3250 Vocabulario De Escolares Do Ef

Este é um artigo original que teve como objetivo analisar o vocabulário de escolares do primeiro ciclo do ensino fundamental e relacioná-lo com a classe sócioeconômica.

Resumo

Objetivo: Analisar o vocabulário de escolares do primeiro ciclo do ensino fundamental e o relacionar com a classe socioeconômica. Método: A amostra foi composta por 35 escolares com idade entre 07 e 10 anos. Neste estudo, foram utilizados dados obtidos a partir de coleta em uma escola do ensino fundamental. A amostra foi dividida em classes sócio-econômicas de acordo com o score obtido no Questionário Critério de Classificação Econômica Brasil. Foi aplicado o teste de linguagem infantil ABFW – Vocabulário e realizou-se análise da relação entre os processos de substituição e a classe sócio-econômica de cada escolar. Resultados: O processo de substituição “co-hipônimo” é o mais utilizado pelos escolares, independente da classe sócio-econômica pertencente. Observou-se também que a classe sócio-econômica em que os escolares se encontram não causa diferença ao seu desempenho nos campos de DVU e ND do teste de linguagem infantil ABFW – Vocabulário.  Conclusões: Conclui-se que há relação do fator sócio-econômico no desempenho de designação usual e não designação da categoria de Móveis e Utensílios da amostra pesquisada. Nas demais categorias não foi possível realizar esta relação, pois os dados não foram estatisticamente significantes. Infere-se subjetivamente que fatores externos ao ambiente escolar, não influenciam na habilidade linguística analisada.

Abstract

Aim: Analyze children from first grade of elementary school and correlate it with the social class. Method: The sample consisted of 35 children aged between 07 and 10 years. In this study, were used data obtained from gathering in a school located in Vitória-ES. The sample was divided into socioeconomic classes according to the score obtained in the Questionário Critério de Classificação Econômica Brasil (ABEP, 2015). The test of children’s language ABFW – Vocabulary was applied. Next, an correlation analysis between replacement proccesses and the socioeconomic class of each child. Results: The “co-hyponym” replacement proccess is the most used by children, regardless of socioeconomic class belonging. It was also observed that there is no difference in the socioeconomic class in which children are in relation to its performance in the fields of DVU and ND children’s language test ABFW – Vocabulary. Conclusions: It is concluded There Is Economic Factor Relationship Socio any usual designation Performance and not designation of the category Furniture and fixtures of the surveyed sample. In the other categories it was not possible Perform this ratio as data were not statistically significant. If subjectively inferred What External Factors When school environment , influence the analyzed linguistic ability .

Introdução

A linguagem oral é estruturada por um conjunto finito de princípios e regras que viabilizam ao falante codificar significados com sons e o ouvinte decodificar sons em significados (RIPER e EMERICK, 1997). Rotineiramente, a definição da aquisição da linguagem é realizada com apoio em algum marcos notáveis do desenvol­vimento gramatical de escolares em desenvolvimento normal. Os diferentes aspectos da linguagem (fonologia, léxico, morfossintaxe e pragmática) podem ser analisados tanto isoladamente quanto nas suas ligações, já que todos esses aspectos estão profundamente relacionados no decorrer do desenvolvimento linguístico (VOULOUMANOS e WERKER, 2009).

Nos primórdios da vida é de extrema importância o desenvolvimento em vários domínios, tais quais envolvem aspectos motores, sensoriais, cognitivos e socioemocionais de forma interdependente (QUEIROGA, GOMES, e SILVA, 2015). O desenvolvimento da linguagem oral está diretamente ligado à maturidade cerebral, ao meio ambiente sócio familiar, levando-se em conta a estimulação individual recebida e a integralidade sensorial (BEFI-LOPES e CÁRCERES, 2010), principalmente a auditiva, pois é sabido que o indivíduo modula suas representações fonéticas e fonológicas decorrente da percepção audioverbais proveniente dos interlocutores de sua convivência (BEFI-LOPES e GÂNDARA, 2002). Assim, para Scopel, Souza e Lemos (2011) o desenvolvimento da linguagem oral influencia nos aspectos das habilidades intelectuais, habilidades acadêmicas, bem-estar emocional e situação ambiental.

