3213 A Importancia Da Leitura

.O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma revisão bibliográfica da temática “A importância da leitura na formação continuada do professor em benefício do educando na Educação Básica

Resumo

O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma revisão bibliográfica da temática “A importância da leitura na formação continuada do professor em benefício do educando na Educação Básica”. Em todas as fases da sua vida o ser humano está sempre aprendendo e descobrindo coisas novas, garantindo assim a sua sobrevivência e a integração na sociedade como ser participativo e ativo. É de fundamental importância à questão da leitura na vida dos seres humanos, e a família exerce uma função essencial no processo de formação de um leitor efetivo. A escola torna-se um ambiente fundamental na aquisição do hábito pela leitura e formação do leitor, pois, mesmo com suas limitações ela é o espaço destinado à formação do leitor.A forma como o educando vê a leitura em seu dia a dia tanto na escola quanto na sua família. A falta do hábito de ler em seu seio familiar, assim como os métodos que são utilizados na escola para despertar o interesse dos alunos pela mesma, que nem sempre é prazerosa, a intenção do educador quando sugere alguma leitura para as crianças que, sempre tem uma intencionalidade, ler para responder atividades, enfim acabam desmotivando, ou não despertando o interesse do educando em se tornar um leitor. Visto que, o ser humano é um ser histórico-social, logo as relações interpessoais têm grande influência.

Palavras-chave: Leitura. Formação continuada. Professor. Qualidade.

1. Introdução

O trabalho com a leitura na Educação Básica exige preparo, ensinando para as crianças o prazer de ler. A criança precisa experimentar a leitura em diversas situações.

Na escola, ela quer crescer num ambiente em que veja que a leitura esteja presente em muitas conjunturas, tanto nas lúdicas como: leitura de livros de história, poesia, brincadeira com trava-línguas e parlendas, até os usos mais sociais: jornal, listas, cartazes, entre outros.

A criança precisa muito de fantasia e de imaginação. Livros de literatura infantil, contos de fadas, fábulas e contos de folclore favorece a fruição estética. Nessa fase a professora não pode escolher entre livros apenas para ensinar algo como higiene, cuidado ou valor moral.

A aprendizagem da leitura se inicia desde o nascimento com a imitação de sons articulados, até a fase adulta, em que há um verdadeiro aperfeiçoamento.

Nesse sentido é necessário que o ambiente em que se processa a construção da leitura, favoreça a criança a expressar seu pensar de acordo com o entendimento que ela tem das informações que lhe são apresentadas.

O espaço de leitura é de suma importância, pois o mesmo tem de ser extremamente acolhedor, de muita interação, onde o adulto apoia e compartilha, ajudando a encontrar o caminho da leitura.

Assim, o respeito pelo interesse das crianças, garante que a leitura esteja associada à escolha e ao prazer.

O contrário disso é o espaço que associa leitura a obrigação, exigindo que a criança fique amarrada na cadeira, quieta, sem se relacionar com os objetos e os livros.

Nesse aspecto, existe uma necessidade distinta para que se organize a ideia de leitura como atividade dinâmica, diferente em cada idade, presente em vários materiais e situações da vida.

Além da preocupação com o espaço de leitura, realize procedimentos de ensino e aprendizagem voltada para a leitura sob a perspectiva mais significativa, que promova nos educandos prazer em aprender a ler e a autonomia de um bom leitor, contrário ao tipo de educação em que, na maioria das vezes, se reproduz as formas mais tradicionais de instrução, na qual os alunos são preparados para a repetição, memorização, comportamentos passíveis diante dos problemas postos pela realidade em que vivem.

Desenvolvimento:

Desde muito pequeno aprendemos a entender o mundo que nos rodeia. Por isso, antes mesmo de aprendera ler e escrever palavras e frases, já está“lendo“, bem ou mal, o mundo que nos cerca. Porém, é preciso ir além dele e para tanto é necessário que as escolas e professores de Educação Básica trabalhem de maneira significativa para que o aluno realize atividades de leitura dando a ele condições de superar suas hipóteses de escrita e suas estratégias de leitura.

Na antiguidade e no começo da idade média os livros eram manuscritos e consistiam em rolos de papiro ou de pergaminho. Na Europa livros formados por páginas costuradas em uma lombada surgiram no século 13. Mas, ainda eram manuscritos, o que os tornavam raros e caros. Os chineses foram os pioneiros na arte de imprimir livros usando blocos de madeira com impressões gravadas. Passava-se tinta nestes blocos, em seguida aplicava ao papel. Os primeiros livros tratavam de magia ou de temas escolares (WIKIPÉDIA, 2010).

Em 1400 esse conhecimento chegou a Europa e o alemão Johannes Gutenberg em 1448, financiou a criação da imprensa a qual imprimiu seu livro mais famoso, a Bíblia de Gutenberg esta começou a estar ao alcance de muitos (WIKIPÉDIA, 2010).

Para os gregos e romanos saber ler e escrever era a base de educação para viver adequadamente, essa educação visava não somente os desenvolvimentos intelectuais e espirituais bem como as aptidões físicas, dando possibilidades do indivíduo integrar-se à sociedade classes de homens livres (Martins,1999).

Coleridge citado por Silva:

Existem quatro tipos de leitor. O primeiro é como uma AMPULHETA: a leitura, sendo a areia, desaparece sem deixar vestígio. O segundo é igual a uma ESPONJA: embebe-se de tudo e devolve exatamente aquilo que sugou. O terceiro parece um COADOR: retém somente aquilo que não presta. O quarto é como um MINEIRO das minas de Golconda: joga fora o inútil e retém somente as gemas mais puras. (COLERIDGE apud SILVA, 1982)

Então o que é leitura? Qual a importância da leitura na formação dos educandos na Educação Básica? Leitura é um processo de interação entre o leitor e o texto, onde se tenta obter uma informação pertinente para o objetivo que guia a sua leitura.

Processo de leitura deve garantir que o leitor compreenda o texto e que podem ir construindo uma ideia sobre seu conteúdo extraindo dele o que lhe interessa, em função dos seus objetivos.

A relação dos educandos com a leitura na Educação Básica na maioria das vezes é puramente obrigatória, para obter algo, ler para responder atividades e não ficar sem recreio e principalmente para fazer avaliação e não ser reprovado. Na Educação Básica como em quase todo processo educacional a leitura não é vista como algo que dar prazer e sim como necessário, nenhuma tarefa de leitura deveria ser iniciada sem que os educandos se encontrem motivados para tal.

De acordo com Solé(1998) existem algumas situações em que a leitura é mais motivadora do que em outras como quando a criança procura a biblioteca ou o cantinho da leitura para tirar algumas dúvidas, quando quer saber o significado de algumas palavras, ou seja, o ato de ler deixa de ser obrigatório e passa a ser algo prazeroso, que serve de uma ponte entre informações e o leitor, no qual um novo mundo é descoberto está é uma rica fonte transmissora.

Pesquisas realizadas apontam que a leitura não é utilizada tanto quanto deveria, isto é, não lemos o bastante. Uma questão que se coloca é a seguinte: será que os professores e a escola têm clareza do que é ler?

A leitura e um dosmúltiplos desafios a ser enfrentado pela escola é o de fazer com que os alunos aprendam a ler corretamente, isto é lógico, pois a aquisição da leitura é imprescindível para agir com autonomia nas sociedades letradas, e ela provoca uma desvantagem profunda nas pessoasque não conseguiram realizar essa aprendizagem. (SOLÉ, 1998)

Deve-se ter o cuidado de não forçar à leitura para o educando que teve uma experiência inicial não muito agradável com a mesma, pois para que a criança se sinta envolvida na tarefa de leitura ou simplesmente motivada com relação a ela é necessário que existam alguns indícios eficazes de que será eficaz ou pelo menos a garantia de que ela não seja um desastre total (SOLÉ,1998).

É fundamental que ao ler, o leitor se proponha a alcançar determinadas estratégias responsáveis pela compreensão, quanto o controle que, de forma inconsciente, vai exercendo sobre ela, à medida que lê. O controle da compreensão é um requisito essencial para ler de forma eficaz.

Por isso um dos objetivos da leitura é ler para aprender. Quando um leitor compreende o que lê, está aprendendo e coloca em funcionamento uma série de estratégias cuja função é assegurar esse objetivo.

