A psicologia na atuação com idosos de um centro de referência de assistência social: valorização das narrativas e urgência de protagonismos
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O presente texto relata a atuação de alunas do 4º e 5º anos do curso de psicologia da Universidade Estadual Paulista, campus de Assis, em rodas de conversas com um grupo de idosos de um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) no interior do estado de São Paulo.
Resumo
O presente texto relata a atuação de alunas do 4º e 5º anos do curso de psicologia da Universidade Estadual Paulista, campus de Assis, em rodas de conversas com um grupo de idosos de um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) no interior do estado de São Paulo. Nosso trabalho destina-se à compreensão das vicissitudes da subjetivação no processo de envelhecer, construindo coletivamente práticas da atuação psi com idosos, conforme normativas estipuladas pelos documentos oficiais que versam sobre as temáticas a serem desenvolvidas nas “rodas de conversas”. Com esta prática, que acontece no CRAS desde 2014, desenvolvemos oficinas semanalmente com um grupo de idosos usuários da unidade, com duração de uma hora e meia, baseadas no referencial de grupo operativo. Nesse espaço são discutidas temáticas relacionadas ao empoderamento e protagonismo do idoso, com enfoque no desenvolvimento e fortalecimento de práticas democráticas e cidadãs. Dentre diversos tópicos trabalhados, destacamos as práticas voltadas ao resgate de histórias de vida, direitos do idoso, violência, discriminação, gêneros, negligência ao acesso a serviços estatais entre outros. Entendemos que essa prática se revelou de extrema importância para os idosos, que encontram um espaço de compartilhamento de histórias e reflexões, além de ser lugar privilegiado para fomentar sociabilidades. Destacamos a importância dessa prática, também, para nossa formação profissional, tendo em vista a possibilidade de construção de propostas de intervenção em grupo nos serviços destinados às necessidades específicas dos idosos, especialmente a partir de uma perspectiva da clínica ampliada.
Palavras-chave: Psicologia. Grupos. Idosos. Assistência Social.
Introdução
Ao longo das últimas décadas, o número de pessoas com idade acima de 60 anos aumentou consideravelmente em nosso país. De acordo com dados do censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) do ano de 2010, o Brasil contava com 7,4% de sua população total de pessoas com idade superior a 65 anos, sendo que, em 1991 esse número correspondia a 4,6% da população. Ainda de acordo com o Instituto, o grupo de idosos de 60 anos ou mais será maior que o grupo de crianças com até 14 anos já em 2030 e, em 2055, a participação de idosos na população total será maior que a de crianças e jovens com até 29 anos.
Tal cenário, que envolve o envelhecimento da população brasileira, traz alguns desafios a serem enfrentados na gestão em políticas públicas e na formação profissional, especialmente no sentido de assegurar direitos aos mais velhos e promover espaços de sociabilidade e atenção e cuidados às demandas desse segmento. Nesse sentido, algumas leis e políticas públicas recentes, como a Política Nacional do Idoso (BRASIL, 1994), o Estatuto do Idoso (BRASIL, 2003) e a Política Nacional de Assistência Social (BRASIL, 2004) situam o segmento idoso como uma população dotada de direitos e deveres, além de disporem de uma gama de serviços e equipamentos voltados especificamente para o atendimento dos longevos. Por exemplo, a Política Nacional do Idoso (BRASIL, 1994) assegura direitos sociais aos mais velhos, como a garantia de participação e integração efetiva na sociedade. Esta política tem como base cinco princípios estabelecidos, a saber:
I – a família, a sociedade e o estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade, bem-estar e o direito à vida;
II – o processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral, devendo ser objeto de conhecimento e informação para todos;
III – o idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza;
IV – o idoso deve ser o principal agente e o destinatário das transformações a serem efetivadas através desta política;
V – as diferenças econômicas, sociais, regionais e, particularmente, as contradições entre o meio rural e o urbano do Brasil deverão ser observadas pelos poderes públicos e pela sociedade em geral, na aplicação desta Lei. (BRASIL, Lei nº 8.842/1994, p. 06)
Em 2003 institui-se o Estatuto do Idoso, que serve como regulamentador dos direitos às pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. O documento ordena sobre o papel familiar, comunitário, social e do Poder Público frente à asseguração efetiva do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária da pessoa idosa.
