O CESTO DOS TESOUROS E O BRINCAR HEURÍSTICO: UMA PROPOSTA DE PRÁTICA EDUCATIVA PARA BEBÊS DE 08 A 14
Janete Izabel Alves Coutinho de Azevedo
Resumo
A proposta desta pesquisa é a de transitar pelas experiências pedagógicas vividas por Educadoras Infantis que atuam com bebês de 08 a 14 meses de idade, que se utilizaram do instrumento lúdico em suas ações pedagógicas e deixaram uma rica e vasta teoria para novas e constantes pesquisas. E, relacionar este procedimento ao brincar heurístico, objeto em foco deste estudo, procurando sinalizar ao final da pesquisa, os valores que representam este mesmo brincar. Compreender como o brincar heurístico vem sendo abordado nesta faixa etária, identificar perspectivas de superação da atividade brincar e entender se a natureza encontrada no brincar heurístico durante a primeira infância tem efeitos positivos quanto ao desenvolvimento e em quais esferas ela acaba por atuar, são as pretensões deste estudo. Esta pesquisa caminhou na perspectiva de mostrar a importância do brincar heurístico com os bebês desta faixa etária, oferecendo a eles materiais diversificados e do cotidiano deles. A prática das educadoras suscitou perguntas: Como os bebês poderão se desenvolver brincando com objetos do seu cotidiano? Quais conhecimentos as educadoras mobilizam para facilitar este brincar no NEI? Estas questões foram problematizadas a partir da bibliografia italiana (traduzida ou não). A metodologia utilizada nesta investigação pauta-se numa abordagem qualitativa, cuja técnica de construção dos dados envolve a observação da prática educativa das educadoras com os bebês.
Palavras-chave: Brincar, bebês, cesto dos tesouros, heurístico.
INTRODUÇÃO
A primeira infância tem sido o tema de um notável corpo de pesquisa nos últimos anos. Autores como Schaffer (1971 e 1974), Trevarthen (1974 e 1982) e Dunn (1988) apud Moyles (2006) demonstraram que a criança pequena tem, desde o período em que é bebê, uma forte orientação para relacionamentos sociais e para e interpretação do comportamento daqueles que a rodeiam. Esses estudos revelam o impulso do bebê para relacionamentos pessoais e para compreender o mundo que o cerca.
Isso, por sua vez, iluminou o quadro geral do que deve ser a educação nos primeiros anos. Os bebês precisam ser vistos como aprendentes extremamente competentes que, devido à sua tenra idade e a falta de experiência de mundo, requerem uma provisão de aprendizagem cuidadosamente planejada para atender as suas necessidades individuais e coletivas.
O bebê é, antes de tudo, um ser feito para brincar, pois é através da brincadeira que ele se apropria da sua realidade, expressando seus sentimentos, medos, desejos e fantasias. O bebê cria seu próprio mundo, e nele faz suas descobertas, enfrenta obstáculos, barreiras que as fazem pensar em como e o que fazer, superando-as e partindo para novas descobertas.
Desde o seu nascimento, os bebês vêem se relacionando de modo diferente com outras pessoas e com o meio em que vive. E é através destas interações que ele se desenvolve e aprende, reproduz o discurso externo e o internaliza construído seu próprio pensamento.
Conforme Santos (1999, p.12), para a criança pequena, “brincar é viver”. Esta é uma afirmativa muito usada e bem aceita, pois como a própria história da humanidade nos mostra, os bebês sempre brincaram, brincam hoje e, certamente, continuarão brincando amanhã. Sabemos que ele brinca porque gosta de brincar e que, quando isso não acontece, alguma coisa pode estar errada. Alguns brincam por prazer, outros brincam para aliviarem angústias, sentimentos ruins.
Partindo desse pressuposto, podemos perceber que o brincar está presente em todas as dimensões da existência do ser humano e muito especialmente na vida dos bebês. Podemos realmente afirmar que “brincar é viver”, pois o bebê aprende a brincar brincando e brinca aprendendo.
De acordo com Kishimoto (2002, p.146), “por ser uma ação iniciada e mantida pela criança, a brincadeira possibilita a busca de meios, pela exploração ainda que desordenada, e exerce papel fundamental na construção de saber fazer”. As brincadeiras são formas mais originais que a criança pequena tem de se relacionar e de se apropriar do mundo. É brincando que ela se relaciona com as pessoas e objetos ao seu redor, aprendendo o tempo todo com as experiências que pode ter.
