ALGUMAS CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DE CONCEITOS E TEORIAS SOBRE O ENVELHECIMENTO
Maria Auxiliadora Vasconcelos Peres Lima
A trajetória de vida do ser humano é feita de etapas ou fases, que se iniciam no nascimento, seguindo-se a infância, adolescência, fase adulta, quando normalmente ocorre o profissionalismo, o casamento, a procriação, a criação dos filhos, a aposentadoria, a velhice e a morte.
Os cidadãos brasileiros que já se encontram na velhice somam milhões de pessoas, e o mais preocupante é que este tempo de vida muitas vezes não é alcançado de forma satisfatória e sem grandes problemas e a “condição do velho é “explicitada” através do pré-conceito”.
Pode-se examinar este fato “através” da expressão “velho” na língua portuguesa, que tem diferentes abordagens. Segundo Simões (1998) significa perda, deteriorização, fracasso, inutilidade, fragilidade, decadência, antigo, obsoleto. É aquele que tem muito tempo de existência, que não é adequado à vida, dando a impressão de que o velho vive improdutivamente, que está ultrapassado dentro da sociedade, significando também, antônimo de jovem.
Segundo Cleomar Ferreira Gomes, 1 “não é o uso destes sofismas ‘melhor idade’, ‘idosos’ ‘terceira idade’ que faz ermar o preconceito contra o homem que se torna velho”. Concordando com o pensamento do professor, faço minhas suas palavras.
Segundo Simões (1998) o estudo do envelhecimento, com o advento da Gerontologia 2, veio se somar à Geriatria já existente, que se limitava ao estudo das doenças, da velhice e de seu tratamento. A autora também ensina que a principal característica da velhice é o declínio psicofisicosocial e que este é classificado de duas maneiras: a senescência e a senilidade.
A senescência, a autora explica, é um fenômeno fisiológico, arbitrariamente identificado pela idade cronológica, podendo ser considerado um envelhecimento sadio, quando o declínio físico e mental é lento, sendo compensado, de certa forma, pelo organismo. E a senilidade, como sendo o declínio físico associado à desorganização mental, podendo ocorrer prematuramente quando uma perda considerável do funcionamento físico e cognitivo é observável, pelas alterações na coordenação motora associado à alta irritabilidade, além de considerável perda de memória.
A Organização Mundial da Saúde – OMS classifica a fase do envelhecimento cronologicamente em quatro estágios, considerando a meia idade de 45 a 59 anos, o idoso de 60 a 74 anos, o ancião de 75 a 90 anos e a velhice extrema de 90 anos em diante. Predomina, na literatura geriátrica e gerontológica, um ponto de corte aos 65 anos de idade, a partir da qual os indivíduos seriam considerados velhos. Este corte é adotado pela Organização das Nações Unidas – ONU para os países desenvolvidos. Para os países em desenvolvimento, onde a expectativa média de vida é menor, adota-se 60 anos como a idade de transição das pessoas para o segmento velho da população (ONU, 1992).
Segundo Paschoal (2005), não existe um consenso sobre o que se chama velhice. Diz ainda que essa discordância acontece porque as divisões cronológicas da vida humana não são absolutas e não correspondem sempre às etapas do processo do envelhecimento natural, sendo que os desvios são produzidos em ambos os sentidos. Considera que o fato não é definível por simples cronologia, mas antes, pelas condições físicas, funcionais, mentais e de saúde das pessoas analisadas. O autor relata que isto equivale afirmar que podem ser observadas diferentes idades biológicas e subjetivas em indivíduos com a mesma idade cronológica.
Existe certa dificuldade em se caracterizar uma pessoa como velha, porque cada indivíduo é um ser único indivisível e em sua totalidade tem características especiais. Não é possível dar uma definição que seja útil em todos os contextos.
Paschoal (2005) faz a observação de que os biologistas definem o processo do envelhecimento como um conjunto de alterações contínuas, experimentadas por um organismo vivo, do nascimento à morte. Vale ressaltar que o autor menciona que, socialmente, as características de seus membros que são percebidos como sendo velhos, variam de acordo com o quadro cultural, com o transcorrer das gerações e, principalmente, com as condições de vida e trabalho a que são submetidos. Assim, as desigualdades destas condições levam as desigualdades no processo de envelhecer.