Isso nos remete a mais um objetivo fundamental da escola: ensinar a usar a leitura como instrumento de aprendizagem. Devemos questionar a crença de que, quando uma criança aprende a ler, já pode ler de tudo e também pode ler para aprender. Se a ensinarmos a ler compreensivamente e a aprender a partir da leitura, estamos fazendo com que aprenda a aprender. (SOLÉ, 1998)

Aspecto de grande importância nessa fase é a curiosidade, está que leva os educandos a despertar o interesse pela leitura, pois é a partir dela que as crianças buscam os questionamentos e são eles que os levam a entender o desconhecido.

Outro fator motivador de leitura para as crianças é o fato de elas terem algum tipo de afetividade com os seus educadores que em geral são importantes para eles, quando estas valorizam, usam e desfrutam da leitura.

Portanto, para motivar uma criança para a leitura não consiste em os professores abrir uma cartola mágica e dizer “vamos ler” é preciso que os educandos percebam e falem, cabe ao educador planejar estratégias eficazes que evitem a competição e concorrência entre os alunos, podendo também tomar decisões que possam ajudar alguns alunos se precisarem, incentivando assim o gosto pela leitura e consequentemente com o avanço de seu próprio ritmo o mesmo poderá elaborar sua interpretação.

Os objetivos dos leitores com relação aos textos são vários, haverá tantos objetivos quanto leitor, em diferentes situações e momentos. A leitura não deve ser considerada uma atividade competitiva, através da qual se ganha prêmios os sofrem sanções.

Para Solé: “A convicção de que a transformação da leitura em uma competição- aberta ou encoberta- entre as crianças tende a prejudicar os sentimentos de competência das que encontram maiores problemas, o que contribui para o seu fracasso, (1998, p.90) ”.

Portanto, a leitura não deverá ser utilizada pelos educadores como forma competitiva entres os educandos, pois, os que têm mais dificuldade com a leitura podem desenvolver resistência com a leitura.

Quando falamos de leitura na Educação Básica, logo nos remetemos às salas de aula, no entanto estas estão longe de ser o melhor local para se fazer uma boa leitura, pois, a realidade de nossas escolas não estimulam estes pequenos aprendizes de leitor. Deparamo-nos diariamente com a falta de espaço físico apropriado, convidativo e aconchegante para tal tarefa e até mesmo por falta de títulos diversificados que estimule e aguce a curiosidade das crianças (MEIRELLES,2010).

Se a leitura de textos escritos e a escrita hoje, não é algo que se consegue ter acesso naturalmente, muito menos naquela época, esta era considerada artigo de luxo privilégio de poucos.

O conhecimento é a construção íntima de cada ser, uma elaboração da mente, construindo desmontando e reconstruindo estruturas de pensamento, sempre a partir do que percebeu e experimentou.

A leitura, parte desse processo, também se desenvolve de forma gradual, é um hábito a ser adquirido e deve ser fonte de prazer e não apresentada de forma obrigatória através de imposição ou cercada de castigos e ameaças.

Para Silva (1993) os adultos que participam da vida da criança têm papel fundamental no aprendizado da leitura e escrita. Por isso é importante que sejam modelos de leitura, que leiam frequentemente para a criança e que introduzam a leitura em sua vida o mais cedo possível. Afinal, ler é um hábito a ser desenvolvido e, como todos os hábitos, só se instalam se for realizado muitas vezes.

É fundamental entender que essa aprendizagem é gradativa, que devem ser respeitadas diferenças individuais e não se deve punir e criticar a criança por ela não estar lendo ou escrevendo como a outra da mesma idade. Isso poderia atrapalhar o seu desenvolvimento, gerando nela sentimento de insegurança e incapacidade.

Ao contrário, deve-se compreender que, quanto mais a criança associar a leitura e a escrita com atividades úteis e que lhe deem prazer, maior será o seu desejo de aproximar-se delas, maior facilidade ela terá de aprendizado (afinal, aprende-se a ler e escrever lendo e escrevendo) e maiores chances ela terá de levar a leitura e a escrita como aliadas para toda a vida.

Os fatores externos proporcionam estimulações que podem despertar o interesse do aluno, não esquecendo que cada um é um ser individual, que ele traz a sua vivência, a sua bagagem de informações, os seus interesses e é a partir daí que o educador poderá criar um momento propício para que o aluno possa construir suas estruturas de pensamentos da melhor maneira, com o melhor tipo de informação e os melhores exemplos possíveis.

  • Ler é saber o primeiro resultado da leitura é o aumento de conhecimento geral ou específico.
  • Ler é trocar: ler não é só receber. Ler é comparar as experiências próprias com as narradas pelo escritor, comparar o próprio ponto de vista com o dele, recriando ideias e revendo conceitos.
  • Ler é dialogar: quando lemos, estabelecemos um diálogo com a obra, compreendendo intenções do autor. Somos levados a fazer perguntas e procurar respostas.
  • Ler é exercitar o discernimento: quando lemos colocamo-nos de modo favorável ou não aos pontos de vista das ideias defendidas pelo autor, refletindo sobre opções dos personagens.
  • Ler é ampliar a percepção: ler é ser motivada a observação dos aspectos da vida que antes nos passavam despercebidos.
  • Ler bons livros é capacitar-se para a vida. (CAGLIARI,1990).

Ler e escrever são atividades cognitivas, isto é, atividades de processamento de informação que partilham com falar e compreender a fala.

Segundo CAGLIARI(1996, p.248):

A leitura é uma atividade fundamental que a escola deve desenvolver para a formação do aluno, pois é muito mais importante saber ler do que escrever. Sendo assim, o melhor que a escola pode oferecer aos alunos deve estar voltando para a leitura.

A leitura é a extensão da escola na vida das pessoas. A maioria do que se deve aprender na vida terá de ser conseguido através da leitura fora da escola.

As escolas precisam ter uma biblioteca com livros de consulta e com livros de livre circulação, com leituras interessantes para as crianças e promover leitura de revistas como: revistas ilustradas, em quadrinhos, fascículos de periódicos entre outros.

Para SOARES (2001, p.20):

Na escola, a criança deve ser rodeada de livros e materiais em espaços de leitura seja biblioteca, sala de aula. “o papel do professor é intermediar o contato do aluno com a leitura, colocar o livro disponível e orienta-la no seu uso, no convívio com o material escrito”.

Vale ressaltar que, o medo de a criança rabiscar e rasgar os livros faz os professores criarem dificuldades de acesso ao material. Essas restrições acabam mostrando o contrário do que deveria ser: que a leitura é difícil, chata, porque não pode tocar no livro. Pode estragar sim porque ela ainda não tem os hábitos e habilidade motora para lidar com os livros, mas é também a oportunidade de a professora ensinar a criança a respeitar o livro e como manipulá-lo sem rasgar, senti-lo como alguma coisa familiar.

A leitura deve ter no cotidiano escolar um espaço garantido em que o professor e alunos mergulhem no mundo do imaginário, da fantasia, da ficção sem o compromisso de tirar dessas leituras ensinamentos referentes aos aspectos gramaticais da língua.

A influência que a escola exerce sobre o educando em relação ao seu interesse pela leitura é quase insignificante comparando com a que os amigos e familiares exercem prova disso é o que afirma Martins (1999, p.28): “É a partir de muitas e variadas leituras que se tem a oportunidade de conhecer diferentes autores e estilos, o que certamente irá favorecer produções igualmente ricas e variadas”.

É muito importante oferecer ao aluno uma gama bem ampla composta também de história sem textos, em que a narrativa é apenas visual. O leitor então, interpretando as imagens atribuirá significados que poderão ir muito além do que está expresso nas gravuras.

Para Silva (1993) a leitura contribui para o crescimento emocional, cognitivo e para identificação pessoal da criança, propiciando ao aluno, a percepção de diferentes resoluções de problemas, despertando a criatividade, a autonomia, criticidade, que são elementos necessários na formação da criança de nossa sociedade atual.

A criança nasce com potencial físico e psíquico para ler o mundo e quaisquer símbolos que expressam a cultura, porém a transformação dessa criança em leitor vai depender das condições socioambientais que ela vai encontrar no decorrer da vida.