O bebê brinca porque assim como nutrição, saúde, habitação e educação, brincar é uma necessidade básica e vital para o desenvolvimento infantil. Para manter o equilíbrio com o mundo, o bebê precisa brincar, criar e inventar. Essas atividades lúdicas são mais significativas à medida que se desenvolve, inventando e construindo. Destaca Chateau (1987, p.14), que “uma criança que não sabe brincar, uma miniatura de velho, será um adulto que não saberá pensar”.
Brincando, o bebê aumenta sua independência, estimula sua sensibilidade visual e auditiva, valoriza sua cultura popular, desenvolve habilidades motoras, exercita a imaginação, criatividade, socializa-se, interage, reequilibra-se, recicla suas emoções, sua necessidade de conhecer e reinventar e, assim, constrói seus conhecimentos.
A proposta desta pesquisa é a de transitar pelas experiências pedagógicas vividas por Educadoras Infantis que atuam com crianças de 08 a 14 meses de idade, que se utilizaram do instrumento lúdico em suas ações pedagógicas e deixaram uma rica e vasta teoria para novas e constantes pesquisas e, relacionar este procedimento ao brincar heurístico, objeto em foco deste estudo, procurando sinalizar ao final da pesquisa, os valores que representam este brincar.
Esta pesquisa é um Estudo de Caso sobre a práxis pedagógica realizada pelas educadoras infantis que atuam com bebês de 08 a 14 meses num Núcleo de Educação Infantil – NEI, da cidade de Timbó – SC.
Compreender como o brincar heurístico vem sendo abordado nesta faixa etária, identificar perspectivas de superação da atividade brincar e entender se a natureza encontrada no brincar heurístico durante a primeira infância tem efeitos positivos quanto ao desenvolvimento e em quais esferas ele acaba por atuar, são as pretensões deste estudo.
Esta pesquisa caminhou na perspectiva de mostrar a importância do brincar heurístico com os bebês desta faixa etária, oferecendo a eles materiais diversificados e do cotidiano deles.
A escolha do Estudo de Caso (Lüdke e André, 1996) nesta pesquisa se justifica para que possam ser explicados os diferentes pontos de vista presentes numa mesma situação social, neste caso, na práxis pedagógica das educadoras infantis, deste NEI, que atuam com bebês desta faixa etária.
A prática das educadoras suscitou perguntas: Como os bebês poderão se desenvolver brincando com objetos do seu cotidiano? Quais conhecimentos as educadoras mobilizam para facilitar este brincar no NEI? O que é brincar heuristicamente?
Estas questões foram problematizadas a partir da bibliografia italiana (traduzida ou não) sobre o Cesto de Tesouros, o brincar heurístico, a educação da infância e sobre a prática educativa das educadoras infantis que atuam com bebês de 08 a 14 meses de idade.
A publicação de Goldschmied (2006) foi a grande linha mestra pela qual fomos caminhando, “degustando” e tecendo nossa análise dos dados de campo.
A metodologia utilizada nesta investigação pauta-se numa abordagem qualitativa, cuja técnica de construção dos dados envolve a observação da prática educativa das educadoras com os bebês.
A observação do brincar é, ao mesmo tempo, um processo exigente e gratificante para o profissional, desafiando-o a aprender a partir do que ele observa no comportamento espontâneo do bebê.
O brincar fornece oportunidades para uma cuidadosa observação dos bebês em atividades que eles mesmos escolheram e que são relevantes e significativas para eles. Kalvaboer (1977) apud Moyles (2006) salienta um ponto relevante referente à observação:
Somente reservando um tempo para observar as crianças e, às vezes, brincar com elas, e perto delas, é que os adultos serão capazes de reconhecer que o brincar contém informações cruciais sobre o nível de desenvolvimento das crianças, sobre suas capacidades organizadoras e sobre seu estado emocional. (Kalvaboer, 1977, p. 121)
Verificamos que havia um movimento das educadoras, que atuam com bebês de 08 a 14 meses, de tentarem planejar suas práticas educativas através do brincar, conforme detalharemos em seguida.
Aprendendo por meio do brincar heurístico com objetos
Desde o momento em que nascem e à medida que crescem, os bebês se esforçam para agir e se relacionar com o ambiente em que vivem, físico e social, um mundo de sentimentos, de interações, de objetos que aos poucos vai se ampliando e que eles procuram compreender. Dessa maneira constroem conhecimentos sobre a realidade e se percebem como indivíduos únicos entre os outros indivíduos.
