3264 A Importancia Do Sentido Da Vida Em Idosos Institucionalizados

O estudo pretendeu analisar o sentido da vida na visão de idosos institucionalizados, com a realização de uma busca sistemática na literatura da base de dados eletrônicos. 

The Meaning Of Life In Elderly Institutionalized

Resumo

A expectativa de vida segue em vertiginoso crescimento, nesse cenário, o idoso encontra-se como uma parte cada vez mais expressiva da sociedade. Desta forma, vem crescendo exponencialmente o número de instituições que buscam dar não apenas abrigo a esses idosos, mas auxiliá-los na passagem de sua última fase da vida, no entanto, muitas vezes se questiona como funciona a forma de viver destes, assim como o seu sentido de vida. A partir desses conhecimentos, o presente trabalho teve por objetivo principal analisar o sentido da vida na visão de idosos institucionalizados. Foi realizada uma busca sistemática na literatura da base de dados eletrônicos, tendo como prioridade os estudos com publicação no período entre janeiro de 2010 a julho de 2015. Um dos pontos comuns abordados na literatura relata que ficar sozinho nessa etapa da vida, é um acontecimento muito comum, bem como condições financeiras baixas e o surgimento de doenças que requerem maior cuidado e mudança de hábitos diários.  Dessa forma, os artigos que compõem a presente análise relatam que esses fatores citados, viuvez e abandono dos familiares, fazem com que os idosos residam nas instituições de Longa Permanência (ILPs).

Palavras-chave: Idosos; Institucionalização; Sentido da vida;

Abstract

Life expectancy follows in rapid growth, in this scenario, the elderly lies as a part increasingly expressive of society. In this way, comes exponentially growing number of institutions that seek to not only shelter to these seniors, but assist them in moving from their last stage of life, however, often wonders how the way of life of these, as well as their sense of life. From this knowledge, the present study was meant to examine the meaning of life in view of institutionalized elderly. It performed a systematic literature search of the electronic database Scholar, prioritizing the studies published between January 2010 and July 2015. One of the common issues addressed in the literature reports to be alone at this stage of life, It is a very common event, as well as low financial conditions and the emergence of diseases that require extra care and change in daily habits. Thus, the articles that make up this analysis report that these aforementioned factors, widowhood and abandonment of family, make the elderly residing in long-stay institutions (ILPS).

Keywords: Elderly; Institutionalization ; Sense of life;

INTRODUÇÃO

É de conhecimento geral que a população está vivendo mais. Segundo uma projeção apresentada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a população tinha, em 1991, uma expectativa de vida ao nascer de 66,93 anos, em média. De acordo com o mesmo estudo, ao gerar projeções para o ano de 2030, ocorre um salto para 78,33 anos (IBGE, 2006). Entende-se que a faixa populacional onde essa expectativa de vida se encaixa é a da população idosa, onde, de acordo com os dados supracitados, há uma permanência cada vez maior da população nessa fase.

A idade considerada idosa pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é estabelecida conforme o nível sócio-econômico de cada nação. Em países em desenvolvimento, é considerado idoso aquele que tem 60 ou mais anos de idade (Who, 2002), nos países desenvolvidos, a idade se estende para 65 anos. No Brasil o crescimento da população idosa tem aumentado de forma progressiva, hoje são 15 milhões de idosos e a estimativa para 2020, poderá exceder 30 milhões, chegando a representar quase 13% do total da população brasileira (IBGE, 2002).

Segundo Mendes et. al, 2005, envelhecer é um processo natural que caracteriza uma etapa da vida do homem e dá-se por mudanças físicas, psicológicas e sociais que acometem de forma particular cada indivíduo com sobrevida prolongada. Desta forma, entende-se que, cada vez mais, o crescimento da população idosa vem tomando força e forma, demandando cuidados, nesse cenário, novas formas de intervenção na saúde do idoso foram desenvolvidas.

Dentre elas, destacam-se os grupos de promoção da saúde, definidos como uma intervenção coletiva e interdisciplinar para o fortalecimento da autonomia, independência na realização das atividades, assim como uma melhor qualidade de vida (Tahan & Carvalho, 2010). Assim, considerando que a longevidade é um fato dos tempos atuais que traz consigo a necessidade de adaptação frente às perdas que ocorrem ao longo da vida, faz-se necessário entender melhor o processo de envelhecimento.

