INQUIETAÇÕES DA INCLUSÃO DOS SURDOS
Yêrecê Regina Medeiros Simões
O tratamento dado à surdez no cenário educacional dispensa uma discussão detalhada sobre a inserção social dos surdos em virtude dos sérios problemas enfrentados pelos mesmos, devido às inúmeras concepções advindas dos profissionais que atuam na educação.
O cenário que a educação inclusiva de surdos apresenta para nós, educadores em geral, formadores e responsáveis pelos sistemas de ensino, é extremamente conturbado e conflituoso, pois estamos vivendo em um espaço pequeno de tempo com mudanças radicais, rigorosas que vêem percorrendo um trajeto ditatorial numa avassaladora rapidez. Com certeza, há muito somos sabedores de que essa história não era linear, porém não fazíamos idéia da dimensão das transformações e de certa forma, de alguns retrocessos advindos das diferentes concepções da educação de surdos em nosso país.
A educação de surdos, além de ter origens históricas diferentes das do ensino regular e/ou de educação dos “ditos normais”, possui políticas diferentes. Cremos que, apesar de as políticas traçarem novas perspectivas, é a garantia da permanência do educando surdo no ensino regular que realmente faz com que as meras intenções se tornem realidade. Desse modo, a ausência de condições eficazes para tal permanência pode levar-nos a um grande retrocesso no que tange o direito dos alunos surdos à educação em condições de igualdade.
A prioridade do governo é garantir o direito à educação gratuita e obrigatória, pelo menos no nível elementar, seguindo o Princípio 7 da Declaração dos Direitos da Criança e do Adolescente (ONU 21.12.59).
Não podemos pensar na Educação sem levar em conta a questão dos Surdos, mesmo sendo minoria, têm seu direito de participação plena e efetiva nas escolas regulares e/ou especializadas. Porém, o direito de escolha lhe é negado. O entendimento dos órgãos administrativos é eliminar as escolas especializadas ou impor que atuem somente com as séries iniciais, esquecendo dos surdos que agora começam a se familiarizar até mesmo com sua língua natural. É necessário repensar as mudanças!
A inclusão de Surdos na rede regular de ensino, objetiva colocar a criança em condições sociais de vincular-se aos ouvintes, explorando ao máximo suas condições sócio-cognitivas para o acesso aos bens culturais, no qual o currículo necessita ser elaborado com metodologia que atenda de forma particular essas crianças respeitando suas peculiaridades.
A inclusão pressupõe acompanhamento, portanto, para o desenvolvimento da criança Surda na rede regular de ensino, deve-se considerar a necessidade da capacitação dos professores para este trabalho. Para tal, esse professor deve ter conhecimento dos novos paradigmas de avaliação, bem como de métodos e técnicas adequados para a realização de um trabalho sistemático e contínuo de acompanhamento.
Trata-se de tomar o processo de avaliação do Surdo incluso, tendo como base à avaliação diagnóstica e formativa. Quando se percebe a aprendizagem como processo de aquisição de conhecimentos e capacidades, a avaliação ganha como sentido real, o aperfeiçoamento da aprendizagem. Logo, respeitar o aluno em sua individualidade e em todo seu esforço para superar suas dificuldades é pensar a avaliação como evolução do aprendizado.
O governo, no intuito de estabelecer objetivos no contexto educacional além do aprendizado formal deseja a inclusão do Surdo na rede regular, o que nos remete um entendimento de como será a admissão desse na Unidade de Ensino, e como serão as suas avaliações no decorrer de seu desenvolvimento acadêmico, colocando como parâmetro seus colegas ouvintes.
No dia-a-dia da sala de aula, os professores do ensino regular têm que vivenciar uma realidade diferente. O que fazer com seus alunos Surdos? É como se tudo tivesse que ser começado partindo da estaca zero e a história tivesse que ser redimensionada…
Na verdade uma das maiores dificuldades encontradas é exatamente como avaliar o aluno Surdo incluído. Ele deverá fazer provas diferenciadas? Mas se ele deve ser tratado como os demais, porque a diferenciação?
A escola é a mediadora, pois situa o aluno entre ela e a sociedade (relação interpessoal). É no contexto escolar que Surdos e ouvintes num processo natural de aprendizagem e socialização, transformarão a própria práxis pedagógica. Os educadores, sempre acreditaram que o ambiente escolar deve proporcionar prazer e satisfação e, para tal lutam por um processo educacional mais livre de tantas imposições externas, frias, totalmente eqüidistantes da realidade vivenciada pelos mesmos. Ser educador é bem diferente de se estar educador. Sendo assim, as condições propostas de avaliação do aprendizado acadêmico, a expressão e o julgamento do educador, redimensiona o processo avaliativo visando à formação de alunos como agentes transformadores com tomada de decisão sem impor e/ou sem reproduzir modelos ditatoriais.
Somente através da avaliação mediadora, conseguiremos privilegiar a inclusão social. A avaliação terá que atuar como um meio incentivador do desenvolvimento individual respeitando as limitações e superando as dificuldades. Como dissemos no início a barreira da comunicação é grande e o entendimento da LIBRAS como Língua deve ser evidenciado.
Portanto, mais do que se certificar da aprendizagem é necessário utilizar métodos que permitam à tomada de decisão. A imagem construída do surdo pela sociedade (ouvinte) é de que ele não é capaz. Para provar sua capacidade tem a necessidade de oralizar imposição do ouvinte para o convívio, sempre o caracterizando como mudinho e/ou doidinho. Isto visto de um ângulo muito restrito do ponto de vista até de profissionais de áreas eqüidistantes da educação. Na medida em que cada profissional atuar em sua área sem interferir na do outro, o trabalho com o ser surdo e/ou parcialmente surdo fluirá muito melhor e com certeza será possível constatar sua competência. Jamais se imaginou que o problema maior não é a deficiência em si, e sim, a desinformação de grande parte da sociedade.
Vale ressaltar que o surdo não é estimulado suficientemente pelo meio em que vive para conseguir disputar com o ouvinte uma situação hegemônica. Por isso, a exclusão dos surdos, ou seja, o estereotipo extingue o atendimento da educação especial antes do tempo.
No momento desejamos informar e esclarecer que nossos alunos surdos são capazes e necessitam ter seus direitos respeitados, assim como nós profissionais da Educação de SURDOS.
Publicado em 14/01/2008 14:30:00
Yêrecê Regina Medeiros Simões – Psicopedagoga; Psicanalista Clínico; Especializada em Deficiência Auditiva
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