Diante do cenário de envelhecimento populacional e das legislações e políticas públicas direcionadas aos direitos dos idosos, é necessário atentar para a formação profissional e, nesse caso, destacamos especificamente a Psicologia, para que ela contribua na compreensão das vicissitudes do processo de envelhecimento e para a construção de conhecimentos e práticas fomentadores de protagonismos na velhice (ROZENDO, JUSTO, CORREA, 2010).
Ainda que o segmento idoso tenha conquistado alguma visibilidade no âmbito das políticas públicas, nossa sociedade tende a sobrevalorizar o signo jovem, a juventude, o moderno e o novo. De acordo com Tótora (2008, p. 22), a velhice, muitas vezes, é vista como um problema, uma vez que ela “está ligada à doença, à perda de força e de vitalidade. Mais do que isso, ela nos lembra, a todo o momento, que somos mortais”. Por isso, falar sobre velhice é um tema urgente, mas, ao mesmo tempo, tornou-se praticamente um tabu, um interdito. É um paradoxo interessante de nosso tempo, no qual busca-se ter mais anos de vida, mas não, necessariamente, envelhecer – haja vista a quantidade de produtos “anti-idade”, “antienvelhecimento”, “antioxidantes” que existem no mercado.
A ideia de “velhice problema” deve ser descontruída, juntamente com a suposição de que existe somente um modo correto de envelhecer. Silvana Tótora (2015) acrescenta, ainda, que a associação entre velhice e doença contribui para a construção de saberes e práticas sobre os corpos velhos que podem produzir um processo de normalização do envelhecer. De acordo com a autora,
O envelhecimento, por um lado, é alvo de dispositivos de poder que investem sobre o corpo, individualizando o envelhecer no segmento idoso e submetendo-o a experimentos médicos de contensão da doença e, por outro, produz uma variedade de dispositivos de intervenção na própria vida como fenômeno coletivo. Tratar o envelhecimento como doença, e esta como um mal, desencadeia uma aversão de se tornar velho. (TÓTORA, 2015, p. 24)
Por isso, ressaltamos que a atuação profissional em Psicologia junto a idosos deve ser capaz de acolher a diversidade do envelhecer e suas formas de subjetivação, valorizando as narrativas dos mais velhos.
Atualmente, por meio das políticas públicas, existem alguns serviços direcionados à atenção do idoso no qual há a possibilidade de inserção do/a psicólogo/a, como o Centro-Dia, Centro de Convivência, programas específicos em saúde pública e saúde mental, os Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS) e Centros de Referência de Assistência Social (CRAS). No presente artigo, relataremos nossa inserção em um CRAS, num município de pequeno porte do interior paulista, a partir de nossa prática com grupo de idosos através do dispositivo “Roda de Conversa”.
De acordo com a Política Nacional de Assistência Social (BRASIL, 2004), o CRAS é uma unidade pública estatal de base territorial, localizado em áreas de vulnerabilidade social que executa serviços de proteção social básica, organiza e coordena a rede de serviços sócio-assistenciais locais da política de assistência social. Esse estabelecimento institucional atua junto a famílias e indivíduos em seu contexto comunitário, visando a orientação e o convívio sócio-familiar e comunitário através do Programa de Atenção Integral às Famílias (PAIF).
Um dos programas oferecido pelo CRAS que contempla o público idoso é o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para Idosos (SCFVI), o qual faz parte do PAIF. Podem participar desse programa idosos acima de 60 anos em situação de vulnerabilidade social, idosos que possuem o Benefício de Prestação continuada (BPC) e idosos com vivem em situação de isolamento social, a fim de prevenir a institucionalização em asilos.
As orientações técnicas para atuação com os idosos no CRAS preconizam uma atuação no formato de grupos, a partir de três eixos estruturantes, a saber: 1) convivência social e intergeracionalidade; 2) envelhecimento ativo e saudável; 3) autonomia e protagonismo (BRASIL, 2012). Basicamente, no primeiro eixo, destacam-se ações que promovam sociabilidades, trocas e vivências coletivas. No segundo, privilegia-se a realização de atividades e discussões temáticas que promovam o envelhecimento como processo de perdas e ganhos, além de vivências quer permitam ressignificar experiências de vida e desenvolvimento de habilidades. Por fim, no terceiro eixo, o objetivo é fomentar ações de protagonismo e participação social das pessoas idosas, tendo como referência a presença desses atores sociais na construção da sociedade e suas possibilidades presentes e futuras de contribuição no processo de transformações sociais.