O envelhecimento

Já em meados da década de 1980 ouviam-se comentários acerca das mudanças que vinham ocorrendo no perfil da população mundial, dando destaque para o aumento na expectativa de vida, na proporção de idosos e na composição populacional. O declínio das taxas de fecundidade e de mortalidade infantil, somado ao desenvolvimento tecnológico no tratamento de doenças, especialmente as crônicas, têm propiciado o envelhecimento populacional em um curto espaço de tempo (Braz, 2009).

O fenômeno do envelhecimento tem apresentado crescente interesse da comunidade científica tendo em consideração que, segundo Rebelatto e Morelli (2004) a observação do crescimento da população idosa tem proporcionado problemas diversos relacionados ao elevado custo da assistência ao idoso. De acordo com o Estatuto do Idoso (2003), que rege lei elaborada pelo Senado Federal, idoso é toda pessoa com idade acima de 60 anos.

Apesar de ser um processo natural, o envelhecimento submete o organismo a alterações anatômicas e funcionais, com repercussões nas condições de saúde do idoso. Esse prolongamento da vida significou, de forma geral, numa piora da qualidade de vida, com importantes consequências no nível de saúde dessa população, com modificações nos padrões de morbimortalidade e de seus determinantes (Vecchia, 2005). O conceito de envelhecimento é dado por Rodrigues, Marques e Fabrício (2000) como sendo um processo que acontece de forma dinâmica e progressiva, havendo modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas, que determinam a perda progressiva da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, havendo também as alterações fisiológicas em nível individual, e ainda alterações nos processos psicológicos.

Dessa forma, no Brasil, os cuidados aos idosos são prestados pela família e, na falta desta, por amigos e vizinhos; contudo, por não existir programas formais vinculados ao Estado que prestem amparo a essas pessoas que não possuem assistência da família, a institucionalização ainda é a principal opção (Camargos, Rodrigues & Machado, 2011). Em países desenvolvidos a institucionalização é uma escolha para sujeitos de idade avançada e com dificuldade de se manterem independentes ou para os que necessitam de cuidados médicos, cabendo assim, avaliar as instituições em que esses idosos são inseridos.

As instituições de longa permanência

As instituições de longa permanência (ILPS) para idosos têm como compromisso suprir as necessidades básicas dos idosos, proporcionando-lhes uma melhor qualidade de vida, garantindo condições dignas de moradia, com profissionais qualificados para a prestação de serviços e uma atenção integral a saúde. Contudo, nem sempre lhes são oferecidos esses serviços, muitas vezes por falta de mão-de-obra especializada, problemas financeiros, ou até mesmo pela restrição de espaço físico (Díaz & Orozco, 2002).

Os idosos são obrigados a seguir a rotina de horários e dividir o ambiente com desconhecidos além de ficar distante da sua família. Dessa forma, a tendência é priorizar as necessidades fisiológicas e desprezar as necessidades psicoemocionais o que pode desencadear problemas de angústia e depressão, deixando-os suscetíveis a outras patologias (Chehuen Neto et. al., 2011).

As instituições de longa permanência para idosos são geralmente locais inapropriados e inadequados às necessidades do idoso, vindo a dificultar as relações interpessoais indispensáveis à manutenção do idoso pela vida e pela construção da cidadania (Silva & Santa Clara, 2003). Dessa forma, tendem a promover seu isolamento, sua inatividade física e mental, tendo consequencias negativas à sua saúde (Davim et. al., 2004).

Essas Instituições no Brasil, segundo Tomasini e Alves (2007), apresentam uma realidade precária, isto é, estão muito abaixo das condições mínimas para o envelhecimento bem-sucedido. Assim, à medida que as pessoas envelhecem e têm suas capacidades reduzidas à adaptação aos espaços, torna-se uma pressão maior e constante sobre seu comportamento cotidiano. Quando o idoso passa a residir nestas instituições, ele tem uma drástica redução dos ambientes físico e social.

