AS DISTORÇÕES NA CONCEPÇÃO DO PROFESSOR: DIFICULDADES OU DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM?
Patricia Ribeiro Tempesta Bertochi
Considerando que o fracasso escolar tem sido objeto de estudos nas últimas décadas e, sendo a educação fator/direito de transformação do ser biológico em ser humano (civilizado), torna-se procedente contribuir em aspectos que favoreçam o desenvolvimento do ensino e da aprendizagem, através de investigações dos problemas educacionais.
Dentro desta perspectiva, este trabalho pretende demonstrar a lacuna existente entre indivíduo e processo de conhecimento, por meio de um panorama a respeito das necessidades e dificuldades de aprendizagem; características de desenvolvimento e compreensão sobre os processos cognitivo, neurológicos, psicológico, afetivo, sociais, culturais e psicomotores deste sujeito da aprendizagem.
O tema visa alertar sobre a percepção dos professores à respeito do que seja dificuldade ou distúrbios de aprendizagem. Nota-se a grande ansiedade destes em diagnosticar a problemática apresentada pela criança com dificuldades de aprendizagem. Entretanto, a maioria destes profissionais não conta com subsídios necessários para realizar diagnósticos, ou ainda, não recebem orientação que favoreçam suas práticas no atendimento destes alunos.
Por conseguinte, o trabalho docente, bem como o processo de ensino-aprendizagem é prejudicado. Distorções no processo de intervenção educacional ocorrem freqüentemente, nas tentativas dos professores em caracterizar, diferenciar, identificar e diagnosticar os distúrbios e as dificuldades de aprendizagem dos alunos. Para Drouet, R. C. (1998) problemas na leitura, na escrita, na matemática e na atenção, considerados mais específicos e comprometedores são identificados como distúrbios, enquanto a desmotivação e desinteresse, aspectos mais gerais e momentâneos caracterizam dificuldades de aprendizagem. Entretanto, esta diferenciação não é tão clara assim, pois segundo a autora, as dificuldades (desmotivação, desinteresse, etc) conseqüentemente podem desencadear problemas na leitura, escrita e matemática; bem como, uma criança que apresente distúrbios de aprendizagem possivelmente torna-se desmotivada e desinteressada.
Ainda segundo Drouet (1998), o diagnóstico dos distúrbios ou dificuldades de aprendizagem envolve um conhecimento amplo dos diversos fatores que influenciam este processo. Aspectos normais e patológicos do processo do desenvolvimento e aprendizagem do educando, a integração das áreas do conhecimento, a dimensão social/individual e os níveis de elaboração do aprendizado devem ser considerados.
Pennington (1997), ao discutir a rotulação precoce de distúrbios em relação a uma dificuldade de aprendizagem, diz que a evolução das conquistas e superação dos obstáculos deste processo, são indicativos de que o problema da criança refere-se à dificuldade de aprendizagem, embora essa superação também aconteça com alunos que têm distúrbios, o processo de intervenção para as dificuldades é algo menos complexo do que a intervenção nos distúrbios.
Fonseca (1995) expõe que as dificuldades de aprendizagem aumentam com a falta de boas condições para uma prática pedagógica de qualidade, fatores como: superlotação das salas, insuficiência de matérias, desmotivação do professor, entre outros.
Interpondo-se a esses estudos, faz-se necessário uma análise criteriosa por parte das equipes de especialistas diretamente ligados à educação, no tocante a estas distorções (pré-conceitos) dos professores em relação aos problemas apresentados no contexto educacional, que interferem diretamente em sua prática pedagógica. Sendo assim, cabe refletir a respeito da relação entre o trabalho docente e a tentativa diagnóstica dos professores no caso de alunos com possíveis dificuldades/distúrbios de aprendizagem?
Para tanto, precisa-se analisar as concepções do professor no cotidiano escolar, sobre sua compreensão a respeito dos distúrbios e dificuldades de aprendizagem de seus alunos, verificando a influência desta questão diagnóstica do discente dentro da prática pedagógica e do contexto escolar.
Deste modo, pretendeu-se chamar à atenção para este contexto cada vez mais freqüente e complexo do cotidiano escolar, reflexo do despreparo na formação/preparação do educador e as dificuldades (ou distúrbios) das crianças com as quais interagem.
REFERÊNCIA BIBLIOGRAFIA
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CAMPOS, L. M. L. A rotulação de alunos como portadores de distúrbios ou dificuldades de aprendizagem: uma questão a ser refletida. In: Idéias. São Paulo, n.28, p. 125-40, 1997.
CIASCA, S. M. (org). Distúrbios de aprendizagem: proposta de avaliação interdisciplinar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.
CORINE, Smith Dificuldades de aprendizagem de A a Z. São Paulo: Artmed, 2000.
DOCKRELL, Julie Crianças com dificuldades de aprendizagem. São Paulo: Artmed, 2000.
DROUET, R.C. Distúrbios de aprendizagem. São Paulo: Àtica, 1998.
FONSECA, V. Introdução às dificuldades de aprendizagens. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
GUERRA, L. B. A criança com dificuldades de aprendizagem. Rio de Janeiro: Enelivros, 2002.
JOHNSON, D. J.; MYKLEBUST, H. R. Distúrbios de aprendizagem. São Paulo: Pioneira, 1991.
ROMANELLI, Otaiza O. de História da Educação no Brasil (1930-1973). Petrópolis: Vozes, 1977.
PENNINGTON, B. F. Diagnóstico de distúrbios de aprendizagem. São Paulo: Pioneira, 1997.
TERNBERG, Robert J.; GRIGORENKO, Elena L. Criança rotulada – O que é necessário saber sobre as dificuldades de aprendizagem. São Paulo: Artmed, 2003.
Publicado em 14/07/2008 16:31:00
Patricia Ribeiro Tempesta Bertochi – Professora
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