Para o Conselho Federal de Psicologia (CREPOP, 2007, p. 12), “o foco de atuação do CRAS é a prevenção e a promoção da vida, por isso o trabalho do psicólogo deve priorizar as potencialidades”. Assim, a demanda é pela construção de uma prática que extravase os limites do setting convencional, estabelecendo outras conexões, dispositivos e redes.
Objetivos
O objetivo do presente texto é relatar uma prática de estágio curricular supervisionada por uma docente e realizada por discentes do 4º e 5º anos do curso de Psicologia da Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus de Assis, juntamente a idosos participantes do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para Pessoas Idosas (SCFV), na oficina intitulada “Roda de Conversa”. O CRAS em que estamos inseridos situa-se uma cidade de pequeno porte do oeste paulista e o SCFV, do presente equipamento, conta com oficinas de artesanato, aulas de ginástica, aulas de letramento pelo Programa de Educação de Jovens e Adultos (PEJA) e as Rodas de Conversas que coordenamos.
Nossa prática, em parceria com o SCFV, tem como proposta analisar e compreender as vicissitudes da subjetivação no processo de envelhecer, tendo em vista que a velhice se caracteriza como uma fase da vida ainda pouco explorada pela Psicologia. As oficinas que realizamos no CRAS, através das Rodas de Conversa, visam proporcionar espaços que promovam a expressão e valorização de experiências e conhecimentos que são trazidos pelos idosos participantes, além de trabalhar com temáticas de maneira a repensar seus sentidos e práticas. Em outras palavras, procuramos problematizar afetividades e implicações com questões acerca do processo de envelhecimento, do exercício da cidadania e da vida de maneira geral, conforme recomendações documentais das orientações técnicas do SCFV. Além disso, o encontro intergeracional entre as oficineiras e o grupo é importante para esse transcurso, suscitando a troca de diferentes reflexões e percepções acerca de diversas temáticas.
Material e Métodos
Nossa atuação no grupo “Roda de Conversa” compõe um conjunto de práticas desenvolvidas no núcleo de estágio curricular “Envelhecimento e Processos de Subjetivação”, no curso de Graduação em Psicologia da Faculdade de Ciências e Letras – FCL/UNESP, campus de Assis. O estágio tem duração de dois anos e corresponde ao programa de práticas interventivas supervisionadas da grade curricular do curso de Psicologia.
O grupo “Roda de Conversa” é coordenado por quatro discentes, supervisionadas por uma docente do curso. Essa atividade acontece há três anos e conta com a participação de cerca de vinte e cinco idosos com idade acima de 60 anos, que são usuários do CRAS e inscritos no programa de SCFV. As atividades ocorrem uma vez na semana, com duração de uma hora e meia e são realizadas no referido estabelecimento institucional.
Utilizamos como suporte teórico de nossas práticas o referencial de Grupo Operativo, desenvolvido por Enrique J. Pichon-Rivière (1983), para podermos compreender a dinâmica e o funcionamento do grupo. De acordo com Pereira (2013, p. 25), o grupo operativo, com “seus construtos, conceitos e reflexões são permeados pela ideia de movimento e transformação contínua dos sujeitos, de seus vínculos e de seu modo de operar na realidade”.
A proposta de trabalho em grupo operativo leva em consideração o sujeito como ser ativo no mundo, com conhecimentos, saberes e histórias de vida. De acordo com Pereira (op.cit., p. 27), “coloca o sujeito no centro de seu processo de aprendizagem, como sujeito ativo e protagonista na produção de sua saúde, na construção do conhecimento e dos sentidos que dão significado à sua experiência humana”.
Com isso, acreditamos que esse referencial traz importantes ferramentas teórico-práticas, com o intuito de promover a autonomia e o processo de aprendizagem no contexto grupal. Vale destacar que, além da teoria de grupo de Pichon-Rivière, também buscamos fundamentar nossa prática a partir de seminários de orientação semanal com leituras e discussões de pesquisas e trabalhos nas áreas de Psicologia do Envelhecimento, Gerontologia e Psicologia e Assistência Social.
A cada encontro com o grupo de idosos são discutidos temas geradores da conversa, os quais são elaborados previamente nas supervisões semanais entre as estagiárias e a docente, considerando a dinâmica grupal, as demandas dos idosos e, também, as orientações contidas no documento do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para Pessoas Idosas (BRASIL, 2012).