Ribeiro e Schutz (2007) pontuam que as Instituições de Longa Permanência (ILPs) são uma modalidade antiga que assiste o idoso fora do seu convívio familiar, traz isolamento, inatividade física e mental, e, por conseguinte uma redução da qualidade de vida. A institucionalização tornou-se uma realidade atual, pois acolhe uma demanda cada vez maior de idosos gerada por fatores demográficos, sociais e de saúde.

Assim, o idoso nas ILPs se estabelece, na maioria das vezes, como membro de um grupo que foi privado de seus projetos por encontrar-se afastado da família, da casa, dos amigos, das relações nas quais sua história de vida foi construída. As perdas são muitas, o que justifica a grande incidência de estados depressivos, sentimentos de solidão e limitações das possibilidades de uma vida ativa. Nesse cenário, as ILPs ainda constituem um desafio, pois ao mesmo tempo em que cuidam, afastam o idoso de seu convívio familiar (Marin, Miranda, Fabbri, Tinelli, & Storniolo, 2012).

Considera-se que a chegada do idoso nas ILPs parece exigir uma adaptação tecida pelo emaranhamento de sentimentos que produz distância e causa estranheza, que impõe o pensar em solidão, o conformismo, o abandono, assim como a segurança e o compartilhamento mesclados nas lembranças e na realidade advinda das rotinas desses residentes (Creutzberg, Gonçalves & Sobottka, 2008). Sendo assim, esses idosos tentam encontrar um sentido para a vida, diante dessas situações em que se encontram inseridos.

O sentido da vida na 3º idade

O sentido de vida (SV), enquanto construto psicológico, foi inicialmente teorizado e divulgado pela Logoterapia. Ao longo de sua obra, Frankl sugeriu que a busca por sentido era a principal motivação do ser humano, e que o SV seria um componente fundamental tanto para o bem-estar psicológico quanto para o físico das pessoas (Damásio, 2010).

O sentido da vida tem sido abordado pela teoria elaborada por Viktor Frankl, a Logoterapia e análise existencial, tem demonstrado que um alto índice de sentido de vida se relaciona diretamente com o bem estar psicológico das pessoas, posto que é fundamental ao ser humano atribuir um sentido à própria vida (Damásio, 2010). Sentido de vida pode ser definido como a percepção de ordem e coerência na própria existência, aliada à busca e ao cumprimento de metas/objetivos significativos, que resulta na sensação de realização existencial (Reker, 2000; Steger, 2009).

Para Frankl, seria imprescindível que as pessoas tivessem clara noção sobre o propósito da própria existência e, mais que isto, que agissem no mundo em consonância com esta percepção, constituindo um senso de coerência existencial (Steger, 2009). Décadas de pesquisas têm corroborado os principais postulados de Frankl, demonstrando que o SV é um importante preditor de saúde física (Jim & Andersen, 2007), de bem-estar psicológico e de qualidade de vida (Fillion et al., 2009; Melton & Schulenberg, 2008).

Já a falta de sentido tem sido relacionada com maiores níveis de depressão (Mascaro & Rosen, 2006), ideação suicida (Edwards & Holden, 2001), dentre outros. Ainda nessa perspectiva, analisar os recursos psicossociais dispostos aos idosos em nossa sociedade atual torna-se fundamental quando se pensa em promoção de saúde e em novas formas de intervenção nesse público.  Dessa forma, torna-se necessário conhecer o panorama atual do envelhecimento atual, colocando em evidência os recursos dispostos a esses idosos e que lhes favoreçam para a percepção de sentido da própria vida (McKnight & Kashdan, 2009). Nessa temática, Frankl (2004) afirma que a religiosidade proporciona uma sensação de amparo, e como efeito colateral promove efeitos psico-higiênicos.

Com o passar dos anos, o número de perdas de pessoas queridas, o afastamento de suas atividades triviais, levam o idoso a um questionamento sobre a vida e seu sentido. Pergunta essa que só pode ser respondida a partir da própria vida, de quando o sujeito assume responsabilidades. Esses mesmos questionamentos podem ou não conduzir o idoso à construção de novos sentidos de vida, que podem acontecer a partir da criação e execução de um trabalho ou prática de um ato; experimentando algo ou encontrando alguém para amar; ou pela atitude que toma em relação ao sofrimento inevitável (Frankl, 2003).