Cada criança no decorrer do seu desenvolvimento e de suas experiências constrói um léxico mental, que é acessado à medida que deseja representar, por meio de palavras, um objeto, uma ação e um acontecimento (BRANCALIONI, et. al 2011). Segundo Barrett (1997) adquirir palavras e saber utilizá-las corretamente é uma perspectiva fundamental do desenvolvimento da linguagem e está intimamente relacionado à aquisição da sintaxe, da morfologia e da fonologia.

Escolares pequenos possuem uma admirável habilidade de adquirir agilmente novas palavras, sendo assim, constitui-se um dos aspectos mais relevantes e essenciais na aquisição da linguagem (GÂNDARA e BEFI-LOPES, 2010), que envolvem a capacidade de criar associações entre a forma fonológica e seu referente, como consequência de instrumentos atencionais gerais para as regularidades fonotáticas, sintáticas e semânticas do ambiente linguístico (BEFI-LOPES, GÂNDARA e FELISBINO, 2006).

 A idade da produção da fala varia de forma considerável de uma criança para a outra, entretanto, com 12 meses as primeiras palavras surgem, logo em seguida, com 18 meses, aparecem aproximadamente 50 a 100 palavras aprendidas e armazenadas de forma global. Em torno dos 20 meses a criança já possui um vocabulário de aproximadamente 200 palavras; nos 02 anos de idade a mesma constitui 400 a 600 palavras aprendidas e com 03 anos de idade o indivíduo possui em torno de 1500 palavras. Escolares com idade entre 02 e 05 anos de vida adquirem aproximadamente uma nova palavra por hora de vigília. Nos anos seguintes ocorre uma desaceleração no desenvolvimento lexical, contudo a aquisição de novos vocábulos no repertório linguístico se torna contínua em todo o decorrer da vida (FERNANDES e GERBELLI, 2001; PUYUELO e RONDAL, 2007; HAGE e PEREIRA, 2006).

As categorias de maior produção no desenvolvimento inicial do vocabulário na concepção de Bastos, Ramos e Marques (2004) são, respectivamente, substantivos, verbos, adjetivos e advérbios. A frequência, a familiaridade e a extensão das palavras, além dos estímulos ambientais, são fatores que interferem na aquisição lexical, logo, o vocabulário está profundamente ligado á aquisição da linguagem oral (BEFI-LOPES e NUÑES, 2013).

O desenvolvimento da linguagem oral ocorre vertiginosamente na infância e acredita-se que está mais vinculado à etapa da Educação Infantil. Em contrapartida, no cenário educacional brasileiro encontramos os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN – Referências de qualidade elaboradas pelo Governo Federal para nortear as equipes escolares do Ensino Fundamental e Médio) que preconizam acerca das habilidades dos escolares necessárias em cada etapa de ensino (ano). Esses parâmetros indicam, por exemplo, as habilidades de compreensão leitora necessárias ao Ensino Fundamental (BRASIL, 1997). Nessa perspectiva de desenvolvimento da linguagem oral na Educação Infantil e do desenvolvimento da leitura e escrita no ensino fundamental, é importante conhecer o desenvolvimento lexical dos escolares em fase de alfabetização visto que o vocabulário é um fator linguístico determinante para o desenvolvimento da linguagem escrita (PUYUELO e RONDAL, 2007).

O objetivo deste trabalho foi analisar o vocabulário de escolares do primeiro ciclo do ensino fundamental e correlaciona-lo com a respectiva classe socio-econômica.

Métodos

Trata-se de um estudo descritivo de corte transversal aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Vila Velha (CAAE 44947115.50000.5064) realizado com estudantes do primeiro ciclo do Ensino Fundamental de uma escola pública municipal de Vitória, Espírito Santo. Todos os pais de participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A amostra é não probabilística e foi recrutada na escola municipal Francisco Lacerda de Aguiar (FLA), situada no bairro São Pedro I, na cidade de Vitória – ES.

