1707 Habilidades Psicomotoras Predizentes A Aprendizagem Da Escrita

A escrita pressupõe um desenvolvimento motor adequado, através de habilidades psicomotoras que serão predizentes para essa complexa aquisição.

Resumo

A escrita pressupõe um desenvolvimento motor adequado, através de habilidades psicomotoras que serão predizentes para essa complexa aquisição. A maturidade grafomotora surgirá como  resultado de amplas e progressivas aquisições que se dará não só no plano motor mas também  no plano cognitivo, afetivo e social. Antes de escrever, as crianças precisam exercer bastante atividades motoras amplas e só depois as mais refinadas, seguindo seu próprio desenvolvimento evolutivo global, objetivando desenvolver e amadurecer importantes habilidades motoras  que serão necessárias ao controle e aprendizagem da escrita. Essas habilidades serão minuciosamente descritas no desenvolver desse artigo objetivando orientar a prática pedagógica de professores, que muitas vezes atropelam essas aquisições lentas e progressivas  e se adiantam a esse  desenvolvimento evolutivo da criança,  propondo cada vez mais cedo atividades gráficas com lápis e papel, numa etapa em que elas  não estão com a maturidade psicomotora desenvolvida para tal. Esse fato vem ocasionando muitas dificuldades na aprendizagem da escrita e engrossando o fracasso escolar, merecendo maior atenção, conhecimento e divulgação,  objetivos principais  da proposta desse artigo. O artigo possui natureza qualitativa, onde será realizada pesquisa bibliográfica. A revisão literária proporcionará referencial teórico para colaborar com a discussão.

Palavras-chaves: Habilidades psicomotoras. Aprendizagem. Escrita.

Abstract

Writing presupposes an adequate motor development through psychomotor skills that are predictors for this complex acquisition.The grafomotora maturity will emerge as a result of extensive and progressive acquisitions that will give not only the engine plane but also in the cognitive, affective and social levels.Before writing, children need enough exercise gross motor activities and only after the most refined, following their own global evolutionary development, aiming to develop and mature important motor skills that will be needed to control and learning of writing.These skills will be fully described in developing this article aiming to guide the pedagogical practice of teachers, which often run over these slow and progressive acquisitions and come forward to this evolutionary development of the child, proposing increasingly early graphic activities with pencil and paper, in a step as they are not with psychomotor developed to maturity such. This fact has caused a lot of difficulties in literacy and thickening school failure, deserving more attention, knowledge and disclosure, main objectives of the proposal that article. The article has a qualitative nature, where literature is performed. The literature review will provide theoretical framework for collaborating with the discussion.

Keywords: Psychomotor skills. Learning. Writing.

 

Introdução

O corpo é nosso ponto de partida e por meio dele fazemos todas as explorações. Em cada idade o movimento toma características significativas e a aquisição ou aparição de determinados comportamentos motores tem repercussões importantes no desenvolvimento da criança. Cada aquisição influencia na anterior, tanto no domínio mental como no motor, através da experiência e troca com o meio (FONSECA, 1988).

Le Boulch (1985) defende que a educação psicomotora deve ser considerada  indispensável na formação de base de toda criança. Ela condiciona todos os aprendizados pré-escolares; leva a criança a tomar consciência de seu corpo, da lateralidade, a situar-se no espaço, a dominar seu tempo, a adquirir habilmente a coordenação de seus gestos e movimentos, devendo ser praticada desde a mais tenra idade , e que, conduzida com perseverança , permite prevenir inadaptações difíceis  de corrigir quando já estruturadas.

Nessa perspectiva:

Na infância, as estruturas psicomotoras de base estão em fase de organização, indo do global para o particular, diferenciando e especializando as funções, tornando-as menos motoras e mais práxicas e simbólicas, regulada pela linguagem e pelo pensamento. A criança deve viver o seu corpo através de uma motricidade não condicionada, em que os grandes grupos musculares participem e preparem os pequenos músculos, responsáveis por tarefas mais precisas e ajustadas. Antes de pegar num lápis, a criança já deve ter, em termos históricos, uma grande utilização da sua mão em contato com inúmeros objetos (FONSECA, 1993, p. 89).

 A mão, considerada a unidade motora mais complexa do mundo animal, é em grande medida a arquiteta da civilização e, naturalmente, a arquiteta da inteligência na criança e no homem. A mão transformou-se, em termos antropológicos, num melhor e mais eficaz meio de exploração do mundo exterior, e também do próprio corpo, permitindo o reconhecimento dos objetos pela textura, peso, forma, temperatura, etc.