Um dos problemas que se enfrenta no processo de apropriação do código escrito como objeto do conhecimento está vinculado, segundo a leitura política de Ezequiel da Silva, aos problemas sociais. Para ele, apesar da condição social do indivíduo não ser um fator determinante para sua formação como leitor, esses problemas acabam sendo barreiras na sua formação(SILVA, 1993).

A organização social, onde a leitura aparece e se localiza, dificulta ou facilita o surgimento de homens leitores críticos e transformadores.

O acesso à leitura está diretamente relacionado ao acesso à escola. O processo de aquisição e transmissão cultural que acontece no período de escolarização formal dos indivíduos, sempre envolve mediação do material escrito. Por isso, a qualidade do material didático é de grande importância para a formação de um leitor dotado de criticidade.

É no ensino das séries iniciais que se dá o ensino da leitura de modo que as crianças possam se situar no mundo da escrita. Assim a escola deve ir aperfeiçoando as habilidades de leitura dos alunos-leitores na Educação Básica e proporcionando situações que eles possam “ler e aprender”.

Porém, ao invés de levar os alunos a um conhecimento mais profundo da realidade e a um posicionamento crítico frente a essa realidade, a leitura na maioria das vezes, tem servido a propósito de memorização de normas gramaticais, reprodução de dogmatismo e celebração cívica.

A apresentação de textos inofensivos socialmente e que são abordados através de métodos opressivos e retrógados, faz com que o trabalho da leitura realizado pela escola seja um processo de imbecialização do leitor mantendo uma consciência ingênua(SILVA, 1993).

A ausência de critérios para a seleção de textos, também pode levar o aluno ao distanciamento entre a escola e a vida social; o aluno vê ou lê coisas diferentes dentro e fora da escola.

A “interpretação única” do documento proposto pela leitura é um grave problema, pois não é dada ao aluno-leitor a chance de propor outras interpretações possíveis ao documento escrito; eliminando a etapa reflexiva da leitura fazendo com que o leitor se enquadre na interpretação fornecida, “pronta e certa”.

Muitas vezes, o professor na ânsia de instalar o “hábito” da leitura, surge a preocupação excessiva com o número de obras lidas, e até uma cobrança pelas “fichas de leitura”, assim, o aluno adquire outro hábito: o de ler para preencher “fichas”, o que acarreta o desgosto pela leitura, pois, o produto do trabalho do leitor não é coletivizado em termos de discussão reelaboração.

A biblioteca escolar é um espaço de muita importância na formação do aluno-leitor, a biblioteca deve atender as necessidades dos discentes e dos docentes, os alunos devem a ter como um espaço de pesquisa e confrontos de textos. Porém, a realidade das escolas brasileiras é bem diferente, muitas delas não possuem bibliotecas e quando existentes se encontram em verdadeira calamidade.

Para Ezequiel da Silva, os indivíduos de maior poder aquisitivo têm uma vantagem sobre os “mais pobres” para se constituírem leitores assíduos. Eles podem se apropriar de livros de melhor qualidade, em maior quantidade, tem acesso a bibliotecas, tem maior disponibilidade de tempo.

Não estamos afirmando que haja privação cultural e sim uma maior probabilidade que os indivíduos de maior poder aquisitivo encontrem mais facilidade nesse processo.

A falta de motivação interpessoal também pode se apresentar como sendo uma barreira para a boa formação de um leitor. Isso não quer dizer que seja um determinante, porém, influência bastante.

De acordo com os PCN (BRASIL, 1998, p. 56): Para aprender a ler, portanto, é preciso interagir com a diversidade de textos, testemunhar a utilização que os leitores fazem deles e participar de atos de leitura de fato; é preciso negociar o conhecimento que já se tem e o que é apresentado pelo texto, o que está atrás e diante dos olhos, recebendo incentivo e ajuda de leitores experientes.

Diante disso, é necessário que o aluno tenha conhecimento da importância daquilo que vai aprender, tornar-se consciente e motivado para a aprendizagem da leitura, levando-a para uma prática inserida no seu cotidiano com diferentes modalidades no ensino da leitura.

Nos PCN (BRASIL, 1998, p. 58) estão expressos que: para tornar os alunos bons leitores – para desenvolver, muito mais do que a capacidade de ler, o gosto e compromisso com a leitura – a escola terá de mobilizá-los internamente, pois aprender a ler (e também ler para aprender) requer esforço. Precisa fazê-los achar que a leitura é algo interessante e desafiador, algo que, conquistado plenamente, dará autonomia e independência.

É fundamental entender que para formar leitores, se faz necessário à escola criar ambiente estimulador, com condições favoráveis para que se desenvolva a prática da leitura, onde o aluno se sensibilize pela necessidade de ler, criando um espaço agradável no qual o leitor queira permanecer nele e poder desfrutar o que há de melhor, tornando assim um veículo facilitador da aprendizagem no qual lhe dará autonomia diante do seu conhecimento.

Um dos fatores que influencia a falta de interesse dos educandos pela leitura está veiculado a questão cultural que atravessa gerações e perpassa de pais para filhos.

Nossos antepassados não tinham hábito de ler, portanto as crianças não conviviam diariamente com um celeiro de leitura refletindo assim nos hábitos de seus filhos.

Acredita-se que os nossos antecedentes não tinham costumes de ler, por muitos não terem acesso à leitura, pois, sabemos que a maioria não sabia ler, principalmente as mulheres que os pais não deixavam estudar porque elas poderiam aprender a escrever cartas para os namorados, logo cresciam sem ir a uma escola e respectivamente não tinham acesso à leitura (SILVA, 1983).

Segundo Vygotsky o ser humano é um ser histórico-cultural logo se o mesmo convive em um meio familiar onde os livros só servem para enfeitar as estantes e ninguém os manuseiam, este não terá interesse nem curiosidade pela leitura acreditará que os livros sejam objetos que façam parte puramente da decoração da casa.

Desta forma percebe-se a influência que a família exerce sobre a aquisição da leitura dos educandos, principalmente na formação básica, visto que é essencial à participação da mesma na escola.

As primeiras relações de leitura em um processo de comunicação e de compartilhamento através expressão e da percepção iniciam por meio das interações entre a mãe e seu bebê, ainda no ventre materno, em uma rede de significados e de afeto que ambos vivenciam.

Essa comunicação se alicerça não mais no suporte do emissor e do receptor, mas do expressor, a mãe, que expressa sentimentos de afeto, de ternura, e do perceptor, o filho, que percebe esses sentimentos na atitude da mãe em um momento de interação.

A interação na comunicação continua após o nascimento, quando as cantigas de ninar acalantam e acalmam o bebê, conduzindo-o para um sono tranquilo e embalado pela suave melodia da voz materna.

Esse compartilhamento de afetos prossegue através das histórias narradas, pelas pessoas que fazem parte do círculo de afeto das crianças: a mãe, o pai, o irmão ou a irmã maior, o avô, a avó, o tio, a tia, a babá entre outros contadores de histórias, que fazem parte do contexto familiar.

Nesse encontro mágico e prazeroso, permeado de causos e narrações de aventuras, de terror, de lendas e mitos, ou de histórias de vida em que os personagens são próximos, os sonhos, a fantasia, a magia, a aventura e o ludismo permeiam o imaginário das crianças, que ouvem as narrativas e estabelecem laços de afeto entre quem conta e quem ouve a história (FOUCAMBERT, 1997).

Como diz Abramovich (1997, p. 21) “ouvir histórias é viver um momento de gostosura, de prazer, de divertimento dos melhores […] é viajar sem sair do lugar dá asas à imaginação. ”

Segundo Abramovich (1997, p. 22) “ouvir histórias não é uma questão que se restrinja a ser alfabetizado ou não […]”

Afinal adultos gostam de ouvir uma boa história, assim como as crianças que já sabem ler, apesar de ser diferente sua relação com as mesmas: porém, continuam sentindo prazer em ouvi-las.

Para o bebê é importantíssimo ouvir a voz da mãe, pai, avó entre outras pessoas amadas e para a criança que já sabe ler também é fundamental partilhar a leitura com outras crianças e adultos da sua família.