   Participaram deste estudo 35 escolares que frequentam regularmente a escola Francisco Lacerda de Aguiar situada no município de Vitória – ES, no período de 20 de agosto a 04 de outubro de 2015, desses, 51,4% (18) sujeitos do sexo feminino e 48,6% (17) do sexo masculino. A idade variou entre 07 e 10 anos, com média de 8,46 (±0,9) anos. Contendo 10 participantes com idade de 09 anos, 13 com 08 anos, 06 com 10 anos e 06 com 07 anos.

Foram incluídos nesta pesquisa estudantes do primeiro ciclo do Ensino Fundamental de uma escola pública municipal de Vitória, que os seus pais assinaram o TCLE. Foram excluídos os estudantes que apresentaram: alteração neurológica direcionado aos pais desempenho escolar insatisfatório (de acordo com o relato dos professores) e queixa ou tratamento fonoaudiológico anterior.

   Os instrumentos empregados para a realização do estudo foram o teste ABFW (parte 1 vocabulário), o Critério de Classificação Econômica Brasil (ABEP versão 2015).

   O teste ABFW parte 1 – Vocabulário tem como objetivo a averiguação da capacidade lexical pela avaliação do vocabulário. O teste é composto por 09 campos conceituais que necessitam ser obedecida a seguinte ordem de aplicação: vestuário; animais; alimentos; meios de transporte; móveis e utensílios; profissão; locais; formas e cores; brinquedos e instrumentos musicais. O teste avalia as designações por vocábulos usuais (DVU), as não designações (ND) e os processos de substituição (PS), utilizados pelos escolares para alcançar a nomeação correta dos vocábulos.

   Os processos de substituição possuem uma categorização específica ligando-os as diferenças e semelhanças das unidades lexicais (vocábulos), e são ilustrados, entre outros, como parassinônimos, hiperônimos, hipônimos e      co-hipônimos. A saber: Os parassinônimos são vocábulos ou expressões sujeitas de substituição sem a modificação do significado, isto é, quando aplicados referem-se sempre ao mesmo sentindo, por exemplo: azul (palavra-alvo) – a cor do céu (forma de nomeação utilizada); os hiperônimos se destinam ao emprego de pontos superordenados, havendo transferência de um vocábulo por outro, semanticamente mais abrangente; podendo ser imediata: alface (palavra-alvo) – salada (forma de nomeação utilizada), ou não imediata: alface (palavra-alvo) – comida (forma de nomeação utilizada); já os hipônimos referem-se a termos dependentes, isto é, semanticamente limitados. Exemplo: salada (palavra-alvo) – alface (forma de nomeação utilizada); os     co-hipônimos são termos semanticamente adjuntos, tendo um hiperônimo simples; esse grau de adjacentes entre os tipos de informações lexicais varia, sendo plausível sua categorização em próximos: agrião (palavra-alvo) – alface (forma de nomeação utilizada), ou distantes: agrião (palavra-alvo) – cenoura (forma de nomeação utilizada).

   O Questionário Critério de Classificação Econômica Brasil (ABEP, 2015) tem como o objetivo de classificar a classe socioeconômica dos avaliados. Trata-se de um questionário que avalia aspectos de moradia e bens como: banheiro, empregados domésticos, automóveis, microcomputador, lava louca, geladeira, freezer, lava roupa, DVD, micro-ondas, motocicleta, secadora de roupa, etc. Esses aspectos podem receber as pontuações de 01 a 14 de acordo com a quantidade de cada item existente no domicilio; o nível escolar dos pais/responsáveis pode apresentar as pontuações de 0 a 7 e o aspecto de serviço público de 0 a 4.

   Para coletar as amostras e os dados, os estudantes participantes da pesquisa foram direcionados para uma sala disponibilizada pela escola com duas cadeiras (uma para o estudante e outra para a avaliadora/pesquisadora) e uma mesa. O tempo estimado para realização da coleta foi de aproximadamente 30 minutos para cada estudante.

