A violência no cotidiano escolar e o papel do Psicólogo: um estudo teórico
A violência é um fenômeno significativo, relacionado ao contexto histórico, cultural e econômico, que atinge um número crescente de pessoas e é representada de inúmeras formas e em diversos contextos: família, trabalho, trânsito, sobretudo na escola.
RESUMO
A violência é um fenômeno significativo, relacionado ao contexto histórico, cultural e econômico, que atinge um número crescente de pessoas e é representada de inúmeras formas e em diversos contextos: família, trabalho, trânsito, sobretudo na escola. Este artigo utilizará como aporte o modelo teórico metodológico de Urie Bronfenbrenner, e a seguinte questão norteia este trabalho: quais são os principais aspectos que permeiam a violência dentro do contexto escolar e qual o papel do Psicólogo Escolar frente a essas questões? A violência em todos os âmbitos acontece quando há “a ruptura de um nexo social pelo uso da força” e é possível supor que a família e a escola tenham a função precursora na construção de uma sociedade pacífica ou violenta. Os educadores, bem como os profissionais da psicologia inseridos no contexto escolar, devem estar em consonância com a realidade dos alunos e também de suas famílias, adotando uma visão sistêmica do cotidiano, em que toda a gama social seja levada em conta, como fatores socioeconômicos e subjetivos.
Palavras-chaves: Violência escolar. Psicologia escolar. Escola. Violência.
ABSTRACT
Violence is a significant phenomenon, related to the historical, cultural and economic context, which reaches an increasing number of people and is represented in innumerable ways and in different contexts: family, work, traffic, especially in school. This article will use as a contribution the theoretical methodological model of Urie Bronfenbrenner, and the following question guides this work: what are the main aspects that pervade violence within the school context and what is the role of the School Psychologist in relation to these issues? Violence in all spheres occurs when there is “the breaking of a social nexus by the use of force” and it is possible to suppose that the family and the school have the precursory function in the construction of a peaceful or violent society. Educators, as well as psychology professionals within the school context, must be in line with the reality of students and their families, adopting a systemic vision of daily life, in which the whole social range is taken into account, such as socioeconomic factors And subjective.
Keywords: School violence. School psychology. School. Violence.
INTRODUÇÃO
A violência é um fenômeno significativo, relacionado ao contexto histórico, cultural e econômico, que atinge um número crescente de pessoas e é representada de inúmeras formas e em diversos contextos: família, trabalho, trânsito, sobretudo na escola. Pain (2010) afirma que ela pertence à antropologia humana fundamental, no sentido de que ela ocupa o primeiro plano da humanidade, desde sempre. Ela é uma das dimensões constitutivas da relação humana desde a origem do laço social.
Antes de tudo, é necessário distinguir a violência na escola, a violência à escola e a violência da escola. A violência na escola é aquela que se produz dentro do espaço escolar, mas que poderia ser realizada em outros ambientes. A violência à escola está ligada à natureza e às atividades da instituição escolar, ela visa atingir diretamente a instituição e aqueles que a representam. E a violência da escola refere-se à violência cometida pela instituição e seus agentes para com os alunos (CHARLOT, 2002).
Tendo em vista essa distinção da violência, nota-se que cada vez mais se normatiza e banaliza esta prática, seja ela a física, psicológica ou mascarada em forma de desenhos infantis, filmes de grandes bilheterias ou atos corriqueiros que não nos damos conta, mas que em última instância representam violência contra alguém. Com as mudanças históricas ocorridas, necessariamente no Brasil, e a incidência dos atos violentos, este assunto e seus desmembramentos viraram objeto de pesquisa de diversos campos, inclusive no da Psicologia Escolar.
Este artigo utilizará como aporte o modelo teórico metodológico de Urie Bronfenbrenner com a intenção de introduzir uma possibilidade de pesquisa onde o sujeito, seus contextos, tempos e respectivas interações são levados em consideração simultaneamente. O seu modelo é conceituado numa perspectiva ecológica, na qual indivíduo e contexto se relacionam e se definem de forma recíproca. Bronfenbrenner (1999 apud BHERING, SARKIS, 2009) diz que o foco de análise é a interconexão do contexto e do indivíduo e que desenvolvimento não é determinado por um processo unidirecional.