Partindo desse pressuposto, este estudo analisou o sentido da vida na visão de idosos institucionalizados. Buscou-se ainda nesse estudo, maior subsidio para caracterizar o sentido da vida em idosos institucionalizados e identificar a relação entre o sentido da vida e o afeto nesses idosos.

MÉTODO

Realizou-se uma busca sistemática na literatura da base de dados eletrônicos, durante o mês de agosto de 2015. A referida busca teve como prioridade os estudos com publicação no período entre janeiro de 2010 a julho de 2015, levando em consideração a visibilidade assumida pelo tema nos últimos cinco anos, através dos seguintes descritores: o sentido da vida; idosos institucionalizados.

Com o objetivo de definir claramente a adequação da literatura encontrada para esse estudo de revisão, foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão dos estudos: a) abordar no estudo, pesquisas realizadas com idosos institucionalizados; b) ter sido publicado entre janeiro de 2010 a julho de 2015; c) ter sido publicado em português; d) ter incluso nos estudos o sentido da vida para idosos ou a abordagem da logoterapia. Além de eliminar artigos que não fossem condizentes com os parâmetros listados acima, os critérios de exclusão foram: a) ser publicação sem dados originais e editoriais; b) estudos não disponibilizados no formato fulltext; c) serem anais, artigos teóricos ou capítulos de livros.

Após a leitura dos resumos, foi realizada uma seleção de acordo com os critérios estabelecidos. A extração dos dados dos artigos selecionados foi realizada por dois revisores. De cada estudo que compõe a análise foram extraídas as seguintes informações: referência, título, objetivo e conclusão do estudo.

RESULTADOS

Na primeira busca, com o uso das palavras escolhidas: utilizando os descritores “sentido da vida” e “idosos institucionalizados” de forma adicionada, foram identificados resultados na base de dados Google Acadêmico com 317 citações. Em seguida foram descartadas 108 por estarem fora do período estabelecido e 2 por não serem escritos no idioma português. Ficando um total de 207 citações, e após uma busca mais criteriosa, analisando a partir dos critérios de inclusão e exclusão, foram descartados mais 196 por não abordarem nos estudos, pesquisas realizadas com idosos institucionalizados e não abordarem o sentido da vida para esses idosos ou a abordagem da logoterapia e 9 foram também excluídos por não serem disponibilizados no formato fulltext. A extração dos dados dos dois estudos finais que cumpriram os critérios de inclusão foi realizada por dois revisores que podem ser vistos na Figura 1.

 

 

Tabela 1: Esquema das fases de seleção dos artigos.

Ao analisar os estudos específicos em cada um dos artigos é possível identificar algumas variações em relação ao tipo de pesquisa e seus achados frente aos objetivos propostos. Conforme pode ser observado na Tabela 1.

Referências

 

Título

Objetivo

Conclusão

Carmo, Rangel, Ribeiro & Araújo (2012).

Idoso institucionalizado: o que sente, percebe e deseja?

Identificar o que esse idoso sente, percebe e deseja diante de todas essas mudanças, evidenciando os sentimentos que o envolvem.

Apesar de tanta tecnologia e evolução, ainda existe um grupo de pessoas que, sem apoio da sociedade e da família, quer viver, ser feliz, tem sentimentos, desejos, percebe que seu espaço diminui e, sem alternativa, vê restar para si a institucionalização.

Oliveira & Alves (2014)

A qualidade de vida dos idosos a partir da influência da afetividade: cuidados prestados aos idosos institucionalizados em Caetité (BA)

 

Enfatizar a importância da assistência prestada à pessoa idosa institucionalizada, no que diz respeito a aspectos que abranjam não só os cuidados com o corpo e mente, mas também a relação com familiares.

 

Os idosos institucionalizados são carentes de afeto por parte de suas famílias e se apegam fortemente às questões religiosas e espirituais para enfrentar os muitos desafios diários, em especial, os naturais da vida senil.