Inicialmente foram apresentadas figuras do instrumento ABFW parte 1 vocabulário e em seguida foi solicitado que o escolar nomeasse uma figura por vez. Foram registradas as respostas do escolar no Protocolo de Registro de Resposta – Teste ABFW parte 1 vocabulário da seguinte maneira: se a criança nomeasse a palavra corretamente, foi marcado um “x” na coluna Designação por Vocábulo Usual (DVU); caso não nomeasse ou dissesse “não sei”, foi marcado um “x” na coluna Não-Designação (ND); se a criança utilizou um Processo de Substituição (PS), foi transcrito sua emissão na coluna correspondente e em seguida foi registrado na coluna Tipologia, o tipo de PS utilizado pela criança, no vocábulo em que isto tenha ocorrido.

   Cada parâmetro de resposta foi analisado separadamente para estabelecer-se a porcentagem de respostas nas colunas de DVU, ND, PS e qual a sua Tipologia.

   Posteriormente os escolares responderam ao Questionário de Classificação Econômica Brasil. Os dados foram registrados no próprio questionário e em seguida foi realizada a somatória dos pontos verificada na tabela de Cortes do Critério Brasil qual a classe correspondente à pontuação.

   As famílias dos estudantes que participaram da pesquisa receberam orientações por meio de uma cartilha com sugestões de estimulação fonoaudiológica que foi entregue juntamente com o TCLE. Os escolares que apresentaram alterações de vocabulário receberam orientação para procurar acompanhamento fonoaudiológico para uma avaliação mais detalhada.

Um banco de dados específico para este trabalho foi montado no software Statistical Package for Social Sciences (SPSS) versão 20. Para fins de análise descritiva foi feita a distribuição de frequência das variáveis categóricas envolvidas na avaliação em estudo e análise das medidas de tendência central e de dispersão das variáveis contínuas. Os dados foram previamente conferidos e receberam tratamento adequado. Para análise estatística foi utilizado o teste Qui Quadrado de Pearson com valores de p<0,05 nos dados colhidos.

Resultados

Os resultados estão apresentados nas tabelas que se segue:

Na Tabela 1 encontra-se as tipologias dos processos de substituição de vocabulários encontradas nos escolares do primeiro ciclo do Ensino Fundamental; em que o N está relacionado ao número de indivíduos encontrados em determinada alteração. Na categoria vestuário foram encontrados os seguintes processos: em que 21 escolares apresentaram substituição por co-hipônimo próximo (58%), e substituição por hipônimo não imediato um (2,8%).

 Na categoria alimento 14 escolares apresentaram substituição por hipônimo (39%), um apresentou substituição por co-hipônimo próximo (3%), cinco apresentaram valorização do estimulo visual (14%), três apresentaram hipônimo e substituição por co-hipônimo próximo (8%), na substituição por hipônimo e valorização de estimulo visual  foram encontrados dois (6%), na substituição por co-hipônimo próximo e por designação de funções um (3%) e dois na substituição por hipônimo, co-hipônimo próximo e valorização do estimulo visual (6%).

Na categoria animais foi encontrado um escolar apresentando substituição por hiperônimo não imediato (2,8%).  Nos meios de transporte, quesito substituição por co- hipônimo próximo 21 escolares com o percentual de (58%).

Em móveis e utensílios 15 escolares (42%) se enquadraram na substituição de co-hipônimo próximo, ficando então dois (5,6%) para a valorização do estimulo visual, substituição por hipônimo e co-hipônimo próximo um com o percentual de (2,8%.), substituição por co-hipônimo próximo e valorização do estimulo visual, quatro escolares (11%), três para substituição por co-hiponimo próximo e por designação de funções com o percentual de (8,3%) e substituição por co-hipônimo próximo e/ou complementação de semiótica verbal e por não verbal correta.

Na categoria de profissão a substituição por hipônimo próximo teve o maior percentual (56%) no total de 20 escolares, ficando então um (2,8%) para substituição por co-hipônimo próximo e/ou complementação de semiótica verbal e por não verbal correta.

