva onde possamos dar espaço para que nossos alunos realmente produzam seus conhecimentos para a formação de um sujeito cognoscente crítico, reflexivo e inovador e que tenha um bom relacionamento como pessoa. Quando o aluno realmente produz o seu conhecimento com autenticidade, criticidade, criatividade, dinamismo, entusiasmo, ele questiona, investiga, interpreta a informação, não apenas a aceita como uma imposição. Para que este aluno realmente tenha como meta segura a internalização de seus conhecimentos, é preciso que os professores trabalhem com projetos; em que o aluno aprende participando, formulando problemas, refletindo, agindo, investigando, construindo novos conhecimentos e informações, problematizando, seguindo uma trilha motivacional e, que o professor ao trabalhar com projetos possa tornar o ensino atrativo e de qualidade, despertando a conscientização de uma nova maneira de ensinar, uma nova postura pedagógica, levando os alunos a descobrir, investigar, discutir, interpretar, raciocinar, e cujos conteúdos devem ser conectados a uma problemática do contexto social, político e econômico do aluno, significando uma outra maneira de repensar a prática pedagógica e as teorias que a embasam (Lúcia, 1998)
Segunda a autora, “um projeto gera situações problemáticas, ao mesmo tempo, reais e diversificadas. Possibilita, assim, que os educandos, ao decidirem, opinarem, debaterem, construam sua autonomia e seu compromisso com o social”.
Ressaltamos nesta citação, o envolvimento do aluno no projeto, em que eles tomam decisões, fazem escolhas, executam e vão adotando comportamentos e valores embasados em seus conhecimentos. As experiências pedagógicas na Pedagogia de Projeto revelam muita autenticidade, criatividade, criticidade e transparência, tudo o que é projeto tem novo significado, um novo olhar, um novo enfoque na aprendizagem. Os conteúdos trabalhados ganham vida, significado, porque não são vistos isoladamente, mas integrados a um conjunto, conectado, interligado a outras disciplinas, na construção do conhecimento. Portanto, a escola ao trabalhar com Pedagogia de Projetos, deverá inovar, criar, experimentar, agir, estes são os desafios importantes para projetarmos uma nova maneira de ensino/aprendizagem nas disciplinas do currículo escolar.
Origem da Pedagogia de Projetos
A discussão sobre Pedagogia de Projetos não é nova, desde o início do século XX, que se discute a respeito de sua contribuição ao processo ensino-aprendizagem. A Pedagogia de Projetos, esta postura de prática nasceu e desenvolveu principalmente nos Estados Unidos e depois foi aplicado e experimentadona área pedagógicapor John Dewey e outros representantes da chamada “Pedagogia Ativa”. Já nessa época, a discussão estava embasada numa concepção de que “educação é um processo de vida e não uma preparação para a vida futura e a escola deve representar a vida presente tão real e vital para o aluno como a que ele vive em casa, no bairro ou no pátio” (Dewey, 1897)
John Dewey, ao colocar em prática suas experiências, introduziu o compromisso livre e a democracia, em que, propôs que a criança ao vir para a escola, vêm para resolver os problemas presentes e não pensar em uma escola para o futuro.
Atualmente, estamos vivendo uma sociedade pós-moderna, denominada Sociedade da Informação e Comunicação, em que não se admite mais uma escola arcaica, descontextualizada, fragmentada, dissociada da realidade, com horários rígidos em disciplinas, currículos e programas impostos, é preciso mudar a escola, acompanhar estas mudanças que estão ocorrendo veloz e momentaneamente nesta nova sociedade. Surge nos anos 90 no Brasil, o trabalho com projetos, educando em uma visão mais global, complexa, íntegra e contextualizada do processo educativo. Realmente significa uma mudança de postura, de novas práticas, um repensar da prática educativa e das teorias. Significa também repensar a escola, seus alunos, seu corpo docente, seus gestores, enfim toda a clientela da escola, destes novos tempos escolares, educando em uma visão global, complexa, holística, ensinando para a vida, como já foi dito por John Dewey há 100 anos atrás.
Existem várias definições entre os estudiosos desta nova postura metodológica de ensinar, do que seja Projeto, chegando-se à uma definição que “Projeto é projetar-se, isto é, lançar-se, sair de onde se encontra em busca de novas soluções” . O trabalho com projetos constitui uma das posturas metodológicas de ensino mais dinâmica e eficiente, sobretudo pela sua força motivadora e aprendizagens em situação real, de atividade globalizada e trabalho em cooperação.