A criança está inserida no microssistema família e no microssistema escola e as relações que ela desenvolve em cada sistema, com seus pais e professores, são diferentes, tendo diferentes repercussões em seu desenvolvimento e modo de estar no mundo (BHERING, SARKIS, 2009). Portanto, para se analisar o fenômeno da violência, devem-se levar em conta os microssistemas e macrossistemas no qual a criança e adolescente estão inseridos, a fim de obter um olhar e análise mais ampla acerca da violência.
Quando um fenômeno como este atinge um espaço com ampla relevância social e que deveria garantir direitos, proporcionar proteção e cidadania, de fato necessita-se de um olhar profundo sobre suas causas e efeitos. Os tipos de violência deixaram de ser somente físicas, ou patrimoniais nas escolas, mas novas formas mais difíceis de serem identificados surgiram: a violência psicológica – como bullying, ameaças, humilhações, discriminações; a sexual (assédio, abuso, estupro) e a institucional, que se define pelas relações na estrutura organizacional da escola.
Tratar de violência na escola significa lidar com uma intersecção de elementos, isto é, um fenômeno de uma nova ordem e não simplesmente o somatório dos objetos “escola” e “violência”. É um fenômeno singular, pois envolve práticas sociais que, para serem compreendidas, requerem um olhar que não as conduza a meras extensões e práticas violentas ou escolares (ABRAMOVAY, 2002).
A preocupação com essas questões envolve todo o corpo docente e de profissionais que circunscrevem a área, sobretudo o psicólogo escolar, cujo trabalho tem enfoque principalmente nas relações sociais estabelecidas entre os membros da comunidade escolar, logo, seu campo de estudo é a raiz do problema da violência. Segundo Del Prette, (1996, apud BASTOS, 2008, p. 10511) a atuação do psicólogo escolar e educacional (PEE), “requer capacidade analítica para apreender as múltiplas relações que caracterizam a instituição escolar e os agentes nelas envolvidos e para identificar necessidades e possibilidades de aperfeiçoamento dessas relações”.
Tendo este foco, o trabalho do psicólogo escolar, em vista ao combate à violência, atua no estabelecimento de desenvolvimento de estratégias para a prevenção e promoção de diálogo entre as camadas sociais inseridas neste meio, usando de suas habilidades e competências técnicas e interpessoais para promover “construção de mecanismos de valorização, cujo funcionamento tem por finalidade o resgate das identidades dos diferentes atores sociais da realidade escolar, bem como a abertura de canais de expressão dos alunos, professores, pessoal técnico, família, etc.,” (BASTOS, 2008, p. 10511).
Bronfenbrenner (1989 apud BHERING, SARKIS, 2009),
pontua a necessidade de haver políticas públicas e ações que funcionem como suporte às atividades de educar crianças de forma ampla, abrangendo pais, cuidadores, professores, parentes, amigos, vizinhos, parceiros de trabalho e também as instituições políticas, econômicas e sociais da sociedade como um todo, em sintonia, para que o funcionamento efetivo de educar na família e em outros contextos seja pertinente e relevante (p.10).
Percebendo as capacidades técnicas para amenização do problema, a violência escolar demanda um entendimento do fenômeno social e subjetivo, que compele principalmente no campo da psicologia, que por seu arcabouço teórico e forma de atuação, consegue perceber que os atos de violência não são fenômenos isolados e buscam compreender sua origem e desmembramentos, movimentos que são limitados a outras áreas profissionais. Neste sentido, ressalta-se a importância de profissionais com essas competências na escola, quando se tem um movimento violento crescente estampado em jornais e revistas de todo país.
