PENSAMENTO LINGUAGEM E APRENDIZAGEM
Eunaihara Marques
Resumo
A linguagem simbólica e o pensamento articulado são um fato inovador na história da evolução da vida na terra. O homem é a única espécie que conseguiu libertar-se dos mecanismos naturais da evolução (continuando, contudo, sujeito às leis biológicas), condicionando a sua própria evolução através da produção de instrumentos e ferramentas materiais e mentais, que lhe permitiram transformar o mundo e transformar-se ao longo desse processo.
Assim, a espécie humana pôde adaptar-se a todos os habitats que existem no planeta Terra, Tudo isto só foi possível devido à linguagem simbólica, que está na base da emergência do pensamento e dos instrumentos mentais que permitiram unir os esquemas de ação aos esquemas mentais que são, no seu conjunto, a base da inteligência humana tudo através do processo de aprendizagem.
“A linguagem é, assim, a base da cultura, sem a qual o homem moderno não existiria”.
Palavras Chaves: linguagem, pensamento, cognição, cultura, aprendizagem, comunicação e fala.
Introdução
Este estudo faz parte de uma pesquisa teórica baseada em textos, livros, artigos e teóricos que desenvolvem ou desenvolveram trabalhos na área da compreensão das relações entre pensamento, linguagem e aprendizagem, dentro de uma perspectiva sócio-histórica, onde compreende o homem como um ser em inter-relação com o meio.
O presente trabalho teórico discorre sobre as contribuições da teoria de Vygotsky e Piaget para a compreensão das inter-relações entre as áreas da linguagem e da aprendizagem. E expõem o desenvolvimento histórico das relações entre pensamento, linguagem e aprendizagem desde a infância até à formação e aquisição da cognição.
O trabalho tem como objetivo, explicitar de maneira clara e concisa a compreensão das relações entre pensamento, linguagem e aprendizagem dentro de um enfoque teórico, visando o esclarecimento de dúvidas para o melhor aprendizado do referente tema.
Desenvolvimento
O homem como produto e produtor da cultura
O homem tanto ao nível da espécie, como ao nível do indivíduo é um produto da cultura. A evolução da espécie humana foi comandada pela evolução da cultura. Assim o homem, como vive num universo cultural (simbólico), vive num mundo estruturado pela ação e pelo pensamento do próprio homem, que, por sua vez não existiriam sem a função simbólica da linguagem. Em conseqüência disto, quando nasce, o homem tem que passar por um longo processo de socialização por forma a adaptar-se à cultura da sociedade em que nasceu. Esse processo molda o indivíduo, tornando diferente do que teria sido se tivesse nascido no seio de outra sociedade ou cultura.
Mas o homem, quer ao nível da espécie, quer ao nível individual, é o produtor da cultura, resultando daqui que o homem é o único animal que se produz a si próprio.
A evolução e adaptação do homo sapiens
Com a evolução do Homo sapiens neandertalensis, ocorreu uma nova e grande adaptação ao meio onde no decorrer desta tamanha evolução fez surgir a fala-linguagem onde mudou grandemente a capacidade de mudar as condições do próprio habitat em seu beneficio a partir da intercomunicação. Vivendo em sociedade e já se expressando por uma cultura, mesmo sendo caçador-coletor, já possuíam capacidade de evocar o passado de experiências boas ou ruins para o seu desempenho imediato e para suas projeções futuras.
A relação entre o pensamento e a fala-linguagem passou por varias mudanças ao longo da vida do indivíduo. Apesar de terem origens diferentes e de se desenvolverem de modo independente, numa certa altura, graças à inserção do individuo num grupo cultural, o pensamento e a linguagem se encontram e dão origem ao modo de funcionamento psicológico mais sofisticado, tipicamente humano. “As funções cognitivas e comunicativas da linguagem tornam-se, então, a base de uma nova forma de atividades superiores nos indivíduos, distinguindo-as dos animais” (Vygotsky, 1984, p. 31). Sendo assim, a linguagem expressa o pensamento do ser humano e também age como organizadora desse pensamento.
A linguagem, sistema simbólico dos grupos humanos, representa um salto qualitativo na evolução da espécie. É ela que fornece os conceitos, as formas de organização do real, a mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. É por meio dela que as funções mentais superiores são socialmente formadas e culturalmente transmitidas, portanto, sociedades e culturas diferentes produzem estruturas diferenciadas.