Utilizamos, como dispositivos para a roda de conversa, ferramentas como vídeos, imagens, fotos, poemas ou músicas referentes à temática do encontro. Essas ferramentas servem como disparadores de reflexões, tanto para os idosos quanto para os estagiários, acerca de suas vivências pessoais em conexão com o tema abordado, que colaboram de forma mútua, promovendo novas construções e perpetuação de saberes pautados nas experiências particulares, além de que se reconheçam como sujeitos de direitos e com predisposição para novos aprendizados e novas experiências. Utilizamos, ainda, materiais de escritório, como canetas, folhas, cartolinas, revistas e outros, para possibilitar a expressão dos idoso e registros de suas percepções, sentimentos e reflexões sobre os temas abordados. Ao longo desses três anos de trabalho com o grupo, foram trabalhadas diversas temáticas a cada semana, que serão brevemente relatadas a seguir.
Resultados e discussão
Ao longo de nosso tempo de trabalho com o grupo, abordamos temas como violência contra a mulher e contra os idosos, memórias (familiares, da cidade, do trabalho), direitos da pessoa idosa, lendas e outras narrativas pertencentes a tradições culturais, jardinagem e plantas medicinais, ícones femininos, papéis sociais da mulher, festas populares, histórias de vida, sonhos, desejos, além de tecnologia, trocas entre gerações, relações familiares, sentidos para o processo de envelhecimento e outros.
Pudemos notar, nos relatos dos participantes da Roda, que muitos sentiram mudanças do lugar do idoso como detentor do saber, o sábio, o porta-voz de conhecimentos e aprendizados singulares, características presentes em outros tempos. Foi possível perceber que o lugar especial destinado ao saber e ao conhecimento estaria na juventude hoje letrada, frequentadora da universidade e adepta às novas tecnologias. Até mesmo para se referirem a nós, coordenadoras do grupo, eles nos chamavam de “professoras”, o que teve de ser discutido em grupo, a fim de reafirmarmos nosso lugar de colaboradoras do processo grupal, nosso papel de interlocução e de trocas e de estudantes de Psicologia.
Entendemos que essa situação possivelmente decorre por conta da escassez de espaços nos quais essas histórias de vida dos idosos possam ser escutadas e tidas como parte importante da construção da memória do grupo social em que estão inseridos. Além disso, também a mistificação da educação formal como variável indispensável a um suposto saber/conhecer sobre as coisas, o mundo e o outro, acabam por desqualificar o saber popular. A supervalorização dos conhecimentos provindos do ensino institucionalizado é reverberada de maneira acentuada nas rodas de conversa, dessa maneira fica expresso nos discursos dos participantes um movimento de desmerecimento de narrar as próprias histórias.
Aos poucos, tentamos permear novos encontros de maneira a romper com tal questão e possibilitar a ampliação de um espaço aberto ao compartilhamento dessas enunciações, o que pretende ser o principal objetivo das rodas de conversa, levando em conta o empoderamento e protagonismo dos idosos do CRAS.
Tal fato também nos atentou a salientar os aspectos referenciais e particulares do grupo nas dinâmicas. Em suas narrativas, fomos conhecendo os participantes do grupo e entrando em contato com suas histórias, as quais contavam memórias de vidas nascidas em pequenos sítios e fazendas. Todos trabalharam desde muito jovens em atividades no campo, com poucas oportunidades para frequentar escolas, por isso o nível de escolarização não ultrapassa o ensino fundamental completo. No linguajar popular, se consideram pessoas “muito simples” e fundamentam as caracterizações de suas narrativas como ínfimas e de pouca relevância para serem compartilhadas e estimadas com algum valor.
Nesse sentido, falar e trabalhar com o protagonismo desses idosos é, sem dúvida, um tanto desafiador, especialmente em uma sociedade na qual o que é valorado positivamente são as narrativas individuais que contemplam sucesso financeiro, fama e visibilidade. Estarmos à disposição para a escuta no contexto grupal e trabalharmos a partir dos referenciais de vida dos idosos possibilitaram participações que valorizaram suas narrativas e contribuições. Em outras palavras, procuramos criar espaços em que as relações e trocas se dinamizassem e se otimizassem.
Ao escutarmos suas histórias, nos surpreendia a força e a resistência dos idosos perante as dificuldades que já galgaram em suas vivências, muitas vezes marcadas, especialmente no caso das mulheres, pelo machismo e pela submissão da figura feminina à figura paterna, aos irmãos e maridos. Como o grupo foi majoritariamente feminino ao longo de um ano (homens começaram a participar a partir de 2016), em muitos encontros da Roda de Conversa foram abordadas questões de gênero. Percebíamos que discutir e refletir sobre a subjetivação da mulher era uma demanda das participantes e utilizamos, para isso, temas diversos, como moda e hábitos de vestuário, ícones femininos, propagandas antigas e atuais, modelos de corpos considerados ideais e belos ao longo das décadas, profissões e papéis da mulher, sexualidade e outros.