 

Desenvolvimento

O desenvolvimento psicomotor segue uma sequência ordenada que é basicamente determinada pela maturação neuropsicomotora. No recém-nascido encontramos movimentos constituídos por reações reflexas  mais especializadas a partir da interação do  bebê com um meio de pessoas e objetos. Desta forma, na manipulação é atingida a independência segmentar do corpo. Esse processo é iniciado a partir das extremidades inferiores em relação ao tronco (céfalo-caudal); depois ocorre a independência dos braços em relação ao tronco, seguido do antebraço em relação ao braço; da mão em relação ao antebraço, chegando a independência dos dedos (próximo-distal) (GONÇALVES, 2014).

No período da iniciação escolar, etapa de cinco ou seis anos, a criança finalmente estará em condições de realizar certas tarefas por si mesma; os controles já adquiridos e afirmados pela exercitação de seu corpo em movimento, darão lugar às atividades mais complexas, dentre elas, as atividades de escrita, exigindo dela um maior esforço de caráter psicomotor, no qual além destes, a atenção ocupará um papel tão importante como também as habilidades motoras de acomodação postural para o ato motor da escrita.

As dissociações manuais e digitais já estão afirmadas, o ato preensor do lápis possui a dissociação digital que necessita. A flexibilidade dos músculos da mão, juntamente com a dissociação manual, permitirá o manejo simultâneo e correto do lápis e do caderno; existe maior funcionalidade dos hemilados: enquanto uma mão escreve a outra apoia a folha de trabalho que deverá estar em posição vertical, além da manutenção do olhar orientando a mão.

Para Ajuriaguerra (1988) todo esse processo “é a soma da praxia e linguagem, e unicamente pode acontecer a partir de certo grau de organização da psicomotricidade que envolve uma coordenação fina de movimentos e um desenvolvimento espacial.” Além de uma organização rítmica e postural sem precedentes. A mão é o órgão que nos permite perceber ao mesmo tempo em que aprendemos; teve sua especialização ligada à evolução do cérebro, porém, este depende das praxias manuais para seu desenvolvimento. Acentua que “ a escrita é uma atividade motora que obedece a exigências muito precisas da estruturação espacial. A criança deve compor sinais orientados e reunidos de acordo com leis de sucessão que fazem destes sinais palavras e frases. A escrita é uma atividade espaço-temporal muito complexa.”

Vale então comentar que a maioria das escolas não respeita essa maturidade grafomotora, introduzindo atividades de escrita na educação infantil muito precocemente, os currículos escolares propõe o início da escrita bastão e cursiva cada vez mais cedo, normalmente e uma fase que as crianças ainda não estão com a maturidade neuropsicomotora desenvolvida para essa atividade tão complexa (GONÇALVES, 2014).

Cagliari (1989) afirma ser um absurdo que a maioria das atividades na escola girem em torno da escrita. Espera-se que ao final da alfabetização, hoje, primeiro ano do Ensino fundamental I, a criança saiba escrever com letra cursiva, algumas chegando a proibir a escrita de forma nesse final de etapa, seguindo a lógica de que a criança que aprende a escrever com letras de forma TEM que aprender rapidamente a fazê-lo depois com letras cursivas, uma letra mais complicada, de mais difícil leitura e de caráter individual e idiossincrático: cada usuário adota seu próprio traçado, coloca suas nuances, mostra sua personalidade. Mas a nossa sociedade e a nossa cultura consideram importantíssimo, fundamental mesmo, saber escrever emendado. 

Não se pode negar a importância desse tipo de letra, sem dúvida, possibilita maior velocidade na escrita, mas não podemos aceitar que ela seja cobrada de uma criança em processo de aquisição de escrita como fazem algumas de nossas escolas.

Cagliari (1989) faz críticas a essa introdução precoce e orienta aos professores que seria mais adequado, fácil e menos penoso, aprender a ler e escrever em primeiro lugar e com a escrita de forma maiúscula, depois a criança aprenderia a escrita cursiva, estando com mais maturidade motora para esse tipo de letra.

Alguns professores, em detrimento dessa educação psicomotora de base defendida por Le Boulch (1985) acreditam que atividades com repetições constantes de exercícios em folhas xerocadas de riscos à direita, à esquerda, verticais, horizontais, etc, vão ensinar conceitos que precisam ser vivenciados e sentidos pelo corpo, para só depois serem representados.