Tabela 1: Artigos relacionados ao sentido da vida em idosos institucionalizados

DISCUSSÃO

Este estudo teve como objetivo analisar, por meio de uma revisão sistemática da literatura, pesquisas sobre o sentido da vida na visão de idosos institucionalizados, identificando a relação entre o sentido da vida e o afeto nesses idosos. O envelhecimento populacional é crescente a cada ano e isso implica enfrentar problemas de ordem social e de saúde. Quando se fala, principalmente, em saúde, deve se ter a preocupação com a essência do cuidar, uma das características do ser humano,que, além de cuidar de si mesmo, cuida também do outro (Oliveira & Alves, 2014).

Cuidar de uma pessoa idosa exige uma atenção permanente, cuidados especializados e assistenciais, e só tem sentido se estiver integrado com princípios técnicos e humanos, indispensáveis para a valorização da vida. Para Vieira (2009, p.75) o cuidado assistencial é o ato ou tarefa de zelar pelo bem-estar de alguém, prestando-lhe assistência, assumindo a responsabilidade e os encargos inerentes a esse ato. Um dos pontos comuns abordados na literatura relata que ficar sozinho nessa etapa da vida, é um acontecimento muito comum, bem como condições financeiras baixas e o surgimento de doenças que requerem maior cuidado e mudança de hábitos diários.

Dessa forma, os artigos que compõem a presente análise relatam que esses fatores citados, viuvez e abandono dos familiares, fazem com que os idosos residam nas instituições de Longa Permanência (ILPs). Corroborando com esses dados, Caldas (2002) relata que alguns fatores podem levar à institucionalização dos idosos, como a solidão por não terem família, o celibatismo, a viuvez e o fato de não terem filhos, ou, quando os têm, por estes residirem distantes, por falta de recursos financeiros para prover o cuidado adequado etc.

Na visão de Cortelleti, Casara e Herédia (2004) a institucionalização leva o idoso a substituir suas representações sociais por novas, que se caracterizam pela perda do convívio familiar e pelo rompimento com vínculos afetivos. Na pesquisa de Carmo, Rangel, Ribeiro e Araújo (2012), apesar de o ambiente institucional ser distante de um ambiente familiar, os participantes do estudo o veem como um lugar agradável e preferem viver ali a viverem sozinhos. Nos resultados obtidos foi possível destacar que 50% dos idosos são institucionalizados por familiares sem que houvesse lhe sido dada oportunidade de escolha.

Oliveira e Alves (2014) em sua pesquisa respaldam que os idosos que vivem em ILPs vivenciam, muitas vezes bruscamente, uma ruptura familiar de alguns vínculos afetivos e acaba se afastando da vida que considerava normal, passando a conviver com indivíduos com os quais não tem nenhum tipo de relacionamento afetivo, demonstrando maior carência afetiva, apresentando incapacidades físicas e mentais em maior proporção em relação aos outros idosos. Os autores supracitados constatam ainda que o idoso encaminhado para instituições podem apresentar sinais sugestivos de depressão, alteração do nível de consciência, alienação, despersonalização e senso de isolamento e de separação da sociedade.

Um dos maiores receios dos idosos é pelo fato de seus filhos possuírem meios socioeconômicos suficientes para poder lhe dar a atenção que necessita, mas não o fazem. Na pesquisa realizada por Carmo, Rangel, Ribeiro e Araújo (2012) os idosos explicitam a tristeza de terem sido desprezados pelos filhos e terem de ficar na instituição, enquanto os filhos usufruem de uma vida boa e feliz lá fora. A família por motivos pessoais, como falta de amor, carinho, respeito, consideração, ou financeiros, desliga-se do convívio do seu idoso, deixando-o em uma ILPs, não levando em conta o enorme sofrimento que lhe impõe. Segundo Petrilli (2001), a vida no asilo impede que a pessoa tenha o controle de sua vida, conformando se com sua nova condição existencial, tendo que se adaptar às normas e rotina da instituição, passando a viver de modo sofrido.