Para abordar essas temáticas, lançamos mão de vídeos, filmes de curta duração, revistas, fotografias e poemas, a fim de fomentar as narrativas das participantes do grupo. Na proposta de gerar discussão sobre a moda, por exemplo, utilizamos um vídeo como disparador da conversa, que apresentava uma retrospectiva dos cortes de cabelo femininos a partir de 1910 até à atualidade. Algumas admitiram a influência da moda dos cortes de cabelo em suas vidas, identificando períodos que usaram alguns cortes apresentados. Trouxeram para a reflexão o aparecimento dos cabelos brancos e as dificuldades em assumi-los. Com relação às vestimentas, o grupo afirmou que acreditam na existência de uma diferença entre as roupas utilizadas por jovens e por idosos, afirmando que o idoso possui um modo de se vestir mais desleixado, cabendo ao jovem vestir-se bem e “andar bem arrumado”. No entanto, o próprio grupo admitia que não se reconheciam enquanto “desleixados”, mesmo se considerando idosos.
Considerando a repercussão do tema da conversa sobre a moda, decidimos por aprofundar essa discussão em outros encontros, inclusive sobre as mudanças de conceitos de beleza ao longo do tempo. O grupo destacou a existência de uma ‘ditadura’ para conquista do corpo magro padronizado e estipulado pela mídia, apesar de acreditarem que esse modelo vale mais para os jovens e, ao mesmo tempo, fizeram afirmações pejorativas em relação a seus próprios corpos, desqualificando-os por serem “cheio de pelancas”. É possível que os próprios idosos tenham sido parcialmente capturados pela proposta midiática da corrida à conquista de um corpo invejável, jovem esguio e associado a outros êxitos cotidianos. Assim como coloca Goldenberg,
[…] Na cultura brasileira contemporânea, determinado modelo de corpo é uma riqueza, talvez a mais desejada pelos indivíduos das camadas médias urbanas e também das camadas mais pobres, que o percebem como um importante veículo de ascensão social. Nesse sentido, além de um capital físico, o corpo é um capital simbólico, um capital econômico e um capital social. Desde que seja um corpo sexy, jovem, magro e em boa forma, que caracteriza como superior aquele ou aquela que o possui, conquistado por meio de muito investimento financeiro, trabalho e sacrifício (GOLDENBERG, 2008, p. 15).
Ao compartilharem conosco essas percepções e sentidos sobre o corpo, organizamos uma oficina que propiciasse aos idosos contarem a história de seus corpos, através das marcas e transformações físicas que eles passaram, como crescimento, pelos, cirurgias, gestações, cicatrizes, peso, altura… Nesse encontro, foram compartilhadas histórias dessas marcas físicas e suas ressonâncias psicológicas. Pudemos ouvir relatos surpreendentes, envolvendo doenças que transformaram suas vidas significativamente, até acontecimentos guardados na memória desde a infância. Para incrementar a atividade propusemos uma dinâmica, a qual consistia em apesentar um espelho e solicitar aos participantes para falarem o que enxergavam nas imagens refletidas de si mesmos. Essa experiência foi bastante significativa, pois encontramos idosos que tanto falaram de si com sentimento de elevada autoestima com seus corpos envelhecidos, como também nos deparamos com a fala de idosas que visualizam suas alterações físicas com sofrimento e tristeza.
Em outro encontro, nos propusemos a discutir o assunto das doenças sexualmente transmissíveis, mais especificamente a AIDS. Apresentamos como disparador da discussão dados estatísticos sobre o aumento do número de idosos que adquiriram AIDS na velhice. Para o grupo, que nesse dia contava com participação majoritária feminina, essas informações não eram novidade para elas, e as mesmas admitiram que a divulgação e prevenção das doenças tem sido feita de forma eficaz, através da televisão e nos serviços de saúde, apesar de nunca terem contato com preservativo feminino. Levamos alguns preservativos, masculino e feminino, para distribuir entre as participantes, que compartilharam com o grupo histórias pessoais de uso de métodos contraceptivos. Falaram que muitos homens protestam contra o uso do preservativo e também relataram o alívio da chegada da pílula anticoncepcional durante a fase adulta, que era mais eficaz do que o método da “tabelinha” que até então utilizavam.