Do ponto de vista da intelectualidade, Paschoal (2005) menciona que, em nossa sociedade, acredita-se que alguém está ficando velho quando começa a ter lapsos de memória, dificuldade de aprendizado e falhas de atenção, orientação e concentração, comparativamente com suas capacidades intelectuais anteriores.
Explica ainda que, economicamente, algumas vezes se define uma pessoa como velha a partir do momento em que deixa o mercado de trabalho e deixa de ser economicamente ativa.
Sob o ponto de vista funcional, o autor relata que uma pessoa, quando começa a depender de outros para o cumprimento de suas necessidades básicas ou de tarefas habituais, é considerada envelhecida.
A existência de numerosos conceitos por si só, deixa clara a dificuldade de entender o processo de envelhecimento. Contudo, ressalta Paschoal (2005), que entre todas as definições existentes, a que melhor satisfaz é aquela que conceitua o envelhecimento como um processo dinâmico e progressivo, no qual há modificações morfológicas, fisiológicas, bioquímicas e psicológicas, que determinam perda progressiva da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos, que terminam por levá-lo à morte.
Dessa perspectiva, esse autor ensina que essa definição, apesar de melhor, está longe de vislumbrar os intrincados caminhos, os quais levam o indivíduo a envelhecer e a determinação exata de sua gênese, é considerada de forma diferente por diversos autores. Diz ainda que alguns estudiosos pregoam ser na fase da concepção, uns entre a segunda ou terceira década da vida, e outros na fase mais avançadas da existência.
O que se pode afirmar com certeza, explica Paschoal (2005), é a inexistência de um ponto limite de transição. Afirma ainda que isso se deve a carência de marcadores biológicos eficazes e confiáveis, como também, da própria natureza do envelhecimento, cujas perdas funcionais caracteristicamente tendem a ser lineares em função do tempo.
Nos últimos 30 anos muitas teorias sobre o envelhecimento têm sido levantadas e descritas por alguns pesquisadores, mas nenhumas delas consegue explicar todas as alterações que acompanham este processo. As teorias mais comumente citadas por Matsudo (2001) podem se resumidas como a seguir:
Teoria da Glicosilação (açúcar se junta às proteínas e outras moléculas que formam produtos de glicosilação que causam disfunção nas células).
Teoria do Reparo do DNA (considera a alteração na taxa e habilidade de reparar o DNA).
Teoria da Antitoxina (a habilidade para eliminar toxinas diminui com a idade).
Teoria genética (conhecida como o “limite de Hayflick”, que estabelece que a célula divide-se e reproduz-se somente um limitado número de vezes, que é determinado geneticamente).
Teorias de Dano (baseada no conceito que reações químicas que ocorrem naturalmente no corpo e produzem um número de defeitos irreversíveis nas moléculas. Os tipos de agentes que levariam a lesão e perda da função são basicamente físicos (calor, raios UV), químicos (toxinas, radicais livres), infecciosos (vírus mutagênicos e mecânicos, trauma)).
Teoria do Desequilíbrio Gradual (estabelece que o cérebro, as glândulas endócrinas ou sistema imune começam gradualmente a falhar na sua função).
Teoria da Mutação Somática (postula que o envelhecimento resulta do acúmulo de mutações nas células somáticas e, portanto na falha das mesmas para proliferar ou funcionar adequadamente).
Teoria do Dano Cromossômico (pode ser medida pela freqüência de translocações, fragmentos acêntricos, encurtamento do telômero, perda de cromossomos e formação de micronúcleos que aumentam progressivamente com a idade. Embora uma associação entre senescência e o encurtamento dos telômeros não tenha sido formalmente comprovada, existem evidências circunstanciais fortes de que pode estar envolvido neste processo).
Diante destas teorias foram elencadas diversas questões e discussões a respeito do envelhecimento, mas talvez mais importante do que discutir os conceitos e as causas que levam o organismo a envelhecer, é enfatizar algumas propostas que hoje são amplamente difundidas.
Existe a proposta que fala do “envelhecimento com sucesso” Rowe (1997, apud Matsudo 2001), em sua análise, explica que seria bom para o indivíduo ter pouca perda ou nenhuma perda de sua função fisiológica relacionada à idade englobando três domínios multidimensionais a) evitar doenças e incapacidades b) manter uma alta função física e cognitiva c) engajar-se de forma sustentada em atividades sociais e produtivas.