Vale ressaltar que é nos primeiros anos de vida que se deve incentivar a paixão pelos livros. Crianças pequenas adoram ouvir histórias, ainda mais se elas forem contadas de forma animada e divertida. Até o segundo ano de vida, os livros devem ser ricamente ilustrados de preferência com gravuras que façam parte do universo infantil.

Nesta fase da vida os pais devem se encarregar das histórias e também apresentar livros às crianças, ajudando-os a manuseá-los e mostrando a elas as ilustrações. Quando os pais leem para os filhos estabelecem um vínculo afetivo importante que vai ajudar no desenvolvimento emocional da criança.

Para Abramovich (1989, p. 17) “ler histórias para crianças é suscitar o imaginário, é ter a curiosidade respondida em relação a tantas perguntas, é encontrar outras ideias para solucionar questões”.

Segundo Foucambert (1997) o processo da leitura deve ser iniciado na família, desde muito cedo, sem que esta postergue para a escola o papel da formação do leitor e do incentivo à leitura, quando esta também é uma tarefa da família.

Ninguém nasce sabendo ler, aprende-se a ler à medida que se vive Freire (1982) assegura que a leitura de mundo precede a de palavra, e se apropriar da leitura, da escrita, alfabetizar-se é, antes de tudo, aprender a ler o mundo.

Do mesmo modo, é necessário pensar no ato de ler como possibilitador de descoberta sobre características comuns entre diferentes indivíduos, grupos sociais e culturais inseridos em uma realidade e momento históricos; compreendendo assim a questão cultural, “[…] o ato de ler se refere tanto a algo escrito quanto a outros tipos de expressão do fazer humano, caracterizando-se também como acontecimento histórico e estabelecendo uma relação igualmente histórica entre o leitor e o que é lido” (MARTINS, 1985 p.30).

Freire (1992) ressalta ainda que o início da vida leitora de um sujeito se dá por meio da leitura de mundo, feita através de objetos, expressões e figuras.

Assim, pode-se dizer que a leitura é construída no próprio meio em que vivemos, pois todas as expressões, símbolos e objetos são palavras lançadas como códigos de leitura, os quais o leitor terá que decifrar, ou seja, a leitura é a interação do indivíduo com o próprio mundo.

Saber ler, e bem, é, pois, condição para gostar de ler e criar hábitos de leitura. Gostar de ler e gostar de interagir com textos, é, por vez, condição para saber ler, e bem:

Quando uma pessoa sabe ler bem não existem fronteiras para ela, ela pode viajar não apenas para outros países, mas também no passado, no futuro, no mundo cósmico. Descobre também o caminho para a porção mais íntima da alma humana, passando a conhecer melhor a si mesmo e aos outros. (BAMBERGER, 2004 p. 29).

Para gostar de ler é necessário conhecer, ou melhor, experimentar, as vantagens da leitura, a qual não pode ficar por um mero processo de descodificação; entrando também da compreensão e da interpretação, que permite construir conhecimento tendo por base o que já se conhece sobre o assunto, ativando referenciais e realizando aprendizagens significativas.

Para gostar de ler, o leitor tem que se assumir como um sujeito ativo, ultrapassando a leitura literal, lendo nas entrelinhas, interagindo com o texto e confrontando-se consigo mesmo. É deste diálogo entre o leitor e o texto que, em larga medida, nasce o gosto pela leitura.

Em decorrência disso, na formação do leitor mirim não basta a colaboração e a relação entre texto e leitor, mas devemos também prever os chamados mediadores de leitura; que podem ser o professor ou a família; possuindo o importante papel de tornar a prática de leitura uma atividade prazerosa e não apenas mecânica.

Dessa forma, a família deveria ser a primeira mediadora de leitura, pois é o primeiro elo da criança com o mundo; no entanto os pais e demais membros da família, na maioria das vezes, não possuem a dimensão da influência que podem exercer sobre as crianças com relação à motivação para à leitura.

Ao facilitar esse acesso mais lúdico ao ato de ler, os pais e também os educadores estarão auxiliando em todo o processo de letramento futuro da criança.

Frank Smithapud SIVA, (1988.p. 56) afirma que

As crianças aprendem desde o momento em que vêm ao mundo. Uma criança aprende ouvindo conversa de sua mãe, dentro e fora de casa. Ela aprende quando seu pai dá-lhe uma chance para trabalhar com pregos e martelo. Ela aprende quando acha necessário verificar o preço de um equipamento esportivo num catálogo. Ela sempre aprende com o objetivo de atribuir significado a alguma coisa, e especialmente, quando existe um exemplo, um modelo a ser seguido.

A leitura em voz alta é um fator motivante dos pais para o filho e cria oportunidade para uma troca de experiências entre os mesmos, fazendo com que a criança saiba o que é considerado benéfico pelos pais. Se as crianças são criadas em um ambiente receptivo à leitura, em contato ativo com materiais que sugerem a recepção de textos é provável que no futuro ela conserve o gosto de ler. Se ao contrário a família não se envolver será mais difícil o trabalho dos professores.

Em outras palavras,

Se num primeiro momento de sua existência a criança aprende e se situa no mundo através da atribuição de significados a pessoas, objetos e situações presentes no seu ambiente familiar, então podemos inferir, que esse mesmo ambiente deve ser potencialmente significativo em termos de livros, leitores e leitura. (SILVA,1988 p.56).

Utilizamos a leitura em vários locais e com diversas finalidades em nossas vidas: no trabalho, na escola, no lazer ou em casa. É possível dizer que a leitura em casa está ligada ao lazer enquanto em outros ambientes formais e estruturalmente rígidos, ela é utilizada como meio de acesso a informação de uma nova visão de mundo.

A formação do leitor inicia-se, portanto no seio familiar e se processa em longo prazo. Esse leitor deve ser compreendido como sendo aquele que estabelece uma relação aprofundada com a linguagem e suas significações.

Dessa forma, a família que funciona como referência para a orientação e construção da identidade de um indivíduo, deve promover o ato de ler para que ao ser incorporado às mediações domésticas, construa o gosto pela leitura.

A promoção do ato de ler deve ser realizada também no âmbito familiar, pois essa responsabilidade não pode ser delegada somente a escola; mas sim a todos os espaços mediadores de leitura em parceria.

O termo letramento vem sendo usado por alguns autores com o sentido de alfabetização. O letramento, no nosso ponto de vista, pode incluir a alfabetização. A noção de letramento está associada ao papel que a língua escrita tem na nossa sociedade, logo, o processo de letramento não se dá somente na escola. Os espaços que os objetos e livros a que temos acesso, as pessoas com quem convivemos são também agências e agentes de letramento. (GOULART, 2006 p.73-74).

Este letramento, realizado no seio familiar, pode ser compreendido como o contato dos signos através dos pais, seja pela história contada ou lida na hora de dormir ou canções ensinadas às crianças. Esses tipos de letramento auxiliam no fomento à leitura.

A leitura realizada no contexto familiar e a mediação utilizada pela mesma, na formação do leitor, é muito importante, a relação existente entre a família e a leitura.

Sabe-se que todos os incentivos são válidos para a constituição do gosto pela leitura, que pode ser praticada desde o momento em que a criança ainda é pequena, através do contrato com os livros de borracha pano ou outros materiais, ou por meio da história contada pelos pais na hora de dormir.

A família considera a leitura importante na vida de seus filhos. No entanto, as práticas de leitura ou contação de histórias realizadas por algumas dessas famílias não condizem com a realidade.

Em geral a família só realiza algum tipo de leitura juntos quando é para fazer atividades escolares ou outro tipo de estudo.

Mesmo depois que a criança cresce ela continua necessitando da ajuda dos pais para fazer algumas leituras, pois através desta atitude os filhos deverão perceber o interesse dos pais por suas leituras, porém deverá ser sutilmente sem que pareça evasivo (BAMBERGER, 2004 p.71).

É válido salientar a importância do empenho da família em proporcionar esta atividade de leitura para seus filhos, quando ainda pequenos. Durante a primeira infância é muito importante a contação e a leitura de histórias, mesmo que esta seja baseada em vivências do passado, do dia a dia ou mesmo de narrativas transmitidas de geração para geração, por pais, avós ou outros membros da família (GOULAR, 2006).