A seguinte questão norteia este artigo: quais são os principais aspectos que permeiam a violência dentro do contexto escolar e qual o papel do Psicólogo Escolar frente a essas questões? Assim sendo, o objetivo geral é identificar aspectos objetivos e subjetivos da violência escolar, assim como os fatores que envolvem e interferem nesse fenômeno, bem como elencar o papel do Psicólogo Escolar como profissional atuante neste contexto. Trata-se de um estudo teórico, abarcando estudos recentes e antigos que versam sobre a temática.
TIPOS DE VIOLÊNCIA NA ESCOLA
A violência em todos os âmbitos acontece quando há “a ruptura de um nexo social pelo uso da força”. Nega-se, assim, a possibilidade da relação social que se instala pela comunicação, pelo uso da palavra, pelo diálogo e pelo conflito segundo Sposito (1998, apud ABRAMOVAY; RUA, 2003, p. 22). A violência no contexto escolar, praticadas às pessoas deste meio, em todo seu significado, possui faces que se apresentam de forma física ou simbólica, entretanto ambas com gravidades equitativas. Dentro dessas faces os tipos específicos de violência se configuram de modo variado dependendo dos sujeitos em questão.
Nas escolas, a violência física é caracterizada por brigas, agressões, invasões, depredações, ferimentos, e até mortes, e os conflitos se registram entre vários atores: alunos e professores, alunos e funcionários etc. A violência simbólica é mais difícil de ser percebida, pois é exercida muitas vezes de forma sutil, sem necessariamente ser vista como violência por quem a sofre, ou seja, quando a vítima não se dá conta de sua impotência frente a poderes, nem exerce sua capacidade de crítica em relação a tal dinâmica. Por exemplo, a violência simbólica é exercida pela sociedade, por falta de encaminhamento dos jovens ao mercado de trabalho, por vedar as oportunidades para que desenvolvam sua criatividade e atividades de lazer. Acontece também quando as escolas impõem conteúdos destituídos de interesse ou quando os professores não se esforçam pela qualidade de suas aulas e não respeitam seus alunos, desvalorizando-os com palavras e atitudes de desmerecimento (ABRAMOVAY; RUA, 2003, p. 79).
Três esferas são delineadas nas faces físicas e simbólicas da violência, sendo elas: na face física, todo e qualquer dano físico que um sujeito da escola possa cometer contra si ou a outrem, tal como violência sexual, agressão, brigas propriamente ditas, uso de armas; na violência simbólica, tem-se um número mais abrangente: ameaça, racismo, xenofobia, bullying, cyberbullying, incitação de medo, depreciação, além das menos populares que é a institucional, ou seja, a violência que a instituição comete para com o aluno, proporcionando-lhe o ensino que não é suficiente para sua formação, ou a exercida pela instituição com os professores e funcionários, com a falta de respeito pela profissão, negligenciando-os quanto as formas dignas e próprias de trabalho, tirando a dignidade da execução da profissão. Além das formas mais discrepantes de violência, Abromovay (2005) destaca as “incivilidades e microviolências” que são formas rotineiras de se comportar que corrompem a dignidade do outro diariamente, que muitas vezes são mascaradas por “brincadeiras”.
Abramovay e Rua (2003) diante da pesquisa de coleta de dados realizada por eles apresentaram que cerca de 40% dos estudantes de São Paulo e Distrito Federal mencionam a ameaça como o tipo mais frequente de violência exercida na escola, sendo tal descrita como “promessas explícitas, de provocar danos ou de violar a integridade física ou moral, a liberdade e/ou bens de outrem”. As ameaças são cometidas pelos alunos para com os professores, em forma de extorsão por notas, muitas vezes, causando um mal-estar na dinâmica de sala de aula e insegurança nos professores. Elas também acontecem na dinâmica aluno-aluno, e, sobretudo é tênue a linha divisória entre a ameaça e a agressão física:
A agressão é um ato que implica uma brutalidade física ou verbal (agredire é aproximar-se, abordar, ataca-lo). A violência remete a uma característica desse ato, enfatiza o uso da força, do poder, da dominação […] a agressão violenta, na qual a força é utilizada muito além do que é exigido pelo resultado, com uma espécie de prazer de causar mal, de destruir, de humilhar (CHARLOT, 2002, p. 435).