Apontaram-se nas pesquisas, que os idosos moradores de ILPs observam o tempo e o espaço de uma forma um pouco diferente da sociedade, percebendo o tempo como algo mais devagar, mais lento do que a sociedade está acostumada a vivenciar. Oliveira e Alves (2014) relatam que o cotidiano dos idosos é um tanto quanto ritmado, normatizado por horários que definem à hora de se levantar, comer, tomar banho, receber visitas ou de ser medicado, porém alguns idosos tentam modificar esta rotina, esse cotidiano com atividades diferentes as que estão acostumados.

Nesse contexto Araújo, Coutinho e Saldanha (2006) expõem que o papel da família é fundamental para que o idoso sinta-se amparado, e não marginalizado. O desaparecimento desses laços traduz-se em limitação da capacidade de movimento e em deterioração do seu estado moral e de saúde. Segundo Malkinson e Bar-Tur (apud Haddad, 2008), as perdas não são representadas somente pela morte em si, mas também por diversas “pequenas mortes” ao longo das fases evolutivas, perda do emprego, da posição social, de residências, entre outras, incluindo as relacionadas aos papeis que devem ser abandonados no decorrer da infância, da adolescência, da vida adulta e da velhice.

A solidão e falta de afetividade são um dos maiores desafios que o ser humano podem enfrentar. Nos idosos eles estão mais latentes, pois na maioria dos dias vivem em constante rotina e isolamento pessoal. Por ser assim, envelhecer é fonte de muita angústia e tristeza, onde os idosos procuram um sentido para vida, uma forma de dar entusiasmo ao seu viver. Em sua pesquisa Oliveira & Alves (2014), cita que é através da espiritualidade que os idosos se conectam com o divino e procuram dar sentido e entusiasmo ao seu viver.  Alcântara (2004) explica a concentração de atividades religiosas, afirmando que a velhice compreende melhor o sentido da vida humana, porque a espiritualidade se aguça nesse período da existência, fazendo que as pessoas busquem mais a Deus e as práticas religiosas e consequentemente, vivam com mais qualidade de vida, resultado da aceitação das dificuldades vivenciadas.

Nos dados colhidos, existem semelhantes ideias por parte dos idosos a respeito das práticas religiosas. Há aqueles que se apegam à religião e seus dogmas e costumes de forma bem arraigada, como também existem os que a praticam por mera rotina; isso não foi determinante, porém, para que houvesse perdas no sentido de terem mais ou menos qualidade de vida, já que para estes o importante é fazer alguma atividade espiritual, isto é, para Deus (Oliveira & Alves, 2014).

Portanto, Neste estudo, pode-se constatar que alguns idosos percebem as ILPs como um lar, outros a consideram apenas como um local de moradia destinado a cuidar de indivíduos dos entes. Também verificou-se que os idosos consideram os demais residentes e trabalhadores como conhecidos e em poucos casos, como amigos e família, já que com a falta de um cuidador que assuma o cuidado do idoso, os familiares acabam recorrendo às ILPIs, onde o idoso é obrigado a adaptar-se à rotina de horários, a dividir seu ambiente com desconhecidos, e a manter distância da família.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os estudos referidos nesta revisão mostram que os principais fatores que fazem os idosos residirem em ILPs se trata de: solidão por não terem família, viuvez, não terem filhos, ou, quando os têm, residirem distantes e por falta de recursos financeiros para prover o cuidado adequado. Dentro desse ambiente, esses sujeitos vivem em constante rotina e isolamento pessoal, na maioria das vezes sob condições precárias de cuidados.

Apesar de que existem vínculos afetivos e psicológicos envolvidos em uma relação familiar e, ao mesmo tempo, espaços de privacidade, de autonomia e de individualidade que devem ser levados em consideração, quando um familiar torna-se idoso, estabelece-se uma relação muito desigual: ele agora é um estorvo (Oliveira & Alves, 2014). Os resultados relatam que, o ambiente familiar associado ao carinho, e à dedicação minimizam os sofrimentos dos idosos. Mesmo nessa situação, a família ainda é o ponto de apoio do idoso, como registra Bachelard (1988, p.147): “a família é o primeiro mundo do ser humano”.