O leitor formado no âmbito familiar se mostra diferente em termos de perfil daquele que tem contato com a leitura apenas na escola. Pela facilidade e familiaridade com os signos, com o alfabeto, com a escrita e com a própria leitura torna-se mais fácil e recorrentes termos novos leitores que se estenderão por toda a caminhada literária.

O termo comunidades de leitores cunhados por Chartier (1994) exemplifica várias dessas comunidades, dentre elas: espirituais, intelectuais, profissionais, podemos nesse campo incluir a família como sendo uma dessas comunidades.

Bencini (2005) a família se difere dessas outras comunidades citadas pela própria formação e pelos laços que a unem, não são laços apenas sanguíneos, mas efetivos e como espaço para a livre troca de experiências e aprendizagem. Dentre elas, destaca-se nesse contexto trabalhado, a leitura.

Para haver o interesse da criança pelo livro, a mesma deve criar um vínculo de afetividade, compreender o livro como um brinquedo, para não se contaminar com a ideia de que ler é chato.

Se for necessário ler mais de uma vez o mesmo livro para a criança, porque fazendo assim, ela pode estar ativando alguma área de sua inteligência para sua compreensão e não devemos perder de vista que a princípio, somos nós adultos que devemos despertar o seu interesse. O contato com a leitura desde cedo rende frutos na vida adulta.

Quando se conta uma história para uma criança, a linguagem oral se mistura com a escrita. Mas quando se lê, há o contato com a linguagem oral e escrita bem maior que é fundamental no processo de formação de um leitor.

O trabalho com as crianças não alfabetizadas é de extrema importância, pois, é a partir deles que constituiremos a base de nossa sociedade.

Ao ler devemos envolver a criança, criar uma ambientação propícia quase um suspense […] Pois, as crianças gostam e a leitura torna-se mais atraente e divertida, verificando-se que as preferências de nossos pequenos leitores são pelos livros-brinquedos e pelos contos de fadas.

Os contos de fadas apresentam sempre conflitos universais. A aparição de bruxas más e provações ajudam a criança a interpretar melhor a vida real e identificar seus próprios medos, criam uma base para a formação de sua personalidade. A criança interpreta a simbologia contida nessas histórias de acordo com suas vivências.

É fácil reconhecer um conto de fadas. Animais que falam e ganham vida, fadas madrinha que guiam sonhos, reis e rainhas também não podem faltar assim como príncipes e princesas e a famosa introdução “Era uma vez…”.

As narrativas sempre se passam em lugares distantes, muito longe daqui… Seus personagens possuem nomes comuns ou apelidos, como João e Chapeuzinho Vermelho.

Esses elementos facilitam a memorização, aguçam a imaginação dos nossos pequenos leitores e tornam a narrativa apropriada à oralidade.

Para Bencini (2005) no conto maravilhoso, o leitor é transportado para um mundo onde tudo é possível: tapetes voam e galinhas que põem ovos de ouro, bruxas com maçãs envenenadas, anões e gigantes. Essa é a magia da fantasia.

A alfabetização é o marco inicial da vida da criança, possuindo um propósito vinculado ao social, sendo infinita e vai se desenvolvendo gradativamente de acordo com o crescimento da criança no meio social em que vive.

Ela está vinculada ao social, não sendo reduzida apenas ao domínio das primeiras letras e frases ou pequenos textos, porém, é uma atividade construtiva e criativa, evoluindo-se para a construção de novos conhecimentos e a reconstrução de noções mais apropriadas tornando-se cidadãos, capazes de conduzir as sociedades do futuro.

Segundo Cagliari (1998) o processo de alfabetização inclui muitos fatores, e quanto mais ciente estiver a escola de como se dá o processo de aquisição de conhecimento, de como a criança se situa em termos de desenvolvimento emocional, de como vem evoluindo seu processo de interação social da natureza da realidade linguística envolvida no momento em que terá o professor de conduzir de forma agradável e produtiva.

O trabalho com alfabetização e letramento na escola se tornará mais eficiente se entendermos a alfabetização como processo de aquisição de leitura e escrita e o letramento como construção de significados envolvendo as experiências individuais e do grupo, sendo que as duas atividades são necessárias para a formação intelectual do indivíduo alfabetizado.

O alfabetizado é aquele que lê, entende, interpreta e faz a transferência dessa leitura para as suas experiências cotidiana.

Ler é uma atividade complexa de assimilação de conhecimentos, de interiorização, de reflexos. É a manifestação linguística que uma pessoa realiza para recuperar um pensamento formulado por outra; é ser questionado pelo mundo e por nós mesmos; é saber que certas respostas podem ser encontradas no escrito.

Ler significa decodificar símbolos gráficos, responder questões de interpretação e muito mais.

A leitura é a realização do objetivo da escrita. Quem escreve, escreve para ser lido. Ler é sempre um processo de descoberta, como a busca do saber científico, a mesma faz parte do dia a dia do aluno e por isso não deve ser trabalhado, de forma artificial, é necessário superar a mera aquisição da palavra escrita.

Tudo o que se ensina na escola está diretamente ligado à leitura e depende dela para manter- se e desenvolver-se (CAGLIARI, 1990).

Uma leitura pode ser ouvida, vista ou falada. Quando oral é feita não somente por quem lê, mas, pode ser dirigida a outras pessoas, que também “leem” o texto ouvindo-o. O primeiro contato das crianças com a leitura se dá através da leitura auditiva.

A diferença entre ouvir a fala e ouvir a leitura está em que a fala é produzida espontaneamente, ao passo que a leitura é baseada em um texto escrito, que tem características próprias diferentes da fala espontânea.

Ouvir uma leitura equivale a ler com os olhos, a única diferença reside no canal pelo qual a leitura é conduzida do texto ao cérebro.

A leitura silenciosa visual considerada por alguns a verdadeira leitura, nem sempre é a mais adequada para certos textos, que foram feitos com a intenção de serem lidos oralmente ou ouvidos.

No entanto, não há dúvida de que a leitura visual silenciosa é muito mais comum, entre as pessoas. Sua importância para a vida da maioria delas é muito maior que a dos outros tipos.

Acontece que na escola se ensinam mais comumente aos alunos, o uso da leitura visual silenciosa, individual para a reflexão que o da leitura oral pública.

A leitura oral falada ou ouvida processa-se foneticamente de maneira semelhante à percepção auditiva da fala.

A leitura visual falada ou silenciosa além de por em funcionamento o mecanismo de percepção auditiva da fala para a decodificação do texto, precisa por em ação os mecanismos de decifração da escrita.

A leitura é um ato linguístico e está essencialmente presa a todo mecanismo de funcionamento da linguagem, da língua específica que está sendo lida.

Culturalmente atribui-se a leitura a um valor positivo e absoluto. Aos estruturarmos descobrimos que o ato de ler se distribui em três níveis de leitura:

A leitura sensorial que se inicia nos momentos iniciais da relação da criança com o mundo. Ela começa muito cedo ao nascermos e nos acompanha por toda a vida. Não importa se mais ou menos minuciosa e simultânea a demais tipos de leitura.

A leitura emocional lida com os sentimentos, o que necessariamente implicaria no terreno das emoções as coisas ficam inteligíveis, escapam ao controle do leitor, que se vê envolvido por armadilhas traçadas no seu inconsciente.

A leitura racional estabelece uma ponte entre o leitor e o conhecimento, a reflexão, a reordenação do mundo objetivo possibilitando-lhe, no ato de ler, atribuindo significado, ao texto e questionar tanto a própria individualidade como o universo das relações sociais (MARTINS, 1999).

Martins define de uma forma bem simples e objetiva o que é ler, mostrando que este ato não é simplesmente um aprendizado qualquer, e sim uma conquista de autonomia, que permite a ampliação dos nossos horizontes.

O leitor passa a entender melhor o seu universo, rompendo assim as barreiras, deixando a passividade de lado, encarando melhor a face da realidade.

As crianças precisam de tempo para decifrar a escrita, que varia de acordo com cada uma. Cada criança tem um ritmo próprio que precisa ser respeitado.

A leitura é um grande desafio para as crianças, sendo que a mesma lê do seu jeito muito antes da alfabetização, folheando e olhando figuras, ainda que não decodifiquem palavras e frases escritas.

Ela aprende observando o gesto de leitura dos professores, pais ou outras crianças. O processo de aprendizado começa com a percepção da existência de coisas que servem para ser lidas e de sinais gráficos.