O homem conseguiu durante a evolução, adquirir a vontade de criar naturalmente os elementos da cultura que, lenta e gradativamente, foram organizando a civilização que, por sua vez, passou a moldá-lo. A cultura fornece ao indivíduo os sistemas simbólicos de representação da realidade, ou seja, o universo de significações que permite construir a interpretação do mundo real. Ela dá o local de negociações no qual seus membros estão em constante processo de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e significações.
A fala e a linguagem não podem ser aprendidas por um individuo isoladamente, o aprendizado implica em aperfeiçoamento motor e cognitivo. A partir dos modelos ouvidos dos falantes nativos, principalmente da mãe. “Quanto mais gente existe no meio em que a criança vive, mais ela aprende”.
A fala e sua necessidade
Tanto nas crianças quanto nos adultos, a função da fala é o conjunto social, a comunicação; isto quer dizer que o desenvolvimento da linguagem é impulsionada pela necessidade de comunicação. Assim, mesmo a fala mais primitiva da criança é social. Na medida em que a criança interage e dialoga com os membros mais maduros de sua cultura, aprende a usar a linguagem como instrumento do pensamento e a linguagem se associam, conseqüentemente o pensamento torna-se verbal e a fala racional. Vygotsky afirma que a partir desse momento o pensamento verbal passa a ser predominante na atividade psicológica humana. No entanto, o pensamento não verbal (por exemplo, nas atividades que exigem apenas do uso da inteligência pratica) e a linguagem não intelectual (por exemplo, quando um individuo recita um poema decorado ou nas linguagens emocionais), continuam presentes tanto nos adultos quanto nas crianças.
A utilização da linguagem como instrumento do pensamento, que evidência o modo pelo qual a criança interioriza os padrões de comportamento fornecidos por seu grupo cultural. Através de experimentos pôde-se observar que este processo, apesar de dinâmico e não linear passa por estágios que obedecem a seguinte trajetória: a fala evolui de uma fala exterior para uma fala egocêntrica e desta, para uma fala interior. A fala egocêntrica é entendida como um estágio de transição entre a fala exterior (fruto das atividades interpsíquicas, que ocorrem no plano social) e a fala interior (atividade intrapsíquica, individual).
Para a resolução de um problema, por exemplo, a criança pode fazer apelos verbais, nesse estágio a fala é global, tem múltiplas funções, mais não serve ainda como um planejamento de seqüências a serem realizadas; assim não é utilizada como um instrumento do pensamento. Vygotsky chamou essa fala de discurso socializado. Aos poucos essa fala direcionada aos adultos é internalizada, ou seja, a criança passa a pelar para si mesma para solucionar um problema é o chamado discurso interior. Desse modo, além das funções emocionais e comunicativas, a fala começa a ter também a função planejadora. Nesse momento a criança começa a ter diálogos com ela mesma sem vocalização, portanto a fala começa a preceder a ação e funcionar como auxilio de um plano já concebido, mas ainda não executado, ou seja, a fala é anterior a atividade e, portanto dirige a ação.
A interação social e o instrumento lingüístico são decisivos para o desenvolvimento. Existem, pelo menos dois níveis de desenvolvimento identificados por Vygotsky: um real, já adquirido ou formado, que determina o que a criança já é capaz de fazer por si própria, e um potencial, ou seja, a capacidade de aprender com outra pessoa.
A aprendizagem interage com o desenvolvimento, produzindo abertura nas zonas de desenvolvimento proximal (distância entre aquilo que a criança faz sozinha e o que ela é capaz de fazer com a intervenção de um adulto; potencialidade para aprender, que não é a mesma para todas as pessoas; ou seja, distância entre o nível de desenvolvimento real e o potencial) nas quais as interações sociais são centrais, estando então, ambos os processos, aprendizagem e desenvolvimento, inter-relacionados; assim, um conceito que se pretenda trabalhar, como por exemplo, em matemática, requer sempre um grau de experiência anterior para a criança.
De acordo com OLIVEIRA (1993), o aprendizado desperta processos de desenvolvimento que, aos poucos, vão se tornando parte das funções psicológicas consolidadas no sujeito. Conforme explica, ainda, a autora, a interferência constante na Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) pela atuação de um outro mais experiente contribui para movimentar os processos de desenvolvimento dos sujeitos. Essa possibilidade de alteração no desempenho pela colaboração de outro é fundamental nos processos de aprendizagem porque representa um momento no desenvolvimento do sujeito.