Para se chegar ao ato motor da escrita, algumas importantes habilidades psicomotoras (motoras e perceptivas) serão predizentes e necessárias ao controle e aprendizagem da escrita.

Gonçalves, F. (2014) destaca:

Habilidades motoras- Função Tônica

Controle motor global – Garante a manutenção da postura e locomoção do nosso corpo, é necessário que o indivíduo crie a imagem do movimento desejado e expresse esta imagem na forma de comportamento (ação). Quando tem controle motor, o aluno garante a manutenção da postura e da movimentação de partes específicas do corpo para realizar atividades manipulativas;

Controle Tônico – Vem da estruturação dos centros neurológicos que cuidam da postura, das posições e a gestualidade do corpo, Estrutura-se bem cedo seguindo os padrões céfalo –caudal e próximo distal. È necessário um tônus muscular adequado para que o corpo se mantenha em equilíbrio. A partir do sistema postural integrado, a criança passa a movimentar-se cada vez melhor, de forma mais adaptada.

Independência segmentar – O desenvolvimento psicomotor segue dois amplos padrões de desenvolvimento:  lei céfálo caudal (as partes do corpo, mais perto da cabeça, são controladas antes. A criança mantém a cabeça ereta antes do tronco e sua os membros superiores antes dos inferiores). Lei próximo-distal (as partes mais próximas do eixo corporal são controladas antes. O ombro é controlado antes do cotovelo, depois a mão e os dedos são os últimos a se especializarem.

A persistência motora está ligada ao sistema postural, controle do tônus e do equilíbrio. É a capacidade de manter o controle do corpo em uma posição, por um determinado tempo. Se isto não é bem desenvolvido interfere na atenção, raciocínio, memória e aprendizagem. Seria a capacidade de manter o controle do corpo em uma mesma posição por um determinado tempo. Tende a aumentar com a maturação do Sistema Nervoso Central (SNC).

No caso da escrita, como a exigência é bem grande, a criança com defasagem nessa habilidade, vai se cansar muito rápido, desenvolver fadiga e não conseguir terminar as tarefas no tempo esperado.

Coordenação vismotora – capacidade de coordenar a visão com a produção de respostas motoras e grafomotoras no desenho, cópia, escrita e manipulação de objetos.

Controle Motor Específico

Integração óculo-manual – Capacidade de manter a atividade manual no controle do olhar. A visão fixada a mão leva a destreza e a precisão que é essencial para que ele possa respeitar as linhas do caderno;

Destrezas manuais e digitais básicas – Requerem maturação neurológica e controle global do corpo para a execução de movimentos finos de precisão de mãos e dedos sejam ajustados para a utilização de ferramentas como a tesoura, pincéis, lápis de diferentes grossuras, entre outros.

Preensão – Importante aquisição da raça humana, está presente desde o nascimento, inicialmente como ação reflexa e com a maturação do Sistema Nervoso Central ( SNC), vai se tornando um gesto voluntário. É o ato de agarrar objetos desde os maiores até um grão de arroz. A pinça da mão humana adquire-se, principalmente, com a habilidade de segurar os objetos entre o polegar e o indicador.   Para escrever, o aluno tem que ter preensão com pinça de três dedos, que irá segurar o lápis de forma a liberar o resto da mão, o punho e o braço, mantendo-os inibidos enquanto os movimentos da escrita são executados pelos três dedos (polegar e indicador seguram, enquanto o dedo médio direciona).

Importante: se instrumentos de escrita forem oferecidos à criança antes dela ter maturidade para usá-los, podem provocar uma alteração na preensão, levando a criança a se ajustar ao instrumento, e com isso fazer um registro mental errôneo dessa preensão. Por isso, é imprescindível que pais e professores ofereçam lápis de cores, de cera, pincéis, sempre adequados à idade da criança, indo do mais grosso (triangulares) ao mais fino, observando que antes de oferecerem instrumentos de escrita, proporcionem bastante atividades de coordenação motora fina, tais como: colagem, modelagem, recorte com as mãos, dobraduras, alinhavos, amassar papéis, enfiagens, etc.

 A preensão vai evoluindo de acordo com a maturação do Sistema Nervoso Central (SNC) vai desde a preensão palmar, passando por preensões de transição até se chegar a preensão tripóide, ou pega correta com os três dedos, indicador, polegar e dedo médio, por volta de 4 a 7 anos de idade, porém, o uso de padrões alternativos não indica necessariamente um problema. 

