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CIÊNCIA X NÃO-CIÊNCIA: FINS E RAZÃO HISTÓRICA

Maria Auxiliadora Rodrigues da Silva

Resumo:
Este artigo visa tecer algumas considerações acerca da distinção entre ciência e não-ciência, conforme os pressupostos teóricos de ALVES (1981). Na visão desse autor, o homem ao longo de sua existência percorreu um evolutivo processo de desenvolvimento científico e intelectual – do pensamento mítico a inteligibilidade – nos quais ampliou suas idéias a partir do senso comum, qualificou-as com o uso da ciência e tomou consciência de sua finitude. Deste modo, percebe-se a preocupação com a transformação da ciência em uma “perigosa fraqueza”, uma vez que ela, caso fosse mal aplicada, limitaria a visão do todo pelo aprofundamento do particular. Isso implica a necessidade de saber que tanto a ciência quanto o senso comum demandam criatividade para as criações que adaptam o ser humano às revoluções da humanidade.

Palavras – chave: Homem – conhecimento – senso comum – ciência.

Abstract:
This article aims take some considerations concerning the distinction between science and not-science, according to theoretician presuppositions from ALVES (1981). In the vision of this author, the man throughout his existence covered an evolution process of scientific and intellectual development – from the mythical thought to the intelligibility – in which extended its ideas from the common sense, characterized them with the use of science and took conscience of its finitude. This way, it is perceived the preoccupation with the transformation of science in a “dangerous weakness”, once, if misapplied, it would limit the vision of all for the deepening of the particular one. This implies the necessity to know that both the science and the common sense demands creativity for the creations that adapt the human being to the revolutions of the humanity.

Word-keys: man – science – knowledge – common sense

1 Considerações iniciais:
A concepção que temos do homem é a de um ser incompleto, em constante processo de desenvolvimento que, ao longo de sua existência viveu etapas distintas e desenvolveu, progressivamente, condições cada vez mais elevadas, partindo do espontaneísmo em busca da sabedoria.

O ser humano está sempre buscando algo mais, aspira o infinito e deseja alcançá-lo, mas ao mesmo tempo tem consciência de seus limites. Segundo SOUZA (1995) ele “aspira ao infinito e deseja alcança-lo. Ao mesmo tempo, está consciente de seus limites: é um ser finito que procura a perfeição e o absoluto”.
Na antiguidade (sécs. XII a VII a.C.) os gregos tinham uma consciência mítica. Os mitos eram apresentados oralmente em forma de poemas em praças públicas por cantores ambulantes.
Embora mytos signifique “palavra”, “o que se diz”, esses poemas eram expressões do coletivismo, não havia preocupação em determinar a autoria nem de escrever tais obras e por isso predominava a consciência mítica.
Só no século VI a.C. o pensamento racional e filosófico ocupou o lugar do pensamento mítico. E foi no século VIII a.C. na Grécia, que “a escrita surge por influência dos fenícios… e se acha suficientemente desligada de preocupações esotéricas e religiosas”. (ARANHA & MARTINS, 1986).
Inicialmente, a escrita é privilégio apenas dos sacerdotes e reis, mas aos poucos deixa de ser privilégio para os detentores do poder e passa a ser objeto de crítica e discussão em praça pública, gerando assim uma nova idade mental, fixando a palavra e reconhecendo aquele que a proferiu.
A partir desse momento ela requer do autor uma postura diferente da fala, amplia os horizontes do pensamento, promove a reflexão e a crítica das idéias.
Com o efetivo desenvolvimento intelectual, o homem deixa de preocupar-se com a cosmogonia e focaliza na elaboração da cosmologia em busca da racionalidade do universo.
Na tentativa de encontrar o elemento constitutivo de todas as coisas, os pré-socráticos indagam – “Qual é a arché?” – e as respostas são bem diversificadas: para Tales é a água; para Axímenes é o ar; para Demócrito é o átomo; para Empédocles os elementos são terra, água, ar e fogo. Estas respostas foram aceitas até o século XVIII quando foram contestadas por Lavoisier.
A partir disso, ocorre a ruptura entre mytos e logos, ocasionando um significativo avanço, no qual justificativas racionais e abstratas substituem as explicações sobrenaturais.
Segundo ARANHA & MARTINS (1986), “O mito é uma narrativa cujo conteúdo não se questiona enquanto a filosofia problematiza e, portanto, convida à discussão. Enquanto no mito a inteligibilidade é dada, na filosofia ela é procurada”.
Dessa forma, entende-se que o mito narra determinado assunto sem se preocupar com a coerência dos fatos e com a verdade absoluta, explica os fenômenos sobrenaturais.  Já a filosofia recusa essas formas para compreender as idéias e inaugura o pensamento positivo, centrado em definições rigorosas dos conceitos a partir do debate e da discussão em praça pública embasando seus conteúdos na experiência cotidiana.
O mito era guiado pelo princípio de que nada sabe, estimula a discussão e desperta as consciências adormecidas em busca da verdade. Organiza-se como doutrina e surge, portanto, os primeiros sábios (sophos) e com eles o pensamento abstrato.
Com essa compreensão, Sócrates estabelece métodos que visam desenvolver seus conhecimentos e explicar suas dúvidas passando do mundo filosófico para o das ciências, por isso, adquiriu inimigos, poderosíssimos, e ao ser acusado de corromper a mocidade e ser ímpio com os deuses da cidade, fora condenado à morte.
No século XVII, a revolução científica iniciada por Galileu com as chamadas científicas particulares – física, astronomia, química, biologia, psicologia, sociologia, etc. – estabelece o campo específico da pesquisa e com isso ocorre o nascimento da ciência suas especificidades: a física procurando explicar o movimento dos corpos no universo; a biologia, a natureza dos seres vivos; a química as transformações e estruturas internas das substâncias. Com essas especificidades, dar-se a fragmentação do saber e o aperfeiçoamento do método cientifico fundamentado, sobretudo, na experimentação e matematização.
Assim as ciências se especializam e observam “recortes” do real, exalta o papel do especialista e faz juízo da realidade.