O desenvolvimento cognitivo é produzido pelo processo de internalização da interação social com materiais fornecidos pela cultura, sendo que o processo se constrói de fora para dentro. Para Vygotsky, a atividade do sujeito refere-se ao domínio dos instrumentos de mediação, inclusive sua transformação por uma atividade mental. Para ele, o sujeito não é apenas ativo, mas interativo, porque forma conhecimentos e se constitui a partir de relações intra e interpessoais. É na troca com outros sujeitos e consigo próprio que se vão internalizando conhecimentos, papéis e funções sociais, o que permite a formação de conhecimentos e da própria consciência. Trata-se de um processo que caminha do plano social – relações interpessoais – para o plano individual interno – relações intrapessoais.
O desenvolvimento do pensamento na criança
Assiste-se durante a primeira infância a uma transformação da inteligência que, de simplesmente sensório-motora ou prática que era de início, se prolonga daí em diante em pensamento propriamente dito, sob a dupla influência da linguagem e da socialização. A linguagem, em primeiro lugar, permitindo ao sujeito contar as suas ações, fornece-lhe ao mesmo tempo o poder de reconstituir o passado, e, portanto, de o invocar na ausência de objetos sobre os quais incidiram as condutas anteriores, e de antecipar as ações futuras.
Ainda não executadas, até as substituir por vezes unicamente pela palavra, sem nunca chegar a fazê-las. Tal é o ponto de partida do pensamento. Mas a este se acrescenta logo o fato de que, conduzindo a linguagem à socialização das ações, aquelas que, graças a ela, proporcionam atos de pensamento não pertencem exclusivamente ao eu que as engendra e é de imediato situadas num plano de comunicação que lhes decuplica o alcance. Com efeito, a própria linguagem veicula conceitos e noções que a toda pertencem e que reforçam o pensamento individual com um vasto sistema de pensamento coletivo. É neste que se banha, virtualmente, a criança, logo que consegue manejar a palavra.
Mas passa-se com o pensamento o mesmo que com toda a conduta: em vez de se adaptar de repente às realidades novas que descobre, e que pouco a pouco constrói, o sujeito deve começar por uma incorporação laboriosa dos dados ao seu eu e à sua atividade e esta assimilação egocêntrica caracteriza os primórdios do pensamento da criança tal como os da sua socialização.
Para sermos mais exatos, devemos dizer que, durante as idades dos 2 aos 7 anos, se encontram todas as transições entre duas formas extremas de pensamento, representadas em cada uma das etapas percorridas durante este período e nas quais a segunda pouco a pouco predomina sobre a primeira. A primeira destas formas é a do pensamento por incorporação ou assimilação puras, cujo egocentrismo exclui conseqüentemente toda a objetividade. A segunda destas formas é a do pensamento adaptado aos outros e ao real, que prepara assim o pensamento lógico. A maioria dos atos do pensamento infantil encontra-se a oscilar entre estas duas direções contrárias.
De acordo com VYGOTSKY (1982), aprendizagem e linguagem são indissociáveis. Através da linguagem e de suas diversas formas de comunicação verbais e extraverbais (olhares, gestos e movimentos), os sujeitos interagem uns com os outros e com o mundo que os rodeia. Todavia, por intermédio desses diferentes momentos interativos, além da possibilidade de comunicação, algo mais é produzido: o conhecimento.
Segundo VYGOTSKY (2000), o processo de aprendizagem é anterior ao processo de escolarização das crianças. Desde o início de sua vida, através das diversas interações (com a mãe, familiares e colegas), a criança se desenvolve, aprendendo sobre as coisas e o mundo em que vive. VYGOTSKY (2000) denomina essa forma de pensamento, marcada pelas experiências e vivências imediatas mediadas pela palavra, de conceitos cotidianos.
Para, VYGOTSKY (1994), a aprendizagem precede o desenvolvimento. Nas palavras dele, “um passo de aprendizagem pode significar cem passos de desenvolvimento” (VYGOTSKY, 2000, p. 303). Assim sendo, na abordagem vygotskyana, o aprendizado não se encontra diretamente ligado ao desenvolvimento, nem mesmo o desencadeia de maneira ordenada e previsível. Todavia, o aprendizado de um conhecimento pode provocar o desenvolvimento das funções mentais para além dos limites do conceito.