Segundo Lúcia Helena Alvarez Leite,
“Ao participar de um projeto, o aluno está envolvido em uma experiência educativa em que o processo de construção de conhecimento está integrado às práticas vividas. Esse aluno deixa de ser, nessa perspectiva, apenas um aprendiz do conteúdo de uma área de conhecimento qualquer. É um ser humano que está desenvolvendo uma atividade complexa e que nesse processo está se apropriando, ao mesmo tempo, de um determinado objeto do conhecimento cultural e ser formando como sujeito cultural”.
Concordamos com Lúcia quando diz que a construção de conhecimentos está integrado às práticas em que os alunos aprendem participando, formulando problemas, tomando atitudes diante dos fatos da realidade, investigando, construindo novos conceitos e informações e escolhendo os procedimentos quando se vêem diante das necessidades de resolver questões.
Um dos nomes expressivos na pedagogia sócio-histórica é Vygotsky, pois seus estudos defendem que todo conhecimento é construído socialmente no âmbito das relações sociais. Partindo dessa premissa e da citação acima, podemos destacar como palavra-chave nestes tempos modernos de educação, a mediação, a interação, a função social, a construção, o processo dialógico, o debate e a ação, que estão embutidos nos principais fundamentos da pedagogia sócio-histórica e no trabalho de projetos. Nesta abordagem define-se conhecimento como algo que se constrói, dinâmico, interativo, que leva ao crescimento educacional. Portanto, o trabalho com projetos, trata-se de uma postura nova metodológica, concepção em que o professor organiza, media, propõe situações de aprendizagem para os alunos, baseados em um conhecimento construído, refletindo sua ação e desenvolvendo sua aprendizagem. A Pedagogia de Projetos oferece ao professor condições para que ele (re)avalie seu trabalho, sistematizando coletivamente as atividades escolares.
No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da educação brasileira, a LDB Lei nº 9394/96, e os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN’s (1997),possuem uma característica inovadora comum quanto ao trabalho com projetos educativos na escola:
“ao nortear a ação pedagógica através das referências e dos parâmetros básicos, esse conjunto de leis permite ao educador grande autonomia de ação, capaz de levar em conta, antes de tudo, as realidades de cada aluno, de sua escola e de sua região”.
Nesse sentido, a LDB, por sua vez, exige explicitamente a elaboração de projetos pedagógicos que definem a identidade, os objetivos e a metodologia a serem desenvolvidos pela escola, baseado neste parecer da Lei, é que devemos adotar em nossas escolas o trabalho com projetos, uma vez que esta nova postura pedagógica é introduzida através de projetos de trabalho que é um plano de trabalho com atividades diversificadas gerando situações de aprendizagem que favorecem aos alunos à busca de conhecimentos.
Princípios didáticos para elaborar e organizar um projeto de trabalho
Ao elaborar um trabalho com projetos, busca-se superar as práticas habituais, monótonas, descontextualizadas do processo educacional por uma prática mais dinâmica, prazerosa e contextualizada, proporcionando situações de aprendizagem em que os alunos aprendam fazer errando, acertando, pesquisando, levantando hipóteses, experimentando, investigando, refletindo, construindo, intervindo, concluindo com conteúdos diversificados, contextualizados, gerando situações de aprendizagem reais e significativas, trabalhando os conteúdos de forma interdisciplinar e contextualizada.
Abrantes aponta algumas características fundamentais do trabalho com projetos:
Um projeto envolve complexidade e resolução de problemas, possibilitando a análise, a interpretação e a crítica por parte dos alunos, isto é, a problematização dá subsídios para construir coletivamente uma questão que o grupo ou a classe debaterá, discutirá e irá fazer reflexões até chegar a novos conceitos ou construções de novos conhecimentos.
O envolvimento, a responsabilidade e a autoria dos alunos são fundamentais em um projeto – neste termo todos os envolvidos, professores e alunos encontram-se no mesmo patamar de conhecimentos, ninguém é dono do saber. Alunos e professores abandonam as velhas práticas, como alunos passivos, prontos à tudo receber e o papel de professores também muda como transmissor de conhecimentos, passando a ser um mediador no processo de construção do conhecimento com os alunos e não para os alunos.
A autenticidade é uma característica fundamental de um projeto – Nessa perspectiva, nenhum projeto é copiado, todos têm sua identidade, cada um é único, mesmo que seja duas turmas da mesma série, o projeto será diferente, pois as turmas são diferentes, cada turma tem o seu nível de aprendizagem.
Um projeto busca estabelecer conexões entre vários pontos de vista, contemplando uma pluralidade de dimensões – Os caminhos do aprendizado não são únicos, há várias formas de se chegar a um conhecimento e o projeto é uma proposta que garante esta flexibilidade e diversidade de atividades. Os alunos ao se vêem diante de um problema significativo, defrontam-se com várias interpretações e com pontos de vistas diversos acerca da mesma questão.