Para locais, foram encontrados os processos de substituição por co-hipônimo próximo com um percentual de (25%) correspondendo a nove escolares, valorização do estimulo visual e substituição por co-hipônimo próximo e valorização do estimulo visual três escolares (8,3%).

Na categoria formas e cores, quatro escolares se enquadraram no quesito substituição por hipônimo próximo com um percentual de (11%) e dois em valorização do estimulo visual e substituição por co-hipônimo próximo e valorização do estimulo visual (5,6%).

Dois escolares apresentaram substituição por co-hipônimo próximo e substituição e/ou complementação de semiótica verbal por não-verbal correta, sendo um para cada processo, com um percentual de (2,8).

Na tabela 2 foram observados os seguintes resultados: dentre os 11 escolares pertencentes ao segundo ano obtiveram 72,7% de DVU, 7,28% em ND e 14,7% em PS, no campo conceitual vestuário; no campo conceitual animais, 100% de DVU, 0% em ND e 0% em PS; no campo conceitual alimentos, 100% de DVU, 0% em ND e 0% em PS; no Campo Conceitual Meios de Transporte 66% de DVU, em ND 0%, em PS 34%; no Campo Conceitual Móveis e Utensílio 72,7% de DVU, 7,28% em ND e 14,7% em PS; no Campo Conceitual Profissões em DVU 78% em ND 14,7% em PS 0%; no Campo Conceitual Locais 96% em DVU, em ND 4% e em PS 0%; no Campo Conceitual Formas e Cores 96% em DVU, em ND 4% e em PS 0% e no Campo Conceitual Brinquedos e Instrumentos Musicais 100%, em ND 0% e no PS 0%.

Nos escolares do terceiro anos notou-se que no campo conceitual vestuário 100% de DVU, 0% em ND e em PS 0%; no campo conceitual animais 96% em DVU, 2% em ND e em PS 0%; no campo conceitual alimentos 100% em DVU, 0% em ND e em PS 0%; no Campo Conceitual Meios de Transporte 100% em DVU, 0% em ND e em PS 0%;no Campo Conceitual Móveis e Utensílio em DVU 96%, em ND 2% e em PS 0%; no Campo Conceitual Profissões 89% em DVU, 10% em ND e 1% em PS; no Campo Conceitual Locais 84% em DVU, 13% em ND e 3% em PS; no Campo Conceitual Formas e Cores 90% em DVU, 10% em ND e 0% em PS e no Campo Conceitual Brinquedos e Instrumentos Musicais 89% em DVU, 11 em ND e 0% em PS.

Já nos escolares do quarto ano observou-se no campo conceitual vestuário 96% em DVU, em ND 0% e em PS 2%; no campo conceitual animais 100% em DVU, 0% em ND e em PS 0%; no campo conceitual alimentos 92% em DVU, em ND 8% e em PS 0%; no Campo Conceitual Meios de Transporte 81% em DVU, 10% em ND e 9% em PS; no Campo Conceitual Móveis e Utensílio 100% em DVU, 0% em ND e em PS 0%; no Campo Conceitual Profissões 63% em DVU, 26% em ND e 11 em PS; no Campo Conceitual Locais 89% em DVU, 11 em ND e 0% em PS; no Campo Conceitual Formas e Cores em DVU 90%, em ND 10% e em PS 0% e no Campo Conceitual Brinquedos e Instrumentos Musicais 100% em DVU, 0% em ND e em PS 0%.

A Tabela 3 descreve a relação entre a classe sócio-econômica e o desempenho médio percentual dos DVU e ND dos escolares analisados.

Dos aspectos analisados, apenas a categoria Móveis e Utensílios ficou              <0,05 p demonstrando assim que essa categoria não tem relação entre a classe sócio-econômica e o desempenho médio percentual de DVU e ND. Tendo as demais categorias um valor estatisticamente insignificante, com isso sendo impossibilitado de realizar essa relação.