Esses encontros das Rodas de Conversa que abordaram temáticas referentes ao corpo e aos gêneros foram muito produtivos. As idosas, especialmente, puderam expressar e compartilhar suas memórias, sonhos, frustações, dores e alegrias no processo de “tornar-se mulher”, como diria Beauvoir (1967). Para nós, foi uma oportunidade de ricos aprendizados, onde pudemos perceber os atravessamentos de gênero na subjetivação daquelas idosas, suas marcas históricas, as forças hegemônicas e as estratégias de rupturas e fugas frente às tentativas de dominação masculina.
Salientamos que essas discussões sobre gêneros e outras, que lançaram mão das memórias do grupo, tomaram o passado como referência, mas sempre o articulando com o presente, no sentido de ressignificar as experiências anteriores e também de confrontar com os valores contemporâneos (CORREA, JUSTO, 2010). Tal particularidade denota o enriquecimento e sabedoria que tecem em seus discursos e arranjos diante das adversidades que compõe a vida. Para nós, é uma rara oportunidade de nos enriquecermos com suas histórias, uma vez que, tal como escreve Ecléa Bosi:
A conversa evocativa de um velho é sempre uma experiência profunda: repassada a nostalgia, revolta, resignação pelo desfiguramento de paisagens caras, pela desaparição de entes amados, é semelhante a uma obra de arte. Para quem sabe ouvi-la é desalienadora, pois contrasta a riqueza e a potencialidade do homem criador de cultura com a mísera figura do consumidor atual (BOSI, p. 41, 1987).
Ademais, observamos alguns conflitos com questões relacionadas ao mundo contemporâneo. A diferença entre as gerações, por exemplo, tem um impacto significativo na população idosa usuária do CRAS, gerando muitas vezes um sentimento de inadequação, uma dificuldade em acompanhar a rápida mudança de valores e a evolução tecnológica. Por outro lado, há um reconhecimento de alguns pontos interessantes da atualidade, como o desenvolvimento da medicina e de medicamentos, a possibilidade de exercício de liberdade de expressão, assim como uma vontade de estar em movimento, de expressar a subjetividade e poder experimentar outras vivências na velhice que anteriormente não eram tão presentes na vida dos mais velhos, como viajar, namorar, dançar, estudar, especialmente no caso das mulheres. Com relação a elas, ao menos metade das participantes do grupo é viúva. Em um dos encontros da Roda de Conversa, algumas relataram histórias de relacionamentos abusivos durante o casamento e, para elas, a viuvez trouxe seus lutos e dores, porém as idosas afirmam serem mais felizes e livres atualmente, por isso valorizam muito o fato de estarem na terceira idade.
Em outro momento, discutimos com o grupo o tema da violência contra o idoso e os participantes resgataram as histórias que envolviam diferentes violências do cotidiano, principalmente quando procuraram atendimento na área da saúde. Relataram situações de descaso e descriminação médica por serem idosos, refletido na demora para conseguirem marcar consultas e, por outro lado, na rapidez do tempo de consulta com os especialistas, o que trazia um sentimento de não serem ouvidos e cuidados. Destacaram, ainda, o descaso com a população idosa frente ao estado degradante de vias públicas, que dificulta a locomoção dos longevos pela cidade por conta do alto risco de sofrer quedas.
Outra situação de violência relatada pelo grupo é o forte sentimento de desqualificação de suas falas, pelo fato de serem idosos. Isso se reflete, por exemplo, no ambiente familiar, em que às vezes se sentem colocados em condição de inferioridade e não ouvidos, nos atendimentos médicos, em situações do cotidiano e outras. Tal sentimento de desqualificação apareceu em vários momentos do grupo e pudemos sentir o quanto essa violência silenciosa fere e cala o idoso. Nossa ação, nesse sentido, buscou fortalecer a voz do idoso no grupo, uma vez que esse espaço acolhe e escuta essa fala, oferecendo estratégias de enfrentamento a essas situações. É um trabalho um tanto quanto complexo, mas conseguimos visualizar algumas pequenas conquistas, como a participação de dois membros do grupo em conselhos municipais (da saúde e do idoso), idosos pleiteando BPC (Benefício da Prestação Continuada) e medicamentos de alto custo junto às secretarias da saúde e assistência social e, também, na construção de redes afetivas de sociabilidade para combater a solidão e o isolamento social desses idosos. Outra estratégia que estamos construindo para um futuro próximo é a confecção de um pequeno jornal dos idosos do grupo, no qual eles possam colocar suas produções, pensamentos, fotos, reivindicações e outros, para distribuirmos no CRAS e em outros espaços da cidade, funcionando como uma “voz” de enfrentamento do grupo frente às tentativas de desqualificação de suas falas.