A criança convive desde muito pequena com a literatura, o livro, a revista com as práticas de leitura e de escrita.

Segundo Maricato (2001, p.18):

A criança pode ainda não saber ler e escrever, mas já produz texto: ela pensa, fala se expressa. Não bastam ter acesso a materiais, as crianças devem ser envolvidas em práticas para aprender a usá-las, roda da leitura, contagem de histórias, leitura de livros, sistemas de malas, de leitura, de casinhas, de cantinhos, mostras literárias, brincadeiras com livros e outros.

Em relação ao aprendizado da leitura vale ressaltar que, é um ato introspectivo, é um hábito a ser criado na infância. Antes da fase escolar a criança deve ter contato com textos, por meio de álbuns ilustrados ou através das narrativas orais que formam o nosso folclore que vem sendo transmitidos às crianças, previamente por cantigas de ninar, e posteriormente parlendas, adivinhas, cantigas de roda, trava-línguas, todas as atividades importantes na formação da sensibilidade e no incentivo à criatividade.

O ato de ler se torna mais fácil quando os alunos conhecem previamente o texto a ser lido. O educador pode reproduzir o texto em papel cartaz, de forma a expor para a classe, músicas conhecidas, brincadeiras faladas dizeres de “outdoors”, entre outros.

Assim desde o início do processo da alfabetização, é importante aproveitar todos os espaços possíveis para o desenvolvimento dos diversos gêneros textuais: cartas, livros de histórias, leituras de embalagens de produtos conhecidos, vinhetas de TV e outros.

Para Abramovich (1997), “ler significa abrir todas as comportas para entender o mundo […] Ler foi e sempre será maravilha gostosura, necessidade primeira e básica, prazer insubstituível […]”

De acordo com a tal concepção e considerando a importância da leitura de maneira mais prazerosa é preciso que o educador desperte na criança o desejo, o querer, o interesse em perceber as letras, como algo capaz de sensibilizá-la (uma história infantil), ou ainda, algo que lhe permita comunicar-se (uma cartinha para a professora, a mamãe ou o colega), tomando uma linguagem verdadeira entre professores e alunos.

Para a criança se tornar um escritor e um leitor é muito importante e válido está em contato desde muito cedo com a riqueza e a complexidade do mundo da leitura.

Sendo a leitura uma prática social, ela faz um intercâmbio entre a comunicação e o homem, levando a transmissão da cultura, a descoberta de novas formas de viver saudável, melhorando o mundo e indo a lugares imagináveis.

Ao ler não estamos simplesmente decodificando, acontece o processo de interação e integração entre o leitor e o objeto lido (ABRAMOVICH, 1997).

Ler não é decifrar palavras. A leitura segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, da Língua Portuguesa, é um processo em que o leitor, realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto, apoiando-se em diferentes estratégias, como seu conhecimento, sobre o assunto, sobre o autor e em tudo o que sabe sobre a linguagem escrita e o gênero em questão.

Os PCN sugerem que os professores deverão organizar a sua prática de forma a promover em seus alunos o interesse pela leitura de história.

A familiaridade com a escrita por meio da participação em situações de contato cotidiano com livros, revistas, histórias em quadrinhos, escutar textos lidos, apreciando a leitura feita pelo professor.

O escolher o livro para ler e apreciar. Isto se fará possível trabalhando conteúdos que privilegiem a participação dos alunos em situações de leitura, de diferentes gêneros feita pelos adultos, como contos, poemas, parlendas, trava-língua, fábulas, entre outros, é propiciar momentos de reconto de história conhecidas com aproximação às características da história original no que se refere à descrição de personagens, cenários e objetos com ou sem ajuda do professor.

Ensinar a ler é uma questão de compartilhar objetos, tarefas, significados construídos em torno dela. Sendo assim, exige a observação ativa dos alunos e da própria intervenção, como requisitos para estabelecer situações didáticas diferenciadas, capazes de se adaptar à diversidade inevitável da sala de aula.

Portanto aprender a ler significa aprender a encontrar sentido e interesse na leitura. Significa aprender a se considerar competente para a realização das tarefas de leitura e sentir a experiência emocional gratificante da aprendizagem.

Afirma Solé que “a criança pode aprender e de fato aprende, à medida em que for capaz de utilizar diversas estratégias de forma integrada, e essas estratégias todas devem ser ensinadas”.

De acordo com a autora as estratégias são procedimentos de caráter elevados que envolvem a presença de objetos a ser realizado, o planejamento das ações que se desencadeiam para atingi-los.

Portanto, se as estratégias de leitura são procedimentos e os mesmos são conteúdos de ensino, então é preciso que o professor ensine-as para a compreensão dos textos lidos.

Por isso, ao ensinar estratégias de compreensão leitora, entre os alunos, devem predominar a construção e o uso de procedimentos do tipo geral, que possa ser transferidos sem maiores dificuldades para situações de leituras múltiplas e variadas.

Sendo assim, ao abordar estes conteúdos e ao garantir sua aprendizagem significativa, contribuímos com o desenvolvimento global de meninos e meninas, além de fomentar suas competências como leitores.

Desde muito pequenas, as crianças constroem conhecimentos relevantes sobre a leitura e a escrita e, se tiverem oportunidade, isto é, se alguém for capaz de se situar no nível desses conhecimentos para apresentar-lhes desafios ajustados, poderão ir construindo outros novos, que cada vez estarão mais de acordo com o ponto de vista do adulto.

Considerando-se que é necessário acabar com a ideia de que existe apenas um caminho para construir noções adequadas sobre o código e para se tornar um usuário eficaz dos procedimentos da leitura. Uma abordagem ampla, não restritiva, do ensino inicial da leitura, SOLÉ (1998, p.62) pressupõe o seguinte.

Aproveitar os conhecimentos que as crianças já possuem e que costumam envolver o conhecimento global de algumas palavras…Aproveitar as perguntas das crianças sobre o sistema para aprofundar sua consciência metalinguística, o que permite introduzir as regras de correspondência.Aproveitar e aumentar seus conhecimentos prévios em geral, para que possam utilizar o contexto e aventurar-se no significado de palavras desconhecidas.Utilizar integrada e simultaneamente todas essas estratégias em atividades que tenham sentido ao serem realizadas só desta maneira meninos e meninas poderão se beneficiar da instrução recebida.

É imprescindível que os professores explorem os conhecimentos dos alunos. Esta exploração pode ser feita de muitas maneiras: observando as crianças quando olham ou leem livros; sugerindo-lhes que acompanhem seus desenhos com uma explicação, ficando atento às perguntas formuladas, que costumas ser um indicador eficaz tanto das dúvidas como dos conhecimentos mais assentados… algumas situações facilitarão mais do que outras essa exploração.

Assim, nas salas de aula onde existe um cantinho de biblioteca, um cantinho de inventar histórias ou de criar livros, os professores terão muitas oportunidades, não só de ensinar a ler, mas de observar os progressos e as dificuldades dos alunos, o que facilitará o ajuste progressivo da sua intervenção.

Como diz SOLÉ(1998 p.65):

Aprender a ler não é muito diferente de aprender outros procedimentos ou conceitos. Exige que a criança possa dar sentido àquilo que se pede que ela faça, que disponha de instrumentos cognitivos para fazê-lo e que tenha ao seu alcance a ajuda insubstituível do seu professor, que pode transformar em um desafio apaixonante o que para muitos é um caminho duro e cheio de obstáculos.

Assim, nos inícios da leitura serão de grande utilidade os livros ilustrados que contém coisas desconhecidas, para escutar como outro lê e as histórias tradicionais nas quais as crianças, graças ao seu conhecimento, poderão tentar adivinhar o que vai acontecer.

A criança pensa o mundo a partir das suas interações com a sociedade. Essa sociedade oferece uma série de oportunidades para que ela se desenvolva, conheça, observe e participe.

Dessa forma, a criança vai aprendendo a respeito do mundo que a cerca, vai conhecendo seus valores, sua cultura. Os valores sociais são frutos de todas as experiências que a criança vai tendo, aprendizados e significados culturais que a circulam ao longo de sua vida.

Coisas que podem ser oferecidas nas creches, pré-escolas e escolas, mas que criança recebe também, da família e do seu meio social, antes mesmo de entrar para a instituição escolar.