O primeiro brinquedo do bebê é o corpo do adulto que cuida dele. Um bebê segura os dedos de seu pai ou de sua mãe, manipula o seio da sua mãe, enlaçando seus dedos no cabelo dela ou na barba do pai, agarrando brincos, colares ou óculos.
Dentro de uma instituição infantil, o foco do bebê está na educadora que cuida dele, vivenciando o calor familiar, o cheiro, a tensão superficial da pela, as vibrações da voz e do riso, e tudo mais que contribui para o bem estar físico e emocional do bebê. Porém, o bebê também precisa de oportunidades para brincar e aprender quando não está recebendo atenção da educadora.
As educadoras próximas ao bebê não podem lhe dar atenção a todo o momento, mas ainda assim ele parece pronto e a espera do que acontecerá a seguir. E, foi como resposta a essa insatisfação demonstrada claramente por bebês de tenra idade, com relação aos brinquedos oferecidos, muitas vezes limitados e desinteressantes, que o Cesto de Tesouros foi a eles oferecido.
O Cesto de Tesouros reúne e oferece um foco para uma rica variedade de objetos cotidianos, escolhidos para oferecer estímulos a esses diferentes sentidos. O uso do Cesto de Tesouros consiste em uma maneira de assegurar a riqueza das experiências do bebê em um momento em que o cérebro está pronto para receber, fazer conexões e assim utilizar essas informações.
Sabemos que os cérebros dos bebês estão crescendo mais rapidamente do que em qualquer outro período de suas vidas, e que se desenvolvem ao responder a fluxos de informações advindas das cercanias, pelos sentidos do tato, olfato, paladar, audição, visão e movimento corporal.
Observando os fazeres educativos das educadoras, verificamos que as mesmas reúnem enormes expectativas com o desenvolvimento dos bebês. Sabem que brincar é essencial para o desenvolvimento neuropsicomotor dos bebês, porém desconheciam o termo aprendizado heurístico.
O aprendizado heurístico é definido no dicionário Oxford como “um sistema de educação sob o qual o pupilo é treinado para descobrir as coisas por si mesmo”. Ao usarmos a expressão especifica brincar heurístico, queremos chamar a atenção para a enorme importância desse tipo de atividade exploratória espontânea, dando a ela significado e a importância que realmente merece.
O brincar facilita o crescimento; o brincar conduz aos relacionamentos grupais; o brincar é uma forma de comunicação. É no brincar, e somente no brincar, que o bebê pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o ser humano descobre o seu eu.
Ao observar um bebê com os objetos contidos no Cesto de Tesouros, podemos perceber quantas coisas diferentes ele faz com eles, olhando, tocando, apanhando-os, colocando-os na boca, lambendo-os, balançando-os, batendo com eles no chão, juntando-os, deixando-os cair, selecionando e descartando o que o atrai ou não.
O bebê utiliza um objeto em suas mãos e boca como uma maneira de se comunicar de forma risonha com o adulto próximo a ela, ou com outra criança sentada próxima ao Cesto.
É surpreendente observar a maneira como todo o corpo é envolvido nessa atividade – se os pés e seus dedos estão descobertos, eles respondem de maneira vívida ao estímulo e à excitação que o objeto escolhido induz.
Por meio das atividades de sugar, pôr na boca e manusear, os bebês estão descobrindo coisas a respeito de peso, tamanho, formatos, texturas, sons e cheiros, e, quando escolhem um objeto, podemos imaginar que estejam dizendo: “O que é isso?”. Mais tarde, quando eles são capazes de se movimentar pelo ambiente,parecem dizer: “O que posso fazer com isto?”.
Então, outros horizontes emocionantes abrir-se-ão para eles, se lhes oferecermos as ferramentas de que precisam.
A concentração dos bebês nos conteúdos de um Cesto de Tesouros é algo impressionante. A atenção concentrada dos bebês pode durar até uma hora ou mais. Existem dois fatores por trás disso, e é difícil dizer qual vem primeiro; na verdade, eles operam em conjunto. Há a vívida curiosidade do bebê, que a variedade de objetos elícita, e sua vontade de praticar sua crescente habilidade de tomar posse, por sua própria vontade, daquilo que é novo, atraente e próximo.