Segundo Nelson Maculan, Secretário de Educação Superior (SEsu/MEC), a Secretaria de Educação Superior vem adotando a proposta do “Envelhecimento Ativo”, criado pela Organização Mundial da Saúde – OMS e formalmente apresentado na Segunda Assembléia Mundial do Envelhecimento (Madrid, Abril 2002), como objetivo a ser perseguido para a nossa população.
Ainda, segundo o mesmo autor, o termo “ativo” refere-se à comunidade da participação do velho na vida social, cultural, espiritual, cívica, não se restringindo apenas à aptidão para participar da força de trabalho. Pode ser abordado como uma política de Direitos Humanos que prioriza a independência, participação, dignidade e acesso a cuidados pelos velhos. Assim sendo, muda a visão estratégica baseada nas necessidades de cuidados (assistencialista), para outra baseada nos direitos de igualdade de oportunidades e de tratamento. Considera a responsabilidade dos velhos por exercerem suas participações no processo político, social, comunitário à medida que há “manutenção” da autonomia (capacidade de tomar decisões pessoais) e independência (realizar as funções da vida diária).
Esses “requerimentos” são desafiadores e observa-se que para o desenvolvimento destas propostas se faz necessário o aprendizado de como envelhecer bem, sob todos os aspectos acima mencionados.
Ora, torna-se evidente o envolvimento da educação com o envelhecimento e os ideais de igualdade de oportunidade, participação, independência e outros podem ser alcançados com seu auxílio. São propostas inovadoras atingindo não só os velhos, mas professores e organizações de ensino e estão expressas nos conteúdos, nas competências de professores, na própria concepção de ensino aprendizagem.
Com este olhar diferenciado, d´Alencar (2002) vem ensinar que à educação não cabe, apenas, preparar o indivíduo para o aprendizado da produção, da linha de montagem, mas preparar para a vida em todas as suas fases, inclusive no envelhecimento, num mundo de aceleradas mudanças, num mundo que consome idéias, sem limite de tempo e espaço, sem certezas. Menciona ainda que a preparação dos velhos deve ser para uma vida interativa, inconclusa, com exigências cognitivas e instrumentais, as quais considerem aspectos físicos, éticos, afetivos, espirituais, criativos, de prazer e alegria de viver.
1- Cleomar Ferreira Gomes – professor da UFMT, em conversa no Campus em agosto de 2006.
2- Gérontos (grego) pessoa velha, sábio, digno de respeito Gerontologia-ciência que estuda o processo do envelhecimento com base nos conhecimentos das ciências biológicas, psicocomportamentais e sociais e que leva em conta todos os aspectos do envelhecer incluindo problemas complexos de Medicina e de Sociologia.
REFERÊNCIAS
D´ALENCAR, R.S – A fabricação social do idoso e o papel da educação Revista Especiaria, Ilhéus, Bahia. vol. 2, UESC, Editus , 1998.
_________________ Ensinar a viver, ensinar a envelhecer: desafio para a educação de idosos Rev. Estudos Interdisciplinares sobre o envelhecimento, Porto Alegre, v.4, p.61-83, 2002.
GOVERNO DO BRASIL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA – MEC Disponível em: http:// portal. gov.mec.br< Acesso em 29/04/2006>
MATSUDO, S.M.M. Envelhecimento e Atividade Física Londrina: Midiograf, 2001.
MACULAN, N. Envelhecimento Populacional disponível em: http://portal. Mec.gov.br/sesu<Acesso em 29/04/2006 >.
PASCHOAL, S.M.P. Epidemiologia do Envelhecimento In: (org.) PAPALÉU NETO, M. (org.) Gerontologia: A Velhice e o Envelhecimento em Visão Globalizada São Paulo: Atheneu 2005.
SIMÕES, R. Corporeidade e Terceira idade: A Marginalização do Corpo idoso. 1998. 128p. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Motricidade Humana, Universidade Metodista de Piracicaba, Piracicaba.
Publicado em 26/05/2008 16:44:00
Maria Auxiliadora Vasconcelos Peres Lima – Professora de Educação Física – USP – especialista em Aividades –
Fisico – Desportivas – Biomecânica – USP mestranda em Educação – UFMT.
Atualmente Professora no Curso de Educação Física do Centro Universitário de
Vargea Grande – Mt ministrando a Disciplina de Capacidade e Aptidão Física
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