Discussão

O processo de substituição mais realizado pelos escolares avaliados, foi à substituição por co-hipônimos, que se determina pela substituição de um vocábulo semanticamente próximo ou distante. Como por exemplo, quando o individuo avaliado substitui a palavra “alface” pela palavra “cenoura”, ou “alface” por “agrião” (BEFI-LOPES, 2000). Essas substituições são trocas semanticamente associadas a comprovação das representações semântico-lexicais difusas ou de que os itens lexicais individuais estão pauperrimamente desiguais em suas representações semântico-lexicais (LAHEY e EDWARDS, 1996;1999). O episódio de substituições de termos por outros com traços semânticos próximos pode evidenciar que a criança conhece o objeto, no entanto é inábil de designar corretamente a palavra (BASTOS, BEFI-LOPES e RODRIGUES, 2006). Isso foi observado no presente estudo, pois a grande parte dos escolares conhecia a figura do guarda de trânsito, mas nomeava-o de policial.

No estudo realizado por Befi-lopes (2007) foi observado que o processo de maior ocorrência foi co-hipônimo o que é confirmado no presente estudo 92%. Em seguida o mesmo estudo aponta parassinônimo, modificação de categoria gramatical, hiperônimo imediato, valorização do estimulo visual, co-hipônimo distante, designação por função e hiperônimo não imediato como processos de maior ocorrência, porém esses dados não se confirmam com a amostra, denotando os seguintes processos valorização do estimulo visual em segundo lugar, em terceiro substituição por co-hipônimo próximo e valorização do estimulo visual, em quarto lugar substituição por hiperônimo não imediato, substituição por hipônimo e co-hipônimo próximo, substituição por co-hipônimo próximo e por designação de funções e co-hipônimo próximo e/ou complementação de semiótica verbal por não verbal correto, finalizando então em quinto lugar os processos de substituição e/ou complementação de semiótica verbal por não verbal correta, substituição por hipônimo e valorização do estimulo visual e substituição por hipônimo, por co-hiponimo próximo e valorização do estimulo visual (BEFI-LOPES, 2007).

   No presente estudo não foram encontrados ocorrências dos seguintes processos: criação de neologismo por analogia morfo-semântico sintáxico, Substituição e/ou complementação de semiótica verbal por gesto indicativo, Substituição por atributo de co-hipônimos, Substituição por paráfrases afetivas, Utilização de onomatopeias e segmento ininteligível o esses dados são confirmados no estudo comparativo em questão(BEFI-LOPES, 2007).

O estudo realizado em 2010 por Athayde, Motta e Mezzomo apontou que a minoria das crianças do Grupo Controle atingiu a normalidade em DVU no campo Locais, o que não corrobora com o presente estudo, já que a maioria das crianças analisadas apresentou desempenho satisfatório em todos os campos conceituais sem interferência da série escolar que se encontravam.

Em conformidade com a presente pesquisa, estudo realizado por Cowan e  Hulme (1998)

averiguou os indivíduos que substituíram vocábulos, utilizando sentenças da mesma categoria semântica da figura-alvo e sentenças baseadas nos parâmetros visuais da figura, e foi observado que os escolares utilizavam-se desta estratégia para nomear as figuras.

Para que ocorra a nomeação correta o indivíduo deve ter um conjunto de vocábulos já conhecidos no léxico mental assim sucedendo a organização fonológico-articulatório atingindo então uma resposta que seja exatamente articulada (JOHNSON, PAIVIO  e CLARK,1996). No presente estudo, este processo sucedeu-se quando os escolares designaram corretamente as figuras demostras (DVU).

No decorrer da presente pesquisa foi observada certa dificuldade por parte dos escolares em compreender e expressar as figuras apresentadas do teste, principalmente as do campo conceitual “alimento”, dificuldades acarretadas pela falta de clareza nos detalhes visuais das figuras, algo que também podemos observar em outro estudo (25) uma perspectiva subjetiva permite inferir que a nomeação das figuras estimuladas pelo instrumento diferem dos nomes propostos em diferentes localidades.