Ao passo que se tem uma violência física causada por diversos motivos, muitas vezes banais, que levam o jovem a se apropriar e invadir o corpo do outro, no ambiente escolar, obtém-se a violência sexual, que começam por comportamentos sutis de desrespeito ao outro, assédio até o ato consumado ao corpo propriamente dito, em contrapartida Lisboa et al. (2002, apud INOUE; RISTUM 2008, p.15 ) colocam que “as crianças vítimas de violência deveriam encontrar, na escola, fatores de proteção que diminuíssem tanto a violência quanto o impacto dela sobre seu desenvolvimento”, o que não acontece muitas vezes, e o ambiente escolar, ao invés de proteção, propicia ao estudante um local de propagação desse tipo de violência até mesmo por parte dos educadores: “é uma das formas mais comuns de violência de professores contra alunos, principalmente contra mulheres, ainda que possa ocorrer entre os jovens ou envolver outros autores nas escolas. Inclui desde brincadeiras até estupros.” (ABRAMOVAY; RUA, 2003, p. 53).
Por fim, nos arcabouços teóricos, muito se discute acerca do bullying, como uma forma muito recorrente, atualmente, de violência. O assunto tem sido pesquisado e segundo Fante (2005, apud AIRES; FREIRE, 2012, p. 56):
[…] bullying um fenômeno que se refere a ações agressivas e gratuitas contra uma mesma vítima, que ocorrem num período prolongado de tempo e são marcadas pelo desequilíbrio de poder. Ele difere de outros tipos de agressões justamente pelo fato de ser um comportamento repetitivo, deliberado e intencional, não se referindo a divergências de ponto de vista ou de ideias contrárias que provocam desentendimentos e brigas.
A característica principal para a categorização deste fenômeno é a repetição em que os eventos de perseguição acontecem, e principalmente por a vítima se sentir ameaça e por medo de retaliação, não se manifestar ante aos atos violentos, causando insegurança, abandono as mesmas, ao passo que causa a sensação de poder e impunidade aos agressores. As práticas violentas vão desde questões mais sérias, até “fofocas”, manipulações, exclusões de grupos de amizade, que causam uma tortura emocional àqueles que são vítimas de tais. Segundo Bastos e Moreira, 2015, p.450) os casos de ideação suicida relacionados ao bullying entre adolescentes de 15 a 19 anos vão de 18,0%.
Segundo Abramovay e Rua (2002), dentre os tipos de violência recorrentes no ambiente escolar, a ocorrência de furtos e roubos, ambos referentes à subtração de bens (embora no furto a ação não seja percebida no momento), são frequentes, levando aos sujeitos da escola a banalizarem a injustiça desses atos.
Os pequenos furtos são praticados, na maioria das vezes, por alunos e outros integrantes do corpo escolar, que subtraem material escolar – caneta, borracha e estojo, pequena quantidade de dinheiro, celulares e bolsas. Os furtos e os roubos de objetos de mais valor (carros, grandes quantidades de dinheiro, material eletrônico/tecnológico) são muitas vezes ocasionados por pessoas externas à comunidade escolar, que invadem seu espaço e cometem os crimes (ABRAMOVAY; RUA, 2002. p. 277).
Outro modo de exercer a violência é institucionalizando-a. Essa categoria de violência é caracterizada pela sutileza, e é preciso uma ampla análise para desvelá-la. A violência institucional é realizada pelos professores, em suas relações no ambiente escolar; no modo como a coordenação se posta em resposta às demandas escolares; nos conteúdos passados e nos métodos utilizados; no trato dos alunos com seus colegas.