O tipo de tarefa, a posição da criança, utensílios de escrita (lápis, giz de cera ou caneta) podem influenciar o padrão de preensão utilizado. 

Crianças de 3 anos devem ser capazes de usar preensão primitiva para preensão transição. Aos 4- 7 anos, a expectativa é padrão madura.

 

Pressão – A pressão é a capacidade de se imprimir uma força controlada em um objeto sobre uma base.

No caso da escrita, seria a pressão do lápis sobre o caderno, necessitando de intensidades exercidas sem descontrole, o que poderia gerar um grafismo muito forte ou muito fraco, de acordo com a intensidade dessa pressão.

É comum que esse descontrole na pressão esteja relacionado com uma preensão inadequada, posturas inadequadas à escrita, ajuste da coordenação óculo-manual, utilização pouco funcional dos hemilados do corpo, o certo seria enquanto uma mão escreve, a outra apóia a folha.

Traços e grafismos contínuos (base para a letra cursiva) – Essas atividades grafomotoras objetivam a preparação para a escrita com letra cursiva, cujo único objetivo seria dar mais velocidade ao ato de escrever, por serem letras ligadas uma nas outras. Porém, seu traçado exige que a criança já esteja mais amadurecida psicomotoramente para poder responder adequadamente às exigências que este tipo de grafismo exige.

Aqui, gostaria de comentar, que várias escolas incorrem neste erro, introduzindo precocemente este tipo de letra através de  treinos exaustivos de caligrafia , levando a criança a desenvolver baixa autoestima, pois muitas não vão obter êxito nessa atividade, além de causar fadiga, desinteresse e desmotivação pelo cansaço que causa esse tipo de atividade proposta antes desse amadurecimento.

                Habilidades Perceptivas

Discriminação visual – Capacidade de reconhecer e identificar qualquer figura ou forma. Independente do seu tamanho, orientação ou posição. Na escrita essa percepção é importante na discriminação das letras cujos traços componentes se confundem, como em palavras de mesmo significado escrita em um contexto diferente, em uma cor diferente ou com tamanhos diferentes.

Integração figura-fundo – Capacidade que permite distinguir uma figura em especial dentro de um fundo repleto de outras informações. É determinante para a distinção entre palavras, na leitura e escrita e nas mais variadas atividades na qual o foco principal deve ser selecionado dos demais estímulos ao redor.

Estruturas espaço-temporais

Posição no espaço – Habilidade em reconhecer e perceber qualquer forma em qualquer posição no espaço. É uma capacidade adquirida com a consciência da lateralização do espaço corporal. Permite na escrita a diferenciação de letras com traços semelhantes, porém em posições invertidas ou rodadas, tais como: b,d,q e p.

Relações espaciais – Capacidade em reconhecer e detectar a posição de dados espaciais tais como: na frente,atrás. Embaixo, em cima, entre, ao lado de, em objetos, em figuras, pontos, letras e números entre si, em sua relação com o indivíduo. Na escrita essa capacidade é utilizada para reconhecer uma sequência de letras em uma palavra ou em uma frase.

Integração auditivo-motora – Processamento e discriminação das ordens verbais, ajustando-se a situação e respondendo motoramente ou não a elas. Integração, memorização e reprodução de ritmos; capacidade de traduzir músicas em movimentos e mudar expressões motoras de acordo com o som.

Lateralização definida – Exprime a capacidade de integração sensório-motora dos órgãos pares , como pés, olhos, orelhas e mãos, etc. , tornando-se funcionais e competentes no direcionamento das variadas formas de orientação do indivíduo. Permite também a integração bilateral necessária ao controle postural e perceptivo-visual. A dominância lateral é a capacidade de utilizar um lado do corpo com melhor desembaraço do que outro. Uma evolução normal da definição da lateralidade influi de forma decisiva em todas as aprendizagens manuais, inclusive na escrita, influenciando também no aprendizado da leitura, que exige uma orientação esquerdo-direita, tranquilidade a partir do momento em que a criança já percebeu a assimetria direito-esquerda.

Direcionalidade: direita|esquerda – É a projeção externa da lateralização. É dar dimensão aos objetos no espaço. A direcionalidade depende de uma lateralização adequadamente estabelecida. Ela é importante na leitura e na escrita, na direção da escrita que ocorre no sentido direita|esquerda e para distinção de letras com grafias muito similares.