Notou-se nesta pesquisa, que quando os escolares não reconhecem os desenhos buscam-se semelhanças visuais e como não o reconhecem e não sabem designá-lo, buscam uma palavra que se aproxima visualmente em seu repertório semântico. Este achado é corroborado por pesquisa que comparou crianças brasileiras e americanas (MIRANDA, POMPÉIA e BUENO, 2004).

Em estudo realizado por Macedo, Andreucci e Montelli (2006) o fator sócio-econômico não interferiu nos resultados analisados. Esta afirmativa  corrobora com o presente estudo que mostra que mesmo os escolares possuindo classe sócio-econômica distinta verificamos que a mesma não inibe a habilidade de designar corretamente as figuras apresentadas em sequencias já determinadas, sendo que em seu maior percentual apresentaram um desempenho satisfatório, mostrado na Tabela 3 que evidenciou isso, pois na categoria Móveis e Utensílios não houve uma relação direta no número de Designação Vocábulos Usual (DVU) e na Não Designação (ND).   Em contrapartida, autores relatam que a nomea­ção de figuras pode ser influenciada por outros fatores, tais quais: fatores culturais, sócio-econômicos e de desenvolvimento (MIRANDA, POMPÉIA e BUENO, 2004), o que não corrobora com o presente estudo.

Patto (2006) nos relata que mesmo existindo problemas no ensino de crianças de classes sócio-econômicas consideravelmente baixas em relação a crianças com classe média e alta esse fator não inibe a capacidade inata de aprendizado dos escolares como mostram evidências do teste de inteligência aplicado nas crianças pertencentes ao estudo supracitado, teste o qual avalia a capacidade dos escolares em aprender. Esse achado corrobora com o presente estudo onde já foi citado que o fator da classe sócio-econômica não interferiu diretamente no desempenho dos escolares na categoria de Móveis e Utensílios do teste aplicado, pois o vocabulário é a capacidade de aprender novas palavras.

Conclusão

Conclui-se que há relação do fator sócio-econômico no desempenho de designação usual e não designação da categoria de Móveis e Utensílios da amostra pesquisada. Nas demais categorias não foi possível realizar esta relação, pois os dados não foram estatisticamente significantes. Infere-se subjetivamente que fatores externos ao ambiente escolar, não influenciam na habilidade linguística analisada.

Afirma-se que a maioria dos escolares obtiveram um desempenho acima do esperado segundo os padrões já propostos na literatura e que o Processo de Substituição por co-hipônimo próximo foi o mais encontrado em todos os campos conceituais.

Referências

Athayde, L.M; Motta, B.H; Mezzomo, L.C; Vocabulário expressivo de crianças com desenvolvimento fonológico normal e desviante. São Paulo, 2010.

Barrett M. Desenvolvimento lexical inicial. In: Fletcher P, Whinney BM, organizadores. Compêndio da linguagem da criança. Porto Alegre: Artes Médicas; 1997. p. 299-321.

Bastos DA, Befi-Lopes DM, Rodrigues A. Habilidade de organização hierárquica do sistema lexical em Escolares com distúrbio específico de linguagem. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2006;11(2):82-9.

Bastos JC, Ramos APF, Marques J. Estudo do vocabulário infantil: limitações das metodologias tradicionais de coleta. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2004; 9:1-9.

Befi-lopes D.M., Vocabulário, consciência fonológica e nomeação rápida: contribuições para a ortografia e elaboração escrita. [dissertação. São Paulo: Universidade de São Paulo – faculdade de Filosofia de Letras e Ciências e Ciências Humanas; 2007.

Befi-Lopes DM, Cárceres AM. Verb diversity analysis in the spontaneous speech of Brazilian preschoolers. Pro Fono. 2010;22(1):3-6

Befi-Lopes DM, Gândara JP, Felisbino FS. Categorização semântica e aquisição lexical: desempenho de Escolares com alteração de desenvolvimento de linguagem. Rev CEFAC. 2006; 8(2):155-61.

Befi-Lopes DM, Gândara JP. Desempenho em prova de vocabulário de Escolares com diagnóstico de alteração fonológica. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2002; 7(1):16-23.