Portanto, os projetos não só são trabalhados à escolha de um tema, é preciso refletir uma visão de educação escolar, na qual a experiência vivida e a cultura sistematizada se interajam , em que os alunos possam estabelecer relações entre os conhecimentos construídos e sua vida cotidiana. Neste enfoque, poderemos abordar como perspectiva dos projetos de trabalho: o enfoque globalizador, centrado na resolução de problemas significativos: o professor intervém no processo de aprendizagem ao criar situações problematizadoras, introduzindo novas informações, dando condições para que seus alunos avancem no processo de pesquisa; o aluno é visto como sujeito ativo; o conteúdo estudado é visto dentro de um contexto, de uma realidade; propõe atividades abertas, permitindo que os alunos estabeleçam suas próprias estratégias.
Na perspectiva de Lúcia (1996), ao se pensar no desenvolvimento de um Projeto, três momentos devem ser considerados: problematização, desenvolvimento e síntese.
•Problematização – momento detonador do Projeto, quando o professor detecta o que os alunos sabem ou não sobre o tema em estudo. É, portanto, o ponto de partida para a sua organização.
•Desenvolvimento – implementação de ações traçadas para buscar respostas às questões e hipóteses levantadas na problematização. Criação de situações nas quais os alunos possam comparar pontos de vista, rever hipóteses, colocar novas questões, deparar com outros elementos postos pela Ciência, estratégias fundamentais para se alcançar êxito. Assim, é necessário que se criem propostas de trabalho que exijam atividades extra escolar que envolvam uso de bibliotecas municipais e/ou estaduais, participação de pessoas da comunidade para proferirem palestras, realização de seminários, debates, etc. Nesse processo, os alunos, ao confrontarem seus conceitos, suas experiências com o novo conhecimento, reformulam as hipóteses iniciais, num processo de desequilíbrio e acomodação, no qual as convicções primárias vão sendo superadas e outras mais complexas vão sendo construídas.
•Síntese – momento no qual a experiência vivida e a produção cultural sistematizada se entrelaçam, dando significado às aprendizagens construídas, que serão utilizadas em outras situações.
Considerações finais
Ao elaborar um trabalho com projetos, busca-se superar as práticas habituais, monótonas, descontextualizadas do processo educacional por uma prática mais dinâmica, prazerosa e contextualizada, proporcionando situações de aprendizagem em que os alunos aprendam fazer errando, acertando, pesquisando, levantando hipóteses, experimentando, investigando, refletindo, construindo, intervindo, concluindo com conteúdos diversificados, contextualizados, gerando situações de aprendizagem reais e significativas, trabalhando os conteúdos de forma interdisciplinar e contextualizada.
Assim, o trabalho com Projetos consiste numa mudança de postura, o que exige um repensar da prática pedagógica e das teorias que lhe dão sustentação. Constitui alternativa para transformar o espaço escolar num local aberto à construção de aprendizagens significativas para todos que dele participam.
Referências
ALVAREZ LEITE, Lúcia Helena. Pedagogia de projetos: intervenção no presente. Revista Presença Pedagógica. V.2, nº 8, mar./abr, 1996.
BRASIL/SEF. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei Nº 9.394 de 20/12/1996). Brasília: MEC/SEF, 1996.
BRASIL/SEF. Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução. Brasília: MEC/SEF, 1997.
CHASSANNE, J. A pedagogia de projecto, última metamorfose da pedagogia renovada? Trabalho de projectos: leituras comentadas. 3. ed. Portugal: Edições Afrontamento, 1993. (coleção Ser Professor) p.30-35.
DEWEY, John. My Pedagogic Creed. School Journal. vol.54 (January 1897), pp.77-80.
HERNÁNDEZ, Fernando. Repensar a função da escola a partir dos projetos de trabalho. Revista Pátio. Ano 2, n.6, p.27-31, ago/ out 1998.
MORIN, Edgar. A Inteligência da complexidade. São Paulo: Peirópolis, 2000.
Publicado em 07/10/2008 15:10:00
Márcio Balbino Cavalcante – Professor e Consultor na área de Educação e de Meio Ambiente. É graduado em
Geografia – UEPB; Pós-graduado em Ciências Ambientais – FIP/PB;
Coordenador de Projetos Educacionais da Secretaria Municipal de Educação do
município de Passa e Fica – RN. Professor de Geografia e Ciências na Escola
Estadual Sen. João Câmara, Passa e Fica – RN.
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