Por sua vez, Grotta (2001) a leitura, consiste num trabalho linguístico ou atividade discursiva através da qual o leitor produz sentido ao texto, com base na sua visão do mundo e pistas oferecidas pelo autor/texto.

Ela caracteriza-se, como já dito, por apresentar diversas possibilidades de interpretações (polissemia). Isso, visto que cada leitor possui diferentes experiências, conhecimentos e visão do mundo, além de estarem inseridos em diferentes contextos sociais, históricos e culturais; o que irá interferir no sentido que ele produzirá a partir da leitura do texto.

Uma mesma leitura também pode produzir diversos sentidos para um mesmo leitor, quando lido em diferentes momentos de sua vida.

Durante a leitura, e consequentemente, durante o processo de produção de sentidos, o leitor se insere numa relação de aprendizagem, uma vez que procura compreender o que o autor tenta passar em seu texto e como ele concebe e explica o mundo.

O leitor passa, a produzir sentido a partir da leitura e a se constituir por meio dela, levando-o a repensar e modificar (fazer, desfazer e refazer) seu modo de pensar e sua visão a respeito de si mesmo, do mundo e de suas relações.

Para Grotta (2001) o leitor é formado ao longo da sua vida, quando o sujeito vai estabelecendo uma relação com material escrito seja de forma direta (lendo para si mesmo) ou indiretamente (leitura de outro para si).

Sendo assim, quando pensarmos na formação do leitor devemos pensar que, além dos eventos de letramento que eles participam é de extrema importância o seu contexto social, político, cultural e afetivo que fazem parte das relações do sujeito com a leitura.

Segundo Vygotsky, é a própria produção da linguagem, enquanto trabalho material, simbólico e significativo, enquanto atividade prática e cognitiva que a distingue dos demais instrumentos e signos, desenvolvidos pelo homem para domínio da natureza.

É próprio de esse autor estabelecer o homem como um ser fundamentalmente social, sendo que é através da mediação do outro, do signo, das interações sociais, que o homem se constitui como sendo sujeito, em sua visão separar o social e a linguagem do conteúdo ideológico dos mesmos é um dos maiores erros das concepções formalísticas de linguagem.

Para ele, a leitura é uma atividade humana e de construção de conhecimento. E a palavra, constitui-se um instrumento da ação humana, consciente e intencional e que através dela, ele poderá de certa forma, agir sobre o mundo.

As palavras mostram-se instrumentalizadas na escrita e no ato da leitura. Por esse motivo, deve-se considerar que a leitura é um instrumento cultural e de formação do pensamento.

Através da leitura o mundo pode ser revisto pelo sujeito leitor e internalizado, assim, a leitura torna-se um constituinte da formação. Nesta teoria, a leitura deve fazer-se como prática social a partir de uma visão crítica da mesma e não simplesmente decodificação.

É um processo de agir sobre o mundo, lendo e dando significados coerentes e conscientes, fazendo deste movimento um instrumento de mediação, histórico e não somente um ato mecânico de decodificar símbolos e não lhes atribuir significados.

A leitura pode ser considerada, então, um processo de interação entre os sujeitos (leitores e escritores) à medida que passam sua experiência própria para o outro permitindo uma relação de enriquecimento.

Segundo FERREIRO e TEBEROSKY (1999, p.166):

As crianças chegam à escola sabendo várias coisas sobre a língua. É preciso avaliá-las para determinar estratégias para sua alfabetização. Apesar de a criança construir seu próprio conhecimento, no que se refere a alfabetização, cabe ao professor, organizar atividades que favoreçam a reflexão sobre a escrita e a leitura.

De acordo com as pesquisadoras acima citadas, o professor e a escola devem utilizar em sua prática educativa uma metodologia estruturada de ensino da língua, promovendo atividades que correspondam às expectativas da leitura significativas num clima favorável propondo ao aluno o prazer de ouvir, ler folhear, olhar, apreciar, conhecer, examinar atentamente diferentes tipos de textos (cartas, jornais, rótulos, anúncios, revistas, convites, livros, gibis, charges e outros), buscando fazer diferentes leituras e divertir-se.

Piaget definiu o desenvolvimento como sendo um processo de equilibrações sucessivas, caracterizado por diversas fases. Cada etapa define um momento de desenvolvimento ao longo do qual a criança constrói certas estruturas cognitivas. (PIAGET, 1980 p.36)

Para o autor, o desenvolvimento passa por quatro etapas distintas: sensório-motora, pré-operatória, operatório-concreta, e a operatório-normal.

A etapa sensório-motora

Nela, a criança baseia-se em percepções sensoriais e em esquemas motores. Nesse período, embora a criança já tenha uma conduta inteligente, considera-se que ela ainda não possui pensamento.

Isto porque, nessa idade, a criança não dispõe ainda da capacidade de representar eventos de evocar o passado e de referir-se ao futuro.

Está preso ao aqui-e-agora da situação: pega, balança, joga, bate, morde, coloca um objeto dentro do outro, um sobre o outro de uma forma pré- lógica.

A criança pequena também aplica esquemas sensório-motor para se relacionar e conhecer outros seres humanos. Os esquemas sensório-motor são construídos a partir de reflexos inatos.

A etapa pré-operatória

Segundo Piaget (1980, p. 41) “a criança pré-escolar encontra-se em uma fase de transição fundamental entre a ação e a operação, ou seja, entre aquilo que separa a criança do adulto”. Além disso, é uma fase de preparação para o período seguinte (operatório-concreto).

Enquanto fase de transição, o período pré-escolar é caracterizado com características bem demarcadas no processo de desenvolvimento e que Piaget chamou de pré-operatório. Este período localiza-se entre o sensório-motor e o operatório-concreto.

As considerações acima são de natureza psicológica, descrevem o desenvolvimento da criança no período pré-operatório. Essa etapa é marcada pelo aparecimento da linguagem oral, por volta dos dois anos.

Ela permitirá à criança se expor, além da inteligência prática construída na fase anterior, da possibilidade de ter esquemas de ação interiorizados chamados de representativos, que envolvem uma ideia preexistente a respeito de algo.

A partir dessas novas possibilidades de lhe dar com o meio, dos dois anos em diante a criança poderá substituir objetos, ações, situações e pessoas por símbolos, que são as palavras.

O pensamento pré-operatório indica, portanto, inteligência capaz de ações interiorizadas, ações mentais, diferente do pensamento do adulto. Por essa razão recebe o nome de pensamento egocêntrico, centrado no ego e no sujeito. É um pensamento rígido, não flexível que tem como ponto de referência a própria criança.

Outra característica do pensamento desta etapa é o animismo. Este termo indica que a criança empresta às coisas e animais, atribuindo-lhes sentimentos e intenções próprias do ser humano.

O pensamento da criança de dois a sete anos apresenta uma outra característica bastante similar ao animismo. É o antropomorfismo ou a atribuição de uma forma humana a objetos e animais.

Para Piaget (1980, p. 42). “as ações no período pré-operatório, embora internalizadas,não são ainda reversíveis”. Por exemplo, ao se pedir pra uma criança de quatro anos para acrescentar três maçãs a uma determinada quantidade de maçãs, a não ser que faça uma contagem das maçãs disponíveis em todos os momentos de operação.

Falta-lhe uma das condições de pensamento necessárias para que haja uma operação: a reversibilidade. É por isso que esse período recebe o nome de pré-operatório. Nele, a criança ainda não é capaz de perceber que é possível retornar, mentalmente, ao ponto de partida.

A etapa operatório-concreta

Por volta dos sete anos de idade, as características da inteligência infantil, a forma como a criança lida com o mundo e o conhece, demonstra que ela se encontra numa nova etapa de desenvolvimento cognitivo: a etapa operatório-concreta.

Neste período de desenvolvimento o pensamento operatório é denominado concreto porque a criança só consegue pensar corretamente nesta etapa se os exemplos ou materiais que ela utiliza para apoiar seu pensamento existem mesmo e podem ser observados.

A criança não consegue ainda pensar abstratamente, apenas com base em preposições e enunciados. Pode então ordenar, seriar classificar, entre outros.