A questão central de toda a teoria Vygotskyana é a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio, tendo por base o desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo sócio-histórico, enfatizando o papel da linguagem e da aprendizagem nesse desenvolvimento, sendo essa teoria considerada histórico-social.
As formações de conceitos, segundo Vygotsky, remetem às relações entre pensamento e linguagem, à questão cultural no processo de construção de significados pelos indivíduos, ao processo de internalização e ao papel da escola na transmissão de conhecimento, que é de natureza diferente daqueles aprendidos na vida cotidiana. Propõem uma visão de formação das funções psíquicas superiores como internalização mediada pela cultura. Portanto a idéia de mediação enquanto sujeito do conhecimento o homem não tem acesso direto aos objetos, mas acesso mediado, através de recortes do real, operado pelos sistemas simbólicos de que dispõe, portanto enfatiza a construção do conhecimento como uma interação mediada por várias relações, ou seja, o conhecimento não está sendo visto como uma ação do sujeito sobre a realidade, assim como no construtivismo e sim, pela mediação feita por outros sujeitos. O outro social pode apresentar-se por meio de objetos, da organização do ambiente, do mundo cultural que rodeia o individuo.
O contexto escolar é visto como o lugar social privilegiado para o desenvolvimento dos conceitos científicos, já que, por intermédio das diversas interações escolares, a criança pode entrecruzar suas experiências imediatas e conhecimentos espontâneos (conceito cotidiano) com os conhecimentos sistematizados e acumulados historicamente pela humanidade, ocorrendo, então, gradativamente, a elaboração de diversos níveis de abstrações e generalizações (conceito científico).
O processo ensino-aprendizagem é concebido como um processo global de relação interpessoal que envolve ao mesmo tempo alguém que aprende, alguém que ensina e a própria relação ensino-aprendizagem. Numa abordagem vygotskyana, essa concepção inclui dois aspectos: a presença do outro social e a necessidade da linguagem como elemento fundamental nesse processo.
Portanto, é através da linguagem que, o sujeito adquire um conjunto de riquezas produzidas pelos próprios homens, dentre elas a consciência, que pode ser um fato alienado ou constituir-se em um poderoso instrumento na leitura de mundo e de si mesmos. Nesse sentido, compete à escola assumir a parte que lhe é de direito e obrigação, viabilizando àqueles que a freqüentam a mediação necessária à formação da consciência que as atuais condições de vida estão a solicitar.
Concepções sobre o funcionamento do cérebro humano
Para Vygostsky, o cérebro é a base biológica, visto como órgão principal da atividade mental e suas peculiaridades definem limites e possibilidades para o desenvolvimento humano. O cérebro, produto de uma longa evolução, é o substrato material da atividade psíquica que cada membro da espécie traz consigo ao nascer. No entanto, esta base material não significa um sistema imutável e fixo.
Também é entendido como um “sistema aberto de grande plasticidade, cuja estrutura e modos de funcionamento são moldados ao longo da historia da espécie e do desenvolvimento individual. (…) o cérebro pode servir a novas funções, criadas na história do homem, sem que sejam necessárias transformações no órgão físico”. (Oliveira, 1993, p.24).
Essas concepções fundamentam sua idéia de que as funções psicológicas superiores (por ex. linguagem, memória, cognição e outros) são construídas ao longo da história social do homem, em sua relação com o mundo. Desse modo, as funções psicológicas superiores referem-se a processos voluntários, ações conscientes, mecanismos intencionais e dependem de processos de aprendizagem.
A linguagem é a mais lateralizada das funções, já que a maior parte de seus mecanismos é operada pelo hemisfério esquerdo na maioria dos seres humanos. Portanto o estudo detalhado das operações e quais áreas envolvidas no funcionamento do processo de linguagem são estudadas pelos Neurolingüistas onde irão empregar técnicas modernas de imageamento cerebral dentre outras, para identificar e localizar funções, áreas e lesões.
O aprendizado da linguagem começa logo após o nascimento da criança. Ela nasce com uma estrutura anatômica preparada para aprender a linguagem. Para isto depende do desenvolvimento dos sistemas sensitivo-sensoriais, incluindo a sensibilidade visceral. Depende muito mais do desenvolvimento do sistema acústico do que de qualquer outro. Portanto os cérebros de um recém-nascido normal contém todos os neurônios e as demais células que sustentam suas funções biológicas. A estrutura nasce pronta, porém vazia dessa função (linguagem). Isto decorre da imaturidade dos neurônios que, a partir daí, vão apresentar uma expansão das ramificações dos seus axônios com brotamentos sinápticos cada vez mais numerosos. Esses brotamentos sinápticos permitirão interligações cada vez maiores entre áreas contíguas e distantes para uma melhor adaptação do individuo ao meio onde ele esta inserido.
