Babá eletrônica ou virtual??
Quando escrevi este texto as crianças ainda não lidavam com celulares, mas o texto continua sendo válido se acrescentarmos a ele o uso do celular, ou seja: manter o equilíbrio é fundamental. Ouvir o outro, saber o que as pessoas que nos cercam pensam e sentem é imprescindível para a saúde mental e emocional do ser humano.
Recentemente recebi uma pergunta feita por uma estudante de psicomotricidade a respeito do uso do computador por crianças menores de sete anos.
A estudante mostrava – se preocupada pelo fato da criança ficar muito tempo brincando no computador e esta prática poder vir a prejudicar sua autonomia, auto – confiança , sua noção de espaço, limite e visão do “outro”, uma vez que o computador exerce um certo fascínio e pode criar dependência.
Eu concordo que o computador exerça um certo fascínio em todas as pessoas que se arriscam a desvendá-lo e a explorá-lo e que , se não houver bom senso, somos capazes de passar horas em frente a ele sem nos dar conta.
Porém, é um tipo de aprendizagem muito prazerosa.
Toda vez que aprendemos algo nos sentimos auto – confiantes e com vontade de alçar vôos mais altos, aprender cada vez mais. Aprendendo mais, nos tornamos cada vez mais autônomos.
Quando a criança aprende a comer sozinha, lavar – se, vestir – se, amarrar seus próprios sapatos se torna mais independente e vai se sentindo cada vez mais capaz de interagir com o grupo construindo sua própria autonomia.
A televisão também exerce fascínio , porém, podemos observar que as crianças que são privadas de assistir televisão podem sofrer um déficit cultural com relação às crianças que têm acesso a este meio de comunicação, embora , muitas vezes a programação seja inadequada.
Mas, tanto com relação ao computador quanto em relação à televisão, a interferência e orientação do adulto é de suma importância.
Se a criança é “abandonada” na frente do computador ou da televisão poderá sofrer vários danos, tanto neurológicos quanto emocionais.
Toda criança tem que ter um tempo para brincar e interagir com outras pessoas, pois, só assim poderá conhecer o “outro” e aprender a viver.
Pode – se observar nos consultórios que prestam atendimento psicopedagógico e fazem uso do computador ,como as crianças, muitas vezes, repetem no computador o mesmo comportamento que apresentam frente a situações do cotidiano: umas são afoitas e não têm paciência de “clicar” o mouse adequadamente, outras , manifestam sua agressividade ou excesso de passividade através de atitudes no jogo atacando para se defender ou recuando para não ser atacada.
Mas, viajando neste “mundo virtual”, eu me ponho a refletir sobre a necessidade da relação com o outro “outro “.
Geralmente as crianças se desenvolvem bem frente ao computador.
Há programas de computador que desenvolvem bastante a inteligência, facilitando o processo de aprendizagem.
Mas, será que o “olhar “do outro não é importante?
O olhar de aprovação por parte das pessoas com quem a criança se relaciona é o fator mais importante. Não só com relação aos jogos, mas com relação à sua atitude perante a vida.
Lembro – me de uma paciente , que eu ainda estou diagnosticando e que me diz “sou a burrinha da casa”.
Esta menina só escolhe jogos que já conhece, recusando – se a aprender qualquer outro. ( não me refiro a jogos de computador, pois não possuo em meu consultório).
Quando escolhe um jogo, senta – se bem longe de mim , naturalmente, para que eu não descubra o que ela não sabe e nem o que ela sabe.
O que chama a atenção é que ela me disse que não sabia ler nem contar e eu “flagrei – a” lendo e fazendo cálculos.
Ponho – me a pensar sobre como esta menina que me diz ser chamada “a burrinha da casa “consegue acreditar que sabe fazer alguma coisa.
Digo isso para frisar sobre a importância da atenção e da valorização dos pais e dos educadores com relação a atitude da criança frente às situações.
Como a criança se comporta frente à outra?
Como ela se comporta diante de um jogo que envolva competição?
Como ela se comporta quando perde? Que atitude o adulto toma com relação a isso?
Não há instrumento que substitua o afeto.
E nós sabemos que muitos pais só cobram dos filhos o “saber”, sem valorizar o que eles sentem com relação ao saber que possuem e o que ainda não se acham capazes de aprender.
Sem afeto, a aprendizagem pode se tornar mais difícil e quando conseguimos aprender sem que a afetividade se faça presente, podemos nos tornar “robôs” e isso é muito sério.
A capacidade intelectual do ser humano pode ser usada para qualquer fim, sem medir conseqüências, o que pode ser um passo para a formação de um criminoso.
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O perigo pode começar a existir quando substituímos amigos reais por “amigos virtuais”.
Mas, se a criança for amada, os adultos responsáveis por ela saberão impor o limite necessário para o uso , tanto da televisão quanto do computador , inclusive auxiliando na escolha de jogos que não exercitem mais a violência do que a inteligência .
Então os aparelhos eletrônicos serão aliados e não vilões.
Bibliografia
FERNÀNDEZ, Alicia . A inteligência Aprisionada abordagem psicopedagógica clínica da criança e sua família; trad. Iara Rodrigues 2a reedição, Porto Alegre, Ed. Artes Médicas, 1991
GOLEMAN, Daniel. A Inteligência Emocional ; trad. Marcos Santarrita ,55a edição, Rio de Janeiro, Editora Objetiva Ltd.,1995
WEISS, Maria Lúcia Lemme. Psicopedagogia Clínica uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar , 3a edição, Rio de Janeiro Ed. DP&A , 1997
Autora
Teresinha Véspoli de Carvalho. Pedagoga, Psicopedagoga. E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.