Percebemos que essas ações que levam a produção dos idosos para o público fora do grupo são bastante bem-vindas e empoderadoras para eles. Certa vez, por exemplo, nos propomos a trabalhar com os saberes do cotidiano deles, especialmente através das memórias e das práticas das plantas medicinais e simpatias. Foi possível realizar trocas muito frutíferas, que resultaram em um grande cartaz afixado no CRAS, com os nomes de plantas e suas respectivas indicações. Também confeccionamos, em outra ocasião, vários cartazes com fotos antigas da cidade e as histórias dos lugares que eles frequentavam. São ações aparentemente simples, mas que demandam, sem dúvida, um bom vínculo entre o grupo e as coordenadoras da atividade e um trabalho de reflexão sobre o fazer daquela atividade e a que(m) ela se destina.
Outro ponto bastante discutido com o grupo foi sobre os sentidos que eles atribuíam à palavra “idoso” e como eles se sentem diante das palavras que caracterizam o envelhecimento. Em consenso, o grupo concordou que não viam problemas em serem chamados de idosos. Além disso, pontuaram que não se importam em serem chamados de “velhinho”, “véia” (sic), pois essa é sua condição, porém frisaram que a problemática se encontra no tom e respeito com o qual são chamados. Existem pessoas que usam esses termos com entonação provocativa e outras de um jeito carinhoso, logo esclareceram que o problema não se encontra nas palavras, mas no contexto e sentido em que são ditas.
Essa questão do conceito de velhice é bastante interessante em nossos dias, especialmente se levarmos em conta alguns contextos históricos. Atualmente, há uma série de terminologias que buscam dar conta da complexidade dessa fase da vida situada a partir dos 60 anos. Encontramos na literatura científica, no dia-a-dia e na mídia diversas nomenclaturas, como idoso, velho, terceira idade, melhor idade, feliz idade, maturidade e outros. Cada uma dessas denominações foi construída em diferentes contextos históricos, sociais e culturais e remetem a diferentes sentidos.
A palavra “velho”, por exemplo, muitas vezes é usada, hoje, com uma conotação pejorativa. O velho normalmente representa a decadência, incapacidade física, dependência de cuidados e proximidade da morte, mas também pode adquirir outras significações (CORREA, 2009). Peixoto (1998), a esse respeito, aponta que, na França do século XVIII, esse termo não possuía conotação fortemente pejorativa e estava mais associado à diminuição da força física para o trabalho. Por outro lado, a partir do século XIX, consideravam-se como “velho” ou “velhote” as pessoas acima de 60 anos que não detinham status social (op. cit.). Já a designação “idoso” aparece nesse mesmo tempo histórico para caracterizar as pessoas de mais idade pertencentes às altas classes sociais, além de determinar uma forma mais respeitosa de tratar os mais velhos. Posteriormente, a palavra “idoso” também passou a ser mais utilizada em textos de legislações (ibidem).
Com o processo de envelhecimento da população, com a garantia de direito à aposentadoria, com a propagação da promoção de envelhecimento saudável e outros fatores, surge o termo “terceira idade” na França (ibidem). Essa designação remete a uma população de jovens idosos, sinônimo de envelhecimento ativo e independente, “em que a ociosidade simboliza a prática de novas atividades sob o signo do dinamismo” (PEIXOTO, 1998, p. 76). Esta categoria de idosos costuma preocupar-se com a alimentação, a aparência, em praticar atividades físicas e atentar-se para necessidades culturais, sociais e psicológicas (SILVA, 2008).
Os “jovens velhos” da terceira idade costumam dispor de tempo, saúde e estabilidade financeira para aproveitarem momentos de lazer e são fontes lucrativas para organizadores de atividades, compra de produtos e serviços próprios para pessoas aposentadas e acima de 65 anos. Por essas razões, houve um acentuado crescimento no mercado de produtos e serviços para aposentados, como oferecimento de cursos, festas e viagens objetivando uma velhice saudável, fazendo circular a economia e concomitantemente “movimentando” os idosos (PEIXOTO, 1998).