Befi-Lopes DM, Nuñes CO, Cárceres AM. Correlação entre o vocabulário expressivo e extensão média do enunciado em Escolares com alteração especifica de linguagem. Rev CEFAC. 2013; 15(1): 51-57.

Befi-Lopes DM. Vocabulário (parte B). In: Andrade CRF, Befi-Lopes DM, Fernandes FDM, Wertzner HF. ABFW: teste de linguagem infantil nas áreas de fonologia, vocabulário, fluência e pragmática. Barueri: Pró- Fono; 2000. cap. 2.

Brancalioni AR, Marini C, Cavalheiro LG, Soares MK. Desempenho em prova de vocabulário de Escolares com desvio fonológico e com desenvolvimento fonológico normal. Rev CEFAC. 2011 428-436.

Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Língua Portuguesa. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília; 1997.

Cowan N, Hulme C. The development of memory in childhood. London: Psychology Press; 1998.

Fernandes FDM, Gerbelli AEM. Vocabulário em Escolares com distúrbio global do desenvolvimento: correlatos do perfil funcional da comunicação. Temas Des. 2001; 10(56):12-9.

Gândara JP, Befi-Lopes DM. Tendências da aquisição lexical em Escolares em desenvolvimento normal e Escolares com Alterações Específicas no Desenvolvimento da Linguagem. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2010;15(2):297-304.

Hage SRV, Pereira MB. Desempenho de Escolares com desenvolvimento típico de linguagem em prova de vocabulário expressivo. Rev CEFAC. 2006; 8(4):419-28.

Johnson CJ, Paivio A, Clark JM. Cognitive components of picture naming. Psychol Bull.1996;120(1):113-39.

Lahey M, Edwards J. Naming errors of children with specific language impairment. J Speech Lang Hear Res. 1999;42(1):195-205.

Lahey M, Edwards J. Why do children with specific language impairment name pictures more slowly than their peers? J Speech Hear Res. 1996;39(5):1081-98.

Macedo CS, Andreucci LC, Montelli CB. Alterações cognitivas em escolares de classe sóci-econômica desfavorecida: resultados de intervenção psicopedagógicas. Arq. Neuro-Psiquiatr. 2006; 62(3b): 852-857.

Miranda MC, Pompéia S, Bueno OFA. Um estudo comparativo das normas de um conjunto de 400 figuras entre crianças brasileiras e americanas. Rev Bras Psiquiatr. 2004;26(4):226-33.

Patto MHS. Introdução à Psicologia escolar. 3ª ed. São Paulo: Casa do Psicólogo Livraria e Editora Ltda; 2006

Puyuelo, M. Rondal, J. Manual de desenvolvimento e alterações da linguagem na criança e no adulto. Porto Alegre, RS: Artmed; 2007.

Queiroga, BAM, Gomes, AOC, Silva HJ. Desenvolvimento da comunicação humana nos diferentes ciclos da vida. Barueri, SP: Pro Fono; 2015.

Riper CV, Emerick L. Uma introdução à patologia da fala e à Audiologia. Tradução Domingues MAG. 8ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 1997.

Scopel RR, Souza VC, Lemos SMA. A influência do ambiente familiar e escolar na aquisição e no desenvolvimento da linguagem: Revisão de Literatura. Rev CEFAC. 2011, 14(4):734-741.

Vouloumanos A, Werker JF. Infants’ learning of novel words in a stochastic environment. Dev Psychol. 2009;45(6):1611-7.

Autores

Márcia Emília da Rocha Assis Eloi – Fonoaudióloga (Fead Minas), especialista em Fonoaudiologia Educacional (CFFa) Psicopedagoga (Fead Minas), Mestra em Ciências Fonoaudiológicas (Faculdade de Medicina da UFMG), doutoranda em Estudos Linguísticos (UFES) e docente do Curso de Fonoaudiologia da Universidade Vila Velha. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Laís Sampaio Grillo – Fonoaudióloga graduada pela Universidade Vila Velha.