Nestes estudos revisados não se encontrou nenhum trabalho com intervenções psicológicas, o que mostra a necessidade de realizar mais pesquisas e intervenções nessa área para testar a eficácia do apoio psicológico junto a esses idosos, buscando ser um facilitador, amenizando esse processo de afetividade e interação. Portanto, ressalta-se também a importância de investigar as condições físicas e psíquicas que as ILPs proporcionam a os sujeitos que nelas residem, bem como a qualidade de vida, bem estar e cuidados recebidos.

Contudo, os resultados identificaram que os idosos institucionalizados são carentes de afeto por parte de suas famílias e que se apegam fortemente às questões religiosas e espirituais para enfrentar os muitos desafios diários, em especial, os naturais da vida senil, buscando assim um sentido de vida. Damásio (2010) demonstra que um alto índice de sentido de vida se relaciona diretamente com o bem estar psicológico das pessoas, posto que é fundamental ao ser humano atribuir um sentido à própria vida. Vê-se, assim, que a postura assumida pelos cuidadores de dar incentivo em praticar a religiosidade é unânime, e isso serve de apoio biopsicossocial à pessoa idosa.

Diante de pesquisas, a quebra do vínculo afetivo com os familiares faz os idosos pensarem que o espaço asilar é o lugar que lhe sobra, que lhes oportuniza um abrigo, e isso muitas vezes leva ao conformismo. Conforme os relatos, muitos familiares não mostraram consideração com seus sentimentos e valores humanos, sendo que os deixaram na instituição e nem sempre possuem tempo disponível para os visitarem por muitos anos. Destarte, ressalta-se a importância e necessidade de trabalhos envolvendo os profissionais de psicologia nesse ambiente. Sendo assim, são necessárias estratégias de organização e reorganização desses espaços para que acolham idosos de maneira adequada, levando em conta suas necessidades e bem-estar. Além disso, devem promover a satisfação de todos que fazem parte desse ambiente, onde cada pessoa tem seu ponto de vista, garantindo seu direito de continuar vivendo dignamente, experimentando os prazeres da vida mais intensamente.

 

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Autores:

Tessya Hyanna Almeida Oliveira¹, possui formação em Psicologia (2015) pelas Faculdades Integradas de Patos. Atualmente concluinte da especialização em Gestão em Serviços Sociais e Políticas Públicas pelo Instituto Pró Saber (Feira de Santana – BA) e Saúde Mental pelas Faculdades Integradas de Patos. Desde Janeiro de 2016 é Psicóloga Clinica no Núcleo de Assistência Psicopedagógica e Psicológica (NAPP) das Faculdades Integradas Patos (FIP) e desde Fevereiro de 2016 é professora da Escola de Ciências da Saúde de Patos (ECISA). Possui experiência em Psicologia na área de ênfase em Psicologia Organizacional e do Trabalho, Clinica e Educacional. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Jakeline Pereira de Lima², possui graduação em Fisioterapia pelas Faculdades Integradas de Patos (2012), atualmente é concluinte do curso de especialização em Higiene Ocupacional pelo Instituto Federal de educação ciências e tecnologia da Paraíba- FPB, é docente da Escola de Ciências da Saúde de Patos (ECISA). Possui experiência em Fisioterapia na área de neurologia e traumatologia e-ortopedia. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Giglielli Modesto Rodrigues Santos³, possui graduação em Fisioterapia pelas Faculdades Integradas de Patos (2012). Especialista em Fisioterapia Traumato-Ortopédica e desportiva pelas Faculdades Integradas de Patos. Atualmente é concluinte do curso de especialização em Higiene Ocupacional pelo Instituto Federal de educação ciências e tecnologia da Paraíba- IFPB. Mestranda em Sistemas Agroindustriais pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG. Atua como docente das Faculdades Integradas de Patos. Possui experiência em Fisioterapia na área de Geriatria, Neurologia, Traumatologia e Ortopedia. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Adalgisa Bernardino de Araújo, possui formação em Psicologia (2015) pelas Faculdades Integradas de Patos. Desde Setembro de 2015 é Psicóloga Clinica na clínica psicológica de Patos e desde 2017 é Psicóloga do NASF na cidade de São Bento-PB. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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