A natureza do símbolo
O símbolo é o elemento fundamental da comunicação entre seres humanos. Isto deve-se à sua dupla natureza, uma vez que o símbolo tem uma dimensão material (estrutura física) e uma dimensão subjetiva ( ou mental ).
A dimensão material do símbolo tem o nome de significante e a dimensão subjetiva o nome de significado. Assim, os símbolos permitem-nos expressar materialmente os nossos conteúdos mentais (as nossas idéias, as nossas crenças, os nossos sentimentos, a nossa vontade, o nosso estado de espírito, etc.).
Conclusão
O estudo nos traz a compreensão da relação individuo/sociedade, dentro de uma abordagem sócio histórica onde afirma que as características tipicamente humanas não estão presentes desde o nascimento do individuo, nem são mero resultados das pressões do meio externo e sim da interação dialética do homem e seu meio cultural, sócio-cultural.
Ao mesmo tempo em que o ser humano transforma o seu meio para atender suas necessidades básicas, transforma-se a si mesmo. No entanto, neste princípio, a integração dos aspectos biológicos e sociais do individuo, as funções psicológicas superiores do ser humano surgem da interação dos fatores biológicos que são parte da constituição física do Homo sapiens, com os fatores culturais, que evoluíram através de milhares de anos de história humana. Tendo o cérebro como base biológica do funcionamento psicológico.
A relação do homem com o mundo não é uma relação direta, pois é mediada por meios, que se constituem nas “ferramentas ou instrumentos” da atividade humana e é através dos instrumentos e dos signos que os processos de funcionamento psicológicos são fornecidos pela cultura através de um processo chamado aprendizagem, conferindo a linguagem um papel em destaque no processo de pensamentos. Permitindo a linguagem a lidar com o meio externo, tendo a função de abstração e generalização, função de comunicação, preservação, transmissão, assimilação e de informações e experiências acumuladas pela humanidade ao longo da história.
“Levantou-se demasiadas vezes o problema de saber se existe uma linguagem sem pensamento e um pensamento sem linguagem. Além do fato de mesmo o discurso interior (o ‘pensamento mudo’) no seu labirinto se servir da rede da linguagem e não a poder dispensar, parece impossível afirmar a existência de um pensamento independente da linguagem”.
Por isso evitamos afirmar que a linguagem é um instrumento do pensamento. Tal concepção podia fazer crer que a linguagem exprime, como um utensílio, qualquer coisa de exterior a ela.
Se a linguagem é a matéria do pensamento, é também o próprio elemento da comunicação em sociedade. Não há sociedade sem linguagem, tal como não há sociedade sem comunicação. Tudo o que se produz como linguagem tem lugar na troca social para ser comunicado.
Entretanto qual é a função primeira da linguagem: a de produzir um pensamento ou a de comunicar? Não tem qualquer fundamento objetivo. A linguagem é tudo isso simultaneamente, e não pode existir uma dessas funções sem a outra.
“O homem ‘fala’ e ‘o homem é um animal social’, são duas expressões sinônimas“.
Referências Bibliográficas
OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento – um processo sociohistórico. São Paulo: Scipione, 1993.
Vygotsky. Pensamento e linguagem. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
_________. A formação social da mente. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
________. Uma perspectiva histórico-cultural da educação/ Teresa Cristina Rego.- Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.- (Educação e conhecimento).
Oliveira, Rui de. Neurolinguística e o aprendizado da linguagem/ Rui de Oliveira.- 1. ed.- Catanduva, SP: Editora Respel, 2000.
Lent, Roberto. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais de neurociência/ Roberto Lent. São Paulo: Editora Atheneu, 2004
Publicado em 01/02/2008 11:35:00
Eunaihara Marques – Formada em Psicologia, especialista em Neuropsicologia, trabalha na área
educacional com Psicologa escolar e docente em nível superior, Psicoterapeuta
(trabalho com jovens e adultos) e técnica responsável pelo CRAS (Centro de
Referência de Assistência Social) do municipio de São João do Piauí.
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