A etapa operatório-formal

No nível do operatório formal a partir dos 13 anos de idade a criança se torna capaz de raciocinar logicamente mesmo se o conteúdo do seu raciocínio é falso. Ela pode pensar de modo lógico e correto.

O adolescente pode pensar e trabalhar não só com a realidade concreta, mas também com a realidade possível. Como consequência, a partir dos treze anos o raciocínio pode utilizar hipóteses visto que estas são apenas possibilidades.

Nesta etapa, o raciocínio é hipotético-dedutivo: é ele que permitirá o adolescente entender seu pensamento até o infinito.

Ao atingir o operatório formal o adolescente atinge o grau mais complexo do seu desenvolvimento cognitivo. A tarefa de ajustar, solidificar e estofar as suas estruturas cognitivas.

Desta forma, PIAGET (1980. p. 44):

Acredita que as etapas do desenvolvimento do pensamento, são ao mesmo tempo contínuas e descontínuas. Elas são contínuas porque sempre se apoiam na anterior, incorporando-a e transformando-a. Descontínua porque cada nova etapa não é mero prolongamento do que lhe antecedeu.

Parafraseando Piaget, o desenvolvimento cognitivo e aprendizagem não se confundem: o primeiro é o processo espontâneo que se apoia no biológico.

Aprendizagem é encarada como processo mais restrito, causado por situações específicas (como a frequência à escola) e subordinado tanto a equilibração quanto à maturação.

Para o autor a aprendizagem da leitura deve ser considerada da perspectiva da adaptação e da motivação. Interesse em ler é uma indicação de motivação que leva a criança se tornar envolvida em descobrir o sentido da leitura.

O mesmo é um determinante (talvez o mais importante) da prontidão. E para que isso aconteça, é necessário que o professor ajude a manter o sentimento positivo, a fim de prevenir a queda da motivação ao aprendizado da leitura. No entanto é necessário que se observe, a postura do professor nas séries iniciais.

A literatura infantil é importante sob vários aspectos. Quanto ao desenvolvimento cognitivo, ela proporciona às crianças meios para desenvolver habilidades que agem como facilitadoras do processo de aprendizagem.

Estas habilidades podem ser observadas no aumento do vocabulário, na ampliação do repertório linguístico, na reflexão, na criticidade, na criatividade, entre outro.

Essas propiciariam novas leituras e a possibilidade do leitor fazer inferências, agindo assim, como facilitadores do processo ensino-aprendizagem.

É preciso entender que criança é também cheia de conflitos, medos, dúvidas e contradições, não por desconhecer a realidade, mas por trazer em se a imagem projetada do adulto.

Portanto como afirma Piaget (1980) quanto ao desenvolvimento cognitivo, como sendo um processo de equilibrações sucessivas e contínuo caracterizado por diversas fases, sendo que cada etapa define um momento de desenvolvimento ao longo do qual a criança constrói certas estruturas de conhecimento naquilo que só ela é capaz de fazer, pois a mesma possui uma lógica de funcionamento mental que difere, qualitativamente da lógica do funcionamento mental do adulto.

Assim o texto literário deve levar em conta habilidades cognitivas da criança à qual se destina, oferecendo um processo de qualidade que possibilite um avanço no seu desenvolvimento biopsicossocial, que ocorrerá, por meio do processo de identificação, no qual o leitor infantil vive situações na pele dos personagens; e com elas sofre, luta se alegra, e se sai vencedor no final.

Com esse exercício, ele aprende a reconhecer as suas dificuldades e como lhe dar com elas também. Ele aprende a se reconhecer melhor e também a conhecer o mundo que o cerca.

Segundo Piaget o desenvolvimento cognitivo se realiza em estágios: quer dizer que a caracterização da inteligência muda com o passar do tempo, ele se preocupou em desvendar como ocorre o nascimento da inteligência na criança.

Será que está já nasce inteligente? Ou a inteligência é algo que conquistamos com o contato com o mundo exterior? Para ele no período sensório-motor, a inteligência surge bem antes da linguagem e do pensamento, mas se trata de uma inteligência prática, sustentada pela manipulação de objetos concretos e pela percepção destes enquanto estão presentes na mente.

Piaget (1980), explica que quando uma criança pega uma vareta para puxar um objeto que está distante, considera-se isto um ato de inteligência. Mas uma inteligência que só é possível com a presença de objetos, não se pode dizer ainda de que isso é inteligência propriamente dita.

A inteligência não aparece, de modo algum, num dado momento do desenvolvimento mental, como um mecanismo completamente montado e radicalmente diferente dos que o precederam. Apresenta, pelo contrário uma continuidade admirável com os processos adquiridos ou mesmo inatos respeitantes à associação habitual e ao reflexo, processos sobre os quais ela se baseia, ao mesmo tempo que os utiliza (PIAGET, 1986 p. 23).

Diante disso, podemos entender que a inteligência é um processo que se inicia desde o nascimento da criança, mas não uma inteligência propriamente dita, mas uma inteligência oriunda dos reflexos e hábitos adquiridos ou inatos do sujeito,pode-se falar então de uma inteligência senso-motora, o que significa dizer que ate o desenvolvimento pleno da inteligência várias etapas serão realizadas.

Ele afirma que, a inteligência é uma adaptação, por isso, para aprender as suas relações com a vida em geral, se faz necessário definir quais as relações que existem entre o organismo e o meio ambiente.

Isto significa dizer que para entendermos a evolução da inteligência é indispensável conhecer as relações que o sujeito estabelece com o meio e como o meio influência nesse processo, ou seja, de que forma a criança utiliza os objetos externos para aprender e aprender sobre eles por meio de ações coordenadas.

Nesse sentido, a inteligência existe na ação do sujeito, na ação mental e física constituída no ambiente, ou seja, essa interação de sujeito e ambiente envolve um equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, processo pelo qual permite nossa adaptação ao meio e a interiorização dos objetos desse meio.

Considerações finais

Vivemos em uma sociedade em que a leitura e a escrita estão por toda à parte.

Independentemente de saberem ler e escrever, as crianças convivem com isso em seu dia-a-dia elas, muitas vezes tomam o adulto como seu modelo referencial, que interage diretamente sobre elas.

Foi possível analisar que todo o processo de aprendizagem está articulado com a história de cada indivíduo, e o ser humano aprende mais facilmente quando o novo pode ser relacionado com algum aspecto de sua experiência prévia, com o conhecimento anterior, com imagens, palavras e fatos que estão em sua memória, com vivências culturais.A aprendizagem não se dá no vazio.

É uma realização individual, por meio de uma construção que é histórica e social e que supõe, portanto, essa interação com o outro e com a produção simbólica da humanidade.

Pudemos constatar, neste trabalho, a opinião de autores que estudaram e nos privilegiaram com assuntos riquíssimos que nos remetem a este processo complexo, que para acontecer com eficiência necessita da participação dos professores, da escola e da família.

E, por fim vimos que as crianças chegam à escola com experiências e significados diversos em relação às atividades de ler e escrever, e para o alfabetizador, é importante saber como a criança se posiciona em relação à palavra escrita, qual o significado dado a ela em sua família e comunidade.

A partir daí ele pode desenvolver estratégias que privilegiem a aprendizagem e transforme o ensino, fazendo com que o educando desenvolva todo seu potencial.

Nesse contexto pode-se concluir que o papel do professor e da família é fundamental durante o processo ensino-aprendizagem. Para tanto, é necessário organizar espaços internos e externos que conduzam as crianças às descobertas do conhecimento, promovam-se o desenvolvimento da melhor forma possível e estimulem o crescimento emocional das crianças todos os dias, de forma lúdica.

Sabe-se que o ato de ler pode se tornar prazeroso, dependendo das estratégias utilizadas para tal, e o prazer é ponto fundamental da essência do equilíbrio humano e há nele uma aprendizagem significativa. Pode-se dizer que a leitura é uma necessidade interior, tanto da criança quanto do adulto.

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PIAGET, Jean. O nascimento da inteligência na criança.Rio de Janeiro: Zahar, 1980.

WIKIPÉDIA. História do livro. Disponível em: . Acesso 09/2013.

 

Autor

Glaciene Januário Hottis Lyra – (clique no nome para enviar um e-mail ao autor) – Professora Mestre, Professora da UEMG – Unidade de Carangola – Coordenadora De Extensão Do Nupex.