Brincando, o bebê compreende as características dos objetos, como funcionam, os elementos da natureza e os acontecimentos da sociedade. A brincadeira compõe o ato privilegiado de desenvolvimento do bebê. Nela, afeto, linguagem, percepção, memória entre outras funções cognitivas, são aspectos intimamente interligados. A brincadeira cria condições para uma transformação significativa da consciência infantil por permitir formas mais complexa de relacionamento com o mundo.
Segundo Vygotsky:
O brinquedo cria na criança uma nova forma de desejos a um “eu” fictício, ao seu papel no jogo e suas regras. Desta maneira as maiores aquisições de uma criança são conseguidas no brinquedo, aquisições que no futuro tornar-se-ão seu nível básico de ação real e moralidade. (Vygotsky, 1998, p. 131)
O modo como a criança brinca revela seu modo interior, permitindo, assim a interação da criança com outras crianças e a formação de sua personalidade. Para isso é preciso que os Núcleos de Educação Infantil dêem condições e promovam situações de acordo com as necessidades das crianças, oportunizando estimulação para seu desenvolvimento integral.
Bettelheim (1998), diz que através das brincadeiras que a criança realiza podemos entender como ela percebe e constrói o mundo e a maneira que utiliza para expressar suas dificuldades. A brincadeira possibilita a criança resolver de forma figurada problemas não resolvidos anteriormente e enfrentar direta ou simbolicamente questões atuais.
Para Winnicott,
O desenvolvimento infantil considera que o ato de brincar é mais que a simples satisfação de desejos. O brincar é o fazer em si, um fazer que requer tempo e espaços próprios; um fazer que se constitui de experiências, culturais, que é universal e próprio da saúde, porque facilita o crescimento, conduz aos relacionamentos principais, podendo ser uma forma de comunicação consigo mesmo (a criança) e com os outros. (Winnicott, 1975, p. 63)
Brincar deixa de ser visto como uma atividade física e passa a ser privilegiada porque é necessária para o ensino aprendizagem e o desenvolvimento integral da criança.
Ao observarmos um bebê explorar os itens de um Cesto de Tesouros, é fascinante ver o prazer e o interesse com que ele escolhe os objetos que o atraem, a precisão que ele mostra ao levá-lo à boca ou passá-lo de uma mão à outra e a quantidade de sua concentração ao tomar contato com o material para brincar. Notamos que sua observação é concentrada, sua habilidade para escolher e voltar a um objeto preferido que o atrai, às vezes compartilhando seu prazer com a educadora.
O Cesto de Tesouros oferece uma oportunidade para observar a interação entre os bebês em uma idade na qual se costumava dizer que eles não teriam interesse uns pelos outros. Observando dois ou três bebês sentados junto ao Cesto de Tesouros, podemos ver de imediato que isso não é verdadeiro. Os bebês, apesar de se concentrarem em manipular os objetos que escolheram, não somente estão cientes da presença do outro, como também estão envolvidos em trocas interativas na maior parte do tempo. A disponibilidade dos objetos é o que estimula essas trocas, que às vezes se tornam pequenas disputas de posse.
Os itens de um Cesto de Tesouros devem ser sempre selecionados com cuidado, tendo a segurança como fator principal. Devemos obviamente excluir objetos que tenham bordas ou pontas cortantes, ou que sejam pequenos o suficiente para serem engolidos.
O principal fator de proteção é a capacidade limitada dos bebês dessa idade. Eles podem sacudir um objeto, ou pegá-lo e deixá-lo cair, mas não conseguem atirá-lo ou cutucar outro bebê com ele.