Atividade simbólica – codificação e decodificação

Decodificar a escrita é a capacidade de transformar corretamente os símbolos gráficos no seu correspondente oral e codificar a fala é a capacidade de transformar a linguagem falada em escrita por mio dos símbolos gráficos.

Todas essas habilidades psicomotoras supracitadas são predizentes ao processo de escrita, precisam, portanto, ser conhecidas pelos professores  a fim de que essas habilidades sejam desenvolvidas e melhor trabalhadas, em detrimento apenas de atividades mecânicas,  evitando fracassos escolares, pois são fundamentais para essa aquisição tão complexa e valorizada por nossa cultura como a atividade de escrita.

 

Conclusão

Antes de escrever, a atividade motora principal da criança pressupõe movimento, brincadeira, interações, exploração do espaço e dos objetos. Serão essas experiências que possibilitarão o desenvolvimento motor amplo. Um erro que cometemos é oferecer, precocemente, lápis e papel quando a criança ainda não desenvolveu sua coordenação motora fina. Devemos iniciar sempre com atividades centradas no corpo, para posteriormente iniciar atividades que irão exigir coordenações mais refinadas das mãos, como picar, colar, amassar, recortar com as mãos, fazer alinhavos, modelar, até chegar na utilização do lápis, observando que sempre devemos iniciar com lápis grossos triangulares até chegar nos mais finos, evitando o erro que muitas escolas cometem que é o de oferecer, precocemente, objetos inadequados a criança provocando alteração em sua preensão, causando uma pega anormal do lápis, o que pode contribuir para uma escrita disgráfica.

Para escrever, a criança deve ter todo o conjunto das habilidades descritas nesse artigo, amadurecidas.

Essa maturidade motora é resultado de lentas e progressivas aquisições que tem como ponto de partida o corpo, será por meio dele que as crianças farão todas as explorações necessárias a qualquer tipo de aprendizagem posterior, inclusive da linguagem escrita.

Sabemos que hoje em dia as crianças fazem, cada vez menos uso desse corpo para explorar o espaço e, a escola, acaba sendo o lócus principal a proporcionar essa exploração, pois cada vez mais as crianças são confinadas dentro de pequenos espaços urbanos e  devido a violência e aos adventos tecnológicos, estão, cada vez mais privadas dessas explorações tão importantes para sua maturidade motora.

Faz-se aqui também uma crítica às escolas cujas atividades de escrita são introduzidas precocemente, muitas delas cobrando simultaneamente o início da escrita bastão e cursiva, em uma fase em que a criança ainda não tem maturidade neuropsicomotora para tal. Desta forma, as crianças acabam tendo um desgaste desnecessário que acaba prejudicando essa aprendizagem pela desmotivação que gera na criança devido o esforço que ela terá que empregar nessa atividade, tarefa[s5]  para a qual ela ainda não está preparada, pois para escrever, como já foi dito anteriormente, a criança deve ter um conjunto de habilidades desenvolvidas e amadurecidas, que já foram sistematizadas nesse artigo com o objetivo de divulgação para o maior conhecimento a fim de que os educadores possam pautar sua prática numa teoria consistente e evitar o uso de práticas pedagógicas incoerentes .

 

Referências

AJURIAGUERRA, J. de. A escrita infantil: Evolução e dificuldades. Porto Alegra: Artes Médicas, 1988.

CAGLIARI, LC. Alfabetização e linguística. São Paulo: Editora Scipione, 1989.

FONSECA, Vítor da. Psicomotricidade, psicologia e pedagogia. São Paulo: Martins Fontes. 1993.

______. Psicomotricidade.2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1988.

GONÇALVES  F. Cadernos de Escrita Infantil: progressão grafomotora para a aprendizagem da escrita. Ed. Cultural JR: Cajamar, 2014.

LE  BOULCH. J. O desenvolvimento psicomotor do nascimento até 6 anos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.

SCHNECK, C.M.; HENDERSON, A. Descriptive analysis of the developmental progression of grip position for pencil and crayon control in nondysfunctional children. American Journal of occupational therapy. v.44.n.10, 1990.

 

Autores

Denise Russo dos Santos: Pedagoga graduada pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR), especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Educação Especial pela Universidade Vale do Acaraú (UVA) e em Neuropsicologia pela Faculdade Christus de Fortaleza. Email: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.