Além dos impasses e complexidades acerca das terminologias da velhice (idoso, terceira idade…), o grupo destacou a existência de pessoas que tentam mascarar a idade e a artificialidade desse movimento. Os participantes consideram que o melhor é aceitar o envelhecer, porque não há como “disfarçar” os anos de idade por muito tempo. Acreditam que o movimento de “esconder a idade” e as marcas da velhice é inócuo, uma vez que todos envelhecerão e suas marcas demonstram que passaram por muitas histórias, experiências, alegrias e tristezas. Admitem serem felizes por terem chegado a idade que chegaram, pois significa que viveram bastante, sendo então um orgulho chegar aos 70/80/90 anos. Nas palavras de uma participante do grupo, “triste é uma pessoa morrer jovem e não desfrutar da vida”.
É interessante notar um sentimento de alegria pelos anos de vida, que vem acompanhado de uma sensação de vida plena, em que tais alegrias também comungam das dores e tristezas que envolvem a existência. Nesse sentido, mesmo diante de histórias de vida que trazem a marca da simplicidade e de momentos tristes e de perdas, esses idosos se reinventaram, pois, nos dizeres de Tótora (2015, p. 24), “abrir-se à vida é dispor-se a enfrentar todas as adversidades, com a alegria dos que fazem dessa aliança um aumento da potência de agir, inventando novas formas de existência”.
Considerações finais
São muitos os aprendizados construídos ao longo desses três anos de atividade com o grupo da Roda de Conversa. Tais aprendizados envolvem tanto os idosos, que compartilham histórias, sentidos, imagens sobre diferentes assuntos, quanto nosso lugar de aprendizes de Psicologia. Sem dúvida, esse é um lugar propício para questionar e enfrentar a lógica de desqualificação do ser que envelhece, para vislumbrar as potencialidades dos encontros, para a necessidade de criar estratégias de atenção em psicologia que promovam empoderamento e autonomia e para romper estereotipias, tal como pressupõe Pichon-Rivière (1983).
É interessante observar como o choque com as mudanças culturais valorativas sempre estão presentes de alguma forma nas rodas de conversa e emergem com uma variedade de sentimentos frente às situações vividas. A partir disso, é importante problematizar a respeito da maneira com que lidamos com as novas configurações e disposições das relações humanas, produzindo coletivamente movimentos de compreensão e reflexão face aos novos arranjos que a convivência com o outro nos oferece. Juntamente a essas questões, é notável a disposição respeitosa e participativa dos idosos com relação aos assuntos discutidos, à nossa presença e principalmente entre eles, tal gesto é cativante, gratificante e fortalecedor para o vínculo que foi construído em nossos encontros, pois demonstra em outras linguagens a autonomia e vontade de expressão e compartilhamento que os movimentam.
Verificamos que as rodas de conversa são uma oportunidade para a expressão e valorização da subjetividade de cada um, para reflexão em grupo, de forma a resgatar a capacidade de pensar criticamente o contexto em que se vive, sendo também um espaço para construção de vínculos. Nossa inserção em um equipamento da assistência social nos fez refletir sobre o papel do psicólogo dentro destes espaços e, assim, concluímos que nossas ações e atividades podem promover práticas que nos convidam a repensar o papel tradicional do psicólogo, para além da premissa de enquadramento do sujeito, com o objetivo de possibilitar práticas que visem a autonomia e a emergência de protagonismos.
Referências
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Currículo(s) do(s) autor(es)
Mariele Rodrigues Correa, Bruna Giovanna Buesso da Silva, Danielle Davanço, Joselene Cristina Gerolamo, Livea Carla Fidalgo Garcêz Sant’Ana, Yasmin Aparecida Cassetari da Silva – (clique no nome para enviar um e-mail ao autor) – Mariele Rodrigues Correa: Doutora em Psicologia. Docente do Departamento de Psicologia Social e Educacional da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), campus de Assis. Bruna Giovanna Buesso da Silva: Graduanda em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), campus de Assis. Danielle Davanço: Psicóloga graduada pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), campus de Assis. Atua na Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva e Atenção Primária na FMUSP. Joselene Cristina Gerolamo: Graduanda em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), campus de Assis. Livea Carla Fidalgo Garcêz Sant’Ana: Psicóloga graduada pela Psicologia pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), campus de Assis. Yasmin Aparecida Cassetari da Silva: Graduanda em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), campus de Assis