Quando o professor não exerce bem sua função – negligenciando os alunos e suas dificuldades e questões; não se preparando para as aulas, oferecendo conteúdos desatualizados e irrelevantes; não abrindo espaço para diálogo com seus alunos e colegas; mantendo uma postura autoritária e preconceituosa – este pode ser considerado um agente da violência institucional, pois reforça maus estereótipos e comportamentos deveriam ser indesejados no ambiente escolar, além de propiciar uma visão errônea a seus alunos sobre o que, e como, é o processo educacional e de aprendizagem. O mesmo fardo pode ser atribuído aos coordenadores e diretores, que apesar de, na maioria das vezes, não ministrarem aulas, estão continuamente em contato com a equipe docente e, se forem negligentes em ouvir suas queixas e trabalha-las, estarão sendo coniventes com as injustiças, banalizando a pratica da violência na instituição.
Em resposta a esse ultimo tipo de violência, é comum a ocorrência de destruição do espaço e do equipamento escolar, representada por atos de pichação, depredação de muros, janelas, paredes e carros dos professores e coordenadores. Isso demonstra a necessidade de chamar atenção, de exibir-se para os colegas, expressar revolta (ABRAMOVAY; RUA, 2002. p. 284).
O PSICÓLOGO ESCOLAR E A CULTURA DE PAZ
É extremamente necessário que haja uma percepção da escola e de seus problemas no sentido da causalidade circular, a partir de um pensamento sistêmico (ANDRADA e CATARINA, 2005) Pode-se, desse modo, pensar como possibilidades de atuações do psicólogo na escola a aplicação de conhecimentos psicológicos que envolvam o processo de ensino-aprendizagem, o desenvolvimento humano, as relações interpessoais e a integração família-comunidade-escola, tudo isto objetivando a promoção integral do Ser humano (Andrada, 2005). Todo esse complexo movimento que deve ocorrer dentro do contexto educacional, por meio do psicólogo, deve ser realizado afim de que a Cultura de Paz seja promovida.
Partindo do pressuposto de Morin (1999 apud MILANI, 2003) onde ele afirma que a violência e a paz não são inerentes ao ser humano, mas são aprendidas ao longo da vida e fomentadas pela cultura; é possível supor que a família e a escola tenham a função precursora na construção de uma sociedade pacífica ou violenta.
A Cultura de Paz visa promover as mudanças indispensáveis para que a paz seja o princípio governante das relações humanas e sociais. Isto não significa que nesta Cultura a violência e os conflitos internos sejam omitidos, mas sim resolvidos de forma pacífica e justa. Justiça e equilíbrio nas relações – entre nações, classes e meio ambiente – é a essência de tal cultura (MILANI, 2003). UNESCO (2003 apud MILANI, 2003) explica que
a Cultura de Paz se constitui dos valores, atitudes e comportamentos que refletem o respeito à vida, à pessoa humana e à sua dignidade, aos direitos humanos, entendidos em seu conjunto, interdependentes e indissociáveis. Viver em uma Cultura de Paz significa repudiar todas as formas de violência, especialmente a cotidiana, e promover os princípios da liberdade, justiça, solidariedade e tolerância, bem como estimular a compreensão entre os povos e as pessoas (p. 36).
Falar da Cultura de Paz é contrapor a cultura atual tão arraigada a pressupostos excludentes e sensacionalistas provindos, principalmente, da mídia manipuladora. Tal cultura vê a violência como: superior à vontade humana; unicausal; os ‘maus elementos’ e os jovens sendo os responsáveis por todas as violências; e a pobreza estando diretamente ligada à violência. Afirma ainda que: a repressão é o antídoto para a violência; a violência dentro da escola é apenas o reflexo da social; a transmissão de conteúdo é o cerne do processo educativo em sala de aula; falar de violência resolverá o problema; e cabe ao diretor/a resolver (sozinho/a) o problema da violência escolar (MILANI, 2003).
Demolir tais pressupostos equivocados é elementar para se conceber um programa de promoção da Cultura de Paz. Sendo a escola, assim como a família, o ambiente de formação humana, faz-se necessário que esta Cultura seja propagada também, e principalmente, nesta instituição. Assis (1999 apud MILANI, 2003) afirma em sua pesquisa que
Há escolas que contribuem efetivamente para a formação de cidadãos e a prevenção da violência, enquanto outras, por não assumirem sua missão ou não atuarem de forma consistente e continuada, terminam se tornando mais uma peça no quebra-cabeças da exclusão, violência e marginalização (p. 42).