Itens sugeridos para o Cesto de Tesouros
Nenhum destes objetos é feito de plástico, nenhum é um brinquedo comprado, e a maioria é de uso comum e cotidiano para nós adultos. O objetivo dessa coleção é oferecer o máximo de interesse por meio de:
- Tato: textura, formato, peso
- Olfato: uma variedade de cheiros
- Paladar: tem um alcance mais limitado, porém possível
- Audição: sons como o de campinhas, tilintar, batidas, coisas sendo amassadas
- Visão: cor, forma, comprimento, brilho
Objetos naturais
- Abóboras secas
- Castanhas grandes
- Conchas
- Cones de pinho, de diferentes tamanhos
- Nozes grandes
- Núcleos de caroço de abacate
- Pedaço de esponja
- Pedra-pomes
- Penas grandes
- Pequena esponja natural
- Rolhas de tamanho grande
- Seixos grandes
- Um limão
- Uma maçã
- Uma laranja
Objetos feitos de materiais naturais
- Alças de sacolas feitas de bambu
- Anel de osso
- Bola de fios de lã
- Calçadeira de osso
- Escova de dente
- Escova de madeira para unhas
- Pequena escova de sapatos
- Pequenos cestos
- Pincel de pintura
- Pincel de barba
- Tapetinho de ráfia
Objetos de madeira
- Apito de bambu
- Aro de cortina
- Aro para guardanapos
- Caixinhas forradas com veludo
- Castanholas
- Chocalhos de vários tipos
- Cilindros: bobinas, carretel de linha
- Colher ou espátula
- Contas coloridas presas em cordas
- Cubos – pequenos pedaços de madeira
- Pequeno tambor de madeira
- Pregadores de roupa de dois tipos diferentes
- Tigelinhas
- Xícara de cafezinho
Objetos de metal
- Apito de escoteiros
- Aros de chaveiros entrelaçados
- Aros de cortina de metal
- Bijuterias
- Campainha de bicicleta
- Clipes de papel
- Coador de chá
- Colheres de vários tamanhos
- Copo grande de metal
- Escova para limpar garrafas
- Espremedor de alho
- Espremedor de frutas
- Forminha
- Infusor de chá
- Latas fechadas contendo arroz, feijões, pedrinhas, etc.
- Latinhas com bordas lixadas (sem partes afiadas)
- Molho de chaves
- Pedaços de correntes de diferentes tipos
- Pequena flauta
- Pequeno batedor de ovos
- Pequeno cinzeiro
- Pequeno espelho com moldura de metal
- Pequeno funil
- Tampa de perfume grande
- Tampa para latas – vários tipos
- Triângulo de metal
- Trombete de brinquedo
- Vários sinos
- Xícara para ovos de metal
Objetos feitos de couro, têxteis, borracha e pele
- Aros para cãezinhos
- Bola de borracha
- Bola de golfe
- Bola de pele
- Bola de tênis
- Bolsa de couro
- Bolsa decorada com contas
- Bolsinha de couro com zíper
- Bonequinha de retalhos
- Estojo de couro para óculos
- Osso de borracha para cães
- Ovos de mármore coloridos
- Pedaços de tubos de borracha
- Plugue de mangueira com correntinha
- Puff de maquiagem feito de veludo
- Saco de feijões
- Saquinhos de pano contendo lavanda, alecrim, tomilho, cravos-da-india
- Ursinho de pelúcia
- Papel, papelão
- Cilindros de papelão provenientes de tubos de toalhas de papel
- Papel impermeável
- Papel laminado
- Pequenas caixas de papelão
- Pequeno caderno espiral
A grande variedade de objetos que podem fazer parte de um Cesto de Tesouros significa que não há necessidade de incluir um objeto que produz ansiedade, nas educadoras, em relação à sua segurança.
Considerações Finais
A pesquisa revelou que o brincar faz parte do ser criança e tem expressivo efeito por si só, além de auxiliar no desenvolvimento infantil, nas esferas emocional, intelectiva, social e física, demonstrando a sua fundamental importância neste período riquíssimo do ser humano, ou seja, a sua própria estruturação, a base construtiva do que tenderemos a chegar no desencadear de nossas vidas, dando-nos o asseguramento necessário para progressão natural do ciclo humano.
A brincadeira instintivamente é usada pelo bebê para descobrir o mundo. Brincando a criança descobre o mundo, como ele funciona ,aprende, se desenvolve, experimenta. Brincando a criança vai adquirindo noções espaciais, produz sons, desenvolve o cérebro para funções como a fala e o andar, auxiliando no seu desenvolvimento global.
Os tipos de brincadeira e a forma de brincar se modificam de acordo com a etapa de desenvolvimento que a criança apresenta. A criança exercita e organiza o pensamento, a noção de individualidade, a linguagem, a necessidade de perseverar entre outros. Na brincadeira a criança exprime seus medos, desejos, experiências.
De forma simbólica o brinquedo torna-se um meio de expressão. Se o brincar é algo tão importante no desenvolvimento da criança, é também fundamental para o desenvolvimento da linguagem e da fala.
A adequada aquisição e desenvolvimento da comunicação dependem de vários fatores, entre eles: o biológico, o afetivo e o social. Entre os aspectos biológicos, podemos destacar o processo de maturação do sistema nervoso central, ou seja o sistema nervoso central vai evoluindo, se especializando e todas as suas funções também.
O Sistema Nervoso Central é responsável pelo desenvolvimento global do indivíduo. Os aspectos afetivos e sociais são a interação com a criança, o estímulo, a confiança transmitida a ela, a atenção dada a criança e tudo referente ao meio ao qual ela pertence.
A criança aprende por intermédio da interação com o ambiente, essa interação também é realizada com o ato de brincar. Brincando as educadoras conversam com o bebê, apresentam-lhe objetos, aos poucos será por meio do balbucio (um brincar com os sons) a criança irá imitar os sons que ouve.
No bebê, a brincadeira é uma forma de interação do adulto com ele, o bebê sozinho ainda não é capaz de simbolizar e usar a brincadeira para isso. Logo, o brincar inicial do bebê é uma experimentação do mundo, ele manuseia objetos, joga, bate, empilha explora o mundo de forma ainda primária condizente com a sua fase, denominada pelos especialistas (Piaget, 1963) de fase sensório-motora (etapa inicial do desenvolvimento cognitivo – corresponde a aproximadamente os dois primeiros anos de vida).
Quando a criança começa a simbolizar, fase da brincadeira simbólica, construída gradativamente, propicia que a linguagem evolua com mais rapidez, assim a linguagem influencia na evolução da brincadeira e a brincadeira auxilia na evolução da linguagem.
A falta de brincadeira pode deixar seqüelas, como dificuldades em se relacionar, medos e outras ainda mais graves. Na dúvida de como lidar com alguma dificuldade em relação ao brincar de uma criança, ou se a mesma não brinca, é importante que se procure um profissional capacitado, como um psicólogo, um pedagogo, para uma orientação específica.
Após esta pesquisa, podemos nos remeter a uma breve reflexão sobre a importância do brincar com os bebês, por que é importante? O prazer que provem das brincadeiras guarda o sentido do prazer pelo viver, ser, investigar, sentir, tocar, viver com o outro, vibrar com vitórias e enfrentar derrotas.
Através do brinquedo e brincadeiras o bebê pode desenvolver a imaginação, confiança, auto-estima, e a cooperação. O modo como o bebê brinca revela seu mundo interior e isso permite a interação da criança com as outras crianças e a formação de sua personalidade.
Para isso é necessário que os Núcleos de Educação Infantil dêem condições e promovam situações de brincadeiras de acordo com as necessidades dos bebês, oportunizando a estimulação para o desenvolvimento integral da criança.
Descobrimos que, se oferecermos aos bebês a chance de brincar com um Cesto de Tesouros bem abastecido, eles apreciam muito a idéia, desde que lhes sejam dado tempo e o apoio de uma educadora atenta, de forma a superar os sentimentos iniciais de estranhamento.
Concluímos que o brincar heurístico com o Cesto de Tesouros oferece uma experiência de aprendizagem planejada para os bebês que estão na fase de descobertas do mundo. Oferecer o brincar heurístico em instituições infantis requer a resolução cuidadosa de pequenos detalhes, como: tempo, espaço, materiais adequados e gerenciamento. O papel do educador é o de organizador e facilitador, e não o de iniciador. Os bebês brincarão com concentração e sem conflitos por longos períodos, desde que lhes sejam oferecidos quantidades generosas de objetos cuidadosamente selecionados.
Referências
BETTELHEIM, Bruno. Uma Vida Para Seu Filho. Rio de Janeiro: Campus, 1988.
BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de filosofia.Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
CHATEAU, Jean. O Jogo e a Criança. São Paulo: Summus, 1987.
GOLDSCHMIED, Elinor; JACKSON, Sonia. Educação de 0 a 3 anos: O atendimento em creche. Tradução Marlon Xaxier. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.
KISHIMOTO, Tizuco Morchida. Jogo, Brinquedo, Brincadeira e a Educação. São Paulo: Cortez, 1997.
LÜDKE, Menga & ANDRÈ, Marli. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1996.
MOYLES, Janet R.A excelência do brincar. Tradução Maria Adriana Veríssimo Veronese. Porto Alegre: Artmed, 2006.
PIAGET, Jean. A construção do real na criança. Zahar Editores. Rio de Janeiro, 1963.
SANTOS, Santa Marli Pires dos. Brinquedo e Infância: um guia para pais e educadores. Rio de Janeiro: Vozes, 1999.
WINNICOTT, D.w. O Brincar e a Realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.
VYGOTSKY, Lev Semenovich. A Formação Social da Mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
Publicado em 03/04/2008 15:42:00
Janete Izabel Alves Coutinho de Azevedo – Mestra em Educação – FURB – Timbó/SC
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