2 Conhecimento espontâneo: Senso comum:
O senso comum é a idéia inicial que desenvolvemos a partir de algo que queremos conhecer em uma época determinada pela maioria, mas que apenas temos vagas idéias ou opiniões desordenadas a seu respeito. Originou-se pela necessidade que o homem tem de resolver os problemas de sua vida diária, é um conhecimento casual.
Nele o ser comum seleciona e destaca alguns pontos, analisa-os sem estabelecer critérios, movido pela emoção, restrito a experiências vividas e suas conclusões podem ser alvo de preconceitos e estereótipos.
Segundo ALVES (1981), “o senso comum teimosamente se agarra à magia. A crença na magia, como a crença no milagre, nasce da visão de um universo no qual os desejos e as emoções podem alterar os fatos”.
O senso comum, o conhecimento vulgar, espontâneo ou popular da nossa sociedade possue algumas características importantes.

É subjetivo, pois representa os juízos pessoais, individuais ou coletivos, permite o envolvimento emocional, e de valores de quem o produz: “Quem ama o feio, bonito lhe parece”.

É também particular por retratar uma simples amostra da realidade, a partir da qual são observadas generalizações aleatórias e imprecisas.

Esse tipo de conhecimento é chamado empírico porque se baseia nas experiências cotidianas e comuns do homem e se diferencia da experiência cientifica. Assim, por meio das observações do senso comum o agricultor aprende a plantar e a colher na época certa e transfere esses ensinamentos aos seus descendentes.
Ao ser assistemático é realizado sem um planejamento rigoroso, no entanto capaz de guiá-lo na busca de elementos indispensáveis para sua sobrevivência.
 
Fragmentário porque não estabelece ligações entre as causa e os efeitos dos fenômenos observados.
É limitado e restrito, ou seja, expressa, em particular, que está relacionado à realidade e não se presta a generalizações.

Também é ametódico porque o homem comum seleciona os dados observados sem nenhum critério de rigor.

Além disso, é ingênuo, por não ser crítico, não problematiza nem questiona enquanto saber. É ditado pelas circunstâncias. De acordo com ALVES (1981), “O que não é problematizado não é pensado”, isto é, só tomamos consciência dos nossos órgãos quando algum deles sofre alguma alteração, incomoda ou deixa de funcionar perfeitamente. Para ele o indivíduo pensa porque as coisas não vão bem. Se o conjunto age sincronizadamente não se apercebe da sua existência, apenas usufruí.

Desta forma, conclui-se que o senso comum ou conhecimento espontâneo é a primeira compreensão do mundo resultante da herança do grupo a que pertence o ser humano e das experiências atuais que continuam sendo efetuadas.
 
No entanto em algumas ocasiões considera-se o senso comum como se fosse simplório, usual; ledo engano. Nem tudo o que ocorre ou que é observado no cotidiano constitui o senso comum. É necessário fazer a distinção entre senso comum e bom senso.

Mas pode-se afirmar que consolidando o senso comum o indivíduo desenvolve suas opiniões, amplia suas idéia e produz o conhecimento científico, para compreender determinados aspectos. Ele faz ciência.

3 Ciência:
O conhecimento cientifico, embora seja um fato histórico recente, valida a ação do homem, qualifica uma nova etapa de desenvolvimento da razão, é objetivo, metódico e expressa a ciência, que é o uso dos métodos quantitativos para pensar a natureza.

Ela é geral, ao se preocupar em uma descoberta que será exposta como lei ou regra. É particular à medida que desenvolve uma visão unilateral de algo e se desligar do todo.

Segundo ALVES (1981) ”a ciência é uma especialização, um refinamento de potencialidades comuns a todos”. É a especialização que caracteriza o cientista, porém, é também a especialização a sua fragilidade, porque apresentamos uma visão unilateral e perdemos a sinergia do todo.
A ciência é o desenvolvimento do senso comum, tendo como objetivo entender e explicar de forma racional e objetiva o mundo em que se vive para nele poder intervir.
 
Ela se consolida ao percorrer caminhos em busca do domínio e controle prático da natureza: inicialmente a dúvida a respeito de algo é a tomada de consciência do problema, o qual será pensado, teorizado e observado, para o qual ocorre o levantamento das hipóteses, depois, experimentadas e comprovadas e, assim, esta desordem que causou a problematização é ordenada e enunciada como lei, que por sua vez são incorporadas em teoria científicas capazes de explicar e prever os fenômenos no mundo.

Precisamos ter em mente que “Uma teoria muito boa será aquela que faz afirmações bastante amplas a respeito do mundo, e que, em conseqüência, é altamente falsificável, e resiste à falsificação toda vez que é testada”. (CHALMERS, 1993).

Para sistematizar suas teorias, o cientista se utiliza raciocínio indutivo e dedutivo.

Ao induzir, o cientista faz generalizações baseadas na regularidade de certos fatos. O raciocínio propaga-se do particular ao geral, do conhecimento especial ao geral, do conhecimento de fatos ao de leis.

As conclusões obtidas por meio da indução são apenas prováveis, o contrário do que ocorre na dedução. Por meio dessa chega-se a conclusões verdadeiras, inquestionáveis. Porém, é necessário destacar que esta não apresenta um conhecimento inédito, a conclusão é uma particularidade da lei geral.

4 Considerações Finais:
Enquanto o senso comum representa a idéia da humanidade que é realizada pelo homem comum, a ciência por sua vez, menos crédula, para se estabelecer, procura através do raciocínio frio e dos métodos experimentais a comprovação do que os sentidos mostram aos indivíduos, permitindo a evolução do conhecimento pelo cientista.
Segundo ARANHA & MARTINS (1986) “a ciência não é um saber neutro, desinteressado, à margem do questionamento social e político acerca dos fins de sua pesquisa”.
E o ato mais significativo a favor da ciência é buscar a qualidade de ensino e ensinar as pessoas a pensar e conseqüentemente desenvolver o pensamento crítico que permitirá a independência das gerações que sucederão e seguramente darão prosseguimento à superação contínua do conhecimento pelo conhecimento.

5 Referências Bibliográficas:
ALVES, Rubem. Filosofia da Ciência: introdução ao jogo e suas regras. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1981.
ARANHA e MARTINS, Maria Lúcia de, MARIA Helena Pires. Filosofando: Introdução à filosofia. São Paulo: MODERNA, 1986.
CHALMERS, Alan F. O que é ciência, afinal? Tradução de Raul Fiker. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1993.
SOUZA, Sonia Maria Ribeiro de. Um outro olhar: Filosofia. São Paulo: GTD, 1995.

Publicado em 15/02/2008 10:31:00


Maria Auxiliadora Rodrigues da Silva – Especialista em Metodologia do Ensino Superior; Professora contratada do Centro de Ensino Superior de Arcoverde, CESA; Professora da Graduaçao em Introdução à Educação e Prática de Ensino; Professora Titular em regime de dedicação exclusiva do Centro de Ensino Superior de Arcoverde, CEEA; Professora de Ensino Médio em Química.

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