Portanto cabe a escola não somente a transmissão de conhecimentos técnicos, mas a formação moral, ética e cidadã por meio de programas que abranjem questões latentes de cada faixa etária de seus alunos, bem como diálogos e atividades reflexivas sobre o uso de drogas; a importância da integração entre eles; o fortalecimento da autoestima, identidade pessoal e cultural; e o respeito ao diferente. Neste sentido o psicólogo escolar, quando atuante na escola, tem a importante tarefa de construir e aplicar tais programas, utilizando oficinas lúdicas, sociodramatização, arte terapia e diversos outros instrumentos oferecidos pela Psicologia. Em suma, o trabalho do psicólogo escolar pode proporcionar ou facilitar a comunicação entre pais, filhos/alunos e escola, mediando e instruindo os mesmos no esclarecimento de suas questões, promovendo fatores de proteção e auxiliando na resolução de problemas, direcionando para as questões de cidadania, valores de vida e na conscientização e promoção da Cultura de Paz.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
Pode-se dizer que o objetivo geral deste artigo foi alcançado totalmente e que por meio da revisão da literatura realizada, com a finalidade de absorver elementos teóricos para fomentar a elaboração do presente artigo, observou-se que o fenômeno da violência na sociedade apresenta-se como um complexo mecanismo que possui uma dimensão histórica e desafiadora, permeando um amplo espectro de setores e relações sociais e corroborando com o que o autor Pain (2010) afirma, quando o mesmo atribui à violência aspectos históricos e culturais.
O cenário contemporâneo demanda um grande desafio para a resolução dos conflitos, na medida em que novas configurações e expressões de atitudes violentas solicitam aos profissionais das áreas da educação a desenvolverem cada vez mais habilidades e competências ante a violência. Ao compreender a importância da educação na prevenção das violências, o papel desses profissionais ganha expressivo destaque no contexto atual.
O ambiente escolar, como grande meio de comunicação interpessoal, de desenvolvimento de relações e saberes, deve ser modelo exemplar na promoção do respeito e igualdade perante as diversidades, bem como contribuir para uma maior autonomia de seus alunos e suas pluralidades, a favorecer o desenvolvimento da cidadania, convivência e respeito entre pares e de afirmação dos direitos sociais. Nesse aspecto, as políticas públicas possuem papel construtivo na função de fomentar a igualdade de direitos e colaborar para uma sociedade mais madura e pacífica (BRONFENBRENNER 1989 apud BHERING, SARKIS, 2009).
Nesse sentido, os educadores, bem como os profissionais da psicologia inseridos no contexto escolar, devem estar em consonância com a realidade dos alunos e também de suas famílias, adotando uma visão sistêmica do cotidiano, em que toda a gama social seja levada em conta, como fatores socioeconômicos e subjetivos. Assim, faz-se necessário ressaltar que o trabalho de combate às inúmeras faces da violência deve ser não mais de caráter remediativo, mas sim preventivo, no qual seja promovida uma cultura de paz, democrática e de políticas públicas eficientes e que acolham as vulnerabilidades.
Logo, os profissionais inseridos nos contextos educacionais, enquanto agentes transformadores de uma sociedade necessitam estar capacitados para trabalhar de forma contínua e processual o fenômeno das violências, ao passo que a educação é uma potente ferramenta para a promoção dos direitos humanos e da emancipação e autonomia do respeito e igualdade não somente nas escolas, mas na sociedade como um todo.
Por fim, a realização do presente artigo, fornece subsídios teóricos para a formação acadêmica, na medida em que a temática da violência tão recorrente na sociedade contemporânea é elucidada e trabalhada em prol de novos estudos e contribuições para o desenvolvimento profissional e intelectual, a contribuir para o progresso da cidadania e de uma cultura de paz.
REFERÊNCIAS
ABRAMOVAY, M.. Violências nas escolas. Brasília: UNESCO Brasil, 2002.
ANDRADA, E. G.. Novos Paradigmas na Prática do Psicólogo Escolar. Psicologia: Reflexão e Crítica, Santa Catarina, v. 18, n. 2, p. 196 -199, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/prc/v18n2/27470.pdf>. Acesso em: 29 maio de 2017.
AIRES, J; FREIRE, A. A contribuição da psicologia escolar na prevenção e no enfrentamento do Bullying. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, v. 16, n. 1, p. 55-60, Jan./Jun.2012.
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BRASIL. Ministério da Educação. Debate: violência, mediação e convivência na escola, 2005.
INOUE, S; RISTUM, M. Violência Sexual: caracterização e análise de casos revelados na escola. Estudos de Psicologia, v. 25, n. 1, p. 11-21, Jan./Mar. 2005.
MILANI, F. M. Cultura de Paz x Violências Papel e desafios da escola. In: MILANI F. M.; JESUS R. de C. D. P. (Orgs.) Cultura de Paz: Estratégias, Mapas e Bússolas. Salvador: INPAZ, 2003, p. 31 – 60.
MOREIRA, L; BASTOS, P. Prevalência e fatores associados a ideação suicida na adolescência: revisão de literatura. Revista Quadrimestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, v. 19, n. 3, p. 445-453, Set./Dez. 2015.
PAIN, J. Os Desafios Da Escola Em Face Da Violência E Da Globalização: Submeter-Se Ou Resistir? In: SILVA, J. M. A. P., SALLES, L.M.F. Jovens, Violência E Escola: Um Desafio Contemporâneo. São Paulo: Editora UNESP, 2010, p. 1-26.
Autores
1Afonso Nogueira da Cruz é graduando de Psicologia, membro do Grupo de Pesquisa Desempenho Acadêmico e Metodologias Aplicadas (DAMA) e ex-monitor do LAP (Laboratório de Avaliação Psicológica), no Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL), Campus Lorena. E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
2Alice Aparecida Cornélio é graduanda de Psicologia, monitora do LAP (Laboratório de Avaliação Psicológica), no Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL), Campus Lorena. E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
3Antonia Cristina Peluso de Azevedo é Doutora em Psicologia Escolar pela Pontifícia Universidade Católicas de Campinas. Coordenadora do Serviço de Psicologia Aplicada do Centro UNISAL – U.E. de Lorena. Criadora e responsável geral pelo Núcleo Psicopedagógico de Diagnóstico e Intervenção e pela brinquedoteca Psicopedagógica do Serviço de Psicologia Aplicada do curso de Psicologia, Centro Unisal de Lorena e Coordenadora do Grupo de Pesquisa Desenvolvimento Humano e Saúde Mental (DHSM). Professora titular do Centro Unisal de Lorena.
4André Luiz Monteiro de Souza Netto é graduando de Psicologia no Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL), Campus Lorena. Foi bolsista de Iniciação Científica (PIBIC-CNPq). Integrou o Grupo de estudos do Observatório de Violências nas Escolas e foi Monitor Voluntário em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem – Psicomotricidade no curso de Pedagogia do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL/Lorena, SP). E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
5Aryádna Bittencourt de Souza Raspante é graduanda de Psicologia, ex-monitora do LEP (Laboratório de Estudos e Pesquisas), e membro dos Grupos de Pesquisa Desempenho Acadêmico e Metodologias Aplicadas (DAMA) e Desenvolvimento Humano e Saúde Mental (DHSM), no Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL), Campus Lorena. E foi bolsista de Iniciação Científica (CNPq – 2017). E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
6Marcela Ribeiro Barbosa é graduanda de Psicologia, no Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL), Campus Lorena. E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
7Rodrigo Barcelos Gabriel Rodrigues é graduando de Psicologia no Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL), Campus Lorena. E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
8Sabrina da Silva Correa é graduanda de Psicologia, membro do Grupo de Pesquisa Desenvolvimento Humano e Saúde Mental (DHSM), no Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL), Campus Lorena. Atualmente é bolsista de Iniciação Científica